Luís Nhanchote
- Verdade (mz), em Tema de Fundo
O
sequestro do "empresário" Mohamed Bachir Suleimane (MBS), ocorrido no
dia 12 de Novembro, foi a prova cabal do poderio – e da vitória – dos
tentáculos do crime organizado, ao qual o Estado se tem prostrado por via de
uma inoperância que não deixa ninguém seguro.
A
suspeita da capitulação do Estado vira certeza quando um dos seus principais
contribuintes, cujos impostos pagam os salários de quadros que se sentam em
poltronas confortáveis, é raptado em plena luz do dia sem que os agentes da lei
e ordem esbocem qualquer espécie de reacção.
Quando
é raptado o "empresário" que um dia ofereceu 50 motorizadas à Polícia
da República de Moçambique (PRM) é caso para dizer: vamos todos a Pasárgada. O
último que sair tranca as portas.
Raptaram
o ‘empresário’ que fez libertar o sorriso contido do Presidente Guebuza, quando
este testemunhou o acto de Bachir arrebatar, em leilão, o cachimbo que fora sua
“marca registada” e oferecê-lo de seguida à sua esposa!!!. Raptaram MBS, o
‘empresário’ que nunca teve mãos a medir, nos cordões da(s) sua(s) bolsa(s),
quando fosse para apoiar o “meu partido” como dizia, amiúde. Nyusi viu-o em
Setembro...
Dos
relatos do sequestro...
De
acordo com várias testemunhas que falaram ao @Verdade, o rapto terá ocorrido no
recinto do Maputo Shopping Center e envolveu três indivíduos munidos de duas
armas de fogo do tipo AKM e que conduziam uma viatura de marca Toyota Prado
cuja chapa de matricula ninguém conseguiu registar. Após terem dominado a
vítima, que nesse dia teria “dispensado a sua segurança” os raptores fugiram em
direcção à avenida da Marginal. Várias fontes disseram que os raptores chegaram
ao local no período da manhã, onde ficaram a aguardar por uma melhor
oportunidade para sequestrarem a sua vítima. Aliás, como forma de tentar desviar
as atenções e fazer tempo, aproveitaram a longa espera para mandar lavar a sua
viatura.
Quem
é MBS?
Nascido
a 28 de Abril de 1958 em Nampula, Momad Bachir Sulemane orgulha-se de ser
“empresário de sucesso fruto do meu trabalho desde os nove anos de idade”. Terá
começado nessa tenra idade a sua actividade comercial numa banca, no Mercado
Central de Nampula, evoluindo até emergir nos anos ´90 como um dos “reis das
capulanas” e da venda de electrodomésticos e utensílios de instalação eléctrica.
Quando,
na Avenida Karl Marx, em frente ao encerrado Cemitério São Francisco Xavier de
Assis estabeleceu o seu quartel- -general, começou a expandir o seu negócio, adquirindo
lojas em quase todos os bairros e zonas da cidade, instalando as da Kayum
Electrónica, Armazéns Valy e, sobretudo, Zeinab Têxteis, ao mesmo tempo que
“engolia” famílias-empresa até então poderosas como o Grupo Golam – que
praticamente desapareceu.
A
expansão do seu negócio foi sendo acompanhada por uma exposição mediática cada
vez mais imponente, quando em jantares/ leilões de angariação de fundos para
campanhas do seu partido pagou um bilião de meticais da antiga família do
metical (actualmente um milhão) para comprar a caneta do candidato Guebuza, uma
vez, e depois o cachimbo do escolhido pela Frelimo para suceder Joaquim
Chissano – para cujas campanhas também havia sido benemérito. Das duas vezes,
após arrematar a caneta e o cachimbo acabava por generosamente oferecê-los de
volta ao seu dono, sempre através da esposa do candidato, Maria da Luz Guebuza.
Os
interesses empresariais do MBS vs designação de “barão de droga”
A
1 de Junho de 2010, o cidadão Mohamed Bachir Suleimane foi declarado pela
Administração de Barack Obama “barão da droga” e colocado na principal lista
desses perigosos indivíduos para os Estados Unidos da América. No dia 2 de
Junho de 2010, quando a notícia corria o mundo, Bachir, fazendo-se acompanhar
pelo seu advogado Máximo Dias, concedeu uma conferência de Imprensa, alegando
ser falaciosas as acusações que lhe imputavam.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR), dada a gravidade das acusações contra um
cidadão nacional, através do Gabinete de Combate à Droga, criou uma equipa para
a qual foram chamados dois agentes da Polícia de Investigação Criminal, para
investigarem MBS. A PGR da chancelaria de Augusto Paulino, após tal
‘investigação” foi ao Parlamento dizer que aquele órgão não encontrou nada de
concreto como resultado do seu processo de averiguações.
Empresas
do grupo MBS matriculadas sem o nome de Bachir
O
Departamento do Tesouro dos EUA sancionou três empresas do grupo MBS e proibiu
os seus cidadãos e funcionários de fazerem compras naquele grupo. Em
conformidade com a Lei dos Barões da Droga, o Gabinete de Controlo de Bens
Estrangeiros do Departamento do Tesouro (OFAC) designou o Grupo MBS Limitada,
Grupo MBS – Kayum Center, e o Maputo Shopping Center como Traficantes de
Narcóticos Especialmente Designados, devido ao facto de serem propriedade de
Mohamed Bachir Suleimane ou estarem sob o seu controlo.
Na
verdade, segundo apurou a investigação do @Verdade, nenhuma de empresas também
sancionadas pela Administração Obama tem no seu registo o nome de M. Bachir
Suleimane. Desde a construção do majestoso shopping – que tem o “Guebuza
Square”, como atracção – os empreendimentos da família de Bachir vêm sendo
dirigidos pela esposa e filhos. Nada está feito em nome do grande patrão do
MBS.
Tudo
está encoberto pela família. Em 2006, de acordo com o Boletim da República nº
43, da III série, Momade Kayum Bachir, um dos filhos de Mohamed Bachir
Suleimane, constituiu com Vladimir Domingos Rafael Manuel, Diederick Johanes
Gilliland, Gracinda Abiatar Mutemba Tivane e Johann Andreas Rautenbach, a
Moçambique Construções, Limitada.
O
capital social desta empresa, à data da sua constituição, foi de cem mil
meticais da nova família. Esta sociedade dissolveu-se pouco tempo depois da sua
constituição. Ainda em 2006, Momade Kayum Baschir, Abida Banu Mussa – esposa de
Baschir Suleimane e dos irmãos Vali Momade Baschir e Saif Momade Baschir,
constituíram em sociedade, o Maputo Shopping Center, Limitada.
Em
2007, Momade Kayum Bachir constitui com os irmãos Vali Momade Suleimane e Saif
Momade Suleimane, o “Hiper Maputo, Limitada”. Em 2010, os filhos de M. Bachir
S. e esposa juntaram-se a Akilis Jorge Macropulos, Kimon Manuel Macropulos e a
João Romeu Martins de Carvalho, para adquiriram parte das acções da PROTAL,
quando esta alterou o seu pacto social. Em 2010, os irmãos Momade Kayum Bachir e
Vali Momade Bachir constituíram a Maputo Game Center, que tem como objecto
social “a realização de actividades relacionadas com a exploração e gestão de
jogos de entretenimento...”.
O
único registo de sociedade em que Mohamed Baschir Suleimane se encontra matriculado
tem a ver com a Edge Tecnologias, Limitada. Esta, segundo o Boletim da
República nº. 13, de 29 de Março de 2006, é uma sociedade que MBS tem com a
“Africom, Limitada”, “Delta Trading e Companhia Limitada”, “Niza, Limitada” e a
“Kangela Comercial”.
O
objecto social da Edge é “a) A produção, distribuição e comercialização de todo
o tipo de produtos, tecnologias e serviços dos sectores de telecomunicações dos
mercados fixo e móvel, audiovisual e tecnologias de informação, e comunicações
em geral, no quadro da legislação nacional e internacional aplicável; b) A
importação e a exportação ou reexportação de equipamentos, aparelhos,
materiais, produtos e tecnologias, no âmbito dos fins que prossegue, e bem
assim; c) Quaisquer outros negócios que os sócios resolvam explorar e sejam
permitidos por lei”.
Sequestro
de MBS e a prisão de “barões da droga” do Quénia
A
Imprensa indiana e Queniana está a relacionar o desaparecimento de Bachir
Suleman com a prisão de barões da droga do Quénia. O desaparecimento do
empresário moçambicano Mohamed Bachir Suleman poderá estar relacionado com as
prisões efectuadas recentemente no Quénia, numa operação em que foram detidas
quatro pessoas por alegado envolvimento no tráfico de heroína.
As
informações são da Imprensa queniana e indiana. A primeira ligação deve-se ao
facto de na operação no Quénia, em que foi apreendida heroína, estar envolvida
a agência de combate à droga dos Estados Unidos, a Drug Enforcement Agency,
conhecida por DEA. Como se sabe, os Estados Unidos, em 2010, colocaram o
empresário moçambicano na lista de barões da droga afirmando que ele liderava
uma bem financiada rede de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro em
Moçambique.
Este
facto e a operação em Mombassa, no Quénia, podem por si sós não indicar uma
ligação com o rapto de Suleman, mas as suspeitas de uma relação entre os dois
casos avolumam- se, não só devido ao facto de o desaparecimento de Suleman ter
acontecido poucos dias depois da operação em Mombassa, como também por haver
notícias de ligações indirectas do empresário moçambicano à operação que se
desenrolou no Quénia.
Segundo
a Imprensa queniana, que cita autoridades nacionais, os presos são Vicky
Goswami, Baktash Abdallah (que aparece também com o nome de Akash Abdallah), o
seu irmão Ibrahim Abdllah e Kulam Hussein. Vicky Goswami era um antigo sócio de
Dawood Ibrahim de quem se afastou depois de este último ter sido acusado de ser
o mentor de uma série de atentados bombistas em Bombaim, na Índia, que causaram
a morte de 350 pessoas.
Por
sua vez, a Imprensa indiana lembra que Goswami tinha sido preso em 1997, e
condenado no Dubai a 25 anos de prisão por tráfico de drogas. Entretanto, ele
foi libertado ao fim de alguns anos por bom comportamento, tendo então partido
para o Quénia.
As
mesmas fontes dizem que Vicky Goswami associou-se a Baktash (Akash) Ibrahim no
negócio de drogas que se expandiu rapidamente para a África do Sul. Segundo o
jornal indiano Mumbai Mirror, o empresário moçambicano Mohamed Bashir Suleman
deu então ordens para se eliminar Goswami e, para isso, contava com o apoio de
Dawood Ibrahim.
O
Mumbai Mirror vai mais longe e afirma que, como não conseguiu localizar
Goswami, Dawood teria passado informações sobre o tráfico de drogas à Polícia
queniana, na esperança de que quando as autoridades quenianas prendessem os
irmãos Abdallah pudessem então localizar Goswami. Foi isso que aconteceu há
cerca de duas semanas, quando a Polícia prendeu não só os irmãos Abdallah, como
também Goswami e um quarto acusado.
Poucos
dias depois, mais precisamente a 12 de Novembro, Mohamed Bachir Suleman
desaparecia em Maputo sem deixar rastos. Até hoje a família não informou se foi
ou não contactada pelos sequestradores. No Quénia, as autoridades disseram que
os Estados Unidos querem a extradição das quatro pessoas presas na operação
levada a cabo em Mombassa, em que teriam participado agentes da DEA. Até agora,
o nome de Mohamed Bachir Suleman não foi mencionado pelas autoridades quenianas.
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