Contestação
em Hong Kong
"não ameaça" fórmula "um país, dois sistemas" -- sinólogo
francês
Pequim,
05 dez (Lusa) - A fórmula "um país, dois sistemas", que garante à
população de Hong Kong liberdades de expressão desconhecidas no resto da China,
"não está ameaçada", apesar do persistente confronto político no
território, diz um sinólogo ocidental radicado na região.
"Por
razões práticas, Pequim também gosta de Hong Kong" e o estatuto de antiga
colónia britânica "serve os interesses da sua elite", disse
Jean-Pierre Cabestan, ex-diretor do Centro de Estudos francês sobre a China
Contemporânea, num encontro com jornalistas estrangeiros realizado esta semana
na capital chinesa.
Para
a referida elite, Hong Kong " é um bom sítio para colocar o dinheiro e ter
acesso a informação", argumentou.
Hong
Kong - um território com cerca de 7,5 milhões de habitantes e uma das mais
dinâmicas praças financeiras do mundo - foi integrado na República Popular da
China em julho de 1997, dois anos e meio antes de Macau.
Em
ambos os casos, a passagem para a administração chinesa foi feita segundo a
fórmula "um país, dois sistemas".
Comparando
com Macau, que tem também o estatuto de uma Região Administrativa Especial, mas
que segundo Cabestan, "é já dominada pelo Partido Comunista Chinês",
o sinólogo francês salienta que a antiga colonia britânica "tem uma
sociedade civil muito mais forte e que permanece bastante ativa".
"Não
creio que a fórmula 'um país, dois sistemas' esteja ameaçada. Toda a gente quer
manter Hong Kong como Região Administrativa Especial", afirmou.
Jean-Pierre
Cabestan viveu em Taiwan na década de 1990 e a seguir em Hong Kong , onde dirige
hoje o Departamento de Estudos Internacionais e Governação da Hong Kong Baptist
University.
De
acordo com aquela fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China
não se aplicam em Hong Kong
e Macau, e exceto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da
competência do governo central chinês, aqueles territórios gozam de "um
alto grau de autonomia".
As
famílias de Hong Kong e Macau, por exemplo, não estão sujeitas ao controlo da
natalidade ("um casal, um filho") e podem aceder ao Facebook e a
outros 'websites' bloqueados na China continental.
Trata-se
de uma fórmula inédita no mundo e foi lançada no início da década de 1980 para
tentar alcançar "a reunificação pacífica" com Taiwan, a ilha onde se
refugiou o governo chinês depois de o PCC ter tomado o poder no continente, em
1949.
Taiwan,
que Pequim considera uma província e não uma entidade política soberana,
opõe-se àquela fórmula, alegando que não é uma colónia e que continua
representar a antiga República da China, (sem o adjetivo "popular").
A
contestação política que há mais de dois meses agita as ruas de Hong Kong está
relacionada com o modo de eleição do chefe do governo local, em 2017.
O
governo central concorda que a eleição seja por sufrágio direto, mas impôs que
haja apenas "dois ou três candidatos" e que estes sejam aprovados por
um Comité afeto a Pequim, o que, para os contestatários, constitui "uma
limitação à democracia".
AC
// JPS
"Rebeldia
democrática" em Taiwan e Hong Kong poderá influenciar o interior da China
- sinólogo francês
Pequim,
05 dez (Lusa) - Democratas de Taiwan e Hong Kong estão a protagonizar um
"movimento de rebeldia" face a Pequim que poderá vir a influenciar o
sistema político da China Continental, diz um sinólogo ocidental radicado há
duas décadas na região.
"A
cultura política democrática está a fazer o seu caminho na periferia da
China", afirmou Jean-Pierre Cabestan a propósito dos resultados das
últimas eleições locais em Taiwan e do movimento Occupy Central, que desde o
final de setembro agita Hong Kong.
Antigo
diretor do Centro de Estudos Francês sobre a China Contemporânea, Jean-Pierre
Cabestan viveu em Taiwan na década de 1990 e a seguir em Hong Kong , onde dirige
hoje o Departamento de Estudos Internacionais e Governação da Hong Kong Baptist
University.
Num
encontro com jornalistas estrangeiros realizado esta semana em Pequim, Cabestan
salientou que "a China periférica" esta a revelar-se "muito mais
rebelde face ao poder central chinês", o que "aumenta a pressão sobre
o sistema de partido único" e "questiona o futuro político da
China".
Na
China continental, o "papel dirigente" do Partido Comunista é
"um princípio cardeal" e os seus líderes proclamam repetidamente que
o país "nunca adotará a democracia ocidental" como sistema de governo
Segundo
Jean-Pierre Cabestan, a informação sobre Taiwan e Hong Kong "é
censurada" por Pequim, mas "as fronteiras são extremamente
porosas" e a "cultura política democrática" acabará por
influenciar a China Continental.
"O
processo será muito longo, mas, a pouco e pouco, vai modificar as coisas",
acrescentou.
Nas
eleições locais de sábado passado em Taiwan, o Partido Nacionalista (KMT)
perdeu mais de metade das autarquias que governava, num resultado
diametralmente oposto ao do partido pró-independência, o Partido Democrático
Progressista (DPP).
Ao
contrário do KMT, o DPP não reconhece que "há apenas uma China no
mundo" e que Taiwan - a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês
depois de o Partido Comunista ter tomado o poder no continente, em 1949 - é
"parte da China".
O
governo central concordou que a eleição seja por sufrágio direto, mas impôs que
haja apenas "dois ou três candidatos" e que estes sejam aprovados por
um Comité afeto a Pequim, o que para os contestatários, constitui "uma
limitação à democracia".
Pequim
defende a "reunificação pacífica" com Taiwan, segundo a mesma formula
adotada em Hong Kong
e Macau, ("um pais, dois sistemas"), que garante às respetivas
populações liberdades de expressão e organização politica desconhecidas no
resto do país.
O
KMT rejeita aquela fórmula, alegando que Taiwan não é uma colonia, mas nos
últimos seis anos estreitou as relações com o continente chinês, que entretanto
se tornou o maior parceiro comercial da ilha.
Uma
eventual vitória do DPP nas eleições presidenciais de 2016 "tornará as
relações com Pequim mais difíceis", pensa Jean -Pierre Cabestan, "mas
não repetirá as tensões" registadas no início do século XXI, quando aquele
partido chegou pela primeira vez ao poder.
"Económica
e humanamente, Taiwan está hoje mais ligada à China continental. O DPP é
pragmático e sabe que Taiwan necessita de manter relações estáveis e lucrativas
com o continente", afirma Cabestan.
AC
// JPS
*Título
PG
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