Primeiro,
na passada sexta-feira, surgiram contramanifestantes que atacaram os que
integram o movimento pródemocracia e se manifestam há 11 dias. Daí resultou
violência em confrontos que justificaram intervenções policiais com ainda mais
violência e gás mostarda. Contramanifestantes detidos foram identificados pela
polícia como elementos pertencentes às tríades, a máfia chinesa. A evidência da
pressão sobre os manifestantes pródemocracia deixa perceber que os
contramanifestantes aparecidos do nada foram “encomenda” de Pequim em figurino
comum às ditaduras.
Depois, sábado, foi a Igreja Católica, um braço dessa religião em Hong Kong, que avançou
com um apelo para que os pródemocracia desmobilizassem como podemos ler no jornal Público:
“Ao 10.º dia da revolta, e com a ameaça da intervenção da polícia, surgiram os
apelos: já se fizeram ouvir, agora salvem-se. Os manifestantes pró-democracia
de Hong Kong perceberam a mensagem e, a meio da tarde de domingo, começaram a
desfazer parte das manifestações e acampamentos.”
O
apelo pretende insinuar que pode voltar a acontecer Tianamen ou algo
semelhante, desta vez em Hong Kong. Mas
isso é aquilo que naturalmente as pessoas pensam – por saberem da boçalidade
dos ditadores chineses em Pequim – porque o apelo não especifica o que há a temer. A políicia tem intervido várias vezes e nem por isso os manifestantes desmobilizam... O que consta nos jornais é que “A Diocese Católica de Hong Kong
publicou no seu portal um "apelo urgente" a todos os estudantes e
cidadãos que participam nos protestos para que desmobilizem "o mais
rapidamente possível". Ainda em palavras da diocese, reportadas pela Agência
Lusa, alude que devem desmobilizar "Por razões de segurança, a Diocese
insta os estudantes e os cidadãos que apoiam o 'Occupy Central' a abandonarem
os locais de protesto o mais rapidamente possível", lê-se na breve nota,
que data da noite de sábado.”
Facto
é que a esta hora em Hong Kong
se regista a desmobilização dos manifestantes pródemocracia. Não de todos, mas da maioria, como podemos ler no jornal Expresso: “Há sinais de cansaço e
receio de repressão policial. Ativistas pró-democracia são menos nas ruas e
concentram-se agora, sobretudo, junto à sede do governo de Hong Kong.”
Quer
dizer: aquilo que a máfia chinesa não conseguiu, que era desmobilizar os manifestantes
– pelo contrário, saíram mais pessoas para as ruas – foi conseguido pela Igreja
Católica de Hong Kong. Falamos de máfias, como bem se sabe. Entre uns e outros que venha o diabo
e escolha.
Só não vê quem não quer. Pequim usou os “santinhos” para
desmobilizar os que exigem mais democracia, porque constatou que com os “diabinhos”
das tríades nada conseguiram. Foi uma boa jogada e tudo aponta para um grande bluff
a que a diocese católica de Hong Kong se prestou, consciente ou
inconscientemente. Nunca iremos saber.
A
situação está a compor-se segundo as vontades de Pequim e isso significa menos
democracia, a antítese daquilo que os manifestantes exigem há imenso tempo. Mas,
dai tempo ao tempo e perseverança na luta pela liberdade de eleger democraticamente
quem nos deve governar sem sofismas nem desonestidades tão comuns aos políticos
da atualidade, na China como na maior parte do mundo.
A Agência Lusa revela o possível sobre o que está a acontecer em Hong Kong. Com vénias usamos os seus trabalhos. (MM / PG)
Diocese
Católica lança apelo à desmobilização por razões de segurança
05
de Outubro de 2014, 14:55
Hong
Kong, China, 05 out (Lusa) -- A Diocese Católica de Hong Kong publicou no seu
portal um "apelo urgente" a todos os estudantes e cidadãos que
participam nos protestos para que desmobilizem "o mais rapidamente
possível".
"Por
razões de segurança, a Diocese insta os estudantes e os cidadãos que apoiam o
'Occupy Central' a abandonarem os locais de protesto o mais rapidamente
possível", lê-se na breve nota, que data da noite de sábado.
"Relativamente
à reivindicação por um verdadeiro sufrágio universal, podemos continuar a lutar
por este objetivo de uma forma adequada nos próximos dias".
DM/FV
// DM
Jornal
do PC chinês acusa manifestantes de incitarem "hostilidade"
05
de Outubro de 2014, 14:14
Pequim,
05 out (Lusa) -- Os manifestantes que ocupam as ruas de Hong Kong há mais de
uma semana incitam a "hostilidade" no seio da sociedade de Hong Kong
e vão contra a democracia, escreve hoje o Diário do Povo, jornal do órgão
central do Partido Comunista chinês.
"O
movimento ilegal 'Occupy Central' liderado, de forma inconsequente, por algumas
pessoas guiadas pelo seu individualismo desprezam a maioria da opinião pública
e vão contra a democracia e a autoridade da lei", refere em editorial.
Este
movimento "incita as oposições sociais, destrói os pontos de concordância
entre os diversos grupos da sociedade, o que resulta num grave clima
hostil", diz o mesmo jornal.
Na
ausência de uma declaração oficial dos dirigentes de Pequim sobre as
manifestações em Hong Kong,
o jornal estatal tem vindo a dar a "linha" do partido sobre a campanha
de desobediência civil em curso.
Os
manifestantes contestam a recusa de Pequim em garantir pleno sufrágio universal
na Região Administrativa Especial chinesa nas eleições para o chefe do
Executivo.
DM/FV
// DM
Polícia
voltou a usar gás pimenta contra manifestantes
05
de Outubro de 2014, 13:25
Hong
Kong, China, 05 out (Lusa) -- A polícia de Hong Kong voltou a recorrer, esta
madrugada, ao uso de gás pimenta para dispersar um grupo de manifestantes que
se concentrou em frente a uma esquadra no bairro de Mong Kok, após escaramuças
com os jovens.
Hoje,
em conferência de imprensa, um porta-voz da polícia defendeu "a
necessidade" do seu uso face ao escalar da tensão na zona: "Havia
grupos que estavam a provocar a polícia e tentaram empurrar o cordão
policial".
Um
grupo de manifestantes concentrou-se em frente à esquadra de Mong Kok, depois
de os jovens terem criticado a atitude "passiva" das autoridades
perante os ataques de que foram alvo manifestantes por parte de grupos
pró-Pequim naquele distrito.
"A
polícia conteve-se muito. Os conflitos intensificaram-se muito nos últimos
dias", disse a polícia.
Em
comunicado, também emitido hoje, os agentes voltam a apelar aos estudantes para
que abandonem o local: "A polícia pede ao público que mantenha a calma e
que colabore com as instruções dos oficiais de polícia. Qualquer ato que
coloque em perigo a ordem ou segurança públicas não será tolerado. A polícia
tomará medidas decisivas contra atitudes ilegais", refere o comunicado.
Cerca
de dois mil estudantes acordaram hoje nas ruas de Hong Kong depois de dezenas
de milhares de outros terem participado numa concentração pela paz e contra a
violência ignorando as advertências do Governo.
O
chefe do Executivo, CY Leung, emitiu um novo alerta no sábado, afirmando que
serão tomadas todas as medidas necessárias para restaurar a ordem nas ruas caso
os protestos não se dissolvam até segunda-feira.
Várias
linhas de transporte público continuavam hoje sem funcionar em diversos pontos
da cidade, à semelhança de diversos estabelecimentos comerciais quando se
cumprem oito dias desde o início dos massivos protestos na antiga colónia
britânica.
Mais
de mil manifestantes passaram a noite nas imediações dos edifícios
governamentais em Admiralty -- zona onde se realizou a concentração pela paz,
convocada pelos três grandes organizadores dos protestos: o movimento
Scholarism, a Federação de Estudantes de Hong Kong e o 'Occupy Central'.
A
concentração contra a violência e a favor da paz foi uma forma de contestar os
ataques levados a cabo na véspera por pessoas que se opõem aos protestos na
cidade, algumas das quais referenciadas até pela polícia como presumíveis
membros de tríades.
Centenas
de manifestantes acordaram também hoje nas ruas dos movimentados bairros de
Causeway Bay e Mong Kok, as outras duas zonas onde bloqueiam diversas vias
desde segunda-feira.
Em
Mong Kok
voltaram a registar-se escaramuças, ainda que com menor dimensão e incidência,
entre manifestantes a favor e contra os protestos pró-democracia, depois de na
sexta-feira os confrontos terem resultado em cerca de 20 feridos e 20 detidos.
DM/FV
// DM
Multidão
nas ruas para contestar violência sobre manifestantes pró-democracia
05
de Outubro de 2014, 04:46
Hong
Kong, China, 04 out (Lusa) - Milhares de apoiantes pró-democratas em Hong Kong
concentraram-se hoje em Admiralty, num protesto aos ataques contra
manifestantes nos distritos de Mong Kok e Causeway Bay, na sexta-feira, segundo
a imprensa local.
A
multidão formada por milhares de pessoas rumou a Admiralty, após manifestação
nas ruas de Hong Kong, onde estão situadas a sede do governo e secretarias
governamentais, o gabinete do chefe do Executivo e o Conselho Legislativo
(parlamento), segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
O
movimento pró-democracia "Occupy Central" e dois grupos estudantis -
Federação dos Estudantes e 'Scholarism' -, que lideram a campanha de
desobediência civil nas ruas de Hong Kong, apelaram aos manifestantes para
saírem de Mong Kok e Causeway Bay, e unirem forças no principal local dos protestos,
em Admiralty.
Ao
dirigir-se à multidão, o deputado do Partido Cívico Dennis Kwok disse que os
manifestantes faziam parte de um movimento histórico de mudança.
"O
que estão a ver em Hong Kong,
esta noite, é a mais pura forma de coragem que alguma vez vão ver neste
planeta", disse.
"É
o tipo de coragem que vai mudar a política neste país para sempre",
acrescentou.
A
concentração em Admiralty contra a violência e em apoio à luta pacífica foi
marcada na sequência dos incidentes ocorridos em Mong Kok, nomeadamente
pelo movimento 'Occupy Central', através da rede social Twitter.
No
início da noite, o chefe do Executivo, CY Leung, disse, numa mensagem gravada e
difundida pela televisão, que a sede do governo e principais artérias da cidade
devem ser desbloqueadas até segunda-feira, para que os departamentos
governamentais e as escolas possam voltar a operar normalmente.
"Neste
momento, o mais urgente é que as entradas e saídas da sede do Governo estejam
livres na segunda-feira, para que todos os 3.000 funcionários do Governo possam
trabalhar normalmente e servir os cidadãos", e que "as ruas nos
distritos de Central, Western e Wan Chai também deixem de estar bloqueadas, de
modo a que todas as escolas possam retomar as aulas na segunda-feira",
afirmou.
Afirmando
condenar veemente a violência de sexta-feira, o chefe do Executivo alertou que,
se o conflito entre os grupos contra e a favor do movimento 'Occupy Central' se
continuar a agudizar, haverá "graves consequências para a segurança
pessoal dos cidadãos de Hong Kong e para a ordem social".
Neste
sentido, frisou que o Governo tomará todas as medidas necessárias para
restaurar a ordem social, considerando que os protestos de desobediência civil
em curso estão a ameaçar ficar fora de controlo.
As
palavras de CY Leung foram interpretadas desde logo por muitos, a começar pelos
manifestantes, como um ultimato. Tanto que, na conta do Twitter do 'Occupy
Central', se reproduz uma frase atribuída a Lester Chum: "Joshua Wong,
'líder do Scholarism', Alex Chow e eu [Lester Chum], 'líderes da Federação de
Estudantes', talvez possamos ir todos para a cadeia, mas já alcançámos o nosso
objetivo, porque as pessoas de Hong Kong acordaram".
Já
Benny Tai, um dos líderes do 'Occupy' escreveu: "Não temos como alvo os
funcionários públicos. Se lhe proporcionarmos acesso ao seu local de trabalho
na segunda-feira, CY Leung já não terá desculpa para nos tirar daqui".
Alex Chow complementou: "Temos de nos manter unidos, olhar uns pelos
outros, perante as ameaças, não temos medo mas temos de estar preparados".
Um
professor de Serviço Social, Law Chi-Kwong, também disse hoje que as palavras
do chefe Executivo estão extremamente próximas de um ultimato para a retirada
dos manifestantes, e que o governo pode não esperar até segunda-feira para o
cumprir.
O
académico da Universidade de Hong Kong acrescentou que o proposto diálogo entre
estudantes e responsáveis do governo foi a primeira barreira contra uma
possível "operação de limpeza", e que agora que a Federação de
Estudantes anunciou o rompimento das negociações, o perigo está iminente.
Porém,
o membro dos Conselhos Executivo e Legislativo de Hong Kong Regina Ip disse não
considerar a intervenção de CY Leung como um ultimato aos manifestantes. Para a
antiga secretária para a Segurança de Hong Kong, o chefe do Executivo tem a
responsabilidade de restaurar a ordem social, acrescentando que a campanha
'Occupy' já vincou os seus objetivos, e que Hong Kong pode cair na anarquia se
os protestos continuarem.
FV/DM/
// MAG
Violência
"apagou a luz ao fundo do túnel" e tornou desfecho mais imprevisível
05
de Outubro de 2014, 02:55
Hong
Kong, China, 04 out (Lusa) - Os violentos incidentes de sexta-feira em Hong Kong que levaram os
estudantes a anunciar a rutura do diálogo com o Governo apagaram "a luz ao
fundo do túnel" para solucionar o impasse, tornando o desfecho
imprevisível, segundo um académico local.
A
opinião é de Mok Hing Luen que, ao longo da última semana, tem passado largas
horas no jardim de Tamar - uma das zonas ocupadas pelos estudantes, onde ficam
situadas o parlamento, secretarias do governo e gabinete do chefe do Executivo
- a dar palestras sobre movimentos sociais, mantendo vivo o espírito de
professor, atividade que exercia até há poucos meses na City University.
Desde
sexta-feira, confrontos entre apoiantes e oponentes dos protestos foram
registados nas ruas de Hong Kong, tendo sido detidas pelo menos 19 pessoas por
incidentes ocorridos em vários pontos da cidade, sobretudo em Mong Kok, na península de
Kowloon, e em Causeway
Bay, na ilha de Hong Kong.
Segundo
a polícia, oito dos detidos estão referenciados como tendo ligações à máfia.
"Não
vejo solução à vista. Na verdade, quando era suposto Carrie Lam [número dois do
executivo de Hong Kong] reunir-se com os alunos, havia uma luz ao fundo túnel,
mas os incidentes da noite passada nos distritos de Mong Kok e Causeway Bay
destruíram todas estas esperanças, porque o governo está a lidar com estas
situações de forma inadequada, disse, em entrevista à Lusa, Mok Hing Luen.
Para
o antigo professor de Trabalho Social, os ataques contra os manifestantes
pacíficos acabaram por aumentar a dimensão do movimento: "As pessoas
voltaram e lutaram. E ficaram ainda mais fortes ao insistirem nos pedidos. A
situação está realmente fora do controlo".
"Controlar
não é pedir-lhes para sair, porque eles participam realmente no movimento e
acreditam realmente na democracia. São pessoas muito comprometidas e dedicadas
e é muito difícil persuadi-las a abandonarem o local", considerou.
Para
Mok Hing Luen, o alegado envolvimento de membros de tríades em ataques aos
manifestantes pacíficos aumentou a desconfiança da população no governo, até
porque "os residentes de Hong Kong são pessoas muito disciplinadas e
respeitadoras da lei, mas também sabem reconhecer quando uma situação é injusta
e quando não podem influenciar o governo através dos canais normais".
"Metade
das pessoas de Hong Kong apoia os protestos. No início não havia muita gente a
apoiar a desobediência civil, mas os incidentes reforçaram os apoios às
manifestações", afirmou.
"Mesmo
que uses a força, a polícia, ou gás lacrimogéneo, não podes ganhar a confiança
das pessoas. Como é que podes governar assim? O governo está a arruinar a
confiança da maioria das pessoas", acrescentou, ao sublinhar que a
desobediência civil "pode ganhar apoio da opinião pública, sobretudo dos
jovens mais educados e dos jovens profissionais".
A
insatisfação e raiva contra o governo são "muitos fortes", mas também
contra a atuação da polícia, argumentou. "Não consigo imaginar como é que
conseguiremos restaurar a confiança entre as pessoas e a polícia".
Os
ataques da noite passada criaram uma divisão bastante vincada na sociedade na
opinião de Mong Hok Lueng: "Nós, população de Hong Kong, estamos muito
divididos, e isso vê-se nas redes sociais, com muitos a deixarem de ser amigos
no Facebook".
O
intelectual advogou ainda que o executivo de CY Leung tem uma grande
responsabilidade na matéria: "Muitas pessoas acreditam que o governo
tolerou as sociedades de crime organizado a atacarem os manifestantes na noite
de sexta-feira, sem que a polícia atuasse. Isto é uma conspiração, não há
provas, mas as pessoas só têm uma conspiração desta natureza quando não há
confiança em relação ao governo e à polícia".
"Os
ataques de ontem foram muito violentos. Raramente se vê isto em Hong Kong, mas
aconteceu. É muito trágico", concluiu.
FV/DM
// SMA
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