Eugénio
Costa Almeida* - Novo Jornal, opinião
A
província de Luanda tem novo governo e novos governantes. Nada de mais na vida
política e social da grande capital angolana. Uma normal rotatividade entre os
detentores do poder angolano.
Só
que ainda não foi desta vez que os novos governantes saíram de umas eleições
autárquicas, já há muito prometidas constitucionalmente, mas que persistem em
se manterem inertes nas esconsas gavetas do poder legislativo.
Ainda
assim, e como recordava na sua página social de Facebook, o jornalista
Reginaldo Silva, desta vez o poder parece não ter transitado, directamente, do
comité central do MPLA para a Mutamba; ou, mais concretamente, o novo
governador provincial já não tem de ser, também, o primeiro-secretário do partido.
Parece
que se fechou o forno lento usado para destruir algumas carreiras…
Todavia,
as primeiras representações que foram emitidas do novo Executivo não passaram
pelo novo governador provincial, o senhor Graciano Francisco Domingos –
até agora vice-governador provincial de Luanda, para área administrativa –, mas
da presença do senhor Presidente da República, engº José Eduardo dos Santos, a
presidir ao executivo do Governo Provincial de Luanda, e das medidas que
apresentou.
Uma
das medidas, que se esperam sejam uma transição para um modela nas – esperadas
– futuras eleições autárquicas, passa pela dar uma maior capacidade
administrativa – como recorda David Filipe, na última edição do Novo Jornal, a
partir de 2015 terão “um estatuto equivalente a governadores provinciais” o que
não me parece curial e poderá colidir com as naturais competências governativas
do GPL –; outra das medidas visa a maior fluidez do tráfico urbano com a
criação de um metro de superfície, em toda a província, bem como a implantação
de novos eixos viários na zona da Corimba.
Tudo
visando melhorar a mobilidade dos cidadãos luandenses.
Só
que é difícil fazer alterações sustentáveis numa cidade cuja raiz ainda assenta
num plano de ordenamento colonial.
Como
sabemos as sucessivas crises militares da pré e pós-independência, trouxe para
a capital, milhões de pessoas que se tiveram de procurar a sua satisfação
pessoal de qualquer forma.
Inúmeros
musseques e bairros desordenados cresceram como cogumelos à volta da cidade
colonial (e nesta já havia a chamada cidade do asfalto e a dos musseques).
Alguns antigos bairros tornaram-se em autênticas cidades dentro da grande
metrópole.
Ora
uma grande metrópole – acresce, capital do país – carece de boas
infraestruturas sociais, políticas e administrativas que Luanda continua a não
conseguir – pese, embora, a vontade política dos últimos governadores
provinciais – implementar.
Luanda,
pelas medidas preconizadas e por aquelas que já vem vindo a implementar parece
querer ser a Nova Iorque de África!
Talvez,
por isso, a intervenção política de Eduardo dos Santos, na última reunião do
GPL. Quis, provavelmente, dizer que é mais que tempo de tornar Luanda na grande
capital e na grande metrópole que os angolanos, em geral, e os luandenses, em
particular, desejam.
Além
das medidas acima evocadas, o presidente considera que é tempo de melhorar a
“prestação de serviços públicos nos domínios da saúde, da educação, do
fornecimento de água e energia eléctrica, do saneamento básico e da gestão do
lixo, da transformação do mercado informal para o formal e o respeito pela
ordem e a disciplina”.
Nada
mais certo! Só que…
Como
diziam, antigamente, os romanos, Roma e pavia não se fizeram num dia!
E
Luanda já teve tempo, mais que suficiente, para emendar algumas destas anómalas
situações que Eduardo dos Santos clamou como sendo prioritárias.
Se
é certo que a energia eléctrica continua a ser um dos calcanhares de Aquiles da
nossa sociedade, o saneamento básico não depende desta para ter sido já
melhorado há bastante tempo. Principalmente, nas novas e recuperadas vias
rodoviárias da capital.
Por
outro lado, não são só as “vilas” surgidas na ilha do cabo e em outras pequenas
e restrictas zonas que devem ser demolidas e os seus ocupantes desviados para
as zonas limítrofes da capital. Há dentro da grande cidade, municípios onde
essa atitude – ainda que um pouco anti-social – deveria ter sido tomada para
regular o crescimento sustentado da capital.
Certas
zonas do Rocha Pinto, Cazenga, Sambizanga, só para citar algumas das
municipalidades da capital, são quase cópias mal formadas de Veneza, tais os
mal-cheirosos canais que, em dias de chuva, São Pedro e a afoiteza dos
luandenses nos oferecem.
Mais
que dar uma péssima imagem da cidade, estes conglomerados dão abrigo a inúmeras
doenças, já de si endémicas e sem precisarem de oferendas suplementares como
são a imundice e, ou, a falta de saneamento básico.
E
não devemos esquecer aquela que neste momento mais inquieta os africanos, e o
Mundo em geral, o ébola – tão longe, mas tão perto – e quando se recorda que a
administração da capital colocou à disposição dos luandenses sanitários
portáteis para debelar alguma desta falta de saneamento, e os luandenses as têm
vandalizado, destruído…
Há,
dentro dos munícipes, uma clara falta de sensibilidade para o saneamento
público que deve ser rapidamente corrigida.
Ora
para ser uma Nova Iorque de África, como acima referi, Luanda, não lhe basta
apresentar algumas importantes medidas para alterar a sua face.
Não
basta, criar uma “ilha artificial” no meio da baía, frente a uma zona histórica
e monumental, a erguer enormes arranha-céus – qual mini-Manhattan – ou
implementar uma rede de metropolitano de superfície – vai ser, por certo, um
meio de transporte eléctrico, espero; e não a diesel – através da cidade e nas
zonas limítrofes.
Mas
como fazer um metropolitano de superfície se a cidade ainda não tem um plano
director credível e exequível a breve prazo, nem condições de fornecimento
elétrico necessário a uma empresa daquela envergadura? Ou será que alguém já se
está a fazer á criação de novos geradores para manter impossível o ar da cidade?
É
altura de dizer BASTA aos poluidores geradores que pululem pela cidade-capital
– e pelas outras cidades!
Não
chega trazer para a capital grandes empresas, escritórios de importantes
organismos africanos e mundiais, como também não interessa persistir, na
capital, o habitual e disforme tráfico rodoviário, para sermos a Nova Iorque
africana.
Como
lobitanga, adoro a minha cidade – desculpem, mas é sempre a minha cidade –,
como uma pessoa do Mundo, I love New York – a cidade que nunca dorme –, mas,
acima de tudo, e como angolano, amo a minha capital e desejo que esta,
primeiro, seja a capital de Angola e depois a metrópole africana.
Depois,
então, que seja a Nova Iorque de África.
*
Investigador do CEI-IUL
Publicado
no semanário Novo Jornal, edição 349, de 3 de Outubro de 2014, pág. 22 do 1º
Caderno.
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