Os
dias de hoje têm mostrado como é importante lembrar as atrocidades nazistas.
Devemos isso não só às vítimas, mas a uma sociedade que deve permanecer humana,
opina o jornalista Christoph Strack.
Este
é o lugar do terror: Auschwitz. O nome do maior campo de concentração e
extermínio alemão simboliza a loucura nazista. A visita ao local, hoje um
memorial, faz silenciar diante da desumanidade de que o ser humano é capaz e do
sofrimento que alemães impuseram a pessoas de tantos países.
Não
foram poucos os que sobreviveram a Auschwitz e nunca mais voltaram a esse
lugar. Jean Amery, Tadeusz Borowski, Primo Levi não conseguiram conviver com a
sobrevivência e deram fim a suas próprias vidas anos ou décadas depois de 1945.
E
quem acompanhada ou observa ex-prisioneiros durante uma visita a Auschwitz
percebe que o horror não acaba nunca, jamais. Ficam imagens, fica a dor. Idosos
que, ainda crianças, perderam pais e irmãos e jamais esquecerão o momento em
que tiveram que largar a mão amada.
Na
grande cerimônia em celebração à libertação de Auschwitz de 2005, de repente um
homem velho e curvado atravessou as fileiras de líderes e convidados oficiais,
ajoelhou-se na rampa, beijou a pedra e depois desapareceu, chorando. Essa
imagem disse mais sobre a incompreensibilidade deste lugar do que todos os
discursos do dia.
Nesta
terça-feira (27/01), mais uma vez centenas de sobreviventes voltam a Auschwitz-Birkenau,
são judeus de vários países, também cerca de cem ex-prisioneiros poloneses.
Esta será a última vez que um número tão elevado de testemunhas participará da
celebração. Devemos ouvi-las enquanto ainda estão presentes. Suas histórias
devem ser uma missão para nós.
Foram
necessários mais de 50 anos para que os alemães fizessem do dia da libertação
de Auschwitz um dia de lembrança e homenagem às vítimas do nazismo, uma data em
que o Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, reúne-se em sessão solene. É uma
pena que, neste ano, quando as atenções se voltam especialmente para os
sobreviventes, não sejam eles a discursar, mas o presidente da República.
Essa
lembrança tem surtido efeito? Os alemães assumem sua permanente
responsabilidade? Uma recente pesquisa de opinião deixa dúvidas. Segundo ela,
81% dos entrevistados gostariam de "deixar para trás" a história da
perseguição contra os judeus. Por outro lado, os campos de concentração na
Alemanha, tanto da parte ocidental como na oriental, acusam um sensível aumento
no número de visitantes. Também Auschwitz-Birkenau registrou um recorde no ano
passado, tendo recebido mais de 1,5 milhão de visitantes. Tudo isso mostra que
a memória do Shoá segue viva, mas não é algo evidente e muito menos consensual.
E continua não sendo evidente que adolescentes na Alemanha, em algum momento de
sua escolarização, visitem um dos campos de concentração do período nazista.
Por quê?
O
surgimento de movimentos populistas de direita, os novos tipos de manifestação,
uma sensível insolência na divulgação de declarações xenófobas e racistas na
internet ou pelos microfones – os dias de hoje têm mostrado como é importante
lembrar a catástrofe resultante das atrocidades nazistas. É preciso haver
vigilância. A lembrança não deve se tornar um ritual, ela deve ter
consequências.
O
cineasta francês Claude Lanzmann, que repetidamente enfoca o Shoá em suas
obras, diz que para ele o importante é a presentificação, estar consciente das
coisas sobre as quais o nosso presente repousa. Isso inclui Auschwitz e a
responsabilidade em assegurar que seres humanos nunca mais se desumanizem.
Nossa responsabilidade não se resume às vítimas, o que seria muito limitado.
Temos responsabilidade em relação à sociedade, que deve continuar humana.
Auschwitz:
esse é o lugar do terror. O nome permanece. Como advertência, como obrigação.
Christoph
Strack (md) – Deutsche Welle, opinião
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