Christopher Lewis
Na
sequência dos ataques realizados em Paris contra o Charlie Hebdo, o “pai da
linguística moderna” e comentador político Noam Chomsky criticou a hipocrisia ocidental apresentando a ideia
de que existem dois tipos de terrorismo: “o deles e o nosso”.
Em
um artigo de opinião publicado pela CNN, Chomsky debate o atentado terrorista
ocorrido na capital francesa e os milhões que se manifestaram nos dias
seguintes empunhando o slogan “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie).
Mas
ele se referiu igualmente aos que aproveitaram os atentados para promover a
islamofobia. Ele escreve que os ataques questionaram “as raízes desses
atentados chocantes na cultura islâmica e a exploração de formas de combate à
vaga assassina do terrorismo islâmico sem sacrificarmos os nossos valores”,
enquanto as ações terroristas cometidas por não-muçulmanos não resultaram em um
impulso para contextualizá-las no cristianismo, por exemplo.
“Há
muitos outros acontecimentos que não questionaram a cultura e a história
ocidentais, como, por exemplo, a pior atrocidade terrorista cometida na Europa
nos últimos anos, em julho de 2011, quando Anders Breivik, um extremista
cristão ultrassionista e islamófobo, chacinou 77 pessoas, maioritariamente
adolescentes”, sublinhou Chomsky.
Chomsky
também criticou o programa de drones do presidente Barack Obama,
classificando-o como “uma campanha global de assassinatos que tem como alvo
pessoas suspeitas de tencionarem talvez prejudicar-nos um dia e os infelizes
que possam se encontrar nas suas proximidades. O que não falta são esses
infelizes, como os 50 civis alegadamente mortos em dezembro em um ataque aéreo
liderado pelos EUA na Síria, o que quase não foi noticiado”.
Chomsky
argumentou contra o advogado de direitos civis Floyd Abrams, o qual declarou ao
New York Times que o atentado contra o Charlie Hebdo tinha sido “o ataque mais
devastador contra o jornalismo de que há memória”. Chomsky explicou que a
expressão “de que há memória” permite que as pessoas decidam ignorar os crimes
cometidos pelo lado delas, em vez disso dando apenas importância aos crimes
cometidos contra elas.
Isso
permite que as pessoas classifiquem seus atos como “não sendo crimes, mas sim
como uma nobre defesa de valores mais elevados, que por vezes inadvertidamente
falha”, escreveu Chomsky.
“Contrariando
as veementes declarações”, lamentou, “não se trata de ‘terrorismo é terrorismo,
não há duas maneiras de ver isso’. Há mesmo duas maneiras de ver isso: a deles
e a nossa. Isso não se aplica apenas ao terrorismo.”
Voz da Rússia - Foto: RIA Novosti/Galina Azule
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