O
activista e jornalista do Folha, Sedrick de Carvalho, tentou hoje suicidar-se
no Hospital-Prisão de São Paulo, onde se encontra detido desde 20 de Julho. A
confirmação foi avançada há momentos pela mãe, Antónia de Carvalho, que foi
atendida também por psicólogos e advogados. A mãe teme que o filho tente o
suicídio outra vez, mas, por agora, desconhece-se se as autoridades tomaram
medidas para evitar que tal venha a suceder.
Logo
pela manhã, Sedrick de Carvalho garantiu que vai levar a greve de fome até à morte
e recusou-se a sair da cela e a receber visitas, inclusive da esposa e filha.
Numa
carta redigida no Hospital-Prisão de Luanda, Sedrick de Carvalho enumera o que
considera “contantes abusos e violações de direitos humanos que se registam há
cinco meses” contra a sua pessoa e diz que se recusa a “sair da cela” em que se
encontra, “não importando o objectivo e propósitos apresentados, ao menos que
seja forçosamente, como aliás é hábito agirem de tal forma”.
O
nosso colega recusa-se também “a receber toda e qualquer visita”, pelo que diz
lamentar os esforços que a família, “esposa, filhinha, pais e irmãos,
certamente farão para que recue desta decisão”.
Sedrick
de Carvalho nega-se, inclusive, a beber água e radicaliza a sua posição na
carta ao concluir que poderá optar pelo suicídio porque, diz, “estou cansado
desta palhaçada”.
Na
carta que termina com a frase “a ditadura continua a vencer, infelizmente”,
Sedrick de Carvalho autoriza e recomenda ao juiz Januário Domingos José a
condená-lo, “mesmo sendo eu inocente”, porque não acredita “em decisão
contrária em ditadura”.
No
documento de três páginas dirigido à sociedade angolana, Serviços Prisionais,
Tribunal Provincial de Luanda, imprensa e família, o jornalista detido a 20 de
Junho com mais 14 activistas, acusa as autoridades de tentativas de provocar o
seu desequilíbrio mental, “com práticas de torturas milimetricamente orientadas
e executadas rigorosamente por aqueles que têm a missão legal e humana de
cuidar e atestar a nossa sanidade mental”.
Sedrick
de Carvalho cita ainda a “ininterrupta humilhação e desrespeito” às famílias
que, “mesmo decididas a contribuírem para a criação da Nação Angolana, foram e
continuam a ser injustiçadas por se lhes retirarem o filho, esposo, pai, irmão
e garante da sustentabilidade económica e estabilidade psico-emocional”.
Uma
“palhaçada” é como aquele activista classifica o que acontece “em pleno
julgamento da ditadura contra a democracia, onde os magistrados escondem o
rosto mas não a vergonha, onde aprovam e aplaudem as agressões físicas que
acontecem no tribunal, ou ainda onde se reconhece que não leram, durante os
cinco meses, os livros que para a ditadura são proibidos”.
Refira-se
que, além de Sedrick de Carvalho, estão em greve de fome Luaty Beirão, Domingos
da Cruz, Albano Binbo Bingo, Mbana Hamza e Nélson Dibango.
Nesta
segunda-feira, foi retomado o julgamento dos 17 activistas.
Osvaldo
Caholo continua a ser ouvido e, depois dele, dever ser Rosa Conde que,
juntamente com Laurinda Gouveia, está em liberdade.
Folha
8 - ontem
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