Pequim,
26 jun (Lusa) - Académicos e empresários advertiram hoje para os riscos
económicos e geopolíticos do 'Brexit' na abertura da edição de verão do Fórum
de Davos, também conhecida por Davos asiático, a decorrer em Tianjin, na região
norte da China.
A
saída do Reino Unido da União Europeia (UE), processo conhecido como 'Brexit',
e o novo papel no mundo do bloco europeu dominaram o primeiro dia deste evento
lançado em 2007 e realizado, de forma alternada, nas cidades chinesas de
Tianjin e Dalian.
O
perito em geopolítica da Universidade de Nova Iorque e presidente da consultora
Eurasia Group, Ian Bremmer, afirmou que o 'Brexit' é um "acontecimento
geopolítico importante" equiparado aos atentados terroristas de 11 de
setembro de 2001 nos Estados Unidos e à crise financeira de 2008 e 2009.
"Estamos
a falar do declínio da aliança mais importante na ordem do pós-guerra, a
relação transatlântica, que já estava antes do 'Brexit' no seu momento mais
débil desde a Segunda Guerra Mundial", explicou Bremmer.
O
especialista também considerou "razoavelmente provável" uma
desintegração do Reino Unido, bem como uma redução da "marca global"
da UE, dos seus valores comuns e da sua capacidade de integração.
O
economista Nariel Roubini, também da Universidade de Nova Iorque e conhecido
por ter antevisto a crise imobiliária nos Estados Unidos, rejeitou uma possível
comparação entre o impacto do 'Brexit' e uma crise financeira global,
reconhecendo no entanto que a situação criou um "choque" nos
mercados.
"Não
espero uma recessão global ou uma outra crise financeira global. Penso que o
choque resultante do 'Brexit' é significativo, mas não tem o mesmo tamanho e
magnitude daquele que tivemos em 2007, 2008 e 2009", argumentou Nariel
Roubini.
O
economista também afirmou que o abandono britânico do bloco europeu gera
incerteza "económica, financeira, política e também geopolítica" e
coloca um ponto de interrogação no futuro da UE.
"Poderá
ser, não digo que isso irá acontecer, o começo da desintegração da UE ou da
zona Euro", avisou Roubini.
Outro
participante da reunião, o responsável pela gestão de investimentos para a
Ásia-Pacífico do banco norte-americano JP Morgan, Michael Falcon, acredita que
no decorrer desta semana irá registar-se um aumento da "volatilidade"
e da "especulação".
Já
o empresário estónio Taavet Hinrikus assegurou que o 'Brexit' torna a Europa
"muito menos atrativa para os empreendedores".
O
co-fundador da multinacional norte-americana de transporte privado urbano Uber,
Travis Kalanick, foi dos poucos que relativizou os efeitos da saída britânica.
"É
difícil vermos um impacto importante [do 'Brexit'] naquilo que fazemos todos os
dias", disse Kalanick.
As
discussões no Fórum Mundial Económico de verão vão continuar até terça-feira em
Tianjin. Para segunda-feira é aguardado um discurso do primeiro-ministro chinês
Li Keqiang.
Os
eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido vai sair da UE, depois de o
'Brexit' (nome como ficou conhecida a saída britânica da União Europeia) ter
conquistado 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira.
O
primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou a sua demissão, com
efeitos em outubro.
SCA
// NS
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