sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Portugal. CAMPANHA A PRETO E BRANCO



Felisbela Lopes – Jornal de Notícias, opinião

Chega hoje ao fim a campanha eleitoral para a Presidência da República, sem disso darmos conta. Porque a caravana que atravessou o país foi pouco empolgante, porque os candidatos não promoveram debates arrebatadores e porque os média não tiveram coragem de criar uma agenda alternativa. Depois de amanhã, o mais provável é que metade do país se recuse a votar. Não se trata de um fenómeno novo, mas é uma tendência que ninguém tem conseguido travar.

Se recuássemos à televisão a preto e branco, esta campanha seria perfeita. De ritmo lento, de discursos fastidiosos e de gente envelhecida, a caravana que atravessou o país não poderia estar mais sintonizada com o tempo da chamada paleotelevisão, aquela que imaginava os portugueses como gente acrítica e que, por isso, pouco investia em renovar-se no conteúdo e na forma. Acontece que Portugal mudou. Já não estamos recetivos a estender passivamente a mão a candidatos que ostentam um programa sem possibilidades práticas de ação. Quem se apresenta a votos não conhece os portugueses, particularmente os jovens para quem a atual política é uma espécie de universo autotélico composto por um conjunto de marretas do tempo dos seus avós, petrificados num tempo que já não existe. Pena que grande parte dos políticos comprove insistentemente esta tese.

Olhando para a campanha que os média refletiram, testemunhámos um périplo por um país envelhecido, triste, doente, iletrado. Um Portugal de feiras, de fábricas com trabalhadores precários e de gente que se arrasta por melancólicas ruas. O tal país da televisão a preto e branco que julgávamos superado, mas que, em tempo de campanha, os políticos nos lembram que existe e é hegemónico fora da capital do reino. Passa-se, assim, levianamente ao lado de uma outra parte do Portugal de hoje, que se enche de startups de jovens empreendedores, que acolhe cientistas reconhecidos internacionalmente e que se compõe de cidadãos que se reinventam para recriar o seu futuro. Isso os candidatos não mostraram. Porque ainda olham para fora de Lisboa como quem abre uma janela para um país rústico. Poderíamos seguir o exemplo do candidato Vitorino Silva e "fazer desenhinhos" enquanto a caravana passa, mas a maior parte de nós prefere virar as costas a esta desoladora campanha. Não será, pois, de estranhar que, no domingo, a abstenção suba ainda mais do que nas últimas eleições presidenciais em que registou a impensável percentagem de 53 por cento.

Em cada ato eleitoral, repetimos um balanço negativo do que se faz, porque os partidos e a sociedade civil que ambiciona fazer política não conseguem alterar o paradigma da comunicação política que põem em marcha. Mas a mudança impõe-se e, neste contexto, o campo do jornalismo é o mais apto a iniciar esse processo reformista, se for capaz de promover uma outra cobertura das ações dos candidatos.

A Lei Eleitoral obriga os média noticiosos a fazer um tratamento jornalístico de todas as candidaturas com "equilíbrio, representatividade e equidade", mas também é um facto que a recente reformulação legislativa acrescentou que esse trabalho deve ter em conta a respetiva "relevância editorial". Em período de campanha eleitoral, não faz sentido colocar repórteres permanentemente atrás dos candidatos ao serviço de uma espécie de diário de bordo que muitas vezes se vê obrigado a integrar o anedótico porque não há nada de significativo para contar. Mais do que seguir uma caravana, os média deveriam criar a sua agenda noticiosa. Alternativa e exigente. Mais do que resumir o dia, os repórteres deveriam fazer notícias apenas quando houvesse acontecimentos significativos, adotando ângulos de reportagem diferentes daqueles previstos pelas candidaturas. Eis uma mudança que apenas se tornará possível quando as direções editoriais resolverem terminar com aquilo que, nos anos 70, o jornalista e investigador Timoty Crouse refletiu no título do livro "The boys on the bus". Porque os repórteres não estão ao serviço das caravanas. São os candidatos que devem procurar atrair o interesse dos jornalistas para aquilo que conseguem fazer de relevante para os cidadãos.

Secretário-geral da Renamo baleado transferido de Moçambique para África do Sul



O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, baleado quarta-feira na Beira, centro de Moçambique, foi transferido para uma clinica na África do Sul, onde deverá continuar em observação, disse hoje à Lusa o porta-voz do partido.

Manuel Bissopo "está sob observação, mas já na África do Sul", disse António Muchanga, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), adiantando que uma terceira avaliação médica do quadro clínico foi decisiva para sua transferência, na quinta-feira à noite, para o país vizinho.

O secretário-geral da Renamo, principal partido da oposição, Manuel Bissopo, foi baleado no princípio da tarde de quarta-feira na Beira, tendo o seu segurança morrido no local, segundo fontes do partido.

O quadro clínico de Manuel Bissopo foi descrito ontem como "estacionário", segundo o porta-voz do partido, António Muchanga, depois de, na quarta-feira, ter sido classificado de "preocupante", exigindo um tratamento "intensivo e especial".

Manuel Bissopo foi atingido no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, quando saía de uma conferência de imprensa para denunciar alegados raptos e assassínios de quadros da Renamo.

Segundo jornalistas locais ouvidos pela Lusa, os atiradores, que se faziam transportar em duas viaturas, bloquearam o carro em que seguia Bissopo e abriram fogo.

O guarda-costas do secretário-geral morreu no local, tendo outros que seguiam na viatura sofrido ferimentos ligeiros.

A polícia continua sem pistas dos atiradores e sem a identificação das viaturas usadas no crime.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento alega ter ganho nas eleições gerais de 2014.

O paradeiro de Afonso Dhlakama é alvo de debate uma vez que não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda pessoal.

Nas declarações públicas que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta o forte dispositivo das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.

AYAC/HB // PJA - Lusa

Líder da Renamo apela para fim do "terrorismo de estado" em Moçambique



O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou hoje a Frelimo pelo baleamento do número dois do maior partido de oposição em Moçambique, acusando a força política no poder de fomentar "terrorismo de estado".

"Acuso o regime da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique], a Frelimo tornou-se num partido terrorista, num estado terrorista - o partido, o regime, o governo. Nunca vimos isto", afirmou em entrevista por telefone à Lusa Afonso Dhlakama, nas suas primeiras declarações públicas após o baleamento por desconhecidos do secretário-geral da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).

Para o presidente do maior partido de oposição, o baleamento de Manuel Bissopo, ocorrido na quarta-feira na cidade da Beira, pode levar a uma mudança no tom do discurso político e ao agravamento da atual crise política, mas afastou um cenário de guerra.

"Posso acreditar que a situação pode deteriorar-se, mas não há guerra", afirmou Dhlakama, declarando que estava a falar a partir da Gorongosa, onde alegadamente se encontra refugiado desde o cerco da polícia à sua residência na Beira, a 09 de outubro, não sendo visto em público desde então.

O crime de que Manuel Bissopo foi vítima, disse o líder da oposição, foi testemunhado por beirenses "e todos ficaram furiosos, quiseram partir casas dos membros da Frelimo", obrigando, no seu relato, a que os dirigentes do partido dissessem "não é por aí".

Afonso Dhlakama observou que ele próprio foi vítima de duas emboscadas na província de Manica em setembro passado, além do cerco à sua residência, e que não foi isso que levou a um cenário de confrontação aberta.

"Claro que todos estão com nervos e dizem-me 'presidente, tem de agir', as pessoas querem pegar e cortar pescoços dos [quadros] da Frelimo", referiu Dhlakama, assegurando que desincentiva retaliações e apenas apela ao partido no poder para parar com episódios de violência contra a oposição.

Renamo e Frelimo têm trocado nas últimas semanas acusações de raptos e assassínios dos seus quadros no centro do país, mas Dhlakama diz que qualquer imputação ao seu partido não passa de "mentira e propaganda".

"Eu sou cristão, dirijo este partido e não temos isso de assassinar alguém, não odiamos ninguém da Frelimo, não temos um inimigo apontado que é o tal fulano, é o regime que odiamos", salientou o presidente da Renamo.

Em contrapartida, atribui à Frelimo episódios de raptos e assassínios de elementos da Renamo, lembrando que o próprio Bissopo denunciara essas situações no dia em que foi baleado.

"A minha preocupação não é só porque balearam o secretário-geral da Renamo, já é uma onda em que oficialmente estão a raptar e a matar os moçambicanos e aqueles que estão a fazer política e a criticar a Frelimo são alvos neste país", defendeu.

O líder da oposição assinalou que, durante a guerra civil de 16 anos, "podiam raptar população ou matar homens da Renamo, mas via-se que eram da Frelimo", porém, agora, sustentou, estas ações são urdidas nos gabinetes do poder.

Dhlakama afirmou que nem vale a pena pedir ao Presidente da República que persiga os culpados, reiterando a acusação de que foi o próprio Filipe Nyusi que ordenou as alegadas emboscadas em Manica.

Essa ordem, prosseguiu, é demonstrada pela recolha de armas supostamente usadas pelas forças de defesa e segurança no segundo tiroteio em Manica, quando a polícia cercou a casa do líder da Renamo na Beira.

Segundo o líder da oposição, o baleamento do número dois do seu partido acontece numa fase em que Dhlakama está "caladinho" e recolhido na Gorongosa e "o secretário-geral é como se fosse o presidente" que importava silenciar.

"Apelo ao regime da Frelimo para parar, é uma pouca vergonha", insistiu Dhlakama, sustentando que estes episódios são "a mesma tática" usada em homicídios com contornos políticos, como o economista Siba Siba Macuácua, o jornalista Carlos Cardoso e o constitucionalista Gilles Cistac.


HB // PJA - Lusa

UE apela à investigação da responsabilidade por ataques em Moçambique



A União Europeia (UE) apela à investigação da responsabilidade pela "tendência de violência" confirmada nos recentes ataques em Moçambique, estando a acompanhar de perto a situação no país, disse à Lusa um porta-voz da UE.

"Este ataque confirma a tendência de violência que afeta a vida política moçambicana e os atores políticos", acrescentou o porta-voz da UE, acrescentando que Bruxelas "apela a uma investigação rápida e a clarificação de responsabilidades sobre o ataque a Manuel Bissopo e outros que aconteceram recentemente".

A mesma fonte liga o aumento da violência com a estagnação do diálogo, entre o Governo de Maputo e a Renamo, sobre as reformas do sistema político.

"Estamos a acompanhar de perto os acontecimentos em Moçambique através da nossa delegação", salientou ainda o porta-voz.

A União Europeia reitera o apoio ao diálogo entre as forças políticas moçambicanas.

Na quarta-feira, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos, na cidade da Beira, tendo o seu guarda-costas morrido no local.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

O líder da Renamo não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.

Nos pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.

A Frelimo e a Renamo têm vindo a acusar-se mutuamente de rapto e assassínio dos seus dirigentes.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.

IG (EYAC/AYAC/HB/PMA) // VM - Lusa

ANGOLA: CAMINHOS DO FUTURO (1)



 Rui Peralta, Luanda

Hoje, nos tempos que percorremos, existe um sentimento generalizado de irrealidade, quer acerca da Politica, quer sobre matéria económica. Muito do que assumimos, de forma axiomática, já não cabe na nossa realidade. O mundo que nos rodeia dá-nos a impressão que se dissolveu e que a realidade é disforme, desconexa, surreal.

Algumas velhas palavras-de-ordem teimam em persistir mas já não são um guia para a acção ou uma força-motriz. Esses “slogans” são tudo o que fica quando tudo o resto já foi. No mundo que nos rodeia, a inovação, o surto empreendedor, as revoluções da bioengenharia e da informação, as novas tecnologias e a internacionalização da economia, representaram o fim de uma longa tendência global em direcção a uma cultura da segurança social e do bem-estar que são ainda nossos valores (e que são valores globais, válidos em todo o mundo). É bom não esquecer (e saber) que a segurança social é uma invenção do surto empreendedor do século XIX e foi criada porque existia um risco muito elevado de insucesso social, originador de desemprego, pobreza e fome. E descontentamento, claro. Mas foi em pleno surto empreendedor que os primeiros esboços de uma política de bem-estar social foram aplicados.

Segurança do emprego, emprego para uma vida, emprego, são categorias analíticas que já não se encontram configuradas na actual vida económico-social. As oportunidades de carreira requerem cada vez mais e maiores competências, pois o centro de gravidade deslocou-se e hoje o conhecimento é um instrumento de trabalho, de qualquer trabalho. Então as oportunidades de carreira requerem diplomas universitários? Algumas, nem todas. A maioria não, o que existe é muito desemprego em gente com “canudo”, o que prova que, afinal, os diplomas universitários não são um caminho certo e infalível que garante oportunidades de carreira ou, quanto muito, um simples emprego. Mas uma coisa é certa: as oportunidades de carreira exigem competências, saber-fazer, saber-aprender, saber-falar, saber-escrever, saber-pensar. No mínimo.

Assim sendo a educação tornou-se um mecanismo de mobilidade social e assume um lugar central nas novas dinâmicas do desenvolvimento. O problema é que nenhuma instituição educativa (pública ou privada) tenta equipar os alunos com as capacidades necessárias que lhes permitam assumir os riscos e as turbulências dos actuais mercados de trabalho e olhar com firmeza para os novos desafios que afligem a vida económico-social de todos os angolanos. Das nossas universidades continuam a sair cidadãos que não estão capacitados para apresentar ideias, oralmente e/ou por escrito, nem tampouco estão capacitados para trabalhar com outros cidadãos, ou capacidade para moldar a sua carreira e orientar o seu trabalho pessoal.

Numa economia-mundo onde o design de um produto é concebido num país, os componentes desse produto são fabricados noutros países e a montagem final encontra-se num terceiro país (muitas das vezes estes países encontram-se em diferentes continentes) as contas (e as politicas macroeconómicas) têm de ser diferentes. 90% das transacções financeiras da economia-mundo actual não têm qualquer função económica em termos de produção. A economia monetária internacional actual já não é uma máscara, um véu da realidade. É a própria realidade á qual os bens e serviços estão subordinados.

Neste contexto, a reciprocidade (e não o proteccionismo ou o seu oposto, o livre-cambismo) é a única relação comercial que evitará a estagnação e o papel periférico e que permitirá que cada país desfruta do mesmo acesso ao mercado de outro país. E a reciprocidade implica mecanismos de integração, permitindo às economias mais pequenas obterem a entrada em mercados maiores, gerando produção e vendas suficiente para se sustentarem a si próprias. Efectivamente existem quatro “economias” dentro da economia, quatro variáveis interdependentes: a economia da nação, a economia da região, a economia mundial de fluxos monetários, crédito e investimento e a economia da empresa transnacional que encara o mundo como um mercado único. Neste contexto dinâmico dos fluxos monetários os Estados reagem, mais do que iniciam ou controlam, a acontecimentos que ocorrem nos mercados de capitais globais. Os factores tradicionais de produção – a terra e a mão-de-obra – já não asseguram vantagens competitivas às nações (embora sejam imprescindíveis ás suas dinâmicas económicas internas, á sua soberania económica e ao desenvolvimento dos seus níveis de consumo e das estruturas do mercado interno).

A gestão tornou-se o grande factor de produção, tornou-se decisiva. Maximizar a quota de mercado (e não maximizar o lucro) tornou-se indispensável para qualquer economia soberana. O longo-prazo bem planeado, o médio-prazo bem estruturado e o curto-prazo optimizado são factores de garantia da soberania económica nacional. A capacidade do indivíduo e dos grupos têm de ser autonomizadas. Ao governo compete estabelecer os procedimentos que regem essa autonomia.

As novas realidades viraram as velhas teorias e práticas "de pernas para o ar". Qualquer nova síntese económica do futuro tem de integrar a macroeconomia monetária e autonomizar a forma como as empresas produzem e os indivíduos consomem, além de analisar minuciosamente as dinâmicas do empreendimento, da inovação e da criatividade. A nova realidade significa que já não é possível controlar as “condições atmosféricas” económicas, ou seja, a recessão, os ciclos de expansão, das taxas de poupança e do consumo, mas apenas controlar “o clima” ou seja, optimizar, desburocratizar, evitar degenerações e populismos. Há que educar a população activa para funcionar nos novos moldes da economia-mundo.

No fundo, camaradas, temos de aplicar a medicina preventiva, em vez de promover tentativas cegas com tratamentos a curto-prazo. Esse é o desafio primordial para Angola e o seu trilho numa Nova Era de prosperidade e bem-estar social.

Governador de Luanda admite declaração de "calamidade pública" devido ao lixo



O novo governador provincial de Luanda, general Higino Carneiro, criou um posto de comando urbano para combater o problema do lixo na capital angolana, situação que o próprio admitiu ameaçar a declaração de "calamidade pública".

"Vimos imagens que a todos tocam. A continuar assim, seremos obrigados a declarar calamidade pública. Temos que evitar isso, por causa de aspetos epidemiológicos, que podem provocar desaires na sociedade", disse Higino Carneiro, que na quinta-feira realizou a sua primeira visita de campo, nas novas funções.

O posto de comando urbano, a funcionar na sede do Governo Provincial de Luanda, integrará responsáveis das administrações municipais e atores voluntários públicos e privados, visando juntar sinergias no combate ao fenómeno na capital, que conta com 6,5 milhões de habitantes.

Sublinhando que são poucos os recursos para a recolha de resíduos sólidos, Higino Carneiro apelou ao envolvimento de cidadãos voluntários e empresas públicas e privadas.

"Este exercício vai levar-nos a que a breve trecho possamos resolver o problema dos resíduos sólidos passivos, que resultam de períodos anteriores que não foram removidos", frisou o governador da capital angolana.

Para gizar estratégias de resolução do problema, Higino Carneiro salientou que está ser elaborado um guia que vai definir prioridades na capital do país sobre a recolha de lixo.

A província de Luanda vê-se a braços desde 2015 com o problema da recolha de resíduos sólidos, em consequência da diminuição de verbas para o efeito, causando várias críticas dos cidadãos.

As elevadas quantidades de lixo nas ruas da cidade, com destaque para os arredores, constitui igualmente preocupação para as autoridades sanitárias, que receiam o aumento de doenças, aliado ao período de chuvas em curso.

NME // PJA - Lusa

Quatro em cada 10 adolescentes angolanas são casadas ou vivem em união de facto



Quatro em cada 10 raparigas adolescentes angolanas, entre os 12 e 17 anos, são casadas ou a viver em união de facto, fenómeno que afeta sobretudo as zonas rurais das províncias da Lunda Sul, Moxico, Huambo, Bié e Malange.

Os dados foram hoje avançados pela ministra da Família e Promoção da Mulher, Filomena Delgado, no seu discurso de abertura da mesa redonda promovida pelo Ministério da Educação, sobre "Educação Sexual Abrangente e Saúde Reprodutiva para Adolescentes e Jovens".

A governante angolana frisou que um terço das raparigas, dos 12 aos 14 anos, vive com um parceiro dez anos mais velho, tornando-as vulneráveis aos riscos e consequências dos casamentos e gravidezes precoces, bem como ao abandono escolar.

Filomena Delgado realçou ainda que, em Angola, a gravidez contribui para cerca de 7,5% do abandono ou não ingresso escolar, verificando-se também que 3% dos casos de gravidez ocorrem entre os 12 e os 14 anos e 7% entre os 15 e 17 anos.

Em 2015, os ministérios da Família e Promoção da Mulher, da Educação e da Juventude e Desportos lançaram a campanha contra a gravidez e casamento precoces, com vista à promoção dos direitos das adolescentes e das jovens, igualdade de oportunidades com os rapazes.

NME // VM - Lusa

NARCOTRÁFICO FORTALECIDO COM CRISE POLÍTICA NA GUINÉ-BISSAU


Paulo Guilherme*

A Guiné-Bissau é ainda um importante pólo no tráfico de drogas da América do Sul para a Europa, com a “cumplicidade” entre militares e traficantes. Assim conclui um recente relatório da Jane´s Intelligence Review, agora reforçado por uma investigação da revista de relações internacionais Foreign Policy, que considera mesmo que a atual crise política fortaleceu as ligações dos narcotraficantes aos militares.

Quase quatro anos depois de um golpe de Estado fomentado por oficiais ligados ao tráfico de droga, que levou o assunto ao Conselho de Segurança da ONU, a investigação da Foreign Policy faz um retrato desolador dos esforços de combate ao narcotráfico no país, sumariada no título “Como Não Consertar um Narco-Estado Africano”. Apesar do apoio europeu e das acusações contra António Indjai, Bubo Na Tchuto e outros, a força continua do lado do narcotráfico, conclui.

Alguns “atores chave” numa administração pública “reconhecidamente corrupta” continuam a apoiar o narcotráfico, tirando partido da “persistente instabilidade política”. A atual crise política desencadeada pela demissão do primeiro-ministro Domingos Simões Pereira pelo presidente da República, José Mário Vaz, veio agravar a situação”

O conflito entre as duas figuras do PAIGC “aprofundou uma crise política que fortaleceu a determinação de oficiais militares de proteger o tráfico de cocaína como fonte fundamental de receitas”, escreve a Foreign Policy.

Além de “muita da elite dirigente” ser vista como implicada no tráfico, alguns “elementos seniores das Forças Armadas asseguram segurança e logística a cartéis sul-americanos em troca de dinheiro e droga”

O representante do gabinete anti-drogas da ONU (UNODC) em Bissau estima que dezenas de toneladas de cocaína ainda transitem pelo país todos os anos, de que apenas “uma pequena fração” é apreendida todos os anos. A quantidade transitada é menos do que no passado, mas mais do que o orçamento das Forças Armadas de muitos países da região.

A revista dá como exemplo da falta de capacidade das autoridades o caso de um militar colocado nas Bijagós, arquipélago que se acredita ser um dos epicentros dos fluxos de narcóticos no país. Tendo como missão combater o narcotráfico promovido por grandes cartéis internacionais com meios sofisticados, relata à revista que não tem sequer equipamento de comunicações – apenas um telemóvel.

*África Monitor

Guiné-Bissau. POLÍTICOS DE VERGONHA E POVO HUMILHADO!


O Democrata, editorial

O povo guineense assiste passiva e impotentemente a mascarrada dos políticos que se comportam em autêntica banda de “criminosos” neste país empobrecido. A atual crise demonstra até que ponto esses senhores estão dispostos a disputar o poder em detrimento de sacrifícios de quase dois milhões de almas. É dolorosa esta tamanha falta de respeito para com o povo, o único detentor do poder. Mergulhados numa arrogância cega, os políticos não ouvem e nem respeitam a ninguém e a consequência de tudo isso é o abismo a que todos nós assistimos hoje.

A atual crise política podia ser evitada se houvesse o bom senso, o respeito e a vontade de diálogo. Infelizmente, a cultura da anarquia, de “matchundadi” suplantaram todos os valores éticos e morais que devem sustentar o exercício saudável da política. E nisto, há que se atribuir devidas responsabilidades.

O principal responsável perante este descalabro colectivo, na nossa opinião, é o Presidente da República que, em vez de ser um verdadeiro árbitro e promotor de diálogo entre diferentes partes, preferiu integrar a orquestra de conflitualidade e arrastar o país para o abismo. Sendo parte de problema, o Chefe de Estado vê limitada a sua margem de manobra enquanto garante de estabilidade e de unidade nacional. O Presidente falhou de forma flagrante! Um Presidente não deve pertencer ou aproximar-se a uma ala – sob pena de não inspirar confiança outra(s) ala(s) em conflito.

José Mário Vaz deve imperativamente sair hoje do silêncio a que se remeteu e redefinir a sua visão de liderança de Estado. De Chefe de Estado. É urgente ao Presidente abandonar a lógica de cumplicidade, de conflitualidade, de confronto em detrimento da lógica de construção de amplos consensos através de diálogo constante entre diferentes atores nacionais. Só isso trará a concórdia e abrir caminho para a reforma política profunda neste país. Qualquer que seja a mudança, não se faz com o medo nem com a força.

Este país não pode avançar com a lógica de confronto que sistematicamente assassina quaisquer esforços e iniciativas positivas com vista a criar condições para o progresso. Este país já experimentou todas as formas de crises e é tempo de corrigir e avançar. A roda já foi inventada, não há nada mais por fazer.

A solução para atual impasse resultar-se-á obrigatoriamente pela mudança de atitude da classe política através da tolerância, do respeito mútuo e sobretudo do diálogo. Os conflitos sempre existirão e é na concertação permanente onde reside a fonte do remédio da convivência sã. Só quem entende esse preceito pode integrar a lista de políticos bem sucedidos na política, no conceito da democracia – do povo, para o povo e com o povo.

O Povo guineense aspira viver em paz e experimentar o progresso a que tem direito. É inadmissível que o grupo de indivíduos continue a criar obstáculos à realização deste sonho merecido. Basta de política de “barriga cheia”, de anarquia e miséria do povo!

Este país merece uma classe política melhor que esta que tem. Há que ter respeito para com o povo. Brincar com o povo é perigoso. A história já demostrou!

Costa fez a visita politicamente mais importante de um governante português a Cabo Verde



Leston Bandeira*, opinião

Muitos estranharam que o primeiro ministro de Portugal, António Costa, tivesse escolhido Cabo Verde para a sua primeira visita oficial. Na conclusão da mesma, ficou claro que é o princípio da efectivação de uma estratégia, enunciada ao longo da campanha eleitoral e perceptível nesta sua primeira movimentação com o seu ministro dos negócios estrangeiros, Augusto Santos Silva.

A Europa olha para África como um foco de grandes preocupações, presentes, mas sobretudo, futuras. Portugal é, de entre os membros da União Europeia, um dos Estados com mais profundas ligações a África e pode, por isso, desempenhar um papel importante na tentativa de aliviar as tensões africanas.

É conhecida a especial atenção que a Cidade da Praia dedica à política externa. Não se pode esquecer que foi Cabo Verde que desenvolveu a estratégia diplomática para terminar com a presença de tropas cubanas em Angola, para garantir a Independência da Namíbia e, posteriormente, terminar com a guerra entre Angola e a República da África do Sul. Esta viagem de António Costa é, no fundo, o princípio de uma aliança interessante para ambos os países e que pode estender-se a outros. Moçambique poderá mesmo ser o próximo passo táctico de António Costa, a que juntará Janira Hopffer Almada ou Ulisses Correia da Silva.

Um primeiro passo desta "aliança" pode vir a ser dado em relação à Guiné Bissau, onde, de novo, se entrou numa crise política que pode dar maus resultados e já fez andar para trás algumas das vitórias dadas como certas ainda há pouco tempo: por exemplo ter deixado de ser um estado de nacrotráfico. De resto os dois primeiros ministros manifestaram uma “profunda preocupação” com o que se passa na Guiné Bissau, onde o Parlamento deixou de ter condições para cumprir a sua missão e o governo tem a oposição do presidente da República.

Além disso, a CPLP vai eleger, brevemente, o secretário executivo – numa altura em que os “Cinco”, para além dos problemas internos de cada um têm, para solucionar as questões levantadas com a adesão da Guiné Equatorial, cuja ligação a Timor Leste também é um problema. Esta eleição foi, evidentemente, discutida nos vários encontros.

Costa juntou-se aos cabo-verdianos, em vésperas de eleições legislativas, comemorou o” Dia dos Heróis”, assinalando o 43º aniversário do assassinato de Amilcar Cabral, a que juntou, com o apoio das entidades cabo-verdianas, uma homenagem a António Almeida Santos, falecido dois dias antes.

Um homenagem a propósito, já que Almeida Santos foi o ministro que conduziu a descolonização e a de Cabo Verde tinha um problema grave para resolver porque Spínola entendia que o Arquipélago não devia ser independente mas ter um estatuto semelhante ao da Madeira e Açores. Almeida Santos foi dos que mais lutou para insistir no cumprimento total do programa do MFA: Cabo Verde devia ser um país independente.

António Costa encontrou-se com as mais altas individualidades da Cidade da Praia. Esteve também se encontrou com os principais dirigentes partidários: Janira Hopffer Almada, presidente do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde ( PAICV), candidata ao lugar de José Maria Neves, que deixou a presidência do partido e é apontado como possível escolha do PAICV para as eleições presidenciais, que também se irão disputar este ano, em data ainda desconhecida.

Do Movimento para a Democracia (MpD), partido do presidente Jorge Fonseca, esteve com Ulisses Correia da Silva dirigente máximo e até há pouco presidente da Câmara Municipal da Cidade da Praia, cargo de que se demitiu para ser adversário de Janira nas eleições de 20 de Março.

Ulisses evoca um certo paralelismo do seu percurso político com o de António Costa, pelo sua condição de ex-autarca e Janira evoca o facto de o PAICV e o PS fazerem parte de uma importante organização política: a Internacional Socialista.

Estas circunstâncias não são de somenos importância para os objectivos de António Costa, já que, antes de uma disputa eleitoral – que se adivinha renhida – estabelece contactos com os possíveis vencedores. As propostas apresentadas durante estes dois dias podem, portanto, ser enquadradas nas futuras projecções governativas de Cabo Verde, quer com o PAICV, quer com o MPD.

No final, ficou a proposta de que a CPLP se constitua num espaço de livre circulação económica e de pessoas e o desenvolvimento de uma cooperação em sectores específicos: energias renováveis, economia marítima e tecnologias de inovação. No domínio da cultura, a colaboração na concretização do Conservatório Nacional das Artes.

Um política externa que busque o centro e fuja abertamente da periferia permitira a António Costa ter uma outra voz no seio da União Europeia e esse reforço conviria a toda a CPLP, sobretudo se houver a habilidade para solicitar a cada um a contribuição que mais convém para fortalecer o grupo.

Esta não foi apenas uma viagem de circunstância. Em quarenta anos deve mesmo ter sido a viagem mais importante, do ponto de vista político, de um governante português a Cabo Verde.

*África Monitor

CIDADANIA E ESTADO



Durante o governo de direita em Portugal, de 2011 a 2014, assistiu-se a um esforço da Troika (FMI e UE) para transformar o Estado, que se queria social e apoio à população, em fiscal e perseguidor dos cidadãos. Era o contrário da democracia instaurada pelo 25 de Abril há quarenta anos, que começou a ser minada por Mário Soares em 1976 quando eleito, ao trazer o programa da social-democracia subordinado ao imperialismo para dirigir a vida política nacional. Durante estas 4 décadas, o PS aproximou-se dos partidos de direita com quem alternou a condução do governo até eleger Sócrates (formado na juventude do PSD e preparado pela TV) para desempenhar como socialista as orientações do Clube de Bildemberg, basilar na União Europeia. Com uma gestão financeira desastrosa que aprofundou a dívida nacional (misturada com dívidas privadas), abriu caminho para os partidos de direita, PSD/CDS, assumirem o Governo como emissários das orientações diretas das Comissões Européias que consideram o país a serviço da gestão financeira e não da democracia. Ou seja, abandonou-se a preocupação com o desenvolvimento social e económico que eleva as condições de vida e trabalho dos cidadãos a favor das regras do mercado internacional e da acumulação de capital nas empresas financeiras privadas.

Tal percurso fortaleceu a direita em Portugal, que se ofereceu como agente do imperialismo adotado pela UE para subordinar a nação a um projeto externo, mas despertou a esquerda para a busca de apoio organizado em pequenos partidos e de uma tendência dentro do PS, que acompanharam o fortalecimento do movimento sindical na defesa dos direitos democráticos levantados no 25 de Abril. A estabilidade ideológica do PCP permitiu que liderasse uma unidade de esquerda que apoiou a eleição de um governo PS à esquerda, destronando a direita. Foi clara a introdução do conceito de esquerda, de cidadania e de Estado social (para atender a população e as forças produtivas contra a ganância financeira do setor financeiro que delapidara a independência nacional), nos debates políticos inclusive promovidos pela média. Isto coincidiu com mudanças simultâneas em toda a Europa, detonadas com o flagelo dos milhões de fugitivos das nações bombardeadas (tanto pelas forças da NATO e do imperialismo norte-americano como do grupo auto denominado Estado Islâmico).

Vemos a oscilação das condições de cidadania, quando o Estado é um instrumento para o desenvolvimento social e económico - com o 25 de Abril em 1974 - e com as forças de esquerda no Parlamento em fins de 2015 - ou quando o Estado é controlado por um poder externo e exerce o seu poder fiscal e de causador da austeridade que leva o povo à perda dos seus direitos sociais: pensões, emprego, habitação, saúde, escola, alimentação, transporte, segurança civil. Corresponde à tendência individualista do sistema capitalista que deixa as pessoas sem os recursos institucionais da cidadania.

Mesmo os governantes submissos pensam poder redimir-se das falhas de administração atribuindo os erros às "ordens recebidas da UE", o que não justifica perante o povo e o país, a nação que o elegeu para defender a soberania do país.

Mas o facto é que o governo da direita, PSD/CDS, transformou o Estado no fiscal prepotente, capaz de levar a habitação do cidadão a leilão para pagar uma dívida pequena. Face a esta situação, o governo PS de hoje, que atende o programa da esquerda, trouxe um alívio que é a confiança no Estado e não o medo ou a revolta. Sente-se o benefício dessa confiança que aproxima o cidadão às instituições que respeitam os direitos democráticos.

A Europa está em crise diante dos erros e crimes cometidos contra a soberania das nações - levando a guerra para dentro das que estão no Oriente Médio e Norte da África ou que deixaram o socialismo soviético - e das que compõem a União Europeia, através da imposição de decisões financeiras e de política social anti-democráticas. Nada fez pela paz, que seria o único objetivo para evitar o fluxo de populações desesperadas em busca de refúgio e condições de vida equilibrada, nem mesmo impediu que bandos de traficantes organizassem a saída pelo Mediterrâneo iludindo os viajantes com inadequados barcos insufláveis para enfrentar tempestades marítimas. Também não foi capaz de organizar missões de salvamento deixando que centenas de milhares de adultos e crianças andassem a pé, no frio e na chuva, em busca de socorro entre os países europeus ou morressem afogados. Uma falência vergonhosa que se somou à crise de gestão política no continente.

A consequência nos países mais ricos é o ressurgimento do nacionalismo de direita com os grupo e partidos neo-nazistas e as ações terroristas por grupos que foram armados para as primeiras invasões imperialistas das chamada "primaveras" com o objetivo de anarquisarem as sociedades mais frágeis. Diante deste caos civilizacional, só referem a crise financeira que atinge uma elite apátrida, egoista e criminosa em relação aos cidadãos que pagam, com a austeridade imposta, os seus roubos e incompetências na gestão do dinheiro público.

Os Estados Unidos, arrotam grandeza ameaçando os terroristas - que criaram como mercenários para gerar conflitos sociais que "justificaram" as suas invasões - e os países ricos da Europa seguem o modelo valendo-se das mortes que se multiplicam como revanche do Estado Islâmico nos seus centros urbanos. O mesmo ocorre com Israel que aterroriza permanentemente o Estado Palestino. Correm atrás do estopim que eles próprios acenderam para se fazerem de defensores dos seus povos. Mas fogem da paz "como o diabo da cruz".

Os povos que despertaram para a defesa da cidadania com um Estado democrático à esquerda, criam a única defesa possível para deixar uma sociedade responsável e saudável para as novas gerações.

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.

Portugal. EDGAR APELA AO VOTO “VERMELHO, ESCARLATE, DA COR DA LUTA”


O membro do Comité Central do PCP e candidato Edgar Silva dramatizou hoje o apelo ao "voto vermelho, escarlate, da cor da luta" num comício desta noite da Amadora, a um dia do final da sua campanha presidencial.

"Que seja um voto inteiro, completo, que é não apenas em parte, para sossegar a consciência de um dever cumprido. Para que o voto seja nesta candidatura, que é a única, a nossa, dos valores de Abril, que garante um voto vermelho, autenticamente, despudoradamente, desavergonhadamente vermelho, que não engana", incitou.

Perante cerca de 300 pessoas, num jantar servido no salão dos bombeiros voluntários amadorenses, o deputado regional madeirense defendeu que "ninguém pode ficar de fora, a assistir, no sofá, de pantufas a ver a banda passar".

"Esta é a hora, a nossa hora, a hora da militância, da força do coletivo se afirmar para que Abril saia vencedor no próximo domingo", advertiu, recebendo palmas e palavras de ordem de apreço.

Para Edgar Silva, o voto na sua candidatura é "o voto vermelho da cor da luta, daqueles que lutam pela justiça, pela transformação da história, pelos direitos, liberdades e garantias".

"Está na nossa mão esclarecer, mobilizar para que esse voto seja vermelho, escarlate, bem vermelho, o voto da cor da luta, mas que não trai em situação alguma, que não trai o povo, os trabalhadores, Portugal e os portugueses", garantiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Edgar Silva salienta diferença entre sondagens e "o clamor da rua"

O candidato presidencial Edgar Silva chamou hoje a atenção para a diferença entre o que estimam as sondagens, que apontam "para o passado", e o "clamor da rua, dos trabalhadores e do povo", questionando "quem fala verdade".

"[As sondagens] têm a ver com o que era antes, na semana anterior, anteontem. Hoje, a multidão que se agiganta, que grita por Abril... Entre a rua e a vida, quem fala verdade? É a vida, a rua, o povo, os trabalhadores", afirmou, depois de serem conhecidos diversos estudos de opinião em que figura com intenções de voto de até 5% e referindo-se à "arruada" bastante participada entre o Chiado e a Baixa lisboetas.

Salvaguardando não ter qualquer preconceito contra aquela "dimensão da ciência política" ou "suspeição em relação a quem as faz", Edgar Silva frisou que as sondagens procuram "captar o que já aconteceu", enquanto a "dinâmica da vida, o futuro, é, por definição, o que ainda não aconteceu, o que está por vir" e "não há sondagem que consiga acompanhar como está a crescer esta pujante afirmação dos valores de Abril".

"Esse contraste é tão forte que, entre a rua e a vida e aquilo que está a acontecer quem fala verdade? [É] a vida, a rua, o povo, o trabalho, os trabalhadores!", vincou, desconfiando das estimativas de "votação elevada no candidato apoiado por Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas, Marcelo Rebelo de Sousa".

O membro do Comité Central comunista disse interrogar-se sobre a real possibilidade de "aqueles homens e mulheres que foram - e são aos milhares em Portugal - roubados nos seus salários, rendimentos" irem, de facto, colocar "o seu voto igual ao daqueles que foram responsáveis pelo roubo".

"[Entre] todos aqueles que ao longo destes anos foram assaltados, qual o homem ou mulher de bom senso que, depois de assaltados, iria dar um prémio a quem o assaltou!?", indignou-se.

O candidato reiterou que o seu projeto para o Palácio de Belém assenta na "liberdade, democracia, direitos humanos, paz e cooperação entre os povos".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. MARQUES MENDES ESCUTADO A PEDIR AJUDAS A ARGUIDO DOS VISTOS GOLD


Caso dos vistos gold levou à demissão de Miguel Macedo, antigo ministro da Administração Interna. A demissão foi por razões políticas mas, já depois de sair do executivo, acabaria por ser constituído arguido

Não é a primeira vez que o nome de Marques Mendes surge associado a conversas com arguidos no caso da atribuição de vistos gold. Mas o antigo líder do PSD surge em escutas e a falar de outras ajudas, embora realce que não fez nada de errado.

As escutas de que o Público dá agora conta envolvem processos que já conhecíamos desde finais de 2014: Marques Mendes terá chamado a atenção para a atribuição de nacionalidade portuguesa à mulher de um dos maiores empresários de Moçambique mas também a uma cidadã brasileira que tencionava fazer investimentos avultados em território nacional. Mas houve mais pedidos.

Numa das chamadas que fez a António Figueiredo, o antigo presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), arguido e alvo de vigia e de escutas por parte da Polícia Judiciária, Marques Mendes pediu ajuda para tratar do cartão de cidadão da filha. “Era uma situação de emergência”, diz ao Público, explicando que a filha se ia casar e precisava do documento para tratar da escritura.

O empresário moçambicano que é assunto noutra escuta é Salimo Abdula. O processo de atribuição de visto à sua mulher parecia ter ‘pernas para andar’ mas demorava. “Podemos eventualmente ir pela via da discricionariedade”, diz António Figueiredo. “Claro, claro”, responde Marques Mendes, que ainda se disponibiliza para falar com o então ministro da Economia, Pires de Lima.

Sobre este caso em particular, Marques Mendes, questionado pelo Diário de Notícias, explicou ter feito apenas um “alerta”. E se dúvidas houvesse sobre se em causa estava alguma forma de cunha, “ainda hoje não está resolvido” este processo, explicou o comentador da SIC.

Noutra das escutas o assunto é um projeto para trazer feridos de guerra líbios para Portugal. Aqui o interlocutor de Marques Mendes é Jaime Gomes, amigo do ex-ministro Miguel Macedo. Neste caso era Marques Mendes a dar a ajuda, jurídica e fiscal. “Coloquei-o em contacto com uma especialista em direito fiscal”, explica ao Público. Mas o mesmo jornal revela outra parte da conversa sobre este negócio envolvendo feridos líbios.

Bem-disposto, Jaime Gomes faz uma piada: “Quanto mais feridos houver, mais oportunidades existem”. Jaime Gomes explica que não quer que ninguém morra, mas quer que a sua vida “corra”. Marques Mendes acompanha o sentido de humor: “só convém que não morram”. Porém, “se os gajos ficarem assim um bocado tortos, isso até dá jeito”.

Pedro Filipe Pina – Notícias ao Minuto

Portugal. "Ajudas à banca servem acionistas e não necessidades do país" - Miguel Tuago


O deputado comunista Miguel Tiago considerou hoje que os auxílios estatais ao setor financeiro têm servido os interesses dos acionistas dos bancos, mas prejudicam as necessidades dos contribuintes, defendendo o controlo público da banca.

"Porque é que para os bancos há sempre todos os recursos, mas para servir os serviços do Estado esses recursos falham, dando resposta não às necessidades do país, mas aos acionistas dos bancos", lamentou.

Segundo o deputado do PCP, que falava durante a discussão das propostas para a constituição de uma comissão de inquérito ao Banif em reunião plenária no parlamento, "os banqueiros sabem que contam sempre com o Governo".

Miguel Tiago sublinhou que "o governador do Banco de Portugal disse na altura da injeção de 1.100 mil milhões de euros [no Banif, em 2013] que era um bom negócio, já que dava uma taxa de 10%. Agora nem se fala na taxa, e nem os 1.100 milhões de euros se vão recuperar".

Daí, concluiu que os resgates à banca "servem os interesses do setor privado" e que só há uma solução para ultrapassar este problema, que "é ser o povo português o acionista dos bancos".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. A última piada que ouvi? Que o nosso problema era (só) com os políticos


Rute Sousa Vasco*, opinião

Das eleições presidenciais cuja campanha para a primeira ou única volta hoje termina, já se ouviu dizer muita coisa. Que são maçadoras, que são favas contadas, que são pitorescas, que não interessam para nada, que põem fim ao cavaquismo, que são plurais, que puxam pelas mulheres, que são uma fantochada. Os comentários estão naturalmente centrados nos candidatos e nas suas performances e pouco no eleitorado – todos nós, que os elegemos. Aliás, como o tema das subvenções vitalícias aos políticos bem nos recordou, o único problema de Portugal são políticos imprestáveis e pouco dignos do povo que têm. Porque, naturalmente, a maioria dos portugueses não hesitaria perante a promessa de uma renda vitalícia depois de 12 anos de trabalho – diria imediata e naturalmente que não.

Perdoem a ironia. Mas a política somos todos nós e não apenas os políticos, e só assumindo essa responsabilidade partilhada nós, os governados, poderemos exigir mais a quem nos governa. E a democracia é tanto melhor, mais robusta, participada e suportada em valores que nos possam orgulhar, quanto melhor for a vida das pessoas, a educação, a saúde, as casas onde vivem, o mundo que podem conhecer. A ideia romântica da democracia de barriga vazia mas coração cheio apenas serve para perpetuar o mito do bom povo que tanto convém aos efectivos maus politicos e não a todos os políticos. Porque, tal como no povo, não são, não somos, todos iguais.

Olhemos para nós próprios e olhemos para o lado. Para aqueles com quem trabalhamos. Para os vizinhos do bairro. Para os pais que encontramos nas reuniões da escola. Quantas atitudes de demonstração de pequenos poderes, apenas porque sim? Quantos comentários discriminatórios ou preconceituosos, apenas porque não se aceita a diferença? Quanta raiva escondida perante os outros que vivem melhor ou simplesmente sorriem mais (essa mania irritante de algumas pessoas de andarem de bem com a vida!)?

É mais simples generalizar, e quem não adora uma boa generalização. Os políticos maus, o povo bom, mais uma moeda no carrossel eleitoral para que nos possamos todos voltar a queixar do mesmo. É por nos perceber como povo que Marcelo concorda com tudo e com o seu inverso. É por acreditar que o povo é aquilo que vê à sua volta que Marisa faz piadas com o Sporting.

Na realidade, o que quer afinal a maioria dos portugueses? Com alguma probabilidade quer – mesmo – que não se toquem nas vacas sagradas da nação. Que se respeite a igreja, os bons costumes, o Benfica, o Sporting e o FC Porto. Que se digam coisas simpáticas sobre as mulheres – que força da natureza são, que bonitas, que falta nos fazem – mas que não se leve isso longe demais, que o histerismo está logo ali, ao virar da esquina. Que o humor tenha graça mas que não pise o risco, que toda a música seja boa e tenha honras de Estado.

Desanimados? Não estejam.

Não é um problema só nosso. Parece que é assim em quase toda a parte, a começar pela maior democracia do mundo. A BBC olhou com atenção para o carnaval das presidenciais americanas e mostra como nenhum outro país consegue rivalizar com este sucesso de bilheteiras. Lá como cá, os Donald Trump e as Sarah Palin são grandes animadores de audiências, mas não estão sozinhos – pelo contrário, são acompanhados, em casa, ou nos jantares, comícios e festas pelos milhões de americanos que, afinal das contas, representam.

OUTRAS COISAS A ACONTECER POR ESSE MUNDO FORA

O tema racial regressou em força à 7ª arte. Há menos de duas semanas, Tarantino foi acusado de racista, porque usou a expressão ‘gueto’ na cerimónia dos Globos de Ouro. Agora são alguns actores negros de Hollywood a protagonizar um movimento de protesto contra a não nomeação, pelo segundo ano consecutivo, de qualquer actor negro para os Óscares. Oscars so white, é a hashtag do protesto.

Há olhares que nunca vimos e que de repente nos conquistam. O de Leila Alaoui é um deles. Era fotógrafa, tinha 33 anos e foi uma das vítimas do atentado ao hotel Splendid no Burkina Faso que matou 29 pessoas. Deixa fotografias maravilhosas, deixa de certeza mais do que isso.

E agora, porque precisamos de notícias que nos façam sorrir, convido-vos a conhecerem o major Peak, o astronauta britânico que tem brindado o mundo com o seu humor visto do espaço. Há flores a nascer fora da Terra, sabem?

E mesmo a fechar, uma sugestão de fim de semana. Montalegre é uma vila que vale a visita em qualquer época do ano. Nas sextas-feiras 13, faz uma festa que já se tornou mítica. Mas este fim-de-semana o chamariz é mesmo a feira do fumeiro que em 2016 faz 25 anos. Um belíssimo conforto em dia de eleições, antes ou depois do voto.

Tenham um bom fim de semana!

*Sapo 24

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