sexta-feira, 22 de julho de 2016

São Tomé e Príncipe. TENTATIVA DE FRAUDE ELEITORAL NA ORIGEM DA SEGUNDA VOLTA



A "novela eleitoral" em São Tomé e Príncipe continua, os candidatos presidenciais mais destacados são objeto noticioso da Agência Lusa.

Maria das Neves e Pinto da Costa tecem considerações e apresentam condições para a realização da segunda volta das eleições, constatado que está que a Comissão Nacional de Eleições anunciou fraudulentamente um vencedor das eleições que não tinha votos para ser assim considerado. O vencedor fraudulentamente anunciado, Evaristo de Carvalho, é publicamente reconhecido como elemento incondicional da família Trovoada.

Por via do cambalacho da CNE, se acaso Evaristo tomasse posse como PR tal significaria que estaria em uníssono com o atual primeiro-ministro Patrice Trovoada e o unaninismo prevaleceria, com fortes possibilidades de vir a ser prejudicial para a democracia santomense já tão debilitada. Mau para o país.

Os receios de tal situação acentam no justiificado temor de ser uma única família a apoderar-se do país, agravando “mais cedo que tarde” as carências.

Cidadãos de São Tomé e Príncipe no exterior avançam com o receio de todo este esforço para se apoderarem dos poderes do país também tenha muito que ver com a possibilidade de “quando oportuno deitarem as mãos ao petróleo que proximamente estará em vias de exploração e a render frutos”. Dizem que o petróleo é pertença dos santomenses “e não dos Trovoadas” ou de quaisquer outros políticos ou famílias.

"Houve uma tentativa de fraude eleitoral. Porquê? A quem servia?" - perguntam.

Se é assim ou não está por provar. O que não há dúvida é que este processo eleitoral enfermou de muitas irregularidades – como referem os candidatos. A CNE ao anunciar a vitória do candidato dos Trovoada indevidamente foi “a cereja em cima do bolo podre”, referiram santomenses - que “nem por sombras querem ver o país a 100% na posse da família Trovoada”.

Facto é que se não for a 100% pode vir a acontecer em larga percentagem, dizemos nós. (PG)

Maria das Neves acusa Evaristo de Carvalho de querer ganhar "no gabinete"

A candidata derrotada nas eleições presidenciais são-tomense Maria das Neves acusou hoje a candidatura do seu adversário Evaristo de Carvalho de querer ganhar "previamente no gabinete".

Na sua primeira declaração pública depois de divulgados os resultados provisórios que a colocaram em terceira posição com 24,1% dos votos, Maria das Neves diz que depois do ato eleitoral de domingo passado "São Tomé e Príncipe vive momentos verdadeiramente preocupantes", que ameaçam mesmo a "jovem democracia" do país.

"Estamos perante um processo ardilosamente preparado e previamente anunciado, visando no essencial impor-nos uma vitória arrancada das urnas custe o que custasse e à primeira volta", disse.

"Esta forma antidemocrática, por isso fraudulenta, injusta e não transparente levou o partido no poder e o seu candidato a festejarem apressadamente uma vitória que só eles tinham decidido", sublinhou Maria das Neves numa declaração lida aos jornalistas.

"A panóplia de irregularidades e violações que foram objeto essas eleições e que, no nosso entender viciaram à partida todo o processo, levou a nossa candidatura a recusar publicamente os resultados, exigindo a sua anulação porque não foram livres, nem justas, nem transparentes", acrescentou.

Maria das Neves considera falsos os argumentos da Comissão Eleitoral são-tomense segundo os quais os resultados da votação em Maria Luísa e na diáspora ditaram a realização de uma segunda volta do escrutínio.

"Trata-se de um falso pretexto que indica como todo este processo está eivado de vícios que reclamam a sua anulação", explica Maria das Neves.

Por seu lado, o Movimento de Libertação de São Tomé - Partido Social democrata (MLSTP-PSD) principal partido da oposição que apoiou a candidatura de Maria das Neves pediu hoje a demissão da Comissão Eleitoral Nacional, particularmente do seu presidente.

O MLSTP-PSD alerta a toda a comunidade internacional para as consequências que daí poderão advir devido a falta de transparência revelada pela comissão Eleitoral Nacional", diz o comunicado lido por Aurélio Martins, presidente deste partido.

Os sociais-democratas criticam também "a presença excessiva e fortemente armada das forças de segurança e militares nas assembleias de voto, numa clara atitude de coação psicológica sobre os eleitores".

Também o Movimento Democrático Forças de Mudança - Partido Liberal (MDFM-PL) que apoiou a candidatura de Maria das Neves exigiu também hoje a demissão do presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN) Alberto Pereira.

"Essas eleições foram imbuídas de vícios, irregularidades, de erros e diríamos mesmo de corrupção. São Tomé e Príncipe tem vindo a realizar eleições com normalidade, mas desta vez houve situações imperdoável. Por isso exigimos a demissão do presidente da comissão eleitoral", disse Manuel de Deus Lima, membro da comissão politica deste partido em conferência de imprensa hoje.

MYB // APN - Lusa

Pinto da Costa recusa ir à segunda volta sem demissão da Comissão Eleitoral

O candidato presidencial são-tomense Manuel Pinto da Costa exigiu hoje a destituição da Comissão Eleitoral, senão recusará participar numa eventual segunda volta das eleições de domingo passado, nas quais ficou em segundo lugar.

O diretor de campanha do também atual presidente de São Tomé e Príncipe leu aos jornalistas um comunicado em que se considera " não haver condições objetivas e subjetivas" para ir à segunda volta com o candidato mais votado, Evaristo Carvalho, porque se passaram "uma série de ilícitos punidos pela lei eleitoral".

Por isso, afirmou Guilherme Posser da Costa, exige-se "a destituição da atual comissão eleitoral", que está a "prestar um muito mau serviço à nação".

Só assim, considera a candidatura de Pinto da Costa, é que estarão "restabelecidas todas as condições legais que garantam que as eleições sejam verdadeiramente livres, justas e transparentes".

O apuramento final da primeira volta das eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe, realizada no passado domingo, será feito na segunda-feira pelo Tribunal Constitucional (TC), disse na quinta-feira à Lusa o porta-voz da Comissão Eleitoral Nacional (CEN).

Ambrósio Quaresma disse que é possível que seja necessária a realização de uma segunda volta, mas a decisão final será da responsabilidade do TC.

Os resultados provisórios anunciados no dia das eleições apontavam para uma vitória à primeira volta do candidato apoiado pelo governo, Evaristo Carvalho, com 50,1% dos votos, contra 24,8% do recandidato ao cargo Manuel Pinto da Costa e 24,1% de Maria das Neves (apoiada pelos partidos da oposição parlamentar).

Os resultados anunciados no domingo pela CEN indicavam que Evaristo Carvalho havia vencido à primeira volta por apenas 188 votos de diferença relativamente à soma dos demais candidatos.

As candidaturas de Manuel Pinto da Costa e Maria das Neves apresentaram na terça-feira um pedido de impugnação junto do Supremo Tribunal de Justiça são-tomense, alegando "várias irregularidades com a votação de eleitores que se haviam abstido".

MYB/APN // APN - Lusa - Na foto a candidata Maria das Neves

Angola. ALEGRIA E REVOLTA



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Se o caso dos 15 + duas fosse um desafio de xadrez, a anunciada amnistia, recentemente aprovada, a qual liberta todos os condenados até 12 anos por crimes não violentos, poderia ser considerada uma jogada muitíssimo hábil por parte do governo. Trata-se de um improvável xeque-mate, num jogo que, até ao momento, estava a ser claramente dominado pelos revús. Com esta jogada o regime encerra uma longa e burlesca série de desvarios e disparates, que o vinha corroendo por dentro e por fora. Consegue, além disso, não perder inteiramente a face: os revús saem, sim, mas não inocentados. Esta jogada pode impedir também os  15 + duas de perseguirem judicialmente o Estado angolano.

Não se tratando de um desafio de xadrez, mas da vida de pessoas inocentes, não há como não nos alegrarmos. Alegramo-nos por saber que se encerra uma situação de aflitiva injustiça, ainda que essa alegria não atenue a revolta. Os jovens democratas permaneceram presos durante um ano. Não consigo nem imaginar o sofrimento por que passaram ao longo de todos esses meses, juntamente com as respectivas famílias. O Estado angolano roubou-lhes um ano de vida. Sujeitou-os a um sem fim de pequenas humilhações e de enormes injustiças. Troçou deles e do país inteiro.

E fica assim mesmo?

Ninguém é responsabilizado? Não se indemnizam as vítimas?

Pode ser que este seja o fim do processo dos 15 + duas. O fim de um jogo. Contudo, o torneio continua. Outros jogos começam agora, com os mesmos jogadores. Não é de prever que os revús baixem os braços. Saem para a liberdade com uma audiência que nunca tiveram; com uma grandeza que sempre foi deles, mas que os adversários se recusavam a ver e, finalmente, com uma tremenda  autoridade moral.

Há um ano atrás poucos os escutavam. Hoje, todos – dentro e fora do país – os querem escutar. Li com atenção as entrevistas que Domingos da Cruz e Luaty Beirão concederam ao Rede Angola. Li outras entrevistas e declarações. São, todas elas, uma comovente lição de solidariedade e generosidade. Não percebi nelas uma sombra de rancor. Os jovens revús manifestam-se preocupados com as condições  dos presos de delito comum. Reconhecem qualidades humanas em muitos dos guardas e dos funcionários do sistema prisional. Mostram-se sempre mais preocupados com os outros do que com eles próprios.

A luta pela democracia ainda está longe do fim. Nos próximos meses irá ganhar um novo fôlego, uma outra força. Quando um dia, democratizado e pacificado o país, se escrever a história do combate por uma Angola melhor, os 17 nomes dos jovens revús terão largo destaque.

Portugal estuda linha de crédito para regularizar 160MEuro de salários em atraso em Angola



O Governo português está a estudar o lançamento, ainda este ano, de uma linha de crédito que permita regularizar os 160 milhões de euros de salários que há vários meses os trabalhadores portugueses em Angola não conseguem repatriar.

A intenção foi manifestada hoje, em Luanda, pelo secretário de Estado da Internacionalização de Portugal, Jorge Costa Oliveira, durante uma visita a empresas portuguesas instaladas em Angola.

O governante garantiu que a linha que está a ser pensada, com o eventual recurso ao Tesouro português, dará prioridade aos salários dos expatriados nacionais por transferir para Portugal "há vários meses", face à escassez de divisas, mas também poderá ser utilizada para garantir pagamentos em atraso a empresas portuguesas em Angola.

"Os nossos cálculos preliminares apontam para 160 milhões de euros, só de [salários de] trabalhadores, mas que nós julgamos que deve ser dado tratamento preferencial, uma vez que há aqui problemas gravíssimos de gestão de orçamentos familiares que estão em causa. Até porque em muitos casos são pagamentos em atraso [transferências de divisas dos valores recebidos em moeda nacional] desde novembro do ano passado", explicou Jorge Costa Oliveira.

Esta linha de crédito, que pode também envolver seguradoras com o aval soberano do Estado português, deverá avançar ainda este ano, faltando "estudar o mecanismo de compensação", em termos técnicos, entre o Tesouro português e o Governo angolano.

"Mas há vontade e interesse das duas partes em fazer isso", assumiu o governante português, que desde terça-feira manteve, em Luanda, reuniões com empresários nacionais e membros do Governo angolano, como o ministro das Finanças, Armando Manuel.

Neste último dia em Luanda, reconheceu ainda que as próprias empresas também "precisam dessa estabilidade", nas transferências dos salários dos seus trabalhadores expatriados, "para manter a qualidade dos níveis de operação".

"O único aspeto em que precisamos de ponderar bem é saber exatamente em que termos é que o montante que disponibilizarmos para esse feito pode ter que ser levado a défice, e ver que implicações é que isso pode ter do ponto de vista da gestão orçamental. É o único problema neste momento e isso vai pesar nas modalidades alternativas [da linha de crédito]", apontou.

Esta linha poderá ainda envolver a cobertura de pagamentos em atraso às empresas portuguesas, mas com maiores limitações, tendo em conta os montantes envolvidos e ainda não totalmente contabilizados pelas autoridades portuguesas, admitiu o governante.

Angola é o maior produtor de petróleo de África, mas enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

O Governo angolano, confirmou hoje à Lusa fonte do Ministério das Finanças, já está a trabalhar na revisão do Orçamento Geral do Estado de 2016, precisamente devido à quebra nas receitas petrolíferas no primeiro semestre do ano.

PVJ// ATR - Lusa

ANGOLA APOIA CANDIDATO ESLOVACO A SECRETÁRIO-GERAL DA ONU



Miroslav Lajcak, também ministro dos Negócios Estrangeiros, foi recebido por Georges Chikoti e Manuel Vicente.

Georges Chikoti reconheceu que a cooperação entre Angola e a Eslováquia tem sido reduzida, mas que existe agora a vontade de relançar esse processo, com a reativação dos acordos estabelecidos ainda com a então Checoslováquia, que em 1993 deu origem à Republica Checa e à Eslováquia.

Além do investimento empresarial eslovaco em Angola, em áreas como sector mineiro, energético, construção, agricultura e máquinas, que envolverá um acordo bilateral de negócios, esta cooperação poderá passar ainda pela formação de estudantes e quadros angolanos naquele país europeu.

Lusa, em Rede Angola

Mediadores dizem que negociações de paz em Moçambique decorrem em clima favorável



A equipa de mediadores internacionais das negociações de paz em Moçambique considerou hoje que as discussões entre o Governo e a Renamo, principal partido de oposição, estão a decorrer num clima de entendimento favorável.

"A discussão está a continuar num clima que é de entendimento favorável. Como mediadores vamos continuar a criar as melhores condições para a melhor solução", disse, em conferência de imprensa, o representante da equipa de mediação, o italiano Mário Raffaelli.

Segundo Raffaelli, indicado pela União Europeia, os mediadores apresentaram propostas ao Governo e à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em relação à exigência do principal partido de oposição de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, que constitui o ponto em discussão agora, tendo as duas partes pedido a interrupção da sessão de hoje para consultas às suas lideranças.

"Como mediadores, levantámos sugestões, que agora as duas delegações vão examinar. A Renamo tem de fazer consultas, o Governo o mesmo", afirmou o representante dos mediadores.

Mário Raffaelli acrescentou que Governo e Renamo voltarão a reunir-se no próximo sábado, para o prosseguimento das negociações.

Apesar de as conversações terem sido retomadas na quinta-feira com a presença dos mediadores internacionais, as duas partes não cessam de fazer acusações sobre ataques armados e assassínios no centro do país.

A Renamo denunciou hoje bombardeamentos na serra da Gorongosa, centro de Moçambique, onde se presume encontrar-se o líder do partido, Afonso Dhlakama, no dia em que as autoridades moçambicanas responsabilizaram homens armados da oposição pelo assassínio de um régulo.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu na quinta-feira a cessação imediata dos confrontos militares.

"O que os moçambicanos querem é a cessação imediata da matança e destruição de bens", afirmou Nyusi, falando num comício no distrito de Mopeia, província da Zambézia, centro do país.

Numa entrevista concedida hoje ao semanário Savana, Afonso Dhlakama afastou um cessar-fogo imediato e disse que a questão só se colocará no fim das negociações entre as partes.

"Se nós cessarmos fogo, significa que a guerra terminou. Mas como ainda não chegámos a um acordo, não nos reconciliámos, não nos entendemos, significa que, meses depois, voltaríamos ao conflito e estaríamos a dececionar o povo", afirmou.

O Governo moçambicano e a Renamo iniciaram em Maputo na quinta-feira a discussão da exigência do principal partido de oposição de assumir a governação das seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

A agenda integra ainda a cessação imediata dos confrontos entre as partes, a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação, e o desarmamento do braço armado da Renamo e sua reintegração na vida civil.

O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

PMA // EL - Lusa

Murargy, SE da CPLP diz que relação familiar com Obiang não interferiu na adesão da Guiné Equatorial



O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) garantiu à Lusa que se manteve isento, "como funcionário internacional", na adesão da Guiné Equatorial, há dois anos, apesar da relação familiar com o Presidente equato-guineense, Teodoro Obiang.

A Guiné Equatorial aderiu à CPLP a 23 de julho de 2014, na cimeira de Díli, no final de um processo polémico em que Portugal foi o país que levantou mais objeções. A CPLP definiu um roteiro de adesão, que pressupunha que Malabo cumprisse alguns critérios, entre os quais a abolição da pena de morte, a introdução da língua portuguesa e maior abertura democrática.

Murade Murargy, que há quatro anos foi designado por Moçambique para o cargo de secretário-executivo da CPLP, disse, em entrevista à Lusa, que a sua relação familiar com Teodoro Obiang, que lidera a Guiné Equatorial há 35 anos, não interferiu no processo de adesão.

O diplomata moçambicano afirmou que, quando foi nomeado, já a sua filha namorava com um dos filhos do Presidente equato-guineense, e informou disso o Governo e o então Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, antes de iniciar funções na CPLP. A relação mantém-se até hoje e o casal tem um filho.

"Eu disse: para que fique claro, essa relação não tem nada a ver nem vai intervir neste processo da Guiné Equatorial", relatou à Lusa.

A Guiné Equatorial tornou-se observador associado da CPLP em 2006 e desde 2008 que ambicionava integrar a organização como membro de pleno direito, pretensão sucessivamente adiada até 2014.

"Nunca me envolvi ou influenciei quem quer que seja. Mantive a minha isenção de funcionário internacional, apenas seguindo as decisões que eram tomadas pelos órgãos competentes", sublinhou o diplomata.

Murargy acrescentou que, apesar de poder intervir, sempre optou por não falar nos Conselhos de Ministros (dos Negócios Estrangeiros) da organização.

"A minha opinião não conta, os Estados-membros é que decidem", disse, acrescentando: "Não é um relatório pessoal meu que vai ao Conselho de Ministros. Eu relato os factos, sem tirar conclusões".

A entrada da Guiné Equatorial ocorreu após "um minucioso processo", como descreve a CPLP na sua página oficial, e foi recebida com protestos, principalmente em Portugal, do meio político e cultural e também de organizações de defesa dos direitos humanos.

O regime de Teodoro Obiang, no poder desde outubro de 1979, é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.

As autoridades de Malabo dizem que a pena de morte foi suspensa desde a adesão à CPLP, mas falta a ratificação da decisão pelo Presidente.

JH // EL - Lusa

OS GURUS DA PRECARIEDADE



Rui Peralta, Luanda
  
Está o emprego condenado a extinguir-se? A resposta a esta pergunta comporta sentimentos e estados de alma diferenciados: por parte dos que vivem do seu salário comporta um sentido de negação dessa realidade, mesclado com uma angústia permanente causada pela incerteza; do lado dos que pagam salários existem atitudes diferenciadas (da desconfiança ao optimismo absoluto, do medo ao deslumbramento), conforme o nível em que se encontrem na escala.

Afirmar que a forma de redistribuição do capitalismo sob a forma de salário (e que nas tentativas socialistas realizadas no século XX manteve posição, inicialmente vista como resíduo, depois como fazendo parte do sistema, algo que iria ser abolido quando as condições o permitissem) está em fase terminal, devido á automação dos processos produtivos e da introdução das últimas tecnologias nesses processos, é pura especulação. Termina o emprego, termina o salário, termina a mão-de-obra proletarizada, tudo em função dos lucros excepcionais criados pela generalização da automação integrada é uma crença que começou a ganhar corpo prático nos anos 50, com a fragmentação de tarefas e que ampliou-se nos finais dos anos 70 com o advento neoliberal.

As utopias capitalistas giram, hoje, em torno de dicotomias como emprego/novos processos acumulativos, trabalho/aplicação tecnológica nos processos produtivos e salário/novas formas de redistribuição. E por uma razão simples: emprego e salário constituem dois alicerces sobre os quais assentou o capitalismo após a Revolução Industrial e que se tonaram dominantes, generalizadas, na economia-mundo. De uma forma geral, mas pouco objectiva, fala-se no fim do emprego, em prestações de recursos, novas formas de distribuição dos rendimentos, tudo provocado pela automação do sistema.

O saber e o conhecimento são revalorizados e vistos, simultaneamente, como valores de uso e de troca mas, também, como um valor prático que alguns consideram “omnitemporal”, produzido pelas descontinuidades e produtor de descontinuidades. Quanto ao salário pretendem os novos gurus que seja “contributivo”, distinto do salário universal, dominante até ao momento. Pretendem uma forma de remuneração que se integre nas “descontinuidades”. Na aparência este “salário contributivo” seria aproximado ao rendimento básico universal excepto no facto de não ser incondicional, ou seja, não seria para todos.

Excluídos ficariam os que não entram nestes processos sociais “personalidades frágeis”, desprovidas das “capacidades” necessárias. A estes seria cedido um “salário existencial” que garanta condições de sobrevivência elementar em alto nível de precariedade. É o apartheid social a ser instalado como modelo único de vida, a nova forma social adoptada pelo capitalismo nesta sua fase de alta rotatividade de capitais e de desmesurada concentração de riqueza nas mãos das oligarquias.

Desta forma, a nova visão “tecno” das variantes neoliberais, atira para o cemitério os direitos sociais adquiridos através de séculos de luta. Os direitos individuais dos trabalhadores e os seus direitos colectivos são transformados em cadáveres, assim como as suas formas autónomas de organização. O direito á greve passa a ser tema do combate ao terrorismo e o processo de democratização do ensino é transformado numa cadeia automatizada de produção de mão-de-obra qualificada, de baixo-custo e formatada para a obediência.

Esquecem-se, estes gurus baratos das utopias capitalistas, que há uma humanidade que desbrava caminhos através da aplicação dos seus conhecimentos e saberes, das suas capacidades e dos seus sonhos, da sua força braçal e criativa, socializando e humanizando o Trabalho, não como factor de exploração, mas de libertação.

“O PRESENTE DE DEUS” A ERDOGAN



José Goulão – Mundo Cão

O presidente da Turquia, Recep Payyp Erdogan, afirma que a tentativa de golpe militar de sexta-feira foi um “presente de Deus”: vai permitir-lhe “limpar” as forças armadas.
Quem fala verdade não merece castigo, pelo que todos os deuses evitarão punir o autocrata turco, embora sabendo que muitos são os seus pecados.

E “limpezas” são a especialidade deste padrinho e protector de uma miríade de grupos de mercenários e terroristas entre os quais se destacam, para os que não estão lembrados ou o ignoram, o Daesh ou Estado e Islâmico e a Al-Qaida nos seus muitos e variados heterónimos.

Limpou o país da oposição, acusando os principais adversários de servirem os direitos nacionais curdos e ameaçando privá-los da nacionalidade turca. Para que não surgissem obstáculos à sua ascensão ao topo presidencial do poder fez manipular actos eleitorais através da propaganda, da censura e do medo, de tal modo que nem os observadores do Conselho a Europa e da OSCE, embora reconhecendo as irregularidades em privado, ousaram torná-las públicas e definitivas.

Limpou o aparelho judiciário e militar saneando centenas de juízes e os procuradores que denunciaram a corrupção governamental e da família Erdogan, designadamente a sua familiaridade pessoal e financeira com o banqueiro saudita Yassim al-Qadi, próximo de Bin Laden e conhecido internacionalmente como “o tesoureiro da Al-Qaida”. Por essa razão, está sob a mira da ONU, o que não o impede de deslocar-se a Ancara em avião privado para conviver e gratificar generosamente a família presidencial.

Vem limpando paulatinamente as forças armadas, mas este “presente de Deus”, como admitiu o próprio Erdogan, proporciona-lhe uma oportunidade de ouro para acelerar o processo. A partir de agora ruirá o maior obstáculo secular à confessionalização de um regime turco formatado em estrutura ditatorial e em teor fundamentalista islâmico.

Erdogan fala claro, disso não tenhamos dúvidas. Há 20 anos, em plena ascensão na carreira política, iniciada entre os fascistas e supremacistas “lobos cinzentos”, definiu a democracia como “um eléctrico que abandonamos quando chegamos à nossa paragem”. Recentemente falhou a consulta para impor uma Constituição “inspirada em Hitler” – as palavras são suas – de modo a consolidar um poder presidencial absoluto.

A seguir a esse intuito por ora fracassado, Erdogan começou então a receber “presentes de Deus”.

O atentado contra o aeroporto de Istambul parece ter sido um deles. Apear da autoria não ter sido reivindicada, Erdogan atribuiu-o ao Daesh, por conveniência da sua própria imagem internacional; mas por que razão os protegidos iriam atacar no coração do protector? Provavelmente por convergência de interesses – uma mão lava a outra, não é o que se diz? Um atentado é, sem dúvida, oportunidade de ouro para reforçar poderes de excepção e perseguir inimigos internos vários, mesmo que nada tenham a ver com a violência.

Quando ainda decorre o rescaldo do acto terrorista surge o golpe militar, com inegáveis debilidades de amadorismo num exército dos mais poderosos da NATO, precisamente com Erdogan ausente, “de férias”, circunstância excelente para um regresso triunfal, afirmativo, justificando limpezas. Deus não poderia ter sido mais generoso, em boa verdade.

Enfim, é a este ditador turco que a União Europeia paga anualmente três mil milhões de euros confiscados aos nossos impostos para impedir que cheguem à Europa os refugiados das guerras que os donos da Europa provocam. Para que conste, não há um vínculo formal entre o conselho Europeu e Erdogan sobre esta verba; foi estipulada apenas em comunicado de imprensa dos chefes de Estado e de governo da União Europeia.

Foi com este presidente turco que o governo francês negociou a garantia de não haver atentados do Daesh durante o Euro 2016, em troca do apoio à criação de um Estado curdo no Norte da Síria. Constatámos, da maneira mais trágica, que ao Daesh bastaram apenas quatro dias para se libertar do período de nojo, fazendo gato-sapato do securitarismo fanático e inconsequente de Hollande e Valls.

É a este presidente turco que a União Europeia ainda reconhece credenciais de democrata, apesar de o próprio rei Abdallah da Jordânia ter revelado o seu apoio ao Daesh, à Al-Qaida, ao contrabando de petróleo que serve de financiamento ao Estado Islâmico e de enriquecimento à mafia familiar de Erdogan.

Foi comovente – e patético – o apoio de grande parte da comunidade mediática a Erdogan durante as vicissitudes da tentativa de golpe e ao uso dos seus apoiantes como escudos humanos e carne para canhão nas ruas, praças e pontes das principais cidades da Turquia.

Entre a componente militar e a mafia governamental de Erdogan estavam em luta, durante a tentativa de golpe, dois conceitos de regime autoritário: um secular, outro fundamentalista islâmico. A democracia e os interesses populares não tinham nada a ver com aquela guerra entre elites interesseiras e pouco ou nada preocupadas com as pessoas.

O terrorismo islâmico, a guerra e a anarquia no Médio Oriente, porém, têm muito a ganhar com a absolutização do poder de Erdogan em Ancara. Ou seja, é impossível estar simultaneamente contra o terrorismo islâmico e temer pelo futuro político de Erdogan. A democracia não passa por aí, mas também já pouco se sabe dela nesta União Europeia.

Porém, quando a vida das pessoas está à mercê destes “presentes de Deus” é possível testemunharmos os acontecimentos e os ditos mais bizarros.

EXÉRCITO CHINÊS AMEAÇA EUA COM ARMAS




A televisão estatal chinesa divulgou imagens de novas armas do exército para o combate naval e aéreo, no que poderá ser considerado um aviso para os Estados Unidos após a recente decisão de arbitragem sobre o Mar do Sul da China.

Os EUA têm aumentado sua presença militar neste mar e pedido a Pequim que respeite a decisão do tribunal que rejeitou suas reivindicações territoriais.

A televisão estatal chinesa mostrou tropas e armas do Comando do Sul, responsável pela região do Mar do Sul da China, durante a visita de oficiais superiores, incluindo o general Fan Changlong, vice-presidente da Comissão Militar Central, e o general Ma Xiaotian, o comandante da Força Aérea, informou nesta sexta (22) o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

O general Fan Chanlong pediu aos soldados para estarem preparados para qualquer contingência. 

"As patrulhas do mar e do espaço aéreo devem ser organizadas para lidar com todos os tipos de emergência e garantir a segurança do mar e da fronteira", afirmou ele.

As armas, mostradas pela televisão, são defensivas, de curto ou médio alcance (até 1.500 quilômetros), confirmaram analistas, o que pode ser considerado como um elemento de advertência para os Estados Unidos.

As tropas também estavam carregando mísseis DF-16 de alcance até 1.000 quilômetros, o que é suficiente para atingir bases dos EUA em Okinawa. Estes mísseis foram apresentados para o público durante a última parada militar em Pequim dedicada ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Nas imagens também foram mostrados bombardeiros H-6K e caças destinados à patrulha da região.

Em 12 de julho, o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia determinou que Pequim não tem "direitos históricos" sobre os territórios em disputa no Mar do Sul da China. As autoridades chinesas, no entanto, rejeitam a jurisdição de Haia para resolver a questão, e anunciaram que vão ignorar a decisão do tribunal.

Vários países, incluindo a China, o Japão, o Vietnã e as Filipinas, têm desacordos sobre as fronteiras marítimas e zonas de influência no mar do Sul da China e mar da China Oriental. A China acredita que alguns deles, como as Filipinas e o Vietnã, aproveitando o apoio dos EUA, escalam a tensão na região. Em janeiro de 2013, as Filipinas contestaram unilateralmente as reclamações da China em relação a uma série de territórios no Mar da China do Sul no Tribunal Internacional do Direito do Mar, mas Pequim se recusou oficialmente a abordar essas questões no âmbito jurídico internacional.

Sputnik – AP Photo / Xinhua

O PACTO DE FERRO ENTRE A OTAN E A UNIÃO EUROPEIA



Manlio Dinucci*

Em face dos desafios sem precedentes provenientes do Leste e do Sul, chegou a hora de dar um novo alento e uma nova substância à parceria estratégica Otan-UE”: começa assim a Declaração conjunta assinada na última sexta-feira (8) na Cúpula da Otan de Varsóvia, pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker [1].

Um cheque em branco para a guerra, que os representantes da União Europeia deram aos Estados Unidos. Efetivamente, são os Estados Unidos que detêm o comando da Otan – da qual fazem parte 22 dos 28 países da União Europeia (21 entre 27 quando o Reino Unido sair da UE) – e imprimem sua estratégia. Enunciado plenamente no comunicado aprovado em 9 de julho pela Cúpula : um documento de 139 pontos – elaborado por Washington quase exclusivamente com Berlim, Paris e Londres – que os demais chefes de Estado e de governo, inclusive o primeiro-ministro italiano Renzi, subscreveram de olhos fechados [2].

Após estender-se agressivamente para o Leste no interior da ex-URSS e ter organizado o golpe neonazista da Praça Maïdan para reabrir a frente oriental contra a Rússia, a Otan acusa a Rússia de “ações agressivas, desestabilização da Ucrânia, violação dos direitos humanos na Crimeia, atividades militares provocadoras nas fronteiras da Otan no Báltico e no Mar Negro e no Mediterrâneo oriental em apoio ao regime sírio, vontade demonstrada de obter objetivos políticos pela ameaça e pela utilização da força, e uma retórica nuclear agressiva”.

Em face de tudo isso, a Otan “responde” reforçando a “dissuasão” (ou seja, suas forças nucleares na Europa) e sua “presença avançada na parte oriental da Aliança” (ou seja, o deslocamento militar para a fronteira com a Rússia). Trata-se de uma verdadeira declaração de guerra (mesmo se a Otan assegura que “não busca a confrontação com a Rússia”), o que pode fazer saltar pelos ares de um momento a outro não importa que acordo econômico dos países europeus com a Rússia.

Na frente meridional, depois de ter demolido a Líbia por uma ação combinada do interior e do exterior e de ter testado a mesma operação na Síria, (fracassada graças à intervenção russa); após ter armado e treinado grupos terroristas e ter favorecido a formação do chamado Estado Islâmico e sua ofensiva na Síria e Iraque, empurrando ondas de refugiados para a Europa, a Otan se declara “preocupada” pela crise que ameaça a estabilidade regional e a segurança de suas fronteiras meridionais, pela tragédia humanitária dos refugiados; ela “condena” as violências do chamado Estado Islâmico contra os civis e, em termos mais fortes, “o regime sírio e seus apoiadores pela violação do cessar-fogo”. Para “responder a essas ameaças, inclusive as que vêm do sul”, a Otan potencializa suas forças com alta capacidade e poder de deslocamento. Isto requer “investimentos apropriados”, ou seja, uma despesa militar adaptada que os aliados se comprometeram a aumentar.

Dados oficiais publicados pela Otan durante a Cúpula mostram que a despesa militar da Itália em 2015 foi de 17 bilhões e 642 milhões de euros e que a de 2016 está estimada em 19 bilhões e 980 milhões de euros, ou seja, um aumento de 2,3 bilhões de euros. Se temos em conta as despesas militares fora do orçamento da Defesa (missões internacionais, navios de guerra e outros), a despesa é na realidade muito mais elevada. Se nos atemos apenas aos dados da Otan, a Itália em 2016 dispendeu para o setor militar em média 55 milhões de euros por dia.

Enquanto o primeiro-ministro italiano Renzi se pavoneava entre os “grandes” na Cúpula de Varsóvia, e o parlamento (inclusive a oposição) se volta para o outro lado, a Otan e a UE decidem nosso caminho.

*Manlio Dinucci: Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ;Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

Voltaire.net - Fonte Il Manifesto (Itália) - Tradução José Reinaldo Carvalho.  Editor do site Resistência 

Notas
[1] « Déclaration commune OTAN-UE », par Donald Tusk, Jean-Claude Juncker, Jens Stoltenberg, Réseau Voltaire, 8 juillet 2016.
[2] « Communiqué du Sommet de l’Otan à Varsovie », Réseau Voltaire, 9 juillet 2016.

BORRIFE-SE PARA O POKEMON GO, GOZE AS FÉRIAS



Bom dia. Ricardo Marques serve o Expresso Curto de hoje. Bem servido, pelo menos em quantidade. Sendo assim não é curto. As férias são tema. Decerto que Ricardo também vai de férias e já esta a tomar balanço para mergulhar na praia do Magoito. E sabe nadar. Boas férias.

A cafeína está tão bem servida que vai acontecer ficarmos elétricos. Melhor. Assim poupamos na conta da EDP. Quem se lixa é o Melancia e os chineses donos da faísca. Uma venda de Passos que nos lixou e continua a lixar. Um Inimigo Público ressabiado, salafrário ao cubo. Outros Inimigos Públicos se perfilaram e perfilam com ele. Há um trio que se evidencia. Quem? Omessa! Passos, Cavaco e Portas. Os três da vidairada, Cocó, Ranheta e Facada.

A propósito - mas fora do Expresso Curto que vem já a seguir - há um título no PG que recomendo: “EXIJO QUE PASSOS COELHO E PAULO PORTAS SEJAM JULGADOS”. Eu também, nós também, milhões de portugueses também. Já agora, investiguem com profundidade Cavaco Silva. Aquela de ele próprio dizer que é muito honesto… Ali há coisa. Eventualmente. É que a maior parte dos vigaristas e dos malandros dizem todos aquilo e evocam as suas qualidades honestas por dá cá aquela palha. Sem fundamento, mas...

Bom dia. Bom fim-de-semana. Divirta-se e não seja estúpido. Borrife-se para o Pokemon Go. Stop! Goze as férias.

Carlos Tadeu / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques – Expresso

Vamos de férias, mas antes vamos falar

"... é necessário a quem reedifica a sociedade saber primeiro se ela quer ser desabada a pontapés de estilo para depois ser reedificada com adjetivos pomposos e advérbios rutilantes", Camilo Castelo Branco

Sim, o Parlamento e os passos perdidos vão ficando vazios, opaís já caminha para a doce dormência das tardes quentes de agosto e eis que, de repente, Marcelo interrompe por instantes a maratona olímpica de condecorações e mexe um dedo em Belém. Mas quererá alguém ir para a praia se houver tempestade? (nota mental: surpresa)

Ontem, o Presidente da República, provavelmente a pensar no outono fresco que aí vem, marcou dois dias de reuniõescom os partidos políticos (segunda-feira) e os parceiros sociais (terça-feira). Uma romaria de gente engravatada a caminho dos jardins frescos por onde passearam os campões europeus. A aprovação do próximo Orçamento de Estado e a contestação sindical, como nota o Expresso, estarão no topo da presidencial lista. O Público acrescenta um outro assunto -as temidas sanções europeias a Portugal - e recorda que esta é aterceira vez que se realizam encontros do género: aconteceu primeiro em abril, para discutir o Programa de Estabilidade e o Plano Nacional de Reformas, e de novo há cerca de um mês, para abordar as eleições regionais dos Açores (serão a 16 de outubro). (Nota mental: receio)

O convite presidencial é enigmático e no campo 'assunto' não vai além de um vago "situação política". Marcelo, o misterioso, esteve em Loulé para entregar uma medalha municipal à escritora Lídia Jorge (afinal, a maratona prossegue) e desdramatizou."Continuo a entender que eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e são as para as autarquias em outubro do ano que vem", afirmou, citado pelo Diário de Notícias. O oráculo consultado, o das sondagens, garante que nada mudou e, diz Marcelo, haver eleições em breve parece tão provável como haver petróleo no Algarve ou um Presidente português na Lua. Tempo calmo, portanto, para quem está à beira Tejo. 
(Nota mental: tranquilidade)

Pedro Passos Coelho, ao contrário, vê um céu carregado de nuvens e arrisca que vai começar a chover mais cedo do que o esperado. "Muito antes das autárquicas", disse, durante o Conselho Nacional do PSD. António Costa também anda preocupado e, segundo o resumo feito pelo Público da reunião do primeiro-ministro com o grupo parlamentar socialista, disposto a tirar consequências " se o Orçamento não correr bem". Só não disse quais. A relação entre os dois partidos não anda fácil e a não nomeação de Correia de Campos para a presidência do Conselho Económicos e Social surge como um inevitável ajuste de contas, como explica o Ricardo Costa. (Nota mental: confronto)

Quatro palavras para Portugal levar de férias: surpresa, receio, confronto, tranquilidade. No fundo, somos como um dia de verão. "Esta praia deserta afinal está cheia." "Conseguiremos encontrar lugar para o carro ou teremos de andar três quilómetros?" "Os miúdos da toalha ao lado desligam o rádio e param de dizer asneiras ou vou ter de me chatear e dar uma chapada a alguém?" "Bom, seja como for, sempre é melhor do que estar a trabalhar."

Surpresa, receio, confronto e tranquilidade. Não há pontapé que nos deite abaixo, nem aquele de que eloquentemente falava Camilo Castelo Branco, num curto texto escrito em São Miguel de Seide, junho de 1879, para as páginas que antecedem o primeiro capítulo de "Eusébio Macário", a incrível história de uma banal família portuguesa num Portugal de antigamente e que já não existe nos nossos dias. Pois não?

Nem de propósito, é o livro que o Expresso oferece amanhã.

OUTRAS NOTÍCIAS

O discurso do dia pertence a Donald. Soaram as “trumpetas” porque o agora oficialmente candidato do cabelo estranho falou ontem, finalmente – e nada disse de surpreendente. Esqueçamos o plágio da mulher, o golpe de Ted Cruz e a paródia em que se transformou a transmissão televisiva da convenção republicana (como estavam divertidos os pivots da CNN ontem à noite, "uma noite histórica", disseram). Trump falou. Os 45 minutos mais aguardados da semana, os três quartos de hora que há meses pareciam impossíveis. Nada mais errado. E Trump, o milionário empresário que tem em mente ser presidente, disse mais do mesmo. Até mais do muro de que fala há anos, alto, inexpugnável e pago pelos mexicanos (O Daily Mail fez as contas). Sim, com Donald na Casa Branca é que é, com ele é que vai mesmo ser: emprego, segurança e uma economia a crescer. Simples como só a política pode ser.

A rima do dia vem do Brasil. Esse Brasil dos presidentes mil.O ex que foi acusado, a suspensa que está encostada e o interino que ficou com o lugar dela. O Ministério Público, através de um procurador chamado Ivan Marx, acusou o ex-presidente Lula da Silva de obstrução à Justiça.

A jogada do dia foi feita ontem à tarde, quando aterrou nas redações o comunicado da Procuradoria Geral da Repúblicaque confirmava novas buscas no âmbito da Operação Marquês. Quase à mesma hora decorria em Bilbau uma partida de xadrez entre dois dos melhores xadrezistas do mundo. Nada mais apropriado para ler este artigo sobre a investigação mais importante da Justiça portuguesa que liga agora a banca a José Sócrates. Uma espécie dewww.OperaçãoMarquês.PT (isto não é um link)

A vitória do dia deu-se em Nova Iorque. António Guterressaiu na frente do pelotão após a primeira votação do longo (longo de meses, como se percebe espreitando aqui) processo que culminará com a escolha do novo secretário-geral da ONU. Na Foreign Policy, pode ler um artigo de análise sobre as hipóteses de cada candidato.

A derrota do dia deve escrever-se assim: поражение. As provas de atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não vão contar com atletas da Rússia devido a um complexo esquema de doping que se arrastou durante anos e que envolve o governo e os serviços secretos. Mais recente é a investigação das autoridades brasileiras que, ontem, levou à detenção de dez suspeitos que preparavam um atentado terrorista.

A purga do dia é a dúvida da semana, e está ainda em curso na Turquia – onde se digere a tentativa falhada de golpe de Estado. Ontem, milhares de apoiantes do presidente manifestaram-se nas ruas. Depois dos mortos, das detenções, dos afastamentos e despedimentos, o presidente Erdogan anunciou ontem a suspensão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e decretou o Estado de Emergência para os próximos três meses. Neste artigo de opinião no Guardian, Farwaz A Gerger, professor na London School of Economics and Political Science, arrisca que a má situação atual pode ser pode ser a menos má de todas as situações possíveis.

A agenda do dia é espanhola, porque Filipe VI já preencheu o calendário político para a próxima semana. Segundo o El Mundo, o rei quer dar posse ao novo Governo no início de agosto. Com um pouco mais de tempo, pode tentar adivinhar o que se vai passar na hora do “a favor” e do “contra” com este simulador.

A revelação do dia vem de França. Em dose dupla. Vinte pessoas interrogadas por suspeita de terrorismo. Mohamed Bouhlel, o homem que acelerou um camião para assassinar 84 pessoas na promenade des Anglais, levou meses a planear o ataque de 14 de julho. A revelação foi feita ontem pelo procurador François Molins, que anunciou também a detenção de cinco alegados cúmplices. E está em curso uma investigação ao policiamento no dia do ataque.

A canção do dia é de Leonard Cohen, ligeiramente adaptada aos tempos que correm. Caso para dizer First we take Berlin…Then we leave Europe. Theresa May está em digressão pelas capitais europeias do poder. Há dois dias esteve reunida com Angela Merkel – e avisou que o processo de saída não arrancará antes do próximo ano. Ontem, deu um salto a Paris e jantou com François Hollande - para assegurar que o controlo fronteiriço na Mancha permanecerá em Calais.

A última edição da revista Veja chama-lhe “A Fera de Saltinho” e o artigo começa assim: “A nova primeira-ministra britânica, Theresa May, vai ter de fazer uma coisa que não queria, uma coisa que tentou e não conseguiu e, por fim, uma coisa que todos os políticos prometem mas nunca fazem”. A saber: a) sair da União Europeia; b) reduzir o número de estrangeiros provenientes de países europeus que se transferem para o Reino Unido; c) “É a vocês que vamos ouvir, não aos poderosos”, disse, dirigindo-se aos mais pobres. Ou então, como se lê aqui, nada disto faz sentido.

imagem do dia é a de um homem deitado no chão, de costas, com os braços no ar, numa estrada ao sol. Ao seu lado, sentado no chão, está um homem grande, autista, a brincar com um carro pequenino. Ali perto, atrás de um carro grande, estão dois homens com armas apontadas ao homem deitado. “Eu sou o terapeuta, e ele só tem um camião de brincar na mão”, gritou. Os dois atrás do carro dispararam e acertaram-lhe numa perna. Enquanto o algemavam, conta o homem que ficou ferido, ele perguntou a um deles: “Por que é que me deram um tiro”. “Não sei”, respondeu o da arma. Eles tinham farda, ele é negro. Eles são polícias, ele só queria acalmar o doente. A tal estrada é em Miami, nos Estados Unidos da América. Um país de mãos na cabeça com um problema que não vai desaparecer tão cedo.

A análise do dia vem pela mão de Jill Dougherty, antiga jornalista da CNN, correspondente de política internacional e especialista nos delicados assuntos da Europa de Leste. Nos últimos dois meses viajou pelo Báltico, pela Rússia e pela Georgia. Falou com políticos, diplomatas, taxistas e famílias que passeavam na rua, e de todos ouvia a mesma conversa. Quando voltou a casa, escreveu um artigo que foi publicado há três dias na Newsweek: “In Europe and Russia, there’s talk of war”.

Ao contraste do dia apetece dizer: tanto e tão pouco. Passou esta semana na rádio que uma delegação de empresários portugueses vai visitar a Etiópia em dezembro. No site da AEP - Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, lê-se que a Etiópia é uma referência em África. "Segundo o FMI, a Etiópia é um dos países que apresenta mais rápido crescimento económico do mundo, sendo o maior dos países africanos não dependentes do petróleo. (…) Recentemente, o país começou a recuperar, sendo na atualidade uma das maiores economias da África Oriental e Central".

Ora, na The New Yorker apareceu ontem um artigo sobre as rotas perigosas dos emigrantes etíopes. A história começa debaixo de um sol demasiado quente, numa aldeia no fim de um deserto que levou três semanas a atravessar. Sebhatou Mellis descansa debaixo de uma enorme árvore, a meio caminho da jornada que o há de levar, se tudo correr bem e escapar incólume à rota que atravessa um Iémen destruído por uma brutal guerra civil, até à Arábia Saudita. Saiu de casa depois de ter corrido mal um negócio que começara com apoio do Governo e espera-o uma vida de ilegal. “Parti para pagar as minhas dívidas, não para morrer. Mas se morrer, pelo menos liberto-me da pobreza”.

O negócio do dia aterrou ao fim da noite: o médio português André Gomes, campeão europeu que esteve nos jardins do Palácio de Belém e que estava a caminho do Real Madrid, assinou pelo Barcelona. Valor, segundo o jornal a Marca: 50 milhões de euros. (E Lopetegui está na selecção espanhola)

À distração do dia não se chega a pé. Talvez a nadar ou de barco. Ou através deste link, que o levará a mil à hora até um local onde o tempo corre mais devagar: um ninho de cagarras na ilha da Berlenga. De todas as coisas inúteis que pode fazer esta tarde, enquanto espera a hora de correr para casa, ou de voar para férias, esta é provavelmente uma das mais fascinantes.

MANCHETES

Correio da Manhã: "Luxos de Sócrates intrigam Justiça"
Público: "Marcelo chama partidos mas diz que não vê sinais de instabilidade política"
Jornal de Notícias: "Grávidas e doentes com apoios em atraso"
Diário de Notícias: "Governo quer pôr militares a trabalhar mais anos"
i: "Costa tem de convidar Bloco de Esquerda e PCP para o governo" (entrevista a Ascenso Simões)

O QUE ANDO A LER

Sabe-se pouco sobre a vida de Kabir, poeta indiano do século XV, mas a edição portuguesa de “O nome daquele que não tem nome” assegura-nos que “Kabir revela nos seus poemas um profundo conhecimento quer do hinduísmo quer do islamismo (e dentro deste do sufismo)”. Vejamos.

“Desde que o encontrei
Nunca mais cessaram os jogos do amor
Fecho os olhos tapo os ouvidos
Por todo o lado
Contemplo a sua beleza
Murmuro o seu nome
Tudo quanto vejo me fala dele
Iguais me parecem agora
a aurora e o crepúsculo”

Como disse, não se sabe muito sobre Kabir. Mas uma coisa é certa: este poema não é sobre um pokemón.

Já estes, não fogem nem é preciso procurá-los. Expresso Diário às seis da tarde, Expresso nas bancas, amanhã bem cedo, eExpresso Online a qualquer momento.

Tenha um bom dia, um bom fim de semana e, se for caso disso, umas excelentes férias.

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