sábado, 13 de agosto de 2016

ODIO E MORALISMO DESVIAM O CONHECIMENTO DOS ERROS




Portugal vive dias de horror sob o fogo que invade casas, cultivos, oficinas artesanais, empresas industriais. Todos os concelhos, mas principalmente as regiões de centro e norte e a capital da Ilha da Madeira, a cidade do Funchal, estão com focos de fogo ativo. Os bombeiros já somam quatro mil e são poucos diante da magnitude da tragédia que aumenta e abre novos caminhos conduzida pelos fortes ventos e intenso calor do verão.

A polícia tem descoberto alguns responsáveis por "fogo posto". São pirômanos, alguns reincidentes, que revelam problemas psicológicos, comuns na nossa época de promoção de terrorismos, em que os grandes responsáveis pela administração pública escondem a sua responsabilidade social atrás de carências pessoais que não receberam o apoio médico ou educacional devidos. É fácil provocar o ódio entre os desesperados, apontando um que será o alvo da condenação. O ladrão esperto é o primeiro a gritar para pessoas distraidas: "pega o ladrão!" apontando um rumo imaginário por onde a multidão corre como gado, animada por suas tendências psicológicas de vingança.

Comparo este incêndio devastador em Portugal, pressionado permanentemente pela União Europeia para cortar as verbas orçamentárias e enriquecer os bancos onde o capital é acumulado nas mão de uma elite financeira, com a situação sofrida no Brasil, com o detonar do golpe por grandes corruptos "contra a corrupção sistêmica" atribuida políticamente à Presidente Dilma que tentava equilibrar um governo formado por forças antagônicas, algumas democráticas e outras oportunistas e corruptas.

Quem sofre e morre é o povo - os mais pobres, os que labutaram toda a vida e sobrevivem mal, os que conseguiram com muito trabalho e poupança construir uma casa e uma mini-empresa, os que são solidários e lutam contra a opressão, os bombeiros e militantes de esquerda que dão a vida por uma sociedade melhor e mais humanizada. Os grandes (ir)responsáveis pela organização das condições sociais e econômicas - os que acumulam o capital em benefício do seu próprio poder; as grandes empresas multinacionais que inventam mecanismos para que a poluição gerada por seus produtos não seja descoberta pelos fiscais do Estado; a mídia que divulga falsidades em defesa das elites e oculta a realidade que o povo enfrenta; os que gerem o mercado mundial controlando a riqueza de uns e a miséria da maioria; o poder imperial que invade países fragilizados para dominar as suas riquezas naturais; os políticos oportunistas e covardes que se oferecem para executar golpes ou "matar terroristas" em defesa dos interesses dos imperiais; enfim, os que têm o poder para organizar as sociedades mais humanizadas mas, ao contrário, destroem a capacidade popular de produzir para todos e acumulam o ouro como grandes ladrões assassinos.

Com a austeridade exigida pelos banqueiros da UE e FMI o povo português - que fez uma Revolução dos Cravos livrando-se de uma ditadura que esmagava países colonizados  e  a sua própria  população empobrecida, elevou a produção, criou empregos, atraiu os que haviam emigrado para sobreviverem, desenvolveu a saúde e o ensino públicos - foi traído por políticos que se diziam democratas (o filme "Fora Temer"?) mas na verdade eram submissos aos gananciosos do ouro, contrários à humanização da sociedade. O país viu-se diante do desemprego, os jovens emigraram deixando suas casas e seus idosos tomando conta de animais e cultivos; viu a produção nacional passar para mãos estrangeiras; os eucaliptos substituiram os carvalhos tradicionais e os pastos de grandes rebanhos de antes, por ser mais fácil vender para as grandes indústrias de papel de paises mais ricos; as aldeias históricas foram transformadas em atração para turistas e, assim, a vida rural portuguesa passou a ser cenário da indústria multinacional do turismo que é predadora e incapaz de manter a limpeza dos campos que no verão secam.

O fogo queima o restolho, as ervas, as árvores, a produção agrícola, os animais doméstico e o gado, mata os idosos sem forças para manter a pequena produção, e anima os doentes mentais que anseiam por atividades que reunam o povo como em festas.

Os bombeiros dão a vida, acompanhados pelos administradores dos serviços locais que não receberam o apoio financeiro para prevenir os incêndios, e os populares que tentam salvar pessoas e propriedades ou cultivos. Mas o vento empurra o fogo para todos os lados, como os donos do império capitalista fazem com os equipamentos militares que despejam bombas sobre populações indefesas.

Ao mesmo tempo milhares de fugitivos das guerras no Oriente Médio e Norte da África morrem afogados no mar Mediterrâneo ou no percurso a pé pelas fronteiras europeias em busca de ajuda pelos governos que mandaram a OTAN destruir os seus países.

O mundo hoje enfrenta um terrivel impasse:

Acumulação do ouro ou uma sociedade humanizada.

Os povos sabem que para terem casas precisam construí-las e para comerem precisam cultivar e criar. Organizam-se com os vizinhos, ensinam as crianças a manterem o arranjo doméstico e a limpeza. Os que administram os serviços públicos zelam pelo abastecimento, pela segurança, pelo transporte, pelos cuidados de saúde e educação. O dinheiro penas serve para facilitar os cálculos do valor das coisas - produtos e trabalhos. É secundário diante da vontade e da inteligência humana.

O que será preciso acumular é a vontade de ajudar, a solidariedade, as boas idéias para resolver problemas e encaminhar soluções melhores. Só um povo autonomo e patriota, de um país independente e soberano, poderá vencer e criar a Justiça para assegurar um futuro humanizado.

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.

Goldman Sachs. DURÃO, CHERNE DA TRAPAÇA, NAQUELE BANCO COMO PEIXE NA ÁGUA




Cherne é um peixe. Mas Cherne é também o Durão Barroso – confidência e opinião da sua consorte. Pois para onde queriam os críticos que Durão Barroso fosse “trabalhar” após a saída da presidência da comissão europeia? Onde acham que o Cherne, Barroso, se pode sentir como peixe na água? Na trapaça, na ignomínia, no Goldman Sachs. Pois claro. O novo banco de Barroso é useiro e vezeiro nas particularidades e apetências referidas, depois, às vezes, é multado. Mas as multas são muito inferiores aos lucros que obtém através das trapaças e do tramar a vida aos outros, aforrando muitos milhões para a organização… mafiosa. Durão, como peixe na água. (PG)

Goldman Sachs, novo banco de Durão Barroso, multado em 32,4 milhões

Banco norte-americano foi penalizado pela autoridade dos mercados norte-americanos devido à utilização de dados de supervisão para convencer potenciais clientes a investir.

É mais uma derrota para o Goldman Sachs, o gigante norte-americano que se tornou notícia durante a crise mundial de 2008 pelas dificuldades com hipotecas tóxicas e que anunciou no mês passado a contratação de Durão Barroso como chairman. 

O banco sediado nos Estados Unidos foi penalizado com uma multa de 32,4 milhões de euros devido à utilização de informação supervisora confidencial facultada pela Reserva Federal, utilizando-a como 'isco' para atrair investidores. Segundo o MarketWatch, a informação referia-se às avaliações positivas dos resultados e níveis de capital do Goldman Sachs e terão servido para conseguir contratos mais vantajosos com clientes.

Além da coima, a Reserva Federal abriu também uma investigação ao diretor executivo Joseph Jiampietro pela fuga de informação e proibiu o banco de contratar novamente ou renovar os contratos dos trabalhadores responsáveis pela divulgação dos dados.

Bruno Mourão / Elsa Pereira – Notícias ao Minuto

DEUS E O DIABO NA TERRA DO TIO SAM




Desconfie das análises simplórias, segundo as quais Hillary é menos perigosa que Trump. O mais rico é ele; mas ela tem a campanha mais cara e o apoio do “establishment” — inclusive da indústria de armas

Hugo Albuquerque e Edemilson Paraná – em Outras Palavras

As eleições para a presidência dos Estados Unidos em 2016 agitam o mundo. Não apenas por decidirem os rumos do país mais poderoso da Terra, mas também pelas forças supostamente antagônicas em disputa. Hoje, a novidade é a ascensão da direita populista via Donald Trump, o candidato ungido dos republicanos, em uma disputa pintada em tons maniqueístas contra a ex-senadora, ex-primeira dama e ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Existe um esquematismo maniqueísta pronto, não muito diferente de 2008. Mas o polo forte da questão, desta vez, é o medo de Trump e não a esperança em um Obama.

Há oito anos, nos escombros da Era Bush, progressistas do mundo inteiro ficaram eufóricos com a possibilidade de Obama mudar os rumos dos Estados Unidos e do mundo. Obama tinha os jovens e o apoio de uma novíssima esquerda norte-americana, articulada nas redes – e, também, em rede, fazendo crowdfundings enquanto subvertiam o jogo partidário clássico. Obama veio e venceu, mas nem precisamos dizer que sua presidência esteve, para usar aqui um eufemismo, longe de promover as mudanças que prometeu.

Passados oito anos, os rumos dos EUA continuam em suspenso, com uma sociedade mais polarizada, esgarçada e desesperada do que nunca. Se o país não faliu, tampouco sua posição no mundo e as relações internas foram reformadas. Obama, um Nobel da Paz, foi o presidente americano a estar mais tempo em guerra durante os oito anos de seu mandato, o que não é um fato trivial. A tensão racial chega às raias da loucura, como denunciam inúmeros movimentos, dentre eles o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), algo tristemente irônico de ter acontecido sob o governo do único presidente negro da história daquele país.

Seus adversários, os republicanos passaram todos esses anos varrendo a era Bush para o tapete, fazendo uma oposição à direta – e se apoiando em movimentos mais à direita ainda – enquanto ganhavam posições valiosas. Hoje, o partido de Trump tem maioria no congresso norte-americano, entre os governos estaduais e legislativos estaduais.

Nada a espantar, portanto, que as últimas primárias republicanas foram as maiores em números absolutos, da história do partido — E também uma das raras primárias na qual o comparecimento republicano às urnas foi superior ao dos democratas, ainda que por pequena vantagem: mais precisamente, foram 31,1 milhões de republicanos contra 30,5 milhões dos democratas. Levando em consideração que, pelo menos há quatro anos atrás, os republicanos tinham apenas 30 milhões de eleitores registrados e os democratas 43 milhões, os números de participação nas urnas nas primárias deste ano são um sinal melhor ainda para o partido de Trump.

Hillary e Trump venceram no voto popular e também entre os delegados, em primárias que a despeito da presença maciça são, à imagem das eleições presidenciais, eleições indiretas. Mas para cada uma das vitórias teve, para seus partidos, significados opostos: Hillary marcou o triunfo da estrutura partidária e a derrota de candidaturas dissidentes como a de Bernie Sanders, enquanto com Trump ocorreu o exato inverso com a vitória de um outsider.

Sim, Hillary foi beneficiada por um inegável favorecimento da direção nacional democrata durante processo de escolha. Longe de ser teoria da conspiração, isso foi comprovado no episódio do vazamento de milhares de e-mails do Partido Democrata – mas o triunfo da burocracia democrata foi tamanho que a revelação do escândalo, apesar de ter levado à renúncia da presidente do partido, Debbie Wasserman Schultz, não impediu sequer que Bernie pedisse votos para Hillary, o que lhe valeu uma vaia de seus apoiadores.

No mais, a ex-presidente democrata continuará na campanha nacional de Hillary e em vez de debater o processo viciado de escolha, o escândalo ficou por conta da acusação de que hackers ligados ao governo russo teriam invadido os computadores do diretório nacional democrata – valendo até teorias de que Putin e Trump estariam juntos, enquanto a questão da fraude interna desaparecia convenientemente.

Enquanto isso, Trump simplesmente atropelou a cúpula do seu partido, afundou candidatos como Jeb Bush, filho e irmão de dois ex-presidentes, e mesmo de figuras como Ted Cruz, senador texano ligado ao Tea Party, movimento da extrema-direita americana. Jeb Bush, por sinal, foi forçado a desistir pelas acachapantes derrotas no início das primárias embora arrecadasse quase o dobro de Trump. Por sinal, perfil e quantidade de arrecadação e a característica de campanha são elementos centrais para entender o xadrez eleitoral.

Vejamos como isso se expressa no financiamento de campanha.

Trump gastou 76 milhões de dólares nas primárias, o que o fez ser o quarto republicano em gasto de campanha – e o sexto no total, uma vez que ele gastou menos do que Hillary e, pasmem, Bernie Sanders. Para se ter uma ideia, cada voto de Trump custou 5,42 dólares, o que representa uma eficiência muito maior do que a de seus adversários republicanos ou mesmo que Hillary (13,15 dólares/voto) e Sanders (16.85 dólares/voto). Metade dos recursos de Trump vieram de sua fortuna pessoal, mas a outra metade tem mais dinheiro de doadores comuns do que de corporações. Usando frases de efeitos, provocando setores antagônicos e nunca passando desapercebido, Trump seguiu o velho script do “falem mal, mas falem de mim” e, assim, atraiu para as primárias republicanas um eleitor que, no máximo, só iria às urnas nas eleições presidenciais propriamente ditas. Em resumo, Trump é um fenômeno político.

Por sinal, ao contrário do que o imaginário mais elementar pode nos fazer crer, o socialista Bernie Sanders não teve uma campanha barata nem teve dificuldades para arrecadar. Ele levantou US$ 228 milhões, gastando 97% desse valor, sendo que 60% disso veio de pequenos doadores. Setores muito parecidos com os quais elegeram Obama há oito anos, que desta vez financiaram um candidato mais orgânico.

Hillary, por seu turno, gastou 212 milhões de dólares nas últimas prévias, mas sua nomeação a fez chegar a 374 milhões nos primeiros dias de agosto, enquanto Trump ainda só ameaçava chegar perto dos 100 milhões. Até agora, a candidata democrata gastou 220 milhões, considerando as primárias e a pré-campanha. Contudo, seu perfil de financiamento é oposto ao de Bernie: basicamente,  19% das doações para a campanha de Hillary em 2016 são de pessoas comuns, o resto fica por conta de corporações e grandes grupos.

Portanto, a aproximação de Hillary em relação a Bernie não se deve unicamente a uma tentativa de unificação da base democrata para o pleito – sobretudo porque as pesquisas apontam que, ainda que resignadamente,haverá uma alta transferência de votos de Bernie para ela –, mas sim conseguir recursos. Dinheiro é vital para uma campanha de um país como os EUA, sobretudo depois que a Suprema Corte liberalizou completamenteo financiamento privado de campanha.

Uma análise fria dos números, portanto, mostra algo muito além de umapolaridade romântica: nem Hillary é uma pobre candidata liberal em guerra contra o poder econômico, nem Trump é o o candidato preferencial das grandes corporações — o que não o torna, por óbvio, o outsider que ele se vende. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, ambos os candidatos representam vias conservadoras diferentes, embora Trump encarne um personagem populista e, afinal de contas, seja um rompimento na forma como o mando americano se exerce dentro de suas fronteiras e fora delas — talvez por isso, atraía eleitores ciosos por mudanças, sejam elas quais forem.

Bernie Sanders, o único candidato dentre os grandes que realmente estava fora do projeto tradicional, se rendeu a uma das principais tentações atuais da esquerda radical em vários lugares do mundo: contemporizar, diante da crise e desagregação política e social, com um pragmatismo que não encontra respaldo na velocidade acelerada da realidade presente. Ou melhor, ele optou pelo melhor discurso em vez de seguir um caminho independente. Dirão que não havia escolha dentre as coordenadas dadas, mas o fato é que nunca há.

No cômputo geral das pesquisas recentes, Hillary está ligeiramente à frente de Trump no voto popular e ainda à frente nos estados, muito embora ela ainda não tenha os votos necessários no colégio eleitoral para vencer em virtude do empate técnico em muitos estados. Ainda, a candidatura doPartido Libertário (ultra-neoliberal), encabeçada por Gary Johnson – um ex-governador do Novo México, pelo Partido Republicano, e hoje executivo de corporação de maconha medicinal – tem mais votos do que se poderia supor, tirando, inclusive, mais votos de Hillary do que de Trump. Jill Stein, candidata do Partido Verde, também poderá tirar votos preciosos de Hillary ao se lançar com uma plataforma progressista que pode atrair eleitores de Bernie.

Ainda que seja cedo para afirmar que Hillary irá perder, como profetizou o cineasta Michel Moore, sua análise tem razão em alguns fatos: essa eleição se definirá em certos estados chave em torno do Meio Oeste, sede da falida indústria automobilística americana, os quais apesar de uma tendência tênue a votar nos democratas, possuem governadores republicanos na sua maioria e, inclusive, questões de classe ligadas à emergência social da antiga classe média industrial — em suma, votaram baseados em necessidades imediatas.

A pergunta de um milhão de dólares, muito mais importante do que quem vencerá, é como o vencedor vai levar. O fantasma de uma vitória de pirro é inegável. Hillary, é certo, dificilmente superaria Trump caso não fosse capaz de arrecadar mais do que ele, mas o fato é que consegue — a questão é saber se será o suficiente, mas não se sabe a que custo.

Se a manutenção da postura imperial americana é certa, ainda não são conhecidos os exatos termos em que isso vai se dar sob o novo presidente. Ainda que o passado muito remoto de Hillary pudesse sugerir que ela é o Bem numa disputa contra o Mal, o fato é que os compromissos que ela terá de firmar, às portas fechadas, com grandes corporações doadoras entrarão em conflito com os que ela assumiu publicamente, antevendo uma crise de legitimidade no horizonte – em um Congresso que possivelmente lhe será hostil. Do lado de Trump, a questão é menos onde os ventos do financiamento o vão levar, e mais sobre os acordos que ele fará com o establishment político americano na sua agenda gatopardiana, de mudar tudo para que nada mude.

O futuro presidente americano terá dificuldades imensas para reconciliar o país e manter a hegemonia global, mas dependendo da natureza da crise que se instale no país, teremos muito mais do que um problema doméstico de uma potência. A própria possibilidade – ou necessidade – de buscar uma alternativa ao poder americano pode ser comprometida em meio ao caos.
Edemilson Paraná, pesquisador-bolsista no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mestre e doutorando em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), é autor do livro “A Finança Digitalizada: capitalismo financeiro e revolução informacional” (Ed. Insular, 2016).

Hugo Albuquerque é jurista, mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e editor da Autonomia Literária.

O ESTADO DO MUNDO NÃO É UM GOLPE DE AZAR




Poucas situações geram um tão elevado número de opiniões coincidentes como a do estado desgraçado em que o mundo se encontra. Exceptuando os donos da opulência, poucos em número embora soberanos no poder, os tolos que argumentam com um optimismo incurável enquanto o sangue da tragédia humana planetária jorra em cascata sob os seus olhos, e os iludidos crentes de vários matizes que, contra todas as evidências, ainda acham que as divindades vão curar as chagas cada vez mais profundas, a esmagadora maioria dos seres terrestres, pelo menos no íntimo das suas consciências, não duvidam da situação dramática a que isto chegou.

O objectivo deste escrito não é o de enumerar as guerras, relatar os casos identificados de rapina global, as operações gananciosas e impunes para destruição do planeta. As atrocidades são tantas, e engendradas segundo artifícios tão diversificados, que o risco seria o de banalizar os crimes e deixá-los apenas alinhados como numa fatigante e inexpressiva lista telefónica.

Importante será lembrar, à luz de uma ou outra realidade grave e antes que o seu destino seja o esquecimento, isto é, a impunidade dos criminosos, que o estado do mundo não é um terrível caso de azar, um nefasto golpe de má sorte.

Nada disso. A degradação do mundo do ser humano é obra do próprio ser humano através de poderes delegados naqueles que menos deveriam exercê-los, os principais dirigentes mundiais em exercício. Entre os titulares de cargos que têm realmente capacidade para influir nas coisas do mundo não há um único que se aproveite, competem entre si nas capacidades e atributos para fazer degenerar os assuntos internacionais sem qualquer respeito pelos seres humanos.

Em consciência deveria abrir aqui um parêntesis para registar uma potencial e muito recente excepção, a do papa Francisco. É um homem que põe os dedos nas chagas mundiais e faz os diagnósticos correctos. Porém, fala directamente às consciências, coisas anacrónicas que os dirigentes mundiais, para o serem, erradicaram das suas pessoas. Francisco prega no deserto: quem o escuta não tem poder; os que decidem não o ouvem, por muito que lhe acenam ou sorriam.

Fechado o parêntesis, é altura de evocar um exemplo recente e que reúne muitos dos comportamentos que caracterizam as mentalidades desviantes dos que verdadeiramente nos governam. O caso chegou à comunicação social dominante com algum vigor – porque tem nutridos conteúdos de mentira e escândalo – mas, envolvendo quem envolve, caminha rapidamente para o esquecimento de onde não há que esperar qualquer consequência, muito menos a punição dos responsáveis.

É o que acontece com o Relatório Chilcot, elaborado em Inglaterra e que desnuda, sem margem para dúvidas, o comportamento vergonhoso do ex-primeiro ministro Tony Blair e dos seus comparsas da Cimeira das Lages – George W. Bush, José María Aznar e Durão Barroso. Nesta reunião magna nos Açores foram acertadas as trapaças e ordenados os falsos pretextos para a invasão do Iraque em 2003. Treze anos e milhões de vítimas inocentes depois, entre mortos, feridos, estropiados e desalojados num país ora destruído, o caos instalou-se em todo o Médio Oriente e o terrorismo dito islâmico dele decorrente tornou-se um foco de sobressalto mundial.

George W. Bush, um ícone das atrocidades universais contra os direitos humanos, goza uma reforma dourada nos seus ranchos; José María Aznar usufrui das imensas regalias que em Espanha continuam a gratificar os franquistas de novo ou velho tipo; Durão Barroso foi contemplado com a presidência da Comissão Europeia e, a seguir, com um lugar executivo na seita governante conhecida como Grupo de Bilderberg e uma posição de topo no Goldman Sachs, o superbanco mafioso que, segundo o seu presidente, “faz o trabalho de Deus” na Terra.

E Tony Blair? Pois esse bom católico que reduziu o Partido Trabalhista Britânico a uma parte do partido único neoliberal de inspiração thatcherista, dedica-se a conferências milionárias e a aconselhar governos intrinsecamente democráticos como são a ditadura militar do Egipto e a sádica e terrorista petroditadura da Arábia Saudita.

Mas provavelmente muitas pessoas já se esqueceram de que Tony Blair é o chefe do chamado “Quarteto para a Paz no Médio Oriente”. Não é ficção negra, é verdade factual: continua à cabeça dessa engenhoca que nasceu moribunda mas serve para encobrir, com o aval dos poderes mundiais, a colonização contínua da Palestina por Israel, mesmo depois de revelado o conteúdo do Relatório Chilcot. Um dos dirigentes mundiais que desencadeou uma guerra que deu origem a uma nova e acelerada fase de destruição do Médio Oriente é também o chefe do “Quarteto para a Paz no Médio Oriente”.

E quem constitui esse Quarteto? Os Estados Unidos, como não podia deixar de ser; a ONU, actualmente uma correia de transmissão de Washington e do Pentágono; a União Europeia, desempenhando o papel de corpo presente, reservando toda a agressividade contra os povos mais desprotegidos dos países europeus; e a Rússia de Putin.

O Quarteto pode ser uma caricatura, mas junta as principais forças e organizações mundiais sob a chefia de Tony Blair, um dos responsáveis por um dos maiores crimes dos nossos tempos.

Salta à vista que o estado degenerado do mundo não é fruto de um golpe de azar, de uma nefasta conjuntura de má sorte.

*José Goulão, em Mundo Cão

POLÍTICA E NEGÓCIOS



Ana Alexandra Gonçalves*

Dir-se-á que falar de Paulo Portas e promiscuidade entre política e poder económico já não faz sentido na medida em que o mesmo já não ocupa cargos de representação política. Ou seja, à semelhança de outros, depois de serem políticos passa a valer tudo, mais cherne, menos cherne.

É evidente que o passado destes políticos cruza-se invariavelmente com as empresas com as quais passaram a colaborar (resta saber até que ponto colaboraram com essas empresas quando eram representantes do povo. No caso de Portas a Mota-Engil foi apenas mais um exemplo. Depois de ter feito negócios na qualidade de ministro, com claros benefícios para a referida empresa, agora o ex-ministro passará a trabalhar também para uma petrolífera mexicana - fica por saber como é que os mexicanos se lembraram de tão proeminente e famigerada figura. Talvez tudo tenha acontecido quando Portas gozava umas férias por aquelas paragens ou numa ou noutra visita oficial ao referido país.

O pior desta história não é o período de nojo, porque se trataria de um redundância, afinal de contas nojenta já ela é. O pior desta história é que políticos ou ex-políticos como Portas voltarão à política activa depois de um passado conspurcado pela promiscuidade entre poder político e poder económico;depois de um passado em que se comportam não como representantes do povo, mas como representantes de empresas privadas, anulando por completo a democracia - a soberania do povo dá lugar à soberania de políticos que representam essas ditas empresas. 

Espero estar enganada e Portas jamais regresse à política activa. Seja como for já deu um forte contributo para a fragilização da democracia.

*Ana Alexandra Gonçalves, em Triunfo da Razão

ÉTICA… QUANDO CONVÉM



Ana Alexandra Gonçalves*

Desde logo importa lembrar que a política subjuga-se à ética e que os secretários de Estado do actual Governo esqueceram o princípio acima enunciado. Sou das que consideram que, depois da promiscuidade entre esses membros do Governo e uma empresa privada, ainda para mais em conflito com o Estado, só existe uma saída: demissão.

Todavia, não deixa de ser curioso ver a oposição exigir um comportamento ético dos outros, com toda a veemência humanamente possível, esquecendo que em suas próprias casas reina a promiscuidade, com maior ou menor nojo. Essa oposição é a mesma que vocifera incessantemente que se desrespeitou a ética republicana, sem que aprofundem o que consideram como sendo a ética republicana. Para esta oposição a ética é quando convém.

Os secretários de Estado do actual Governo erraram e não emendam a mão demitindo-se. Ignoram que estão desta forma a contribuir para o descrédito da política que se tem esquecido de se subjugar à ética e concedem argumentos a uma oposição, longe de ser impoluta, mas que conta com a memória curta de muitos de nós e com uma comunicação social ao serviço dessa mesma oposição. Neste contexto não pode haver lugar ao mínimo erro, quanto mais a esta promiscuidade bacoca entre membros do Governo e empresas privadas, tudo a troco de uns bilhetes para um jogo de futebol.

*Ana Alexandra Gonçalves, em Triunfo da Razão

SUBVENÇÕES VÍTALICIAS. DEFINIÇÃO À PORTUGUESA DA PRÁTICA DE ESBULHO DA CHULARIA




Mário Motta, Lisboa

Foram finalmente divulgados a quantidade e os que recebem as famigeradas subvenções vitalícias e oneram os custos pagos pelos contribuintes enquanto viverem. Eles(as) são mais de 300. São milhares e milhares, muitos milhares de euros (milhões?) que são subtraídos aos portugueses para sustentar vícios e mordomias a quem alegadamente “serviu Portugal”, como se todos e qualquer português não sirva Portugal enquanto vive. Estão nesse caso muitos portugueses, milhões deles, desde a mais mal remunerada profissão à mais elevada. Não vimos que seja considerada àqueles que dedicam a sua vida ao mar, à pesca, com salários de miséria, “servir Portugal”, nem aos que constroem os prédios, as pontes, as estradas (vulgo construção civil), nem aos metalúrgicos, nem aos da agricultura, nem aos mineiros, nem aos da prestação de serviços, nem aos das fábricas,  etc. Nem aos militares por imposição, ainda vivos (manetas e pernetas) que enfrentaram mais de uma década de guerra colonial injusta (como são todas). Segundo a legislação e disposições das elites que se governam, os que servem Portugal são essencialmente aqueles que desempenharem cargos políticos… os deputados, por exemplo, os ex-governantes, por exemplo. A “mama é só deles. Para eles a criaram e das tetas da vaca magra subtraem o que é produzido pelos que realmente servem toda a vida Portugal e em Portugal dão a vida, os membros superiores e inferiores… Quase por favor, no caso de acidentados que caiam de andaimes e fiquem paraplégicos, por exemplo, lá lhes “oferecem” uma cadeira de rodas, uma misera pensão de sobrevivência e nada mais.

Em linguagem robusta mas carregada de realidade podemos dizer que aqueles senhores e senhoras das ditas subvenções vitalícias são uns chulos da população portuguesa. Ainda mais por não se vislumbrar que um só deles esteja a sobreviver na miséria ou para lá caminhe. Antes pelo contrário. Encontram até na velhice as comodidades e luxos a que a maioria dos portugueses não tem direito. Ou mesmo que tenham direito teoricamente delas não conseguem usufruir por dificuldades que colocam nos processos. Quase tudo é negado ou entregue à míngua aos que realmente servem com o suor do seu rosto Portugal e o coletivo populacional. Aos políticos e aos que se introduzem nos meandros e ilhargas da política o fartote de esbulho feito lei contribui todos os anos para o esvair da mais-valia que é produzida por todos os portugueses. E são só esses que servem Portugal? Ou são só esses que prestam "serviços relevantes a Portugal", como afirmam? Não. Não são só esses.

Aqueles sujeitos e sujeitas, talvez na maior parte dos casos, têm diplomas universitários (alguns certamente de valores produzidos por falsários) e pulam para a política para garantir os seus futuros. Fazem-no sem rebuço e com a certeza de que prosseguindo, sejam ou não capacitados, sejam ou não competentes, têm a garantia de uma reforma por serviços prestados aqui e ali no privado ou no público e ainda uma airosamente chamada subvenção vitalícia. É uma asquerosa e inadmissível chularia que a classe política decretou em vantagens defendidas em causa própria. A política e a proteção de bambúrrios que os políticos reservam para si oneram todos os portugueses sem que se vislumbre um pingo de decência daquela classe elitista. Os mais conhecedores e experientes nas andanças da putaria e dos chulos comentam que nem os chulos da Banharia, do Cais do Sobre ou do Intendente teriam tanta ganância e tanta ausência de dignidade, tanta avareza, como os políticos que recebem a dita subvenção vitalícia por, por uns anos, desempenharem cargos políticos mais ou menos relevantes. É que quem está na política ganha a dois carrinhos ou mais. Faz currículo, é contratado por grandes impérios do capital com direito a honorários douradíssimos. Tem a vida facilitada por tudo e por todos… e além da dita subvenção vitalícia recebem a reforma e mais o que sempre vai “escorrendo” daqui e dali.

Poderão não ser todos assim deste jaez, os que enveredam pela política, mas os existentes são demasiados. E para eles não há “cortes”, ou, quando há, são “cortes” insignificantes. Que mesmo assim, para os mais chulos, os mais avaros e gananciosos serão razão para choramingar e lamentarem – recordo Cavaco Silva e a sua postura de chulo inveterado quando sofreu “cortes” no governo do capanga Passos. O que ele se lamentou, que “não sabia como conseguiria sobreviver”… Tadinho.

E é a chulos com tal caráter que entregamos o país e o “ouro ao bandido”. É inútil aconselhá-los a terem vergonha. Isso é algo de que estão desprovidos.

Não são todos. Mas são demasiados. E é a esses demasiados que temos por direito e obrigação de considerar uns grandes chulos de Portugal, assim como intervir intensamente para que a chularia recue e readquira alguma consciência e dignidade – se é que alguma vez as tiveram.

Não agrada aos portugueses serem levados a sentir, pensar e opinar de modo tão indignado e rude, mas realista. As responsabilidades de assim acontecer estão completamente reveladas na lista divulgada que contém os que mesmo depois de abandonarem a política continuam a beneficiar do que é retirado ao país e aos portugueses para uso exclusivo de uns quantos trastes da política.

Leia-se e consulte-se o que é facultado por João Oliveira do Notícias ao Minuto.

Mais de 300 políticos com subvenções vitalícias. Lista já foi divulgada

Caixa Geral de Aposentações teve um parecer positivo da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos para tornar o documento público.

José Sócrates, Manuel Alegre, Maria de Belém, Duarte Lima, Rocha Vieira, Manuel Maria Carrilho. Estes são apenas alguns dos nomes contemplados na lista da Caixa Geral de Aposentações, referente a todos os nomes com direito a subvenções vitalícias.

Entre todos os presentes, Rocha Vieira e Carlos Melancia, ex-governadores de Macau, são quem teve direito às subvenções mais elevadas, algo como 13.607 e 9.727 euros, respetivamente.

José Sócrates, que recentemente anunciou o seu pedido de subvenção, teve direito a rendimentos que ascendeu aos 2.372 euros. António Guterres, por seu lado, aufere (com reduções parciais), desde 2002, algo como 4.138 euros.

Além destes, é possível encontrar outros nomes do panorama político bem conhecidos do público português, como é o caso de Maria de Belém (que pediu ao Tribunal Constituicional o corte destes rendimentos, mas que aufere 2.372 euros); a antiga presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, com uma subenvenção de 3.432 euros; o ex-secretário geral do PCP Carlos Carvalhas, com 2.819 euros, entre outros.

Para conferir a lista por completo, basta aceder ao site da Caixa Geral de Aposentações, selecionar a pasta 'Documentos' e carregar na opção ‘Lista SMV’. O sistema fará um download direto para o seu computador, com a lista de todos aqueles que têm direito a subvenções vitalícias.

João Oliveira – Notícias ao Minuto

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