quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A ALPINISTA



Raul Diniz, opinião

Angola tem sido (des) governada há 37 anos por um presidente que mais se parece com um ET malvado. Por outro lado o presidente tem uma filha que é socialmente aventureira, e financeiramente gananciosa ao extremo.

Deslumbrante a filha do presidente angolano Isabel dos Santos é uma consumada alpinista social, ela adora os holofotes do hall da fama internacional, mesmo que esses holofotes não a revelam como pretende.

Já está mais do que claro como Isabel dos Santos roubou os angolanos para criar um império financeiro meramente artificial...

A forma obscura de indicar e nomear Isabel dos Santos ao cargo de PCA da Sonangol foi um ato iníquo e despoticamente desqualificável a todos os níveis.

Primeiro porque essa atitude foi um ato engendrado perigosamente pela casa de segurança, e posteriormente foi aceite e sedimentada com a benção do pai presidente, sem o prévio e a necessária chancela do silenciado MPLA. Essa realidade revelada face obscura da criminosa oligarquia instalada no poder em Angola.

Isabel dos Santos foi do nada catapultada imerecidamente do nada, transformar a presidente filha do presidente JES ao cargo de PCA da empresa publica Sonangol foi um exercício medíocre de manipulação da lei e da constituição inadmissível.

Em suma foi um desserviço ao estado democrático e de direito que se pretende venha um dia a começar a sua instalação sem JES e sem a sua família de abusados ladrões.

Essa necessidade de exposição obsessiva de Isabel dos Santos demonstra uma plena frustração por não ser reconhecida como empresária competente pela comunidade empresarial internacional.

Também se percebe que o atabalhoado envolvimento aparatoso da filha do presidente com a mídia internacional não visa um protagonismo atuante como empresaria até hoje inalcançado.  Por outro lado, esse esforço visa igualmente tentar inviabilizar a veracidade do seu enriquecimento ilegítimo e por isso ilegal.

A Belita dos Ovos nada fez de extraordinário em favor do povo que a recebeu aquando da sua chegada a Angola em 1975.

A custa do empobrecimento dos naturais autóctones angolanos, a maestrina da corrupção enriquecida a custa do gamanço do erário publico, tenta agora enroupar-se com vestes utilitárias de bilionária angolana honesta, porem sem sucesso.

Por outro lado, a indigna cidadã tenta passar a informação de empresaria sem, contudo demonstrar qualquer comprovação de eximia capacidade empresarial comprovada.

Essa família de famigerados alpinistas sociais é parte imponente da cambada de sociopatas de tresloucados oportunistas, mentores relevantes da fomentação do capitalismo selvagem que grassa um pouco por todo país.

É dessa tipicidade congênita de pessoas asquerosas onde se situam Isabel dos Santos e seus irmãos, sem esquecer o pai presidente. Essas pessoas, nas suas múltiplas funções nunca fizeram coisa alguma em favor do povo, que vive num lastimável estado de miséria endêmica.

Mas afinal, que espécie de alpinista social é a filha visionária do presidente da republica?

É do conhecimento geral que a Isabel dos Santos demonstra desconhecer totalmente as raízes e manifestações sócio-político-culturais do povo angolano. Daí a inexistência de um dialogo capaz e abrangente, que ajude a dissipar as divergentes posições, que mantem de um lado a família presidências detentora do poder econômico e do outro o povo pobre por eles explorado.

Os angolanos já estão habituados com as excêntricas aparições habituais na roda viva da alta costura e da publicidade internacional, apesar de ela não passar de uma simples figurista.

Em relação a recente aparição voluptuosa da filha de JES na suíça onde exibiu o maior diamante encontrado em Angola, também não foi diferente o seu surgimento uma vez mais como figurista, na festa de Dulce & Cabana em Milão.

Como das outras vezes, Isabel dos Santos chegou a Milão acompanhada de seu marido e escudeiro de roubo da riqueza dos angolanos, o zairense Sindika Dokolo.

A insalubre empresária Belita dos ovos desta vez não se coibiu em tentar buscar protagonismo ao anunciar nos meios de informação alternativos a sua presença no desfile de Dulce & Cabana além-fronteiras em Milão.

Uma vez mais foi em vão o seu esforço de tentar alpinistamente alcançar o status social de empresaria de sucesso internacional, debalde.

Escalar montanhas sociais íngremes não é a única especialidade da Belita dos Ovos, ela tem outros atributos como predadora financeira, ladra, ganancia, mentirosa e ambiciosa desmedida. Ela é também especialista em tudo de ilegal fazer para atingir os seus fins sem qualquer esforço adicional justificável.

Sem eufemismos desconjuntáveis baratos, pode-se afirmar sem medo de errar, que esses atributos abrangem todos os abutres criminosos conjurados da família de José Eduardo dos Santos.

Nos muitos montes everteste escalados no universo social pela socialite Isabel Dos Santos, nenhuma delas produziu quaisquer proventos que ajudassem a melhorar substancialmente o estado de miséria que os angolanos vivem. 

A empresária falastrona Isabel dos Santos não sente empatia alguma, nem nutre qualquer sentimento de gratidão e muito menos morre de amores pelos Angolanos. Na verdade a Isabel dos Ovos não passa mesmo de uma alpinista social ambiciosa desqualificada, que apenas ama e adora as riquezas do povo que explora.

O país não pode continuar a viver ilusoriamente nem pode aceitar a abusiva equação que o “nada, vezes alguma coisa é igual a tudo”.

A sociedade angolana precisa sair urgente do ostracismo em que vive, e dar um basta aos atos de corrupção praticados por essa corja de bandidos malvados. Trabalhar ilegalmente com dinheiro subtraído do erário público não a dignifica a Isabel dos Santos como mulher e muito menos como empresária.

Honestidade para Isabel dos Santos não significa verdade e vice versa, principalmente no que se refere aos dinheiros dos angolanos.

Uma cidadã que não goze da digna admiração e respeito da maioria dos angolanos não merece qualquer tipo de credibilidade. Infelizmente a senhora Dokolo ainda não se apercebeu que o fim de sua odisseia está próximo. A tristemente empresaria não se dá conta que caminha por areias movediças que a levarão certamente para terrenos pantanosos.

ELEIÇÃO DE GUTERRES CRISTALINA VERSUS KRISTALINA-PPE-MERKEL OPACA




Mário Motta, Lisboa

Dizem as notícias chegadas em catadupa que as felicitações por António Guterres ter sido eleito Secretário-Geral da ONU vêm em torrente de tudo e de todos os lados. Pois. É a tal coisa: “se não o consegues vencer junta-te a ele”. A candidata que a Alemanha criou à última da hora com o ámen do presidente da UE, Junker, sob a diretoria do Partido Popular Europeu – coisa do CDS e do PSD, de Junker e da Merkel, entre outros neoliberais-fascistas - também parabenizou Guterres. Não conseguiu abafar Guterres e logo passou a ser voz corrente que agora vai para vice-presidente do Banco Mundial. Porreiro, pá, oh Kristalina Georgieva – caniche de cauda cortada e couto a abanar.
  
Felizmente que – ao contrário daquilo que muitos esperavam, e eu – o processo de eleição deste Secretário-Geral da ONU foi transparente. É que se não a vergonha e o descrédito da ONU seria dantesco. Kristalina foi empurrada pela Alemanha sem pés nem cabeça… E a mongloide foi. Foi e mostrou quanto a Alemanha está novamente a julgar-se senhora da Europa e se possível do mundo. A arrogância regressou àqueles governantes, políticos e mixordeiros arianos de "raça superior”. Pois. É cíclico, os gajos e as gajas nunca mais aprendem. Escavacam tudo, assassinam e roubam que se fartam mas depois acabam por levar nos cornos e ficarem com o país todo escavacado. E não aprendem. Prova de que as carolas nazis são duras como os cornos do boi Apis. Nazismo no ADN. Pois.

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso… perdão, Junker, alinhou na opacidade da Kristalina, mas logo de seguida, após a vitória muito merecida de Guterres, enviou ao novo SG da ONU uma carta que pode ler no Expresso. Carta com um coração. Até onde chega a hipocrisia dos monstros que detêm os poderes da UE!

Claro que Guterres, que é um coração de manteiga, considera todas as jogadas porcas que partiram dos alemães, da UE e de Junker, coisa sem importância, mesmo muito insignificante. Faz bem. Na verdade quanto mais se mexe na trampa pior é o cheiro…

O melhor é findar a prosa, o pivete já chegou às narinas. Pfff!

Cristalina foi a vitória de António Guterres, merecidamente. Contra Kristalina-PPE-Merkel opaca. A gente topa-vos. Pois.

GUTERRES ACLAMADO COMO NOVO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU



A Assembleia Geral deve reunir-se já na próxima semana para aprovar esta recomendação

O Conselho de Segurança das Nações Unidas escolheu por unanimidade e aclamação o antigo primeiro-ministro português António Guterres como secretário-geral da organização.

"O Conselho de Segurança recomenda à Assembleia-Geral que o senhor António Guterres seja designado como secretário-geral das Nações Unidas, entre 1 de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2021", afirma a recomendação do órgão decisório da ONU, aprovada por aclamação.

A decisão foi anunciada aos jornalistas pelo embaixador da Rússia, Vitaly Churkin, que assume este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança.

O documento segue agora para aprovação na Assembleia Geral da ONU, onde deverá ser votado já na próxima semana.

O regulamento da ONU sugere uma votação à porta fechada, mas isso não acontece desde 1971. O organismo tem optado por aprovar o nome do novo secretário-geral por aclamação.

Em Portugal

Os deputados interromperam esta quinta-feira pelas 15h50 os trabalhos que haviam arrancado perto de uma hora antes no parlamento para aplaudir de pé António Guterres pela sua aclamação como secretário-geral das Nações Unidas.

"Chegou a notícia que todos nós esperávamos. António Guterres foi aclamado e nomeado por unanimidade pelo Conselho de Segurança para secretário-geral das Nações Unidas", anunciou o vice-presidente da Assembleia da República Jorge Lacão, que hoje preside aos trabalhos.

TSF com Lusa - Foto: © Peter Foley/EPA

PROSSEGUEM AS PRESSÕES DA UNIÃO EUROPEIA



Paula Santos – Expresso, opinião

A União Europeia está a fazer tudo para voltar a impor a política de empobrecimento e exploração, protagonizada pelo Governo PSD/CDS e que o povo português rejeitou há um ano.

Ainda esta semana o Comissário Günther Oettinger em audição na Comissão de Assuntos Europeus na Assembleia da República afirmou a hipótese de Portugal vir a precisar de um segundo resgate. Para além de inqualificável, esta declaração do Comissário integra-se na estratégia de pressões e chantagens da União Europeia sobre o nosso povo e nosso país, com um objetivo que se torna cada vez mais claro aos olhos dos portugueses – condicionar as opções políticas do próximo orçamento de estado e da nova fase política, que assumiu a recuperação de rendimentos, de salários e de direitos.

Numa declaração política na Assembleia da República, creio que a afirmação do PCP sintetiza bem a intenção da União Europeia em todo este processo dirigido aos trabalhadores e ao povo «como que pretendendo dar uma lição: “não ousem decidir dos vossos destinos, não ousem construir o vosso futuro, não ousem querer a riqueza que produzem nem reconstituir direitos que vos foram roubados.”»

A União Europeia não admite que haja um povo que neste último ano tenha já alcançado, com a sua luta, a reposição dos salários, o aumento do salário mínimo nacional (ainda que aquém das necessidades), as 35 horas, a reversão do privatização das empresas de transporte, a reposição do complemento de reforma, entre outras.

É neste contexto que prosseguem as pressões e chantagens da União Europeia. Quando há uns meses alguns cantavam vitória sobre o processo de sanções a Portugal, o PCP alertou que esse processo não tinha finalizado e que iria prosseguir. Ai está à vista de todos.

A decisão de prolongar o dito processo de “diálogo” sobre a possibilidade de suspensão total ou imparcial dos fundos comunitários, pretende condicionar a decisões soberanas.

São inaceitáveis as pressões e chantagens sobre um povo e um país soberano como Portugal.

Rejeitamos qualquer tipo de sanção que seja aplicada a Portugal. A eventual suspensão dos fundos comunitários só agravaria ainda mais as consequências da política de empobrecimento e exploração com impactos profundamente negativos na nossa economia.

Combatemos as sanções, mas combatemos também os instrumentos e os mecanismos criados pela União Europeia (com o apoio de PS, PSD e CDS) que permitem a aplicação de sanções aos Estados-Membros. Esta é a questão de fundo que tem de ser colocada no debate. Os instrumentos e mecanismos impostos pela União Europeia são parte integrante de um projeto político e ideológico de dominação capitalista. Um projeto criado para servir os interesses do capital e atacar os direitos dos povos.

É por isso que o desenvolvimento do nosso país passa pela libertação das amarras e constrangimentos impostos pela União Europeia.

TIMOR, “PÂNTANO”, REFUGIADOS: 3 PALAVRAS-CHAVE NA BIOGRAFIA DE GUTERRES



Depois de 10 anos como Alto Comissário para os Refugiados, António Guterres é eleito secretário-geral das Nações Unidas. Um destino que poucos antecipariam para o homem que Portugal lembra como o salvador de Timor-Leste, mas também como o primeiro-ministro que se demitiu a meio do mandato para evitar que o país caísse num “pântano”

Cristina Figueiredo / Luísa Meireles – Expresso

tónio Manuel de Oliveira Guterres tem 67 anos, cumpridos a 30 de abril. Nasceu em Lisboa mas o país sempre o tomou por nado e criado em Donas, Castelo Branco, um "equívoco" que nunca o incomodou, pelo contrário: foi na terra dos avós maternos que passou grande parte da infância e foi o aperceber-se das dificuldades por que passavam os seus amigos da aldeia da Beira Baixa que "contribuiu decisivamente" para, mais tarde, se "dedicar à política e ter ideais socialistas".

Acabou o liceu com 18, quis ser investigador físico, licenciou-se em engenharia electrotécnica no Instituto Superior Técnico, com a inacreditável média de 19. Mas acabou por nunca exercer a profissão: o ativismo na Juventude Universitária Católica e noutros movimentos associativos ligados à Igreja que faziam trabalho social em Lisboa fizeram-no desistir de um rumo que, a certa altura, lhe pareceu ter "uma utilidade social pouco relevante".

Acabaria por encontrar novo caminho na vida política, de onde se começou a aproximar pouco antes do 25 de abril. Entrou no PS, pela mão de António Reis, exatamente no dia da Revolução. Certa vez, numa entrevista, explicou que não via qualquer contradição entre as dimensões cristã e socialista na sua vida: "Ser cristão dá-nos uma matriz de valores. Ser socialista dá-nos uma visão política do mundo e uma vontade de intervir".

Assume-se um social-democrata que concilia os valores tradicionais da solidariedade e da justiça social com o reconhecimento da importância da iniciativa e atividade individuais. E um moderado: "Normalmente é-se muito radical na ação quando não se está bem seguro daquilo que se quer". Deixou-se inspirar por Salgado Zenha, que reconhece ter sido a figura política que mais o marcou.

A RECUSA QUE LHE CUSTOU

Tinha apenas quatro anos de experiência política quando Mário Soares o convidou para ministro da Saúde. Recusou: "Simplesmente não estava ainda preparado", justifica. Como haveria de recusar, dez anos mais tarde, o convite de Vítor Constâncio, primeiro, e Jorge Sampaio, depois, para ser o candidato do PS à Câmara Municipal de Lisboa. Factos que contribuiriam para que fosse rotulado como calculista, ambicioso, cuidadoso gestor da sua carreira. Ele não se revê no retrato: "Se me perguntar se tenho alguma ambição política para o futuro, respondo-lhe com total verdade que não tenho nenhuma", diria em 2002 (já depois de ter deixado o Governo) à jornalista Anabela Mota Ribeiro.

Na mesma ocasião confessou que se alguma coisa lhe custou recusar foi a Comissão Europeia (seria convidado para presidir à instituição em 1999, pouco tempo antes do fim do seu primeiro mandato como primeiro-ministro): "Se tivesse uma lógica de ambição pessoal deveria ter aceite naquele minuto. Entendi que o que estava a fazer aqui me criava obrigações de que não podia fugir".

Acabaria por "fugir", ou pelo menos essa foi a leitura que prevaleceu, quando, dois anos depois de ter vencido as legislativas pela segunda vez, com a maioria mais bizarra de que há memória na democracia portuguesa (115 deputados, exatamente metade da Assembleia da República, menos um do que precisaria para garantir a maioria absoluta), soçobra aos maus resultados do PS nas eleições autárquicas de dezembro de 2001. Explicou, perante uma nomenklatura socialista em estado catatónico e um país incrédulo, que "se nada fizesse, se olhasse para estas eleições e passasse por elas continuando a exercer as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano político que minaria as relações entre governantes e governados". "Pântano" passaria a ser substantivo indelével de uma sua qualquer biografia.

A perda para o PSD das principais câmaras do país (Lisboa, Porto, Sintra, Cascais...) fora a gota de água, mas os dois últimos anos tinham sido particularmente desgastantes, política e pessoalmente: dois orçamentos de Estado aprovados com recurso ao deputado do CDS de Ponte de Lima, Daniel Campelo; dossiês controversos (e reveladores de profundas divisões no Executivo) como o da taxa da alcoolemia; a morte da mulher, Luísa, mãe dos seus dois filhos, por doença que há muito a vinha debilitando.

Só tinham passado seis anos desde que conquistara, ainda que sem maioria absoluta, uma saborosa vitória para o PS nas legislativas, pondo cobro a dez anos de governos PSD. Empurrado pelos novos ventos da Terceira Via de Tony Blair, Guterres fizera-se eleger como uma espécie de anti-Cavaco, garantindo que "razão e coração" podem coexistir, que as "pessoas não são números", que é possível ter "paixão pela educação". Os primeiros anos corresponderam ao entusiasmo e à esperança da campanha eleitoral, foram os anos do Rendimento Mínimo Garantido, da Expo 98, da estratégia de Lisboa, da luta pela independência de Timor-leste, com o então primeiro-ministro a fazer-se valer das suas melhores capacidades diplomáticas - já então bem evidentes - junto da Casa Branca para conseguir evitar o massacre do povo timorense pelas tropas indonésias na sequência do referendo que dera a vitória ao sim (à independência), em setembro de 1999.

ACNUR: UM VALIOSO CARTÃO DE VISITA

Depois de deixar a política nacional, em dezembro de 2001, novamente casado (com a que fora sua secretária de Estado da Cultura, Catarina Vaz Pinto), voltou ao voluntariado, deu explicações de matemática num bairro problemático de Lisboa. Em 2005 assumiu funções como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cargo que ocupou durante dez anos e que lhe permitiu percorrer várias vezes o mundo e conhecer em larga escala os problemas que hoje afetam o planeta, e a muitos dos quais aquela organização internacional já não consegue responder - criada há 61 anos, está anquilosada quanto baste.

Não é por acaso que, num debate com Durão Barroso, já este ano, Guterres focou precisamente que devido às transformações do mundo, a ONU precisa de inovar e mudar. Encontrar o equilíbrio e o consenso para uma reforma não será tarefa fácil, reconheceu.

Simultaneamente, o tempo em que esteve à frente da ACNUR deu-lhe acesso ao mundo das Nações Unidas e a experiência concreta na gestão de uma agência desta organização, que conta com mais de 10 mil funcionários em 125 países. Conseguiu promover a sua reforma, reduzindo em 20% o pessoal na sede, em Genebra, e triplicando o volume de atividades no organismo, de modo a poder responder ao número crescente de refugiados. Esse trabalho serviu-lhe agora como um “cartão de visita” imprescindível.

Há ano e meio, assumiu o que para ele já era então óbvio: que não queria candidatar-se ao cargo de Presidente da República, que o PS ( e talvez o país) lhe oferecia de bandeja. Tinha outra ambição: a de ser secretário-geral das Nações Unidas. Sabia o que estava a fazer, e teve tempo para amadurecer a sua posição. Mesmo estando “na pior posição possível”, como disse ao Expresso, ser homem e não ser oriundo da Europa do Leste – os dois critérios que em princípio estavam em cima da mesa da eleição - arriscou um desafio que à partida parecia impossível. Não mudou essas circunstâncias, mas venceu pelo mérito e, diga-se de passagem, pela transparência do novo processo, que retirou margem a manobras de última hora e à porta fechada. Tem agora a melhor oportunidade da sua vida para por em prática o que de há muito definiu como o seu principal objetivo: "Não está em causa para nenhum de nós, a não ser que se seja megalómano, querer salvar a humanidade. Mas é muito importante fazer coisas que ajudem pessoas, pessoas concretas, a ter uma vida melhor".

Foto: Dimitar Dilkoff / AFP / Getty Images

CONTRA VENTOS E MARÉS



Pedro Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião

Cumpriu-se o primeiro aniversário das eleições legislativas de 4 de outubro de 2015. Foi um ano que valeu a dobrar, portador de profundas mudanças, com verso e reverso: 365 dias para uns, 365 noites para outros. Esperançoso para muitos, dececionante para uns poucos. No dia das eleições já ninguém defendia as políticas de austeridade que o Governo anterior, durante quatro longos anos, aplicara com fervor, como se fosse o único caminho para a redenção de um povo pobre e indolente que gastou o que não tinha e vivia do que os ricos lhe emprestavam. Com algumas medidas eleitoralistas e a muleta do Tribunal Constitucional que ordenou a revogação dos "cortes" ilegais, algum alívio conseguido deu até alguma verosimilhança às promessas desse Governo em fim de mandato. E assim acabou a austeridade! Quer para aqueles que sempre a rejeitaram quer para esses que agora a renegavam por se tornar desnecessária e, sobretudo, inoportuna. Alguma ambiguidade, todavia, persistiu mas não chegou para garantir o triunfo eleitoral do PSD e do CDS. Os partidos do anterior Governo, apesar de se apresentarem coligados perante os eleitores, perderam a maioria que lhes tinha assegurado quatro anos de governação arrogante e solitária e de nada lhes valeu a tentativa de chantagem para impedir a formação de um governo que desse voz à maioria que de forma inequívoca reclamava nas urnas uma autêntica mudança política. Ao conteúdo literário do programa eleitoral de uma PàF recém-renascida das cinzas da governação, sobrepôs-se a memória sofrida do que antes tinham dito e feito.

O primeiro sinal foi dado pela vitória do socialista Eduardo Ferro Rodrigues, eleito Presidente da Assembleia da República a 23 de outubro de 2015, dia inaugural da XIII Legislatura. E depois da rejeição parlamentar do programa de Governo que Passos Coelho e Paulo Portas em vão teimavam impor - amparados com desvelo pelo Presidente cessante, Aníbal Cavaco Silva - no dia 26 de novembro tomava posse, finalmente, o Primeiro-Ministro António Costa. A 3 de dezembro, dois meses depois das eleições, após o chumbo pela Esquerda parlamentar da moção de rejeição intentada pelo PSD e CDS no termo do debate do programa do novo Governo, iriam os socialistas assumir por fim a plenitude das suas responsabilidades governativas. Contra ventos e marés, foi revogado o "estado de exceção" imposto pela governação do PSD/CDS sobre o país que tinham transformado num "protetorado internacional", pasto fértil dos mercados financeiros e dócil cobaia da mais severa ortodoxia política e económica do Partido Popular Europeu - a família política ainda dominante na Comissão e no Conselho, que continua a hipotecar aos populismos da extrema-direita racista, xenófoba, fascista e neonazi, muito do que ainda resta da herança cosmopolita, generosa e solidária do velho projeto europeu. São eles a mais perigosa ameaça à construção europeia, pela intransigência cega com que tentam impor mais austeridade aos povos do Sul - fragilizados pelos efeitos assimétricos da configuração incipiente da moeda única - e pela infinita complacência com que admitem a restrição das liberdades, a violação do direito de asilo e a indiferença face à tragédia dos refugiados, aos seus vizinhos do Centro da Europa.

Uma duplicidade atroz a que o Governo socialista e a maioria de Esquerda que o apoia souberam responder vigorosamente, persistindo na correção das injustiças, na promoção do emprego e na qualificação dos jovens, ao mesmo tempo que se alargam consensos e concertam vontades entre os povos do Sul, para mudar as políticas que estão a arruinar a União. E à noite sucedeu o dia. 365 dias em que a transparência do confronto, a vivacidade do debate, a flexibilidade, o compromisso e o sentido da responsabilidade política retomaram a sua importância e dignidade, inscrevendo-se na normalidade da vida democrática. 365 dias em que o Parlamento assumiu um dinamismo e uma centralidade inédita na nossa história constitucional. Um ano bastou para demonstrar que a alternativa política é sempre possível, que a vontade do povo é soberana e que a força dos regimes democráticos reside nos valores da liberdade, da justiça e da solidariedade.

*Deputado e professor de direito constitucional

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