segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A UBER VAI PARA ALÉM DO PROBLEMA DOS TÁXIS



Ana Alexandra GonçalvesTriunfo da Razão

A manifestação dos taxistas acabou por ser indelevelmente marcada por actos de violência que mais não fizeram do que liquidar qualquer espécie de argumentação. Todavia, isto não significa que a Uber e empresas similares representem um bom exemplo para o mundo, bem pelo contrário, a Uber e empresas similares são sinónimo de ausência de direitos laborais e contratuais e um dos maiores exemplos de precariedade.

Infelizmente, a luta dos taxistas, quer pelo seu carácter visceral, na pior acepção da palavra, quer pela natural defesa exclusiva daquilo que consideram iniquidades que recaem sobre a classe, passa ao lado da verdadeira natureza da Uber e da transformação das relações laborais. A verdade é que empresas que agem na mais absoluta ausência de direitos laborais estão a mudar o paradigma. Se estas empresas vingarem, pouco resta à parte mais desprotegida das relações laborais: os trabalhadores. 

Paralelamente à questão dos taxistas que infelizmente mostram-se incapazes de argumentar, recorrendo amiúde a formas de protesto pouco consonante com o Estado de Direito democrático, existe todo um mundo de precariedade que empresas como a Uber trazem. Esta é uma discussão que tem sido frequentemente esquecida. Tudo ficará resumido à boçalidade de alguns.

Eleições Regionais nos Açores: PS renova maioria absoluta com abstenção recorde



Apuramento está concluído. PS consegue 30 mandatos, PSD tem 19 e PPM mantém o deputado que tinha

O PS renovou a maioria absoluta nas eleições regionais dos Açores com 46,4% dos votos mas com um resultado pior do que há quatro anos.

O PSD obteve 30,8%, um dos piores resultados de sempre. O CDS alcançou 7,1%, BE 3,6%, CDU 2,6%, PPM 0,9%.

A abstenção atingiu 59,16%, um recorde absoluto nestes sufrágios, superando os 53,34% de abstenção em 2008, que era até agora o valor mais elevado.

O PS conquista assim 30 lugares na Assembleia Legislativa, o PSD 19, o CDS 4, o BE 2 e a CDU e o PPM 1 lugar cada.

Nas eleições de 2012, o PS obteve 48,98% dos votos, enquanto o PSD alcançou 32,98%. O CDS teve 5,67%, o BE 2,26% e o PCP 1,89%.

Lusa / Expresso

PARA PIOR JÁ BASTA ASSIM



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

Durante cerca de um ano, Passos Coelho teve uma narrativa. Este Governo era despesista, as reversões iam desequilibrar as contas públicas, o investimento ia retrair-se perante o radicalismo de Esquerda, o défice dispararia. E depois? Depois o PS acabaria por abandonar o país. Caberia ao PSD o papel difícil, mas necessário e responsável, de voltar ao comando do navio e pôr as contas em ordem.

Com a apresentação do Orçamento do Estado para 2017, o discurso da Oposição fez uma viragem que deita por terra meses e meses desta narrativa sobre despesismo. Eis que a palavra de ordem passou a ser austeridade. Primeiro foi Pedro Passos Coelho a queixar-se que, afinal, "ela" está de volta. Depois Assunção Cristas disse que de facto é isso. Uma austeridade com roupagem diferente, um bocadinho mais à Esquerda, mas em qualquer caso austeridade. E é aqui que o cidadão que tente situar-se neste teatro político e perceber qual a visão de cada partido para o país fica baralhado.

Então a contenção na despesa e o rigor não eram um mal necessário? A dureza dos anos da troika não era o único caminho para endireitar as contas do Estado, depois do descontrolo em que PSD e CDS-PP as tinham encontrado? Passos Coelho e Assunção Cristas prefeririam que este orçamento desse aumentos incríveis à Função Pública, aumentasse a eito as pensões e evitasse mais impostos, fazendo disparar de novo o défice?

Sem o diabo à solta do lado do défice, os líderes da Oposição têm de encontrar novos perigos em que focar a atenção. E nem lhes falta por onde. Os níveis de investimento continuam perigosamente baixos e ainda não foram apresentadas verdadeiras medidas para promover aquilo de que precisamos como de pão para a boca: o crescimento da economia.

O Estado, em rigor, não tem orçamento. Tem um bolo que é reunido à conta de retirar migalhas a cada um dos contribuintes. Sem crescimento, esse exercício será sempre penoso. Ainda assim, é difícil não reconhecer que o modelo proposto para o próximo ano introduz um pouco de justiça social, devolvendo uns tostões a quem mais precisa e procurando ir buscar mais onde faz menos diferença.

É urgente uma Oposição construtiva e criativa, que apresente ideias e propostas em vez de esperar pelas desgraças do poder. Sem isso, a sua existência torna-se vazia. E até desnecessária como alternativa. Austeridade por austeridade, para pior já basta esta.

*Subdiretora

MAIORIA DOS AÇOREANOS NÃO VOTARAM, CONSEQUÊNCIAS ZERO PARA OS POLÍTICOS



As eleições regionais realizadas ontem nos Açores demonstraram a pouca vergonha que grassa na política portuguesa e a ausência da mesma nos políticos do país. Quase 60 por cento dos eleitores demonstraram aos políticos açoreanos (neste caso) a sua desconfiança e recusaram passar-lhes a procuração de defesa dos seus direitos, liberdades e garantias. Em defesa da democracia e dos interesses por que se deviam pautar os deputados regionais. Maioritariamente, em números alargados, os eleitores açoreanos recusaram eleger os políticos e os partidos que os têm (des)governado ao longo de décadas – especificamente os deputados autárquicos do PS, do PSD e do CDS.

“Porque o voto é uma arma decidimos não votar, para não entregar a nossa arma aos que não a merecem e ficarmos indefesos”, disseram muitos dos eleitores nos Açores.

O desenho da democracia vigente (que muito deve à democracia de facto) permite a abstenção eleitoral mas sem que as consequências dessa opção dos eleitores recaia sobre os partidos políticos e os políticos que estão em concurso eleitoral. Os eleitores manifestam claramente a sua falta de confiança nos partidos e nos políticos mas esses mesmos que não inspiram confiança são considerados eleitos para a tarefa de se governarem e governarem os que os rejeitam por falta de confiança.

“Se só 40 por cento dos deputados foram eleitos deviam ser só esses a preencher a assembleia. Os outros 60 por cento deviam representar a abstenção, a desconfiança e recusa dos eleitores naqueles deputados propostos pelos partidos. As cadeiras deviam ter por significado isso mesmo e ficarem vazias. A assembleia devia ter só presentes os 40 por cento eleitos em vez fazerem batota com a interpretação de que os eleitores não lhes enviaram a mensagem de que não confiam neles para ali estarem. Ali e no governo, por inerência. Assim, a opção democrática de demonstrar a recusa de eleger  aqueles partidos é desvirtuada. Eles tornam-na inconsequente. Ora digam lá que democracia é esta?” Ouvia-se com frequência entre os que em consciência se abstiveram por não confiarem nos políticos e partidos propostos nas listas eleitorais.

Como se nada de anormal tivesse acontecido, a abstenção dos eleitores foi lamentada pelos políticos mas foi inconsequente. “Até assim eles conseguem manter os “tachos” e enganar-nos, passando comprovativo de que são eles que querem, podem e mandam. Eleições de palhaçada, é o que é.” Desabafam alguns dos eleitores que defendem as consequências para os partidos e os políticos que rejeitam eleger e expressam através da abstenção do voto que lhes pertence e que em consciência foi usado na abstenção, por opção política e democrática.

Walter Leal da Câmara, nos Açores

Abstenção nos Açores atingiu os 59,1%, valor mais alto de sempre

A abstenção atingiu, este domingo, 59,16% nas eleições regionais dos Açores, um recorde absoluto nestes sufrágios, superando os 53,34% de abstenção em 2008, que era até agora o valor mais elevado.

Dos 228.160 inscritos, apenas foram hoje às urnas 93.189 eleitores e 134.971 abstiveram-se. Nas eleições de 2012, a abstenção situou-se nos 52,14%, com 117.371 eleitores dos 225.127 inscritos a optarem por não votar.

A mais alta taxa de abstenção de sempre nas regionais açorianas tinha-se registado em 2008, quando 53,34% dos eleitores, 192.943, não foram às urnas.

Em 2004, a abstenção foi mais baixa, de 44%, 85.571 eleitores, e, nas eleições de 2000, foi de 46,7%.

A taxa mais alta de participação registou-se nas eleições de 1980, com uma abstenção de apenas 22,9%.

Quatro anos depois, em 1984, a abstenção subiu para 37,6%, representando 64.389 eleitores. O número de abstencionistas voltou a subir em 1988, para 74.165, uma percentagem de 41,1%.

Nas eleições de 1992, a taxa de abstenção foi de 37,8%, 69.454 eleitores, e nas regionais de 1996 esta taxa passou a barreira dos 40%, quando 78.184 eleitores não foram votar.

As primeiras eleições regionais, em 1976, já tinham registado uma taxa alta de abstenção, de 32%, representando 52.851 eleitores em 162.677 inscritos.

Jornal de Notícias

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