
A
Clinton da voz esganiçada baixou a forma de cacarejar por via da enorme derrota
que o eleitorado norte-americano lhe infligiu após a bebedeira que foi a
campanha eleitoral nos EUA.
Venceu em maioria de estados o bronco Donald Trump.
Só bronco para não mencionar uma lista extensa de epítetos a condizer com o
figurão que vai ser presidente dos EUA. Foi eleito. Depois da bebedeira os
norte-americanos estavam de ressaca e votaram nele em larga escala.
A verdade é
que também só bêbados é que podiam participar no ato eleitoral, considerando os
dois candidatos do sistema destacados pelas lavagens e manipulações dos media.
Seja
como for quem venceu foi o tal bronco, para regozijo das extremas-direitas de todo
o mundo, do Ku-Klux-Klan e associados, etc. Putin também se regozijou.
Espantoso. Entre a merda e o cagalhão Putin escolheu um deles. Mas não votou, não
é eleitor nos EUA. A escolha entre as defecações no pleito eleitoral teve de
ser dos sacrificados eleitores da pátria do Tio Sam.
Dito isto importa
salientar o constante no Expresso Curto de hoje da autoria de Miguel Cadete
(que reproduzimos a seguir). Ele diz que Donald Trump é fofinho. Não é
surpresa, a trampa é fofinha enquanto não endurece. E é nessa fase que até
cheira muito mal.
Então talvez possamos concluir que Trump irá atenuando os maus odores ao longo do seu mandato presidencial. Passará a ser um merda sêca. Provavelmente deixará de ser tão
racista, tão ordinário, tão misógeno, tão machista, tão fascista, tão xenófobo…
tão merdoso. Oremos.
Do
Curto do Expresso segue-se a descoberta do autor sobre a fofura Tramp. Miguel
Cadete tem a palavra, expressamente. Vale ler. De fio a pavio. (MM / PG)
Afinal,
Trump é fofinho
Lembra-se
do Donald Trump racista, xenófobo, sexista, misógino, boçal e abrutalhado.
Aparentemente, já não existe. Se continua a recordar o episódio do muro que
divide os Estados Unidos do México, o peculiar “grab them by the pussy”,
as ofertas de banquetes no McDonalds para o presidente da China, as
humilhações em público de participantes em concursos de beleza ou
mesmo o mais recente “devias era estar presa” dirigido a Hillary
Clinton num dos debates destas presidenciais, então é porque ainda não digeriu
a derrota da candidata democrata à presidência da democracia mais poderosa do
mundo.
Vou dar-lhe uma notícia: Donald Trump ganhou a eleição (e não foi por pouco, confira aqui o resultado final) e,
depois do objetivo alcançado, dispensou o discurso anti-políticos,
anti-política, anti-sistema, anti-establishment, anti-elites, anti-tudo e e o
seu contrário.
Ele ganhou e agora já não precisa disso para nada. Quer ver o que disse no
discurso de aclamação? Agora é hora de sarar as feridas, eu sou o
presidente de todos os americanos, vamos trabalhar juntos, a minha
campanha era um movimento de americanos de todas as raças, religiões,
classes e crenças. (o discurso na íntegra pode ser lido aqui). Um mister, isto é, um verdadeiro estadista; quero
dizer, afinal Donald é um fofinho. Os mercados também acham. A Bolsa de
Nova Iorque fechou a subir 0,4%. Nada mau para quem antevia um Brexit
multiplicado por dez.
Por que razão Trump ganhou? Bem, escreveram-se rios de tinta sobre o
assunto nas últimas 24 horas. Muita prosa que desmentia o que se tinha dito
desde há ano e meio até ao dia de anteontem. Os prognósticos depois do
jogo são sempre mais consistentes. Destaco apenas três dados estatísticos da
maré que nos inundou desde o dia 8 de novembro: 61% dos americanos
consideram Donald Trump inapto para o cargo de Presidente e ainda assim
votaram nele. 41% das mulheres votou em Trump. Além dos indiferenciados, os
eleitores brancos com habilitações universitárias também preferiram Donald Trump a
Hillary Clinton. OS “New York Times” tem tudo isso e muito mais aqui.
Mas o leitor que me perdoe: a 5 de setembro de 2015, ou seja, há mais de
um ano, Miguel Monjardino explicou por que este magnata sem maneiras tinha
condições para ser Presidente dos Estados Unidos da América. É um texto longo que pode ser lido aqui e que levava
um título premonitório: “a América que amamos odiar”. Mas se não está
convencido da assertividade do artigo escrito já lá vão 14 meses, leia, por
favor, este outro bem mais curto dado à estampa, nas páginas do 1º
Caderno do Expresso a 24 de setembro. Está lá tudo, obrigado Miguel
Monjardino. O bom jornalismo não é aquele que confirma as nossas convicções.
Como não vimos tudo isto, ainda que estivesse escrito preto no branco? Como
conseguiu Trump vencer tudo e todos, atropelando a candidata do Partido
Democrata mas também os Clintons, os Obamas, as elites, todos os artistas que
amamos e até os que detestamos e que apoiavam Hillary e ainda – pode ser
perigoso esconder - quase todas as sondagens e todas a media com a exceção da Fox
News? Rui Cardoso explica aqui. Mas posso resumir num instante: as elites, os media e
as empresas de sondagens estão mais próximos do
establishment (ou das suas fontes) do que dos seus leitores. O “New York
Times”, assim como a esmagadora maioria dos jornais, não entendeu o que se
estava a passar na América. E o único caminho é fazer um mea culpa. Até
porque, concordamos, esta foi uma campanha para lá da verdade e para lá do
jornalismo e esse é o caminho mais curto para o fim da democracia e da
liberdade. Continuamos a não querer 4 anos de servidão.
Pelo facto de esta campanha de Donald Trump ter sido produzida a pensar na emoção,
no abalroar do sistema, nos danos provocados nas elites, nas mentiras
que procuravam um eleitorado descontente, não vale, por ora, perder muito
tempo a discutir se o novo presidente de todos os americanos vai mesmo construir
um muro na fronteira com o México, se vai mandar prender Hillary
Clinton ou expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais. Esse é um mundo louco. Mas existira?
Ele é o primeiro presidente sem qualquer experiência governamental. E terá
então de se rodear de uma equipa capaz de gerir a coisa pública e entre os
republicanos não faltará quem defenda o fim do Obamacare e a baixa
dos impostos, muito provavelmente também a continuação do esvaziamento da NATO e
uma ainda maior ligação ao Reino Unido, podendo a City de Londres encontrar um
enorme aliado em tempos de Brexit. O certo, porém, é o incerto; ninguém
sabe o que será a administração Trump até porque, possivelmente, ele só
será o Presidente.
Quem foi eleito para a Casa Branca? Ainda não sabemos. Donald Trump já tem
o que quer. Já não está em campanha. Vai ter que lidar com o sistema e,
mesmo não ameaçando tirar o lugar a Gandhi ou Martin Luther King no panteão dos
que defenderam os direitos cívicos, não será certamente o Trump que todos
amamos odiar. Por isso é incontornável ler a edição especial do Expresso Diário dedicada às eleições
norte-americanas e às suas consequências.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Lembra-se de Sócrates? E da Operação Marquês? Porque não terminou, O que
falta fazer depois de o ex-primeiro-ministro já ter sido preso, ter sido
libertado e nunca ter sido acusado. O que é preciso para que a Operação Marquês
termine? Micael Pereira explica tudo o que ainda falta saber em 2 minutos e 59 segundos
O Governo também é fofinho. Não porque o António Costa já tenha felicitado o
senhor Trump pela vitória, como na verdade sucedeu, mas porque o desemprego baixou 0,3% face ao três meses anteriores.
De acordo com o INE, no terceiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego
ficou-se pelos 10,5%. Neste momento, ainda há 549,5 mil desempregados, menos
69,3 mil do que no mesmo período do ano passado.
Tribunal Constitucional notifica gestores da CGD. Seguindo o parecer emitido há
quatro dias pelo Presidente da República, o Tribunal Constitucional exigiu ontem aos administradores
da CGD que apresentem as suas declarações de rendimento e de património. Haverá
quem não aceite? Para saber como param as modas, o Presidente da República chamou António Domingues,
Presidente da Caixa, a Belém ontem esteve ontem à tarde. O “DN” escreve na
primeira página que a equipa de Domingues tem 30 dias para contestar ou
entregar as declarações.
Polícia Judiciária fala com a irmã de Pedro Dias, o fugitivo. A PJ quer saber
como Andreia, irmã do homem que esteve 28 dias fugido, o poderá ter ajudado nesta fuga. Contudo, não poderá ser
constituída arguida devido aos laços familiares que os unem. O mesmo não
sucedeu com uma professora de 61 anos que está sob suspeita. O “JN” diz que
foram encontradas roupas e binóculos em sua casa. Depois da entrega do foragido
em direto na TV, a PJ mostra que estava a controlar a situação. O Expresso,
entretanto, revela que a moradia onde Pedro Dias se entregou, em Arouca, já estava sob
vigilância.
FRASES (ESPECIAL BONZINHOS)
“No dia seguinte à eleição devemos lembrar-nos que estamos todos do mesmo
lado”. Barack Obama
“Devemos a Trump um espírito aberto e a hipótese de liderar”.Hillary Clinton
“Talvez faça uma perninha no Sporting”. Cristiano Ronaldo e os seus
planos para depois dos 41 anos, em “A Bola”
“Finalmente, vou ter uma noite descansada”. Pedro Dias, o fugitivo, ao
chegar à prisão, no “Correio da Manhã”
“Se o PSD não descolar, é expectável que apareça uma alternativa”.Rui Rio, em
entrevista ao “Diário de Notícias”
“O único argumento de Hillary, em quem votei, era ‘eu quero ser, é a minha
vez’. Sempre que um candidato de apresentou assim, perdeu: Al Gore, Bob Dole,
John McCain, John Kerry... acho que ele se comporta como um idiota, mas a
república vai sobreviver”. Bradley Tusk, da Tusk Holdings, no Web Summit
de Lisboa
O QUE ANDO A LER
Tenho para mim que arte e gastronomia são sinónimo de civilização. Quero dizer,
gosto de acreditar que alimentado convenientemente o corpo e alma seremos
pessoas melhores. O Expresso, por seu lado, também dedica espaço a uma e à
outra páginas do Expresso, em especial nas da Revista. E é também por isso que
desde há muito nos distinguimos pela crítica, séria e independente, de
restaurantes. A esse respeito temos a felicidade de contar entre os nossos
colaboradores com Fortunato da Câmara, que sucedeu nesse mester ao monstro José
Quitério.
Ora, Fortunato da Câmara acaba de publicar mais um livro, desta vez dedicado a
uma preciosa investigação que levou a cabo em parceria com Mário Vilhena da
Cunha. “A vida e as receitas inéditas do Abade de Priscos” (Temas
& Debates, outubro de 2016) serve e serve-se como uma biografia de Manuel
Joaquim Machado Rebelo, também conhecido como o Abade de Priscos, popular e
presença assídua em inúmeros restaurantes devido à receita de um pudim.
A obra é preciosa pois, com a ajuda de um sobrinho-bisneto do Abade, Fortunato
não só fez o levantamento dos principais feitos em vida de Manuel Joaquim
(“Prestei bons serviços a todas as políticas na Monarquia e na República;
prestei muitos serviços a bons Amigos sem outra remuneração”, lê-se a abrir o
tomo em jeito de citação que enforma esta carreira) como foi o jantar para a
família real em 1882, as suas viagens a Lourdes, Roma e Paris ou a sua
correspondência mas também as que deixou para a posteridade.
Quem pensar que a invenção do Abade de Priscos se cingia ao pudim está bem
enganado. Aqui se publicam, pela primeira vez e terminando com o seu
ineditismo muitas das receitas que se encontravam no seu espólio e que
agora são resgatadas. Há “Língua de fricassé”, “Rolo de carne”, “Pastéis de
massa tenra” e outras iguarias para quase todos os gostos mas sempre à maneira
do Abade de Priscos.
Claro
que também é aqui que se pode ler, e tentar reproduzir, a verdadeira, a
privada, a completa receita do Pudim de Priscos, aquela que levava o Abade a
ganhar concursos nos mais distintos banquetes onde pugnava por uma cozinha de
inspiração francesa mas marcadamente portuguesa e de cunho tradicional.
Estude o manuscrito da receita tal como reproduzida pela sobrinha Teresa
Zulmira, não poupe no toucinho e aventure-se na produção de um dos
mais icónicos representantes da doçaria portuguesa. Isto é, poupe o fígado e
tenha um doce fim de semana.
Por
hoje é tudo. Todas as notícias são atualizadas em permanência no Expresso
Online. Logo mais, pelas 18 horas, será publicado mais uma edição do Expresso
Diário. Amanhã, estará por cá Henrique Monteiro, que percebe de Abades e Abadias
como poucos, para lhe servir mais um Expresso Curto.