sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O GRANDE LEONARD COHEN EM VEZ DOS MAUS ODORES DE TRUMP



Bom dia. Mais Expresso em formato Curto. Uma barrigada para compensar os dias em que o PG não é atualizado. Descansem que melhores dias virão, nesse aspeto, das atualizações. Sim, é verdade, somos o oito e o oitenta. Desculpem lá qualquer coisinha.

Neste Expresso Curto que reproduzimos a seguir consta outra barrigada: Donald Trump. Desta feita nem vamos ligar a esse energúmeno que venceu as eleições presidenciais nos horripilantes EUA. No PG já há prosa sobre Donald Trump que baste. Por isso, basta de trampa!

Cohen. Leonard Cohen. Um grande senhor que só fisicamente faleceu. De resto ele continua vivo, e assim continuará. Portanto é sobre Cohen que nos focamos. Que se lixe o Trampa.

Henrique Monteiro, no Expresso Curto de hoje vai ao esgoto norte-americano mas depois salta para o Canadá, pátria de Leonard Cohen. Vá nessa.

Por aqui fica uma ligação para uma das artes finais de Cohen, bem conhecida globalmente. Viva e reviva outras da eternidade desse homem que só fisicamente nos deixou.

Bom dia e boas audições (175) com Cohen. (PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Henrique Monteiro – Expresso

Obama e Trump, tudo menos fotografia de família. (E... So long, Leonard)

Faltam 71 dias para 20 de janeiro, o dia em que Trump será oficialmente empossado (inaugurado, numa tradução literal) Presidente dos Estados Unidos. Até lá poder-se-á começar a perceber que estilo vai adotar. Quem serão os principais membros da sua administração? O ex-mayor de Nova Iorque (era-o no dia 11 de Setembro de 2001), Rudy Giuliani, o ex-líder dos republicanos na Câmara de Representantes, Newt Gringrich, o governador de New Jersey, Chris Christie, o CEO da JP Morgan, Jamie Dimon, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus, o médico afro-americano e ex-diretor de neurocirurgia pediátrica do Hospital da Universidade de Johns Hopkins, Ben Carson são nomes que vão sendo apontados sem darem muitas garantias de moderação. Mas certezas há poucas, salvo que o presidente eleito disse que saúde(leia-se fim do Obamacare), imigração (leia-se restrições) e descida de impostos (eis algo que raramente lemos) são as prioridades.

Obama classificou o seu encontro de ontem com Trump como excelente e avisou que fará tudo para o ajudar. Trump disse estar desejoso de mais encontros destes. Os dois homens estiveram cerca de hora e meia reunidos e no fim apertaram a mão. As mulheres de ambos também reuniram à parte. Porém a tradicional fotografia dos dois casais (como Michelle e Barack fizeram com George W. Bush e a sua mulher, Laura) não existiu. E não houve justificações.

Ao mesmo tempo, nas ruas de algumas cidades americanas e um pouco por todo o mundo, manifestantes acusavam Trump de ser nazi ou coisas tão más ou piores.Mas o facto, como disseram Hillary e Obama, é que ele foi eleito e há que lhe dar o benefício da dúvida, com mente aberta. O certo é que todos os que nele votaram sabiam como ele era. Alguém disse que se estas manifestações fossem antes das eleições, ele teria ganho por mais.

LEONARD COHEN (1934-2016)

Se os acontecimentos nos EUA e no mundo podem, muito desejavelmente e com muita sorte, não ser nos manuais futuros de história mais do que uma simples nota de rodapé, já Leonard Cohen, 82 anos, que esta noite faleceu ( não na sua terra natal, Canadá, mas em Los Angeles) ficará sempre na história da música, na história da poesia, nos nossos livros e canções favoritos.Cohen, e que se remoam os académicos do Nobel, começou a vida como poeta, foi professor de Literatura e depois cantor, épico, enigmático e anti-popstar, como escreve o The New York Times, sempre, até ao fim, porque problemas financeiros ditaram que nunca pudesse parar de trabalhar. A sua música, profundamente complexa e extraordinariamente popular (Hallelluijah, de 1984, é a canção com mais versões de outros cantores, de Bob Dylan a Justin Timberlake, passando pela extraordinária versão de Jeff Buckley) não se resumia a dois ou três acordes. Ia, como diz a letra daquela canção, pelas quartas, quintas, menores e maiores.Aqui fica a sentidahomenagem de Pedro Santos Guerreiro e o registo das suas principais músicas, entre as quais destaco, além da citada Hallelluijah, Suzanne, Dance me to end of Love, Take this waltz, First we take Mannhatam, Tower of Song e... todas. Desta vez não é So long, Marianne, como na canção é So long, Leonard na vida real. (Declaração de interesses - tenho toda a sua música e era o meu preferido; chorei muitas vezes de comoção a ouvi-lo).
 

OUTRAS NOTÍCIAS

O nosso presidente Marcelo (para os amigos) Rebelo de Sousaveio clarificar a sua reunião com o presidente da CGD, António Domingues. Disse que já disse o que tinha a dizer. Confusos? Não deixem de acompanhar os próximos episódios, porque há quem diga que ele deu conselhos preciosos ao banqueiro. Do tipo, deixa-te estar, contesta se quiseres a ideia de entregares os rendimentos ao TC, mas recapitaliza a CGD antes disso. Verdade? Esta manhã o 'Público' afirma que o Governo e o Presidente estão preparados para perder a administração da Caixa e que Mário Centeno não estava na reunião em que Costa afirmou que era necessário que aqueles gestores entregassem a declaração.Hum...aqui desconfio, mas que sei eu? Sou um mero observador das altas esferas… e li no Expresso Diário que o presidente da CGD tem seis opções, o que partilho.

Não fora o terramoto americano e a Web Summit teria ocupado, sem rival, o espaço noticioso. Marcelo classificou o certame como um “sucesso espetacular” e Paddy Cosgrave, responsável e organizador da cimeira, disse que trazê-la para Lisboa foi a melhor decisão que tomou. Tudo isto, ontem, no último dia, quando se soube que a start-up dinamarquesa Kubo Robot foi a vencedora do Pitch(espécie de Oscares para as start-ups). Mais informação na também última das Newsletter Expresso Curto, especial Web Summitque o nosso especialista Pedro Oliveira, diretor da Exame Informática, vai enviar em breve para a sua caixa de correio.

Antonio Costa, depois de receber o primeiro-ministro do Luxemburgo, de uma forma bastante descontraída, disse que as notícias desta semana eram boas (fim de qualquer processo da UE a Portugal por défice excessivo, que aliás nunca foi credível) e que, para a semana as notícias seriam ainda melhores. Aguardaremos para ver, embora se perceba que o primeiro-ministro se refere à aprovação do OE para 2017. A ativa Maria Luís acha que para o Governo boa notícia é não haver desgraças.

Rui Rio ameaça avançar para líder do PSD contra Passos, mas coloca tantas condições que ficamos todos na dúvida se ele o quer ou é pressionado. Do lado do PSD oficial a ativíssima Maria Luísjá veio dizer que qualquer militante pode ser candidato. O qualquer não parece estar ali por acaso.

Pedro Dias vai ficar em prisão preventiva. Depois da sua estranha entrega à RTP e Sandra Felgueiras, perdão, às autoridades e prisão pela PJ, o juiz da comarca da Guarda decidiu que quem ali chega acusado de cinco homicídios, três na forma tentada, tem de aguardar detido pelo julgamento. Em Arouca, onde se entregou, acredita-se que é inocente; em Aguiar da Beira, onde é acusado de ter cometido o primeiro dos crimes, acredita-se na sua culpabilidade, aliás na Guarda, cidade capital do distrito a que pertence Aguiar da Beira, o suspeito foi recebido com insultos. Quanto tempo esperaremos? Quem sabe…

Na sequência de uma enorme operação policial, 20 elementos considerados ligados a um movimento neo-nazi em Portugal foram detidos pela unidade de contraterrorismo da PJ. O grupo tinha um arsenal considerável de armas ilegais.

Três portugueses morreram na Bélgica vítimas de um grave acidente rodoviário ontem ao fim do dia. Mais três, também portugueses, ficaram feridos, além de dois belgas. O choque envolveu dois carros e uma carrinha com matrícula nacional.

O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, anunciou que a concessão do Forte de Peniche a privados será reavaliado. O ministro anunciou a decisão na sequência da contestação de muitas personalidades que não gostaram da ideia de ver o forte onde estiveram presos opositores do regime salazarista transformado em zona de lazer.

FRASES (Edição especial Trump)

“O presidente eleito está prestes a aprender, e rapidamente, que o lugar que em breve ocupará é o mais elaborado na arte de negociar”Editorial do ‘Wall Street Journal.

“É simbólico e marcante que a eleição de Donald Trump tenha sido confirmada na manhã do dia 9 de novembro, 27 anos depois da queda do muro de Berlim”, Gideon Rachman, ‘Financial Times’.

“Comparado com Trump, Berlusconi possui a solenidade de Charles de Gaulle, a inteligência de Winston Churchill, a sagacidade de Nelson Mandela e o tato da Rainha de Inglaterra”, John Carlin no ‘El País’ (citado por Francisco Assis no ´Público’).

“Trump é a vulgaridade sem limites”. David Remnick, prémio Pullitzer e ex-diretor da ‘The New Yorker’, citado por Ferreira Fernandes no ‘DN’.

POESIA (Edição especial Cohen)

Well I've heard there was a secret chord
That David played and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
Well it goes like this:
The fourth, the fifth, the minor fall and the major lift
The baffled king composing Hallelujah

Leonard Cohen, 1984

(Ouvi dizer que há um acorde secreto
Que David tocou e alegrou ao Senhor
Mas não te preocupas muito com música, pois não?
Bom, a sequência é assim: a quarta, a quinta
A menor cai e a maior ascende
Frustrado, o rei compunha Aleluia)

O QUE EU ANDO A LER

Ando a tomar balanço para acabar um livro impressionante e absolutamente condizente com os tempos que vivemos, ainda que a História não tenha de repetir-se. Chama-se À Beira do Abismo: A Europa 1914-1949 e foi escrito no ano passado (publicado em português há pouco) por Ian Kershaw. Se o nome não lhe diz nada, pense em Hitler. Ele escreveu uma das melhores biografias do ditador nazi e uma das melhores Histórias dos últimos dias da Alemanha. Neste livro, cujo título em inglês me parece mais feliz (To Hell and Back: Europe 1914-1949), somos levados nestes 35 anos ininterruptos de crise que tornaram boa parte do séc. XX como um dos mais intolerantes da História do velho Continente. Dominic Sandbrook, do ‘Sunday Times’ chama-lhe “uma dura lição sobre a capacidade do homem para o mal”; Harold Evans, em ‘The New York Times’ considera-o de leitura obrigatória o ‘The Economist’ magistral. É da editora 
D. Quixote (Leya) e tem como complemento fotografias e mapas elucidativos. “A crise económica acentuou muito a raiva e o ressentimento”, escreve Kershaw, naqueles anos, mas podia ser nestes…

E por hoje é tudo, neste dia três d.T. (depois de Trump). Hoje às seis da tarde temos o Expresso Diário, enquanto o Expresso onlineestá todo o dia atualizado com as últimas. Amanhã é dia de semanário Expresso e também das criteriosas escolhas do melhor da semana que chegam em formato digital aos subscritores. Segunda-feira volta o Expresso Curto pela mão de Valdemar Cruz.

Por hoje é tudo, tenha um excelente dia.

UMA QUESTÃO DE PLASTICIDADE



Martinho Júnior, Luanda 

1 – Em Setembro de 2016 escrevi “Cuidem-se que vem aí a Clinton”, numa altura em que os Democratas tinham clara vantagem sobre os Republicanos nas intenções de voto do eleitorado norte-americano e tinham à sua disposição plasticidades internas a não desperdiçar.

Com efeito, depois duma renhida disputa interna entre Hillary Clinton e Bernie Sanders, esperava-se dos Democratas uma plataforma no sentido de coesão e até mesmo de integração, impedindo polarização ou diluição de tudo o que Bernie Sanders claramente representava, perfeitamente ao alcance das possibilidades da inteligência elitista.

Esse desafio que colocava à prova a capacidade de plasticidade interna dos Democratas sofreu erosão, particularmente desde o momento que os mails de Hillary demonstraram publicamente, a quente (em cima da hora) e a nu, o carácter do poder inerente ao exercício da inteligência elitista conforme ao “lobby” dos minerais, em plena época de capitalismo neoliberal e perseguindo a trilha unipolar…

A inteligência elitista, com uma linguagem “lapidada”, não teve criatividade na plasticidade interna que lhe era exigida face ao inesperado “infortúnio” dos mails, pelo que muitos votos antes arrebanhados pela campanha de Bernie Sanders, entre outros, foram dispersados por independentes, por partidos menores, pela abstenção e até captados por Trump.

Estou-me a referir a votos de sectores “vitais” para os Democratas como os da juventude, bem como dos latino-americanos e dos afrodescendentes.

2 – Comparativamente, a plasticidade interna dos Republicanos funcionou sem qualquer percalço ou “ameaça” ao nível dos mails de Hillary Clinton, com base numa trilogia que aparentemente até tinha um equilíbrio pouco estável: o “tea party”, o amplo “centrão” conservador e um “franco-atirador” considerado como um “antissistema, outsider, populista e nacionalista”, capaz de todo o tipo de acrobacias verbais que lhe eram permitidas por ser um principiante “meio anarquista” nos ambientes sócio-políticos complexos da muito complexa sociedade norte-americana.

 Essa trilogia tinha também o desafio da criatividade em relação às mensagens que deveria difundir para captar o eleitorado, pelo que acabou por utilizar uma verbalização pouco cuidada, “bruta”, mas susceptível de estabelecer no mínimo nexos emocionais com muitas franjas que iam desde trabalhadores sindicalizados das periferias industriais, até jovens desiludidos com o carácter da inteligência elitista de Hillary Clinton, mas sobretudo com o norte-americano médio, rural, “prático”, de franjas religiosas por vezes fundamentalistas e pouco intelectualizada dos estados centrais, entre as margens oceânicas leste e oeste do país, que acabaram por compor uma imensa mancha “vermelha” (Republicana) nessas vastas regiões.

A plasticidade Republicana sem dúvida que foi bem-sucedida comparativamente à dos Democratas, salvaguardando sem dúvida os interesses do “lobby” do petróleo e do armamento, sem apelo nem agravo em relação à inteligência elitista visivelmente cristalizada e remetida à defensiva no exercício dos interesses da aristocracia financeira mundial.

Um homem fora do “estabelishment”, bem-sucedido na vida, identificado com a força de trabalho nacional e “pragmático” foi um “meio” que justificou os fins.

3 – Uma grande parte dos observadores destas eleições, lançam agora múltiplas incógnitas sobre o carácter do poder que Donald Trump vai implementar em nome dos Republicanos.

Há sinais que os esforços nacionais serão prioritariamente “voltados para dentro”, onde efectivamente há imensas coisas a mudar em termos de infraestruturas e estruturas do país, que reclamam modernidade e a integração de novas tecnologias, algo que impactará também na indústria militar.

 O objectivo é recriar o modo de vida norte-americano, garantindo que não há mais fábricas a transferir, o trabalho bem remunerado será garantido e tornado muito mais amplo, haverá maior abertura às novas tecnologias… e os Estados Unidos encontrarão padrões de crescimento que mais ninguém poderá igualar!…

Partindo do princípio que essa leitura será a mais aferida às mensagens da candidatura, é evidente que tudo isso poderá ser feito no eixo da representatividade do “centrão” Republicano, numa autêntica resposta aos estímulos da aristocracia financeira mundial, que não abandonou a ideia dum “novo século norte-americano”!

É evidente que, a curto prazo pelo menos, essa equação “in” vai exigir melhores níveis de emparceiramento com as emergências multipolares, restando avaliar se esse será um plasma capaz de ser estendido para os médios e longo-prazos, para outros relacionamentos similares com outros estados, nações e povos.

É muito possível que sim, por exemplo:

Se forem lançadas novas tecnologias modernizando os caminhos de ferro norte-americanos, poderão elas ser aplicadas também a componentes das “rotas da seda” euro-asiáticas, emparceirando com europeus, russos, chineses e outros asiáticos?

O que acontecerá em relação aos oleodutos e gasodutos euro-asiáticos e transcontinentais?

Os navios dos europeus e dos norte-americanos, em que medida poderão circular pelo Ártico nos meses de degelo, de forma a encurtar a rota entre o Atlântico e o Pacífico?

Haverá necessidade de manter a NATO?

O partido Republicano, dominando no Senado, no Congresso e na Presidência, com um desenvolto “mãos à obra”, parte numa posição sem empecilhos internos maiores e galvanizado pelos reptos vitoriosos da campanha eleitoral.

As respostas serão remetidas particularmente ao “centrão” Republicano, com a garantia que o “acrobata verbal” Donald Trump terá uma pronta mensagem, prática e a contento, que jamais um membro do “estabelishment” poderia garantir!

**Fotos referentes à campanha

MEDO



David Pontes* – Jornal de Notícias

Na última crónica, deixava aqui o meu voto de que os norte-americanos, com a eleição de uma mulher presidente, ajudassem a humanidade a dar um passo em frente. Não foi o que aconteceu, antes fizeram-na recuar uns tantos passos até, talvez, aos anos 30 do século passado.

Nos próximos tempos, andaremos a escalpelizar como isto aconteceu, o que motivou os eleitores a tomarem esta decisão, que ambiente político e cultural permitiu que um personagem tão escatológico subisse ao lugar público mais importante do Mundo. E vamos fazê-lo, pensando que há muitas coisas que são específicas dos Estados Unidos, mas sabendo, com um nó na garganta, que em breve o mesmo pode suceder do lado de cá do Atlântico.

Porque, por muitas razões que possamos elencar, ninguém me tira que há uma poderosa força motriz por trás das motivações dos eleitores que Trump soube capitalizar: o medo. Pode ser da globalização, da economia, de um Mundo em mudança, certamente dos emigrantes, dos muçulmanos. Medo, essa sensação básica que faz disparar o nosso instinto de sobrevivência mas que, simultaneamente, é capaz de despertar os comportamentos mais irracionais. É difícil discutir com o medo, mas é fácil fazê-lo crescer entre quem se sente mais frágil. Não por acaso, Clinton ganharia facilmente se só votassem os mais novos, enquanto Trump foi o porto seguro para os mais velhos, que ouviram um candidato berrar aquilo que alimentava as suas angústias.

Na semana passada, pude ouvir uma reportagem sobre a forma como a vinda de um grupo de refugiados somalis para uma pequena cidade no meio da América transformou "gente razoável" em gente temerosa de que aqueles muçulmanos fossem uma ameaça para a sua forma de vida. Nessa reportagem, uma professora resumia de forma singular: "Eu percebo que as pessoas possam ter uma sensação de medo e não podemos discutir com uma sensação. Só que as pessoas têm direito de ter uma sensação, mas não têm o direito a dar largas a isso. Como eu digo à minha filha, tu tens o direito de chorar ou de estar zangada, mas não tens o direito de bater com as portas".

Agora, os norte-americanos baterem a porta com tanta força, que o barulho que fizeram vai ecoar durante muito tempo. Mas não vale a pena acharmos que, por muito absurdo ou errado que tenha sido o seu voto, isso faz deles uma qualquer espécie de humanos muito diferentes de nós. Se não acham isso, respondam-me como é possível continuar a achar normal entrar em lojas onde os comerciantes colocam sapos de louça para afugentar ciganos.

* Subdiretor

Trump emite contrato com medidas para os primeiros 100 dias



O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, publicou na página de candidatura um contrato com os americanos com as medidas para os primeiros 100 dias de mandato.

Donald J. Trump toma posse como presidente dos EUA a 20 de janeiro de 2017. A dois meses de entrar na Casa Branca, ainda no dia em que foi eleito, o enérgico milionário, de 70 anos, colocou na página de candidatura um contrato com os americanos.

O documento, em PDF, está assinado por Donald Trump e faz jus ao título "Contrato de Donald Trump com o eleitor americano", deixando um espaço para o compromisso do eleitor.

O contrato elenca seis medidas para limpar a corrupção em Washington, sete ações para proteger o trabalhador americano e cinco ações para restaurar a segurança e garantir a aplicação da constituição, entre outras medidas avulsas, que o JN resume em cinco tópicos principais.

Combate à corrupção - "Drenar o pântano" do que considera ser a corrupção sistemática em Washington, impor limites aos mandatos no Congresso, congelar as contratações do Governo federal e proibir os membros do Congresso e funcionários da Casa Branca de se tornarem representantes de grupos de interesses ("lobbies") por cinco anos.

Política Social - Tenciona aprovar descidas dos impostos pagos pelos trabalhadores de classe média e empresas de pequena e média dimensão e promover uma simplificação do sistema de impostos. E, bandeira de campanha, anular rapidamente o plano de reforma do sistema de saúde de Barack Obama - o Obamacare, substituindo-o por Contas Poupança Sáude e agilização dos seguros de sáude.

Economia - Renegociar o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA) e abandonar a Parceria Transpacífica (TPP). Pretende, igualmente, relançar o projeto do oleoduto Keystone XL.

Emigração - Construir um muro na fronteira com o México e impor prisão mínima de dois anos aos migrantes ilegais deportados que tentem voltar a entrar nos EUA. Expulsar os dois milhões de imigrantes ilegais criminosos e cancelar os vistos dos países que recusem recebê-los. Suspender a imigração de regiões propensas ao terrorismo.

Ambiente - Levantar as restrições à produção de combustíveis fósseis e cancelar milhões de dólares em contribuições para programas da Organização das Nações Unidas de luta contra as alterações climáticas.

Jornal de Notícias

EUA: Sabia que existem mais partidos para além do Democrata e do Republicano?



Se fossemos cidadãos norte-americanos, éramos mesmo obrigados a votar num destes dois candidatos? A resposta é simples: não. Por Rafael Pinheiro.

Se é verdade que não podemos dizer que é indiferente termos Trump, um xenófobo e lunático de Extrema-Direita, ou Hillary Clinton, a corporativista que votou a favor da Guerra do Iraque e que recebeu doações para a sua campanha da Indústria Petrolífera e da Goldman Sachs, sentados no trono da Casa Branca, é também verdade que a única dialética em favor de Clinton é a do mal menor.

É evidente que nunca houve eleições presidenciais em que os dois maiores candidatos fossem tão impopulares. Se fossemos cidadãos norte-americanos, éramos mesmo obrigados a votar num destes dois candidatos? A resposta é simples: não. Mais complicado de responder é à pergunta sobre porque é que quase nunca é publicamente reconhecida a existência de partidos e de candidaturas alternativas. A resposta a esta interrogação passa por vários fatores: o facto de haverem múltiplos aspetos das eleições norte-americanas que pendem flagrantemente para a fraude e o facto de que o “establishment”, o círculo de poder da burguesia norte-americana, só pode ser mantido através de presidências que sejam fantoches de certos interesses capitalistas e que variam, portanto, entre imperialismo mais agressivo ou imperialismo ligeiramente menos agressivo, conforme o Presidente sentado na Sala Oval da Casa Branca seja Republicano ou Democrata.

Um facto claro é que, com exceção do Libertarian Party de Gary Johnson, todos os restantes partidos que são esquecidos e ignorados pelo público norte-americano são partidos à Esquerda dos Democratas e dos Republicanos. Para a elite burguesa a Esquerda é uma coisa perigosa e é, portanto, necessário fazer com que o eleitorado ignore a sua existência ou que tenha receio da alternativa política e isso faz-se manipulando a opinião pública recorrendo aos Órgãos de Comunicação Social mais importantes. A dependência e sujeição ao capital, por parte dos jornalistas, leva a especificidades como o facto de as direcções e principais figuras de fontes de informação como a CNN, a ABC News, a Fox News, o Washington Post e o New York Times terem ligações claras aos dois partidos do establishment. Esta promiscuidade já foi flagrantemente evidenciada no passado, quando, por exemplo, John Ellis, primo de George W. Bush e, na altura, consultor da Fox News, levou o canal a dar prematuramente a vitória ao republicano em 2000 mesmo perante as óbvias evidências da provável vitória de Al Gore, algo que foi mais tarde explorado no documentário “Fahrenheit 9\11,” de Michael Moore. A manipulação de informação leva alguns a crer que apenas existem democratas e republicanos ou que estes são os únicos politicamente credíveis. A Esquerda, nos raros momentos em que é sequer mencionada, é trucidada pelos media, como aconteceu tantas vezes com Bernie Sanders, o candidato anti-establishment, determinado em quebrar a hegemonia mantida pelos bilionários que, desde sempre, têm arranjado indiretamente formas de comprar as eleições norte-americanas e de fazer vingar os seus interesses privados. Face à cobertura mediática, as alternativas aos dois maiores partidos mal parecem sequer existir.

Outra circunstância que indicia o enviesamento dos resultado eleitorais nos EUA é o facto de o historial de supressão de votos ser já longo. Tento em conta que a legislação e burocracia eleitorais variam de Estado para Estado e de época para época, existem vários Estados norte-americanos em que indivíduos que tenham cadastro criminal são, por lei, desprovidos do direito de votar. Num país em que a esmagadora maioria das forças policiais e dos profissionais judiciais, para além de agirem com arbitrariedade, são claramente xenófobos e com leis abusivas no que diz respeito ao consumo de drogas, que colocam na cadeia quem seja apanhado a consumir mesmo que apenas uma única vez na vida, isto significa que, em alguns Estados, um em cada quatro afro-americanos estão impedidos de exercer direitos políticos, continuando, parcialmente, a supressão de votos contra a qual o Movimento de Direitos Civis lutou na década de 60. Para além disto, já houve situações curiosas a resultar de alterações súbitas e ambíguas da burocracia eleitoral, juntamente com a falta de informação. Durante as primárias do Partido Democrata e do duelo de Sanders contra Clinton, o que se verificou foi que o socialista conseguia, na maioria dos Estados, por volta de 70% dos votos dos eleitores independentes, tendo Sanders sido um bem-sucedido político independente durante quase toda a sua carreira política e só recentemente ter aderido ao Partido Democrata. No entanto, em Estados como o de Nova Iorque, depois de terem comparecido e esperado nas longas filas para poderem exercer o seu voto, os eleitores independentes descobriram que para poderem votar teriam de estar filiados ou no Partido Democrata ou no Partido Republicano ou que teriam de se ter registado como eleitores com antecedência, informação que não circulou previamente. Todas estas especificidades do sistema eleitoral norte-americano jogam a favor do establishment burguês mantido pelo bipartidarismo, dançando com a fraude eleitoral e com contornos que nos podem levar a questionar se os EUA são mesmo uma Democracia.

A verdade é que existe uma verdadeira alternativa de Esquerda, uma possível tábua de salvação: O Partido Verde (Green Party), que é ignorado pela maioria do público devido à cacofonia feita pela Comunicação Social em torno dos dois partidos do costume. Há quem ignore a existência deste partido e a candidatura da respetiva nomeada, a ativista Jill Stein. O Green Party foi fundado em 2001 e tem feito a sua bandeira lutando por causas como a justiça social, a igualdade de género, os direitos LGBT, o ambientalismo, contra o esmagamento da classe trabalhadora promovido pelo imperialismo neoliberal, pela extinção da violência policial e pelo fim da descriminação racial. É considerado, sobretudo, um partido de Esquerda e a sua ideologia é definida como Eco-Socialismo. Entre as suas causas também podemos encontrar a defesa de uma transição completa para as “Energias Verdes”, as energias renováveis e sustentáveis, e a abolição imediata e total de todas as dívidas contraídas pelos norte-americanos na sequência da procura de financiamento para frequentarem a Universidade, que tem sido uma das mais fortes bandeiras da candidatura de Jill Stein. Nos EUA, quem não for bolseiro ou milionário não tem praticamente recursos para pagar o exorbitante e absurdo valor das propinas, daí a já longa polémica quanto às dívidas estudantis que alguns ficam forçados a pagar o resto da vida e que são contraídas por muitos jovens para que possam estudar, gerando receitas imorais para o setor bancário.

Há condições que nos podem fazer concluir que a conjuntura nunca foi tão favorável ao Green Party, apesar de uma possibilidade de vitória ser ainda um sonho remoto. Há muitos eleitores da recentemente fundada fação de Esquerda do partido Democrata, catalisada pela insurreição contra o establishment promovida por Bernie Sanders, que se recusam a apoiar Hillary Clinton e que questionam a nomeação da candidata perante as ambiguidades dúbias do processo eleitoral e as mentiras sobre Sanders que a sua campanha difundiu. Para além disto, temos ainda os múltiplos emails que circularam entre os dirigentes do Partido Democrata e que foram disponibilizados ao público pela Wikileaks, que confirmam o objetivo prévio de sabotagem da campanha de Sanders a qualquer custo, acontecimento na sequência do qual a presidente do partido, Debbie Wasserman, se demitiu do cargo. Entre o eleitorado descontente de Sanders, a expressão de ordem era “Bernie or bust”. A verdade é que, depois da desilusão do endorsement de Sanders a Clinton, Jill Stein anunciou oficialmente, na sua página de Facebook, que o seu número de apoiantes, traduzido também em doações para a campanha, explodiu e aumentou drasticamente, dando-lhe novo fôlego, o que indicia que será, provavelmente, nesta candidata que a maioria dos apoiantes de Sanders irá, realmente, votar.

Há obviamente, uma grande oposição dos media em abafar esta candidatura alternativa. Recentemente, o humorista John Oliver, num dos seus programas, aproveitou a abordagem ao tema dos partidos alternativos para fazer um ataque acérrimo a Jill Stein e à sua promessa de cancelar as dívidas estudantis, enumerando aos espectadores razões pelas quais seria inviável votarem neste movimento político alternativo. Este ataque teve aspetos que soaram a hipocrisia e foram contraditórios com os programas anteriores do humorista, em que tem frequentemente denunciado os problemas do sistema político e social norte-americano, tendo sido o segmento mais forçado de John Oliver até hoje. A verdade é que a Time Warner, o conglomerado empresarial que detém a HBO, onde o programa de Oliver é transmitido, é uma dos principais contribuintes para a campanha de Hillary Clinton. De acordo com o OpenSecrets.Org, a empresa terá doado cerca de 812.406 dólares para a campanha da candidata democrata.

Um dos principais obstáculos do Green Party tem sido, claramente, o facto de ver o acesso aos debates presidenciais vedado, sendo, então, anulada a visibilidade e o impacto que o partido poderia ter na opinião pública e no eleitorado. Com as regras atuais, apenas o Partido Democrata e o Partido Republicano podem participar nos debates presidenciais e o Green Partynem aparece no boletim de voto em todos os Estados. Tais especificidades resultam das regras impostas pela Comissão para os Debates Presidenciais, uma organização sem fins lucrativos gerida pela administração bicéfala do Partido Democrata e do Partido Republicano, funcionando graças a donativos de empresas e de organizações privadas que acabam por ter ligações a estes mesmos dois partidos. As regras atuais foram estabelecidas com o objetivo reconhecido de impedir a participação de partidos alternativos nos debates presidenciais, anulando o destaque social e mediático que poderiam vir a ter. Curiosamente, há sondagens que concluem que 50% dos norte-americanos não se identificam nem com o Partido Democrata nem com o Partido Republicano, mas nem isso tem sido suficiente para abrir os debates presidenciais a outros candidatos. A Comissão para os Debates Presidenciais foi fundada em 1988 e no ano seguinte a Liga das Mulheres Votantes (League of Women Voters), uma organização que existe desde 1920, anunciou a rutura com esta comissão, afirmando que o seu objetivo era o de perpetuar a fraude eleitoral entre os cidadãos norte-americanos. Esta comissão não existe, portanto, sem polémica. Em 2012, Jill Stein e Cheri Honkala, na altura nomeada como vice-presidente para a candidatura do Green Party, foram presas por tentarem aceder ao segundo debate presidencial, em Hempstead, Nova Iorque, e foram levadas para um armazém no qual ficaram algemadas a cadeiras durante oito horas até a polícia as libertar.

O bipartidarismo não é saudável em nenhuma democracia a sério e, para se apoiar verdadeiramente a classe trabalhadora, é preciso que os EUA quebrem com o sistema atual. Como disse Cynthia McKinney, a candidata a presidente pelo Green Party em 2008, “os EUA têm mais a oferecer ao mundo do que bombas, mísseis e tecnologia militar”. O que é preciso é uma insurreição que mine a liderança atual do establishment burguês para que o mundo possa finalmente descobrir isso. O Green Party e Jill Stein, pela sua determinação em apoiar a classe trabalhadora, podem ser uma parte importante dessa mudança.

Artigo de Rafael Pinheiro – Esquerda.net

“Not my president”: Protestos nos EUA contra eleição de Trump



Pelo menos 10 cidades norte americanas foram palco de protestos contra a eleição de Trump - Nova Iorque, Chicago, Richmond, Nova Orleães, Portland, Oakland, Los Angeles, Seatle, Boston e Washington. A comunidade educativa também está em alerta.

“Not my president” (“Não é o meu Presidente”), "No Racist USA" ("Não ao racismo nos EUA”), "My body, my choice” (“O meu corpo, a minha escolha”), “White Males for Equality for All” ("Homens brancos pela igualdade para todos”), "Impeach Donald Trump” (Destitiur Donald Trump”), "hey hey, ho ho, Donald Trump has got to go" ("hey hey, ho ho, Donald Trump tem de sair”), "Trump's a racist" ("Donald Trump é um racista”), “Stop Donald Trump” (“Parem Donald Trump”).

Milhares de pessoas bloquearam as ruas em redor da Trump Tower em Nova Iorque. Outro grupo de manifestantes juntou-se perto do Trump International Hotel & Tower. Cerca de 65 pessoas foram detidas.

Em Los Angeles, os manifestantes concentraram-se em frente à Câmara Municipal e incendiaram uma efígie gigante de Trump. Durante a noite, marcharam pela autoestrada 101, cortando temporariamente o trânsito. Pelo menos 13 pessoas foram detidas.

Washington também se juntou aos protestos, com uma concentração em frente ao Trump International Hotel.

Em Boston, milhares de manifestantes reuniram-se na baixa. Já em Chicago, o palco dos protestos foi o Trump International Hotel and Tower. Cinco pessoas foram detidas.

No Oregon, dezenas de pessoas queimaram bandeiras norte americanas e ocuparam as ruas da baixa de Portland, ocupando ainda duas linhas de comboio.

Cerca de 6 mil manifestantes concentraram-se em Oakland. Em Richmond, no Estado da Virgínia, manifestantes partiram janelas da sede do Partido Republicano. A polícia fez uma dezena de detenções. Em Nova Orleães, no Luisiana, atearam fogo a um boneco de Trump e partiram janelas de alguns edifícios, como bancos.

Comunidade educativa em alerta

“A nação na qual residem atualmente decidiu ontem à noite eleger um presidente que, pelas suas próprias palavras, se apresenta como um risco moral e até possivelmente físico para muitos de vós” , escreveu aos seus alunos o professor Alan Peel da Universidade de Maryland, adiando todas as avaliações.

“Discursos sectários incendiários parecem, infelizmente, fazer parte da retórica da campanha moderna, mas causam feridas reais”, lê-se no email enviado pela Northwestern University aos seus alunos, citado pelo USA Today.

A Universidade da Califórnia - Berkeley criou um espaço seguro para os estudantes pertencentes a minorias, e para aqueles que possam ser imigrantes ilegais. Também existe um espaço de conforto para mulheres e para a comunidade LGBT.

"Este é um momento desafiador para muitos dos nossos colegas e estudantes, que podem estar a sentir-se isolados e preocupados com o seu bem-estar pessoal", escreveu o presidente da Universidade de Vermont, Tom Sullivan, num email enviado à comunidade universitária.

A Boston Latin School, uma escola secundária em Boston, disponibilizou uma equipa de apoio de orientadores escolares, clínicos e enfermeiros no final do dia de quarta-feira e antes das aulas na quinta-feira para os alunos que precisam de apoio, de acordo com um email enviado à comunidade escolar.

A Montgomery Blair High School, em Maryland, teve uma reunião de balanço dos resultados eleitorais com orientadores durante o almoço dos alunos, de acordo com um tweet enviado pelo diretor da escola.

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