sábado, 3 de dezembro de 2016

Brasil. LILA RIPOLL (1905-1967): A VOZ DOS EXCLUÍDOS




Quaraí de outros tempos,
Portal da minha infância !   (Quaraí – Lila Ripoll) 

Neste ano de 2016, no mês de agosto, completaram-se os 111 anos do nascimento de uma grande intelectual e expressiva figura humana. Entre tantas gaúchas que, desde o século XIX, despontaram no campo literário, Lila Ripoll se destacou, com maestria, como poetisa, jornalista, pianista, professora, além de ter realizado importante trabalho no campo político, sendo uma presença marcante no Partido Comunista brasileiro (PCB).

Nascida na cidade de Quaraí, no Rio Grande do Sul , em 12 de agosto de 1905, Lila era filha do casal Florentino Ripoll e Dora Pinto de Ripoll.  A origem da sua família está ligada a um antepassado espanhol , nascido  na cidade de  Ripoll,  que veio para a América.

Ao atingir a idade de oito anos, nossa poetisa iniciou, com dedicação absoluta, seus estudos de piano. Sonhando em ser concertista, de acordo com o livro “Lila Ripoll / Obra completa”, de Alice Campos Moreira, Lila Ripoll , em sua adolescência, passou a dar aulas de piano em Quaraí (RS).

 A família se muda para Porto Alegre

Diante dos seus pendores artísticos, em 1927, ou segundo outras fontes, em 1928, o casal se mudou para Porto Alegre, visando a viabilizar o aprimoramento intelectual de sua única filha. Já nesse período, Lila compartilha a companhia de seu primo Waldemar que havia sido adotado por seus pais.

O Magistério

Ao encerrar os seus estudos no Conservatório de Música, na Escola de Belas Artes da UFRGS, ela não conseguiu dar continuidade à sua vida acadêmica, no Rio de Janeiro, devido a problemas de ordem financeira. Ainda como estudante da UFRGS, colaborou na Revista Universitária.  O caminho que se descortinou, após concluir o curso superior, foi o ingresso no magistério.  Em 1930, ela começou a lecionar, na Escola Estadual Venezuela, em seu Coro Orfeônico. Esta atividade foi exercida, por Lila Ripoll, com extrema paixão e dedicação sacerdotal.

Seu primo Waldemar da Silva Ripoll (1906- 1934) estudou na Escola Militar de Porto Alegre e formou-se, em Direito, no ano de 1930. Atuante nos processos políticos, ele participou da Revolução de 30, que colocou o gaúcho Getúlio Vargas (1882-1954) no poder. Adepto do Partido Libertador (PL), o jovem Waldemar acabou divergindo da política centralizadora do presidente Vargas e apoiou o levante paulista de 1932, que exigia uma nova Constituição e a indicação de um paulista para governar o Estado de São Paulo.  

O assassinato que mudou a vida de Lila Ripoll

O posicionamento político, de seu primo e irmão adotivo, desagradou o poder constituído, naquele momento, resultando na prisão do mesmo e exílio, em Portugal. Ao retornar para o Brasil, Waldemar Ripoll passou a viver na zona de fronteira com o Uruguai, defendendo a luta armada. Assumindo, às claras, sua simpatia pelas ideias comunistas, no dia 31 de janeiro de 1934, ele foi assassinado a machadadas enquanto dormia. Segundo o pesquisador e especialista em imprensa operária, João Batista Marçal, esse crime fora encomendado por figuras ligadas a Flores da Cunha (1880-1959). Este fato abalaria profundamente a nossa poetisa, resultando em sua adesão incondicional ao Partido Comunista Brasileiro. A partir daquele momento, um novo caminho marcado por preocupações e engajamentos de cunho sociopolítico passou a ser trilhado por Lila Ripoll.

O Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Lila Ripoll se filiou ao Partido Comunista num momento bastante delicado, pois o Partido não era reconhecido. Sobrevivendo na clandestinidade, havia a perseguição política e a rejeição  por parte da ala conservadora da Igreja Católica.  Nossa poetisa admirava Luiz Carlos Prestes (1898-1990) e intensificou, em 1935, ano da Aliança Libertadora Nacional, a ação do “Cavaleiro da Esperança” junto à Frente Intelectual do Partido Comunista.

Como professora, ela atuou no Departamento Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos (1935-1939), ministrando aulas de música e literatura, além de realizar espetáculos teatrais e fundar o Coral dos Metalúrgicos. Ao lado de Delmar Mancuso, montou a peça “Orfeu da Conceição” de Vinícius de Moraes (1913-1980) e também criou o Grupo de Arte que era voltado ao teatro.

Nossa poetisa e jornalista pertenceu à geração de 30, que era composta por nomes importantes do cenário literário do Rio Grande Sul, a exemplo de Dyonélio Machado (1895-1985) Reynaldo Moura (1900-1965), Manoelito de Ornellas (1903-1969), Cyro Martins (1908- 1995), Carlos Reverbel (1912-1997) , Athos Damasceno (1912-1975), Mário Quintana (1906-1994) entre outros nomes importantes.

A poetisa e seus três primeiros livros

No ano de 1938, Lila Ripoll lançou seu primeiro livro “De mãos postas“, no qual está presente a dor e a saudade do seu primo e irmão adotivo que foi brutalmente assassinado.  Nesta obra, composta por 24 poemas, as questões sociais e libertárias ainda não estavam presentes com a intensidade que, ao longo do tempo, far-se-ão no conjunto da sua obra.

 “De mãos postas” nos revela uma poetisa que maneja com intensidade as palavras carregadas de musicalidade, intensa emoção  e rara sensibilidade. O Correio do Povo registrou o lançamento dessa obra, em 07 de agosto de 1938, na sessão “Livros Novos” e o Diário de Notícias (1925-1979) declarou: “Uma das mais vivas e sutis expressões da poesia feminina do Brasil”. Já no Jornal do Brasil (1891-2010), do Rio de Janeiro, o jornalista e crítico Múcio Carneiro leão (1898-1969) afirmou acerca de Lila Ripoll : “tornou-se, desde sua estréia, a grande voz poética da mulher gaúcha”.

   O poema “Vim ao mundo em agosto”, extraído do livro “De mãos postas (1938)”, p. 29, é bastante representativo, pois traz à tona o sentimento de tristeza, que acompanha a poetisa desde o seu nascimento. Segue a primeira estrofe:

Sou triste de nascença e sem remédio.
Vim ao mundo no triste mês de agosto
o mês fatal das chuvas e do tédio,
e nasci quando o sol estava posto.
Vim ao mundo chorando... (o meu presságio!)
Um vento mau marcava na vidraça
O plangente compasso de um adágio,
Anunciando agoirento uma desgraça.  (...).

Ao analisarmos a poesia acima, podemos concluir que o sujeito mulher se sente sufocado pela sua condição, ao afirmar que carrega consigo a tristeza acerca de seu nascimento. Essa atitude parece se alinhar com a época em que Lila Ripoll escreveu o poema, haja vista que apenas uma minoria de mulheres haviam conquistado a sua independência profissional e econômica.

De acordo com Bordini, nas primeiras décadas do século XX, quando não tinham a possibilidade de sobreviver, por meio do casamento, as moças da pequena burguesia saíam do interior do estado, em direção a capital gaúcha, para completar sua educação, visando à profissionalização. Assim ocorreu com a poetisa Lila Ripoll, que saiu de Quaraí (RS), em 1927, para desenvolver seus estudos de piano na capital (1987, p. 20).
  
Na realidade, essa não era a condição da maioria das mulheres da época que, em geral, ainda dependiam, exclusivamente, do casamento, não tendo nenhuma perspectiva de se profissionalizar. Poucas eram as mulheres, até a primeira metade do século XX, no Rio Grande do Sul, que tiveram a possibilidade e o caráter ousado de Lila em atuar na esfera pública, território então ocupado de forma ostensiva pelo sexo masculino.

https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gifO seu segundo livro, “Céu vazio”, publicado, em julho de 1943, ela dedicou “in memoriam” ao seu pai e também aos amigos. A obra mereceu o registro de Cyro Martins (1908-1995) na importante Revista do Globo (1929-1967), nº 300, p.16.  Segue um breve trecho:

“... Não há lugar para o artifício na poesia de Lila Ripoll, porque toda ela está tomada das refrações da alma (...). Todo o livro é um pronunciamento de si mesma, porém diluído no sortilégio das líricas alusões ao inacessível.”

A imprensa da época

O Diário de Notícias (1925-1979) de Porto Alegre, em 20 de julho de 1943 , comentou acerca da homenagem que a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) prestaria à Lila Ripoll no dia 24 de julho daquele ano.  A ARI, com esta iniciativa, reconhecia, publicamente, o talento  da nossa poetisa, que, aliás, era jornalista. Graças à obra “Céu Vazio”, ela recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras (ABL). Esta obra consta de 30 poemas e foi editada também pela famosa Livraria do Globo, a exemplo do seu primeiro livro “De mãos postas”.  O livro “Céu Vazio” mereceu também o registro de Cyro Martins no Correio do Povo de julho de 1943, e Justino Martins, na importante Revista do Globo (1929-1967), homenageou na edição 344, em forma de artigo, a figura de Lila Ripoll.

No ano de 1945, com a legalização do Partido Comunista, Lila Ripoll intensificou sua participação política, lutando por reivindicações do operariado e também passou a colaborar  na importante revista Província de São Pedro, criada por Moysés Vellinho (1902-1980), em 1945,circulando por alguns anos, até  1957.

 Seu terceiro livro “Por Quê?” contém 25 poemas e foi editado, no Rio de Janeiro, pela Editora  Vitória, em 1947. Esta era considerada a porta-voz dos intelectuais comunistas do Brasil. Lila Ripoll dedicou esta obra à sua mãe e ao engenheiro  Alfredo Luis Guedes com o qual se casou, em 1944.  Após cinco anos de convívio, ele faleceu de derrame cerebral, e a nossa poetisa passou a dedicar-se, de forma ainda mais intensa, à militância política. Nesta obra, podemos perceber a proximidade poética de Lila Ripoll com Cecília Meireles (1901-1964). Esta última  nutria uma solidão das ilhas oceânicas, herdada da avó açoriana, e a nossa poetisa, em seus primeiros livros, sempre se volta às memórias da infância.

O conjunto da obra

A obra completa de Lila Ripoll totaliza oito livros, que foram editados, de 1938 a 1965, nesta respectiva ordem: “De mão postas “, “Céu Vazio”, “Por quê?”, “ Novos poemas”, “ Primeiro de Maio”, “Poemas e canções” , “ O Coração descoberto” e “ Águas Móveis”. Além destes livros, há poemas inéditos recuperados e organizados por Alice C. Moreira na publicação “ Lila Ripoll – Obra completa”, cuja pesquisa se efetivou no Centro de Memória do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Letras (PUCRS). Nossa poetisa escreveu também uma peça chamada ”Um colar de vidro” (1958) que é uma crítica aos valores burgueses.  Em Porto Alegre, a peça teve uma excelente aceitação pelo público e pela crítica, resultando num sucesso expressivo no Teatro São Pedro.

A campanha eleitoral em 1950

Em 1950, Lila Ripoll foi candidata à deputada estadual pelo Partido, porém enfrentou intensa reação da elite conservadora e de determinadas correntes religiosas, que inviabilizaram a sua  vitória. Nossa poetisa chegou a percorrer, em campanha, um número considerável de cidades do Rio Grande do Sul. Em Quaraí, sua terra natal, durante seu discurso na Praça Gen. Osório, ela foi agredida com vaias e pedradas. Uma pedra chegou a atingir um dos candidatos que se encontravam no palanque com Lila, porém nossa poetisa não interrompeu o seu discurso e nem se intimidou com esta ostensiva demostração de hostilidade.

A importante Revista Horizonte


Nossa poetisa manteve uma intensa ligação com a importante revista gaúcha “Horizonte”, no período de 1949 a 1956, exercendo, em 1951, o jornalismo no comitê editorial da revista. Esta publicação contou com escritores, jornalistas e artistas visuais ligados à esquerda, que difundiam os ideais do Partido Comunista.  Nela, participaram importantes artistas plásticos do Rio Grande do Sul, como Carlos Scliar (1920-2001), Iberê Camargo (1914-1994), Vasco Prado (1914-1998), entre outros nomes. Objetivando apoiar economicamente a “Horizonte’, o Clube de Gravura de Porto Alegre (CGPA) foi criado no ano 1950. Na realidade, a agremiação foi mais do que financiadora da revista, pois, por meio de cursos de formação artística e de exposições,  otimizou o ambiente cultural local. Ainda em 1951, Lila Ripoll participou da organização do 4º Congresso Brasileiro de Escritores.

O Museu de Comunicação Hipólito José da Costa (Musecom) criado, em 10 de setembro de 1974, pelo jornalista e escritor Sérgio Dillenburg, com o apoio da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e por meio do seu saudoso presidente Alberto André (1915-2001), guarda e preserva, em seu acervo de periódicos, alguns exemplares da importante revista “Horizonte”, cuja circulação se constituiu num marco da história da nossa imprensa regional e nacional.
         
De acordo com Luciana H. Balbueno: “A revista “Horizonte” nasce como um dos aparelhos de difusão cultural ”revolucionário” que divulga não somente a causa do Partido como reflexo dos movimentos soviéticos, mas também a preocupação com os fenômenos sociais no Brasil, a luta pela paz mundial, pelo antifascismo, pela educação para todos, enfim, por causas universais, mais amplas dos que os condicionados pelo esquema soviético.” (Balbueno, p.15).

Ao publicar os seus poemas, na importante revista “Horizonte”, com forte apelo social de transformação da mentalidade burguesa, individualista e competitiva, Lila Ripoll denunciou as desigualdades sociais e suas mazelas, cuja consequência é o sofrimento humano, a exemplo do poema “Andantino”.  Nele, ela retrata a árdua luta, pela sobrevivência, de um menino negro e morador de rua, que deseja ser reconhecido e visto como um ser humano pela sociedade.  Já no poema intitulado “Retrato”, Lila Ripoll enaltece a figura de Luíz Carlos Prestes (1898-1990), que ficou conhecido como “ O Cavaleiro da Esperança” ; e noutro importante poema,  chamado “Elegia”, ocorre uma exaltação aos mártires da causa socialista.

 O poema Andantino: infância, exclusão e o racismo

Em “Andantino”, publicado no ano de 1951, no seu livro “Novos Poemas”, Lila Ripoll  traz a lume um sério problema social: o menino de rua,  pobre e negro, excluído pela sociedade classista e preconceituosa.   Segue um trecho, em forma de poema, desta denúncia social:

“MENINO pretinho vestido de andrajos, teu rosto rebrilha debaixo da chuva que cai e se esvai. Teu cesto de flores, molhado, desfeito, sugere motivos que fazem pensar... ..ANDEMOS, menino, andemos, andemos com chuva ou luar. - O chão não floresce sozinho por nós. E é tempo de andar. Nas altas montanhas, nas rasas planícies, com chuva ou luar, plantemos, menino, que é tempo de andar!” (Novos Poemas, 1951).

O livro “Novos Poemas” fez com que Lila Ripoll, em 1951, fosse agraciada com o Prêmio Neruda da Paz, em Praga, na Tchecoslováquia, representando um orgulho para todos os gaúchos e um marco importante para a literatura presente em nosso estado.
   
Os intelectuais da época

No Rio grande do Sul, colaboravam na propagação dos ideários do Partido Comunista nomes importantes do nosso cenário cultural, a exemplo de Cyro Martins (1908-1995), Dyonélio Machado (1895-1985), Josué Guimarães (1921-1986), entre outros. Na época, o grupo de intelectuais conhecidos internacionalmente e que apoiava as causas socialistas, era composto por personalidades, como: Pablo Neruda (1904-1973), Paul Éluard (1895 -1952), Jean Paul Sartre (1905- 1980), Bertold Brecht (1898-1956), Gabriela Mistral (1889-1957), entre outras figuras de destaque no cenário mundial. Dentro deste contexto, Lila Ripoll estava vinculada, admirava e lia a produção desses artistas, filósofos e escritores. No ano de 1953, Lila Ripoll participa de um encontro internacional pela paz em Buenos Aires.

1ª de maio: O massacre dos operários na cidade de Rio Grande (RS) / 1950

Em 1954, Lila Ripoll lançou o livro ”Primeiro de Maio”, no qual ela registrou o massacre ocorrido no Dia Internacional do Trabalho, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A passeata operária foi interrompida com os disparos das armas dos policiais, que cumpriam ordens superiores. O governo de Walter Jobim (1892-1974), de acordo com o jornalista e pesquisador João Batista Marçal, irá se despedir com as mãos “sujas de sangue”. Além de Angelita, foram mortos, pelos cães da repressão, o líder operário Euclides Pinto, o portuário Honório Porto e o ferroviário Osvaldino Correia. O vereador Antônio Réchia, durante o confronto, foi atingido por um disparo que atingiu a sua espinha dorsal, ficando este paralítico. O sangue operário foi derramado no pampa gaúcho...

O poema “Angelina”, que faz parte dessa obra, trata do assassinato de uma jovem tecelã durante uma passeata de operários ocorrida em 1º de maio de 1950. A jovem Angelina Gonçalves carregava a bandeira do Brasil e trazia pela mão a sua filha de 9 anos, quando foi atingida por um disparo e caiu morta. Este fato se constitui numa página muito triste e de profunda consternação na história do movimento operário no Rio Grande do Sul.

Observem a densidade das duas primeiras estrofes deste poema:

A massa resiste
rebelde,
indomável,
Erguendo muralhas,
de peitos e braços,
Às frias espadas,
Aos altos fuzis.
A rua tranquila
Tão cheia de cantos, encheu-se de cinza,
De sangue e de pó. (...)

 A Tribuna Gaúcha: o jornal maldito

 Em 1955, Lila Ripoll passou a colaborar no importante periódico “Tribuna Gaúcha’ que era ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O nome desse periódico se alternava entre Tribuna Gaúcha ou simplesmente Tribuna. Esta mudança no título do periódico se dava quando havia a necessidade dos comunistas em confundirem a vigilância policial, principalmente, no período em que o Partido esteve proibido de atuar, funcionando de forma clandestina no Brasil. Seu primeiro número começou a circular em 17 de fevereiro de 1946. Durante um decênio, seus diretores, repórteres e redatores vivenciaram a rotina de entradas e saídas das prisões metropolitanas. A sede, que ficou famosa, localizava -se  na Rua da Ladeira, atual General Câmara). Este local foi cenário de confrontos, com prisões e espancamentos,  manchando com sangue  esta tradicional rua do centro de Porto Alegre,  Ainda no ano de 1955, a nossa poetisa e jornalista vai a Moscou para o Congresso Internacional dos Partidários da Paz como delegada do Brasil.

Manoelito de Ornellas e Lila Ripoll

Lila Ripoll era amiga do círculo familiar do escritor Manoelito de Ornellas (1903-1969), que fez parte da geração de 30, em nosso Estado, e escreveu um clássico da nossa literatura: “Gaúchos e Beduínos” – a origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul” (1948). Nossa poetisa figura entre os destaques literários presentes em “Máscaras e murais de minha terra” que foi publicado em 1965. Nesta obra, o escritor faz uma referência extremamente positiva em relação à figura de Lila Ripoll, considerando o trabalho da poetisa repleto de sensibilidade e de extrema compreensão quanto aos problemas humanos. Manoelito de Ornellas também registrou, nesta obra, a sua admiração (1965), considerando louvável o senso de justiça e de igualdade social presentes na obra de Lila Ripoll. O escritor Manoelito de Ornellas assim definiu a nossa poetisa: “o poeta sofre o drama que surpreende, a cada passo, e a sua angústia se transforma em canto“ (idem, p.62)

Os pesquisadores da obra de Lila Ripoll

Ao longo do tempo, qualificados pesquisadores têm contribuído para divulgar o talento e as atividades às quais Lila Ripoll  se dedicou durante a sua profícua existência. Importante, entre outras, as seguintes produções: “Antologia poética “(1967) de Walmyr Ayala , “Ilha difícil – antologia poética” de Maria da Glória Bordini e  “Lila Ripoll - Obra Completa” (1998) de Alice Campos Moreira.  A autora Maria da Glória Bordini também é responsável pela análise do conjunto da obra de Lila Ripoll que foi publicada, em 1987, no fascículo nº 9, do Instituto Estadual do Livro (IEL).

Importante também que se registre a dissertação de Luciana Haesbaert.  Com o título “A produção de Lila Ripoll na Revista Horizonte”, ela foi defendida, em 2001, na PUCRS.  Nela, a autora demonstrou que a revista foi um marco referencial da nossa poetisa ligada às causas sociais, sendo ferrenha defensora dos direitos políticos como militante do Partido Comunista Brasileiro. De acordo com a autora, o período mais rico e produtivo de Lila Ripoll  foi quando estava atuante na importante revista gaúcha “Horizonte” (1949-1956).

A prisão em 1964 e a doença

As atividades políticas e intelectuais de Lila Ripoll, ligadas ao Partido Comunista Brasileiro, foram de encontro a Ditatura Militar (1964-1985) que se instalaria no País em 1964. O resultado foi a prisão da nossa poetisa, que, devido a um câncer em estágio bastante avançado, acabou sendo liberta.
  
Ao pressentir que seus dias se esvaiam e a morte era inevitável, ela deixou um recado para os amigos em forma de poema:

Agradeço tudo a todos,
Não merecia tanto.
Levo esta única saudade: deixá-los
Aos amigos desejo incorporar
Mais os novos amigos que conhecemos.
E aos inúmeros amigos que conhecemos
Deixo a minha grande saudade, (Moreira. p.7)

A morte de Lila Ripoll

Em 07 de fevereiro de 67, a foice - um símbolo arquétipo da morte-, cortou o fio da sua existência, que nos deixou um legado de luta e de esperança, por dias melhores, numa sociedade que, infelizmente, ainda exclui e relega à invisibilidade social e ao abandono milhares de pessoas às quais foi sonegado o passaporte da cidadania. Com certeza, Lila Ripoll vive nos corações de todos que acreditam na fraternidade e na construção de uma sociedade mais igualitária e com menos desigualdades, onde as promessas governamentais e eleitoreiras se tornem uma realidade palpável e não apenas palavras verbalizadas e impressas.

O crítico Sérgio Ribeiro Rosa, em 29 de janeiro de 1967, ao falar da nossa poetisa, no Diário de Notícias (1925-1979), em seu ensaio “Lila Ripoll solidão e êxtase”, comentou:

“Sua poética impõe-se no concerto internacional da arte lírica como solidão que se sublimou em êxtase de expressividade total. (,,,) ”

No Correio do povo, de fevereiro de 1967, Hugo Ramirez escreveu “Lembrança de Lila Ripoll”, onde afirmou: “Com Lila Ripoll a contribuição feminina à poesia, no RGS, atingiu a um ponto de singular destaque”. Nossa poetisa é patrona da cadeira nº 26 da Academia Literária do Rio Grande do Sul e a sala de eventos no Instituto Estadual do Livro (IEL) chama-se, numa justa homenagem, Lila Ripoll. Em sua homenagem, criou-se, no ano de 2005, o Prêmio Lila Ripoll de Poesia, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, sendo aberto a todos que desejarem se expressar sobre assuntos vinculados às causas sociais e ao gênero.
    
No dia 07 fevereiro de 1967, Lila Ripoll faleceu em Porto Alegre, aos sessenta e um anos, e seu corpo foi enterrado por seus companheiros partidários no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia.  Sua obra e sua voz libertária seguem encantando a todos, que lutam e sonham com um mundo melhor...

Bibliografia
BALBUENO, Luciana Haesbaert. A Produção de  Lila Ripoll na revista horizonte. Dissertação de mestrado. PUCRS, 2001.
BORDINI, Maria da Glória. Ilha difícil. – antologia poética. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1987.
------------ Lila Ripoll. Letras Rio Grandenses. nº 09. Porto Alegre: IEL, 1987.
BRAGA, Maria Alice da Silva. Manoelito de Ornellas / Vida e obra de um ex-presidente da ARI. Porto Alegre: Megalupa, 2015.
FlORES,  Hilda A. Hübner. Presença Literária / 2005. Porto Alegre: Ediplat, 2005.
MARÇAL, João Batista ; MARTINS, Mariângela. Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha. Porto Alegre: Libretos, 2008.
MOREIRA, Alice Campos. (org,). Lila Ripoll - obra completa. Porto Alegre: IEL/ Movimento, 1998.
SCHULER, Donaldo. A poesia no Rio Grande do Sul.  Porto Alegre: Mercado Aberto,1987.

Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite é pesquisador e coordenador do Setor de Imprensa do Musecom

EX-MINISTRA FOGE À JUSTIÇA TIMORENSE E REFUGIA-SE NO PAÍS DOS “FILHOS DA PUTA”




Emília Pires, ex-minisra das Finanças dos governos de Xanana Gusmão, é a protagonista de uma triste novela em que vai ter de se ver condenada pelo Tribunal Distrital de Díli. Na atualidade anda fugida à justiça timorense e refugiou-se em Portugal depois de várias peripécias que em nada abonam a seu favor. O noticiário sobre aquela personagem é vasto e títulos de trabalhos jornalísticos é o que não falta para os que tiverem curiosidade de conhecer minimamente o caso. No final dispomos alguns títulos com ligação aos respetivos textos para oferta do conhecimento ou reler e recordar o que já possa estar esquecido.

Após um longo processo material e temporal o Tribunal de Díli aguarda a presença de Emília Pires para dar a conhecer a sentença. Fala-se em 10 anos de prisão para a ex-ministra mas fonte próxima da justiça timorense julga saber que em vez de 10 anos o tribunal "punirá os crimes cometidos por Emília Pires num máximo de 5 a 7 anos de prisão".

Por possuir a informação de que a punição para os crimes cometidos incluem prisão Emília aproveitou - com autorização do TDD para viajar ao estrangeiro em representação do Estado Timorense - para fugir e não regressar a Timor-Leste. Primeiro durante uns dias acoitada na Austrália e depois acabou por se refugiar em Portugal, dizendo então que quer ser julgada em Portugal, alegando não confiar na justiça timorense. De salientar que Emília Pires possui dupla nacionalidade: timorense e portuguesa. E que agora, estranhamente, confia na justiça em Portugal.

Especialistas em procedimentos da justiça afirmam que é impraticável e impossível Emília poder ser julgada em Portugal pelo crime de que vem sendo acusada pela justiça timorense, apesar de também possuir nacionalidade portuguesa. O que não invalidou que a fugitiva entregasse na Embaixada de Timor-Leste em Portugal requerimento e tese dessa pretensão ao Tribunal de Díli.

Os meandros de toda esta “novela” são vastos mas também quase nada transparentes. “Uma balbúrdia que vai dar a nada porque a arguida vai ter de se apresentar à justiça timorense, ao TDD, para que o desenvolvimento dos procedimentos legais sejam cumpridos. Terá de se sujeitar como todos os que são julgados e dependem da decisão dos tribunais. Culpada ou inocente, é o que terá de ouvir sentenciado e qual a punição correspondente se for considerada culpada”, afirmou a fonte judicial que contactámos para melhor entendermos o que se prevê que aconteça neste processo em que a ex-ministra está envolvida.

Observando no tempo ido afirmações de Emília Pires temos de considerar estranho que a foragida se faça valer da sua dupla nacionalidade e agora se afirme portuguesa. Não há assim tanto tempo (2010) que dos portugueses e de Portugal Emília fazia juízos ordinariamente depreciativos que chegaram ao conhecimento público via Jornal Digital, referindo inclusive que “nunca odiei tanto os portugueses como agora. Um grupo de gananciosos, que enquanto colonizadores nunca fizeram nada para desenvolver o país, que durante o tempo da resistência nos empurraram para nos transformar num problema internacional e que depois que a comunidade internacional nos acolheu, os cabr… estão a voltar com supostos projectos que não são outra coisa do que uma forma de roubar o nosso dinheiro”.

Ao contrário de há quase 7 anos atrás Emília refugiou-se em Portugal em busca de proteção e justiça, entre os portugueses “filhos da puta e cabrões” que até roubam os timorenses. Temos assim a prova mais que provada que Emília, ex-ministra que destila ódio pelos portugueses é uma pessoa de caráter lodoso, para não dizer de caneiro, que tudo lhe serve desde que de sua conveniência. Para ela pouco importa que recorra a um país de “filhos da puta” e de “cabrões”, que até manifeste a sua nacionalidade portuguesa recorrendo os juízes que tanto critica e põe em dúvida as suas competências - como declarou também em 2010 quando afirmou que “não é necessário que os juízes saibam falar português, uma vez que em Portugal não têm sequer juízes competentes em número suficiente”. Parece que agora Emília até confia nos juízes e na justiça em Portugal…

Confia, ou é o que lhe convém para “empatar”, para baralhar e dar cartas de novo? Provavelmente num jogo viciado.

Para que melhor possamos avaliar aquela ex-ministra - agora convenientemente portuguesa – publicamos na integra a peça do Jornal Digital de 17 de Julho de 2010 de onde retirámos as citações que atrás referimos.

Convém esclarecer que em Portugal já existem políticos, ex-governantes, banqueiros e outros vigaristas constituintes de um polvo mafioso de grandes proporções. E também que em Portugal os portugueses consideram muito bem-vindos os seus irmãos queridos de Timor-Leste, os timorenses. O mesmo não se poderá dizer dos que alegadamente podem ser potenciais criminosos que causaram dolo aos bens e interesses legítimos da Pátria Timorense e, consequentemente, ao seu povo. Desses temos por aqui muitos. Demasiados e impunes. Também em Portugal existe um adágio que poderá esclarecer como Emília poderá ser considerada no país dos “gananciosos” e dos “filhos da puta”. É dito popular: “quem não deve não teme”.

Pelo visto Emília teme. O que teme Emília Pires?

AV / MM

Como prometido, do jornal Digital:

Críticas sobre os portugueses mancham imagem da Ministra das Finanças de Timor-Leste

Jornal Digital - 17 Julho 2010

Uma série de e-mails datados de 2006 e agora divulgados revelam críticas de Emília Pires, actual Ministra das Finanças timorense, à presença portuguesa no território. Nos emails Emília Pires apelida os portugueses de "Filhos de uma grande p..."

Comentando uma proposta de investimentos de uma empresa portuguesa para Timor-Leste, feita ao então Primeiro Ministro Ramos Horta, Emília Pires apelida os portugueses de «Filhos de uma grande p... Estes cabr… só estão aí para roubar dinheiro...é como aquelas nonas portuguesas que dizem vir ensinar português aos nossos».

A agora Ministra das Finanças timorese, considerada uma das figuras mais próximas do Primeiro-Ministro Xanana Gusmão, refere ainda, no seguimento desta proposta, que «nunca odiei tanto os portugueses como agora. Um grupo de gananciosos, que enquanto colonizadores nunca fizeram nada para desenvolver o país, que durante o tempo da resistência nos empurraram para nos transformar num problema internacional e que depois que a comunidade internacional nos acolheu, os cabr… estão a voltar com supostos projectos que não são outra coisa do que uma forma de roubar o nosso dinheiro».

Na troca de e-mails, Emília Pires chega mesmo a pedir a uma das suas interlocutoras (que viria a ocupar o cargo de assessora de imprensa do Ministério das Finanças, já sob tutela de Emília Pires) para accionar os seus contactos jornalísticos em Timor e avançar com uma campanha para «minar» as possibilidades da concretização desta proposta de investimentos.

Emília Pires critica ainda a presença de juízes portugueses em Timor-Leste. Segundo a Ministra das Finanças, «não é necessário que os juízes saibam falar português, uma vez que em Portugal não têm sequer juízes competentes em número suficiente».

Mas as críticas de Emília Pires têm também destinatários internos. Num dos e-mails, Emília Pires critica fortemente Longuinhos Monteiro, então Procurador Geral da República timorense e actual Comandante geral da Polícia Nacional de Timor-Leste, por este ter recusado nomear um adjunto estrangeiro para auxiliar o Ministério Público nos casos da crise 2006. Emília diz de Longuinhos que «o estúpido nem sequer sabe ler documentos legais!!! Vamos ter problemas se ele não tiver ajuda de topo.»

O Timor Digital tentou obter um comentário de Emília Pires, mas não houve qualquer resposta por parte dos responsáveis do Ministério das Finanças.

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PARCERIA COM TIMOR AGORA

Tribunal de Díli emite mandado de captura e aplica prisão preventiva a ex-ministra



O Tribunal de Díli emitiu um mandado de captura para a ex-ministra das Finanças Emília Pires - atualmente a receber cuidados médicos em Portugal -, no âmbito do processo-crime em que é acusada, cuja sentença será conhecida este mês. 

Na decisão, o coletivo de juízes, presidido por José Maria Araújo, alterou ainda a medida de coação aplicada a Emília Pires de Termo Identidade e Residência (TIR) com proibição de viagens ao exterior sem autorização do tribunal para prisão preventiva.

A decisão do coletivo de juízes implica que Emília Pires, que tem nacionalidade timorense, portuguesa e australiana, será detida no caso de entrada em qualquer das fronteiras timorenses, já que atualmente Timor-Leste não tem qualquer acordo de extradição com outros países.

O coletivo de juízes marcou ainda para 20 de dezembro a leitura da sentença do processo, rejeitando um pedido de Emília Pires, que pretendia que, depois da leitura da sentença, o processo fosse delegado para tribunais portugueses em caso de eventuais recursos.

Emília Pires é acusada, com a ex-vice-ministra da Saúde Madalena Hanjam, de participação económica em negócio e administração danosa por supostas irregularidades na compra de centenas de camas hospitalares em contratos adjudicados à empresa do marido da primeira, com um suposto conluio entre os três para a concretização do negócio, no valor de 800 mil dólares.

José Camões, advogado de defesa de Emília Pires, disse à agência Lusa que foi já solicitada uma transcrição das decisões comunicadas verbalmente pelo juiz timorense na sessão de quinta-feira para as "estudar em concreto".

O caso de Emília Pires, já o mais mediático da história de Timor-Leste, tem dominado o debate na imprensa e nas redes sociais no país, onde a ex-ministra tem sido criticada devido aos solavancos que marcaram a reta final do processo.

Os debates aumentaram especialmente depois de no passado dia 19 de novembro a Lusa ter noticiado que a ex-ministra solicitou a delegação do seu processo para Portugal, alegando falta de capacidade ou vontade de assegurar justiça por parte do sistema judicial timorense.

O requerimento da ex-ministra das Finanças, ao qual a Lusa teve acesso, não queria impedir o Tribunal de Díli de proferir o acórdão, pretendendo apenas que eventuais recursos fossem julgados em tribunais portugueses.

Além de considerar que se cumprem as condições previstas na lei para essa transmissão de processo penal, o requerimento reitera declarações de Emília Pires, dentro do tribunal, de que o seu processo-crime tem sido marcado por violações dos seus direitos fundamentais.

Algo que, considera o texto, demonstra que o sistema judicial de Timor-Leste não tem "capacidade ou vontade de assegurar a realização da Justiça".

Emília Pires, que foi operada a 05 de novembro na Austrália, está em Portugal para tratamentos médicos adicionais - facto de que o tribunal foi informado, garantiu à Lusa fonte da defesa.

Estava no estrangeiro em visita de trabalho em nome do Estado timorense quando, explica a defesa, um acidente agravou uma lesão antiga obrigando à intervenção cirúrgica, o que impediu o seu regresso a Timor-Leste no prazo previsto.

O pedido de "transmissão de processo penal" está definido na lei timorense 15/2011, sobre Cooperação Judiciária Internacional Penal, que prevê que processos-crime instaurados em Timor-Leste "podem ser delegadas num Estado estrangeiro que as aceite".

Entre as condições exigidas para que isso está o tempo de pena máximo possível ou que o arguido tenha a nacionalidade do Estado estrangeiro.

Em março de 2015, ainda antes do arranque do julgamento - que começou em outubro do ano passado - Emília Pires exerceu o seu direito de petição dando conta às autoridades de Timor-Leste de "violações sistemáticas e graves" dos seus direitos e de "decisões arbitrárias e incompreensíveis" no processo.

Nesse direito de petição, a que a Lusa teve acesso na altura, Emília Pires manifestava receio que a "patente incapacidade ou falta de vontade do sistema judicial" impedissem um processo justo e equilibrado, com a politização do caso a "fazer temer que seja crucificada" como "forma simbólica de afirmação do poder dos tribunais".

Acusou ainda a comunicação social de violações do segredo de justiça e de não fazer uma cobertura objetiva dos processos.

Também em março do ano passado, numa entrevista à Lusa, Emília Pires disse que os tribunais a queriam usar como "vingança" contra o Governo e que a tinham informado de que seria condenada a 10 anos de prisão.

Nas alegações finais, a 20 de setembro último, o Ministério Público deu tudo como provado e pediu uma pena de prisão de dez anos para Emília Pires e Madalena Hanjam.

@Lusa em SAPO TL – Publicado em TIMOR AGORA, em parceria com Página Global

Macau. LAG 2017 - ALEXIS TAM PROMETEU MELHORIAS NO ENSINO DO PORTUGUÊS



O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau defendeu ontem a posição privilegiada da cidade para o ensino do português e lembrou que, “dominando o português, facilmente se aprendem outras línguas” e se “alargam horizontes”.

“Temos todas as vantagens e condições para isso [ensino do português], conseguimos ver o valor da língua. O português é uma língua latina, dominando o português consegue-se facilmente aprender outras línguas estrangeiras, mesmo para aprender o inglês é facílimo. Dominando o português alargam-se os horizontes”, disse Alexis Tam, durante o debate sectorial das Linhas de Acção Governativa, na Assembleia Legislativa.

O governante recordou a visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ao território, em Outubro, que “deu ordens à equipa governante de Macau para melhorar o ensino do português”.

O inglês, disse, “é muito promovido na China”, mas no português Macau tem vantagem, já que conta com um “legado histórico e uma ligação muito estreita com a língua”.

“Temos uma comunidade portuguesa em Macau, comunicação social em língua portuguesa, português como língua oficial. Nenhuma cidade da China tem as vantagens de Macau”, frisou.

MAIS ESCOLAS GRATUITAS

A educação foi um dos temas centrais do debate de ontem, em que o Governo anunciou o alargamento da rede de escolaridade gratuita nos próximos dois anos. O número de escolas integradas na rede vai atingir 101, o que equivale a uma taxa de cobertura de 94 por cento, em vez da actual 89 por cento.

O secretário falou ainda do projecto ‘Céu Azul’, com que pretende transferir 15 escolas que actualmente funcionam em andares de prédios – e cujos alunos não gozam de instalações ao ar livre. Além de reduzir o prazo para as mudanças de 20 para 15 anos, Alexis Tam reiterou ainda que as escolas serão colocadas nos terrenos não aproveitados que o Governo tem tentado recuperar.

“Depois do despejo da ocupação ilegal desses terrenos, mais de uma dezena de escolas poderão funcionar ali. Mas temos de ser realistas: neste momento não temos terrenos suficientes para a construção das escolas. O Governo já começou a recuperar os terrenos não aproveitados e espero que muito em breve possamos dar início às obras e assim concretizar todo o projecto da obra ‘Céu Azul’”, disse.

Em 2011, o Governo identificou 48 terrenos para reversão para o domínio público por não estarem a ser aproveitados de acordo com os seus contratos de concessão. Em Novembro, o Chefe do Executivo afirmou que, até Setembro, “foram proferidos 38 despachos de declaração de caducidade das concessões de terrenos, que envolvem uma área que ultrapassa 400 mil metros quadrados”, apesar de vários casos estarem ainda em tribunal.

Em Agosto, a prioridade definida para estes terrenos foi o pagamento de 88.806 metros quadrados de dívida de terras, e em Setembro a habitação pública foi dada como essencial para esse fim.

Sofia Mota – Hoje Macau

Macau-Efeméride. MOTIM 1-2-3 ACONTECEU HÁ 50 ANOS



O projecto de construção de uma escola na longínqua ilha da Taipa mais os dias quentes da Revolução Cultural levaram a que parte da comunidade chinesa se tenha revoltado contra a Administração portuguesa no ano de 1966. Jorge Fão começava a carreira como funcionário público; António Cambeta tinha acabado de chegar. Hoje recordam dias difíceis que já não voltam

Há 50 anos aconteceu no centro histórico de Macau o que hoje seria impensável: pessoas foram mortas a tiro, foram arrancadas pedras do chão para servirem de armas e estátuas de personalidades portuguesas foram derrubadas. Tudo começou no dia 3 de Dezembro de 1966, com um motim desencadeado pela comunidade chinesa que demoraria cerca de dois meses a ser sanado e que só seria totalmente resolvido com a chegada ao território do Governador Nobre de Carvalho.

Viviam-se na China os tempos da Revolução Cultural, imposta por Mao Zedong, e em Macau sopravam ventos comunistas. O longo embargo à construção de escola, na Taipa, ligada ao Partido Comunista Chinês, levou a que um grupo de pessoas tenha despoletado um motim contra a Administração portuguesa.

Jorge Fão, ex-deputado e actual dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), tinha na época pouco mais do que 18 anos. Com uma maioridade atingida à força, pois precisava de trabalhar, Jorge Fão tinha acabado de ingressar na Função Pública e trabalhava nas instalações do antigo tribunal. Recorda um motim que começou com um episódio aparentemente sem importância.

“Queriam construir uma escola na Taipa e o administrador das Ilhas na altura, de apelido Andrade, mandou embargar a obra. Dizia que não tinha licenças e claro que as pessoas fizeram barulho. Mas isso alastrou porque demos oportunidade. Nós, portugueses, não tivemos sensibilidade para perceber a situação política da China”, recorda Jorge Fão ao HM.

António Cambeta chegou como militar a Macau em 1963. Quando o motim explodiu nas ruas, já trabalhava numa empresa de navegação na Avenida Almeida Ribeiro e tinha uma namorada chinesa, hoje sua mulher. Recorda os momentos negros em que os acontecimentos da Revolução Cultural se fizeram sentir em Macau.

“Os chineses andavam muito saturados da Administração portuguesa e da forma como eram tratados. Eram rebaixados em tudo e para tratarem de qualquer assunto junto da Administração tinham de pagar por baixo. Até então estavam calados, mas o episódio da escola e o início da Revolução Cultural fizeram com que tudo desse uma volta”, contextualiza. “Os comunistas reuniram-se perto do hospital Kiang Wu, na véspera do dia 1 de Dezembro, e nessa noite saíram para o centro da cidade. Morava nessa altura na Rua Coelho do Amaral e à hora de jantar ouvi um grande barulho. As pessoas começaram a mandar vir contra os portugueses. Fui à janela e vi que era esse grupo de comunistas a fazerem barulho. Estava a jantar em casa da minha namorada, chinesa, e fiquei ali.”

Começou então a perceber que viriam tempos difíceis para os portugueses. “Apanhei o autocarro e o condutor disse-me: ‘Hoje ainda entra, mas amanhã já não pode apanhar o autocarro, porque temos ordens superiores para não vendermos nada aos portugueses’. Aí já havia a separação entre as duas comunidades. Fui para casa almoçar e já não voltei para o serviço.”

MORTES NA RUA CENTRAL

Numa altura em que Macau não tinha governador, Mota Cerveira, comandante militar em funções, não soube travar o avanço da revolta. “Os chineses aproveitaram e fizeram uma série de manifestações em Macau e na Taipa, e exigiram a demissão do administrador das Ilhas e do comandante da PSP. Começaram a disparar, mataram-se umas pessoas, uma triste memória”, frisou Jorge Fão.

Fão recorda o momento em que lhe passaram uma arma para as mãos, para se defender de eventuais perigos. “Aquilo foi um barulho infernal durante vários dias. Aquilo foi piorando, de tal maneira que gerou tumultos por todo o lado. Armaram os funcionários públicos e deram-me uma espingarda daquelas antigas, com cinco munições, para nos protegermos. Quiseram invadir a esquadra da polícia, na Rua Central, com camionetas a subir a rua. Houve disparos de metralhadora e fizeram recuar as pessoas. Depois invadiram o Leal Senado e derrubaram uma estátua do Coronel Mesquita.”

As mortes que ocorreram na Rua Central (oito mortos e algumas centenas de feridos), causadas por disparos de polícias portugueses que tentaram evitar a confusão, geraram ainda mais revolta. “Com a morte dos chineses, a maioria da população comunista em Macau ficou revoltada. Nas Portas do Cerco havia muitas pessoas ligadas à Revolução Cultural que queriam invadir Macau. Isso poderia ter sido evitado se o administrador das Ilhas não tivesse prolongado por tantos anos a construção da escola chinesa”, diz António Cambeta.

No Leal Senado e na Avenida da Praia Grande derrubaram-se estátuas. “Muitos deles eram chineses ultramarinos e foram para o Leal Senado, mandaram a estátua do Coronel Mesquita abaixo, mandaram livros para o chão, e foram para a conservatória, onde é hoje a Santa Casa da Misericórdia. Queimaram tudo. Depois partiram um braço à estátua do Jorge Álvares. Depois a polícia, como não tinha qualquer preparação, começou a largar gás lacrimogéneo. A partir daí todos os restaurantes e lojas não vendiam nada aos portugueses, foi um período com muita tensão. Muitos portugueses pediram para levar as suas coisas para Lisboa”, recorda o antigo militar.

A SOLUÇÃO DO GOVERNADOR

Nomeado Governador, Nobre de Carvalho chegou ao território sem saber o que, de facto, se estava a passar. “Apanhou o motim sem saber como nem porquê e conseguiu resolver o assunto com a ajuda de Carlos Assumpção [antigo presidente da Assembleia Legislativa]. Admiro que uma pessoa com um posto militar elevado tenha conseguido salvar o território. Ele aceitou as condições impostas pelos chineses, indemnizou as famílias dos membros que foram mortos com os disparos. Assinaram uma declaração de arrependimento. Constava que o exército chinês estava aqui ao lado, pronto a entrar no território”, afirmou Jorge Fão.

Também João Botas, jornalista e autor de vários livros publicados sobre a história de Macau, destaca o papel que Nobre de Carvalho teve neste período. “Só soube do que se estava a passar pelo Governador de Hong Kong e foi difícil tentar inteirar-se de tudo. Foi tudo uma bola de neve que era impossível controlar de outra forma. Poderiam ter sido evitadas algumas mortes”, nota ao HM. “Nunca teve o apoio oficial do Governo português e aí não foi fácil para Nobre de Carvalho. Fala-se da humilhação pela forma como ele resolveu o assunto, mas não vejo assim. Bem ou mal, com a ajuda de elementos da comunidade chinesa, resolveu um assunto que foi dramático e que poderia ter tido consequências”.

Palestra acontece amanhã (3.12) na Livraria Portuguesa

Há cerca de três anos que o jovem activista Sou Ka Hou começou, por sua iniciativa, a estudar o que aconteceu há 50 anos no dia 3 de Dezembro de 1966. O antigo presidente da Associação Novo Macau decidiu pegar em meses de pesquisa e escrita, e realizar uma palestra para lembrar à população que um dia os chineses saíram à rua para lutar por algo em que acreditavam. “A história que os residentes de Macau devem conhecer: meio século sobre o turbulento motim 1-2-3” é o nome da palestra que irá decorrer na Livraria Portuguesa no domingo, entre as 15h e as 18h, e que contará com vários historiadores e académicos que se debruçam sobre o tema.

Ao HM, Sou Ka Hou lamenta que as escolas não ensinem o motim 1-2-3 aos mais novos. “As pessoas de Macau conhecem pouco a história local e este motim é considerado um dos acontecimentos mais representativos da história de Macau. Quero aproveitar este momento para atrair o interesse das pessoas, sobretudo dos mais jovens, deixando-os conhecer a história a partir deste assunto, para que depois tenham interesse sobre outros assuntos importantes”, diz.

“Parece-me que a sociedade não é mais pacífica e que ainda existem algumas confusões, e este acontecimento pode levar as pessoas a pensar, para que a sociedade avance. É uma pena que os manuais da história de Macau não falem disto, além de não registarem outros episódios da história”, defende ainda o actual membro da Juventude Dinâmica de Macau.

Sou Ka Hou recorda que a maior parte das associações tradicionais de cariz político, como a União Geral das Associações de Moradores (Kaifong), surgiu após o 1-2-3.

“O 1-2-3 demorou cerca de dois meses e aconteceu num lugar pelo qual muitas pessoas passam todos os dias. Mas poucos sabem que lá aconteceu este motim. Quando estava a investigar sobre isto percebi que este assunto estava muito próximo de nós, pois todos os dias passamos no Leal Senado. É uma grande inspiração pessoal e também para a sociedade, pois no passado reunimo-nos em conjunto para lutar por alguma coisa. Todas as associações foram fundadas após esse episódio. Há a ideia de que as pessoas de Macau muitas vezes não falam e não reagem a questões injustas, achamos que os locais são sempre indiferentes, mas segundo a história não foi sempre assim. Mas as escolas agora não nos ensinam isso. As pessoas de facto lutaram por algumas coisas”, rematou o activista.

Motim 1-2-3 trouxe “maior visibilidade às associações”

Para o investigador Fernando Sales Lopes, o motim 1-2-3 serviu sobretudo para dar mais poder às associações de matriz chinesa que já existiam, como a Associação Comercial de Macau e os Kaifong (associação de moradores).

“O pós-1-2-3 acaba por trazer outra estabilidade, Macau foi-se preparando a pouco e pouco para a transição de poder, apesar de faltarem ainda três décadas. Sempre houve um poder chinês e um poder português, e havia sempre uma negociação diária”, afirma.

“Depois do 1-2-3 houve um reforço do poder das entidades chinesas. Ho Yin, entre outros, teve um papel relevante neste período. As relações diplomáticas entre a China e Portugal só voltaram a ser restabelecidas após o 25 de Abril de 1974 e só estes capitalistas patriotas desempenhavam o papel de intermediários. Este papel de intermediários entre o poder português e a China acaba por vir a ganhar mais força, acabam por ser embaixadores e tornam-se líderes da comunidade chinesa. As associações chinesas, em vez de estarem fechadas numa comunidade, passaram a intervir no cenário público com mais poder.”

Apesar da importância do motim, o investigador afirma que o 1-2-3 foi “um acontecimento ligado ao contexto da altura. “Em Macau sempre fomos um porto de abrigo e fomo-lo para os chineses. Revoluções políticas na China sempre houve.”

Para o jornalista João Botas, autor de livros sobre a história do território, “é de facto um dos períodos significativos e marcantes da história de Macau”. “Foi naturalmente fruto do contexto, a história não se repete. Estamos a falar de um período, a consequência do que se passava politicamente na China, da Revolução Cultural, e que mais cedo ou mais tarde acabaria por chegar a Macau e a Hong Kong”, conclui.

Andreia Sofia Silva – Hoje Macau

Dhlakama acredita na retoma de boas relações entre FMI e Maputo



Líder da RENAMO acha que a crise financeira que Moçambique atravessa pode ser ultrapassada desde que o Governo da FRELIMO mostre boa vontade. Mas acabar com a guerra é a solução principal, defende Afonso Dhlakama.

Está desde esta quinta-feira (01.12.) em Maputo uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI). O objetivo é iniciar conversações sobre um novo programa. De lembrar que em abril passado esta instituição de Bretton Woods suspendeu a ajuda a Moçambique na sequência da descoberta de dívidas ocultas contraídas por empresas, mas garantidas pelo Estado moçambicano, avaliadas em cerca de 1,2 mil milhões de euros. Na última missão do FMI ao país, em junho, a sua equipa de trabalho constatou progressos por parte do Governo na gestão do caso. Numa conversa recente com Afonso Dhlakama, líder do maior partido da oposição (RENAMO), a DW África ouviu também a sua opinião sobre o assunto.

DW África: A economia moçambicana está em crise e as consequência disso já são visíveis com aumentos dos preços e a desvalorização da moeda. Há muito descontamento no seio da população, inclusive da classe média. Qual é a sua expetativa em relação ao desfecho deste caso que está a opor o Governo moçambicano e o FMI?

Afonso Dhlakama (AD): É uma pergunta muito difícil, mas eu vou responder porque sou moçambicano, nasci, estudei e cresci aqui, conheço a situação. Tudo tem solução se de facto existir boa vontade do lado da FRELIMO. Por exemplo, estamos a falar da dívida, não é a dívida responsabilidade do Estado moçambicano, é a dívida das pessoas conhecidas que foram buscar dinheiro nos bancos lá na Suíça, na Europa, comprando coisas. E as assinaturas [dessas pessoas] estão lá nos bancos. Portanto, aqui há uma mistura de coisas, mas o Fundo Monetário Internacional quer fazer uma auditoria para identificar as pessoas [responsáveis] e ver as medidas e os governantes já aceitaram isso. Mas há várias vozes contra, mas é esta a forma de incentivar o FMI a voltar a acreditar neste país, que se chama Moçambique. Sobre este assunto, podem até a Europa e os amigos da cooperação internacional sentirem e começarem a entrar em massa, não digo para perdoarem a dívida, [porque] os responsáveis pelas dívidas serão punidos e responsabilizados, mas digo que as empresas europeias e americanas iriam confiar de novo em Moçambique. Tudo isso passa pela paz, só assim se pode incetivar o investimento. Por exemplo, a moeda está desvalorizada porque não há produção. Moçambique sobrevive de mão estendida, não há exportações e por isso a moeda não é forte quando o país é alimentado de fora. É preciso produzir, haver empresas a produzirem, que o turismo, a agricultura, a indústria, pesca etc sejam dinamizados para que, de facto a moeda volte a ganhar o seu valor. Agora, não quero puxar a sardinha para a minha brasa, penso que a solução, em primeiro lugar, é acabar com o conflito armado, haver uma reconciliação nacional. A FRELIMO aceitar que haja instituições do Estado fortes, e não instrumentos do partido FRELIMO, que haja um Estado de Direito e uma alternância governativa. É isso que o mundo quer ver, porque garante os investimentos. Mas se a FRELIMO quiser continuar a andar devagar com a guerra porque tem medo que com a estabilidade no país esses outros podem ser levados para a prisão... porque estão com medo, enquanto existir a guerra eles continuam camuflados, mas estamos a fazer pressão.

DW África: Sob o ponto de vista social que reações espera a médio prazo, principalmente no meio urbano? Acha que as pessoas vão sair a rua ou que se vão acomodar? Porque a dificuldade de acesso a comida e outras coisas é muito grande e crescente...

AD: Não é tão fácil como na Alemanha, França, Portugal ou EUA. É que as instituições em si não incentivam que a sociedade civil possa fazer manifestações, de facto, que pressione o regime. Podem fazer uma marcha silenciosa, mas a manifestação em que se proferem duras palavras não acontecem porque as pessoas sabem que levam tiros, sabem que morrem e ninguém quer morrer. Por isso não acredito que a manifestação seja a solução para o caso de Moçambique. A solução é o fim da guerra para as pessoas começarem a andar e a comercializar produtos nas zonas reconditas e rurais para que estes possam chegar aos centros urbanos e aos poucos a situação irá mudar. Continuo a dizer que Moçambique sem guerra, com boas políticas económicas e com investimentos este país pode ser um dos mais ricos da região da África Austral, porque tem recursos que ainda não foram explorados.

DW África: Há uns tempos falou-se que os comboios da Vale eram usados para transportar armas das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e que a RENAMO terá intercetado esses comboios e se apoderado das armas. Confirma?

AD: Não chegamos a apoderar, só assustamos um pouco e eles com medo pararam, já não circulam, isso confirmo.

DW África: Mas eles transportavam armas?

AD: Não é fácil ver uma arma ser transportada. Qualquer regime poderia fazer isso, mas seria prejudicial. Os comboios dos brasileiros que carregam carvão de Moatize quer para o porto de Nacala quer para a Beira, [podem] fazer isso. Porque isso dá mais força ao regime para continuar com a guerra porque pensa que tem aliados que carregam material nos comboios. Aí a RENAMO não perdoou e assustou um pouco e os comboios pararam, já nem estão se quer a carregar os camiões, só um ou outro.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

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