quinta-feira, 16 de março de 2017

PORTUGAL NÃO TEM “NENHUMA POSSIBILIDADE” DE SUSTENTAR A DÍVIDA


O economista Francisco Louçã disse hoje que Portugal "não tem nenhuma possibilidade de sustentar os juros da dívida", se a mesma não for reestruturada, estando a ser exigido o que nenhum outro país europeu alguma vez conseguiu.

"Portugal está hoje numa situação que não tem sentido, porque não tem nenhuma possibilidade de sustentar os juros da dívida. Estão a pedir a Portugal que responda à dívida que foi acumulada pelo aumento dos juros, com uma política que nenhum outro país conseguiu fazer", afirmou o antigo coordenador do Bloco de Esquerda

Louçã falava na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda sobre "Os riscos da economia portuguesa e os remédios possíveis", tendo considerado a dívida e o sistema financeiro os dois grandes riscos para a economia portuguesa.

Quanto à primeira, sublinhou que "não há nenhuma economia europeia, nem a grega, que tenha um pagamento de juros tão importante na escala do seu produto" como a portuguesa e que, para chegar a uma dívida de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) como obrigam os tratados, teria de ter todos os anos um 'superavit' primário (excedente das receitas dos impostos sobre as despesas do Estado) a um nível que nem a Alemanha conseguiu manter, no espaço de 15 anos.

"Nenhuma empresa aceita um juro acima daquilo que consegue produzir", ilustrou o catedrático de economia e membro do Conselho Consultivo do Banco de Portugal na palestra em Águeda, um concelho fortemente industrializado, defendendo que os juros devem ser adequados ao crescimento da economia.

"Se o juro da dívida não fosse de 3,5% ou 4%, mas sim de 1%, o que o Banco Central Europeu pode aceitar sem qualquer dificuldade, Portugal reduziria a dívida em cerca de 40% do seu produto [interno bruto]", concretizou.

Sobre o sistema financeiro, Francisco Louçã disse ter um problema particular: "O sistema bancário que opera na nossa economia, com a aquisição do Novo Banco por um fundo norte-americano, passa a ter apenas 25% de capital detido por nacionais".

Explicou que não é por uma posição de princípio contra os estrangeiros, mas que o problema está no facto de os bancos, ao criar crédito, ficarem com conhecimento estratégico, que pode ser determinante na disputa do mercado globalizado pelas empresas nacionais.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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