sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

TRUMP FACE À VERTIGEM DO PODER



A inauguração da administração republicana de Donald Trump traz muitas interrogações e muitas inquietudes para o povo estado-unidense como para os povos do resto do mundo:

Se nos Estados Unidos é por demais evidente a vulnerabilidade e a distorção da democracia dita“representativa” ao ponto do futuro presidente não conceder conferências ou entrevistas aos “media de referência”, para o resto do mundo, as práticas permanentes de conspiração têm sido dolorosamente sentidas na continuidade do trauma maior que foi a IIª Guerra Mundial, que também foi travada em nome da democracia face ao nazismo, ao fascismo e à barbárie das potências do eixo.

Afirmando-se como potência militar global e polícia do mundo, na sequência do assalto à América que advém da origem dos Estados Unidos e da chegada das culturas europeias àquele continente, com a expansão e a formação do império, o monstro capitalista neoliberal que se gerou a partir do início da década de 90 do século passado, por experiência própria sabe que as ingerências utilizando a força, mesmo que seja protagonizada por terceiros em seu nome (como por exemplo o choque neoliberal protagonizado por Savimbi com a “somalização” de Angola entre 1992 e 2002), pode ser contraproducente, pois acarreta elevados custos, pode-se tornar contraditória aos interesses dominantes, pode mesmo conduzir à derrota no campo de batalha, como aconteceu no Vietname, mas também em Angola quando a 11 de Novembro de 1975 o país e os seus aliados progressistas e revolucionários, conseguiu chegar à independência.

A “somalização de Angola” por via dos “diamantes de sangue”, numa sucessão de guerras que dilaceraram África no final do século passado, foi tão contraproducente para o cartel dos diamantes, componente histórico da aristocracia financeira mundial desde o início da revolução industrial, que agora há que “baralhar os dados e dar de novo” de tal forma que, até a própria família Oppenheimer tem de alterar drasticamente o sentido de sua acção e de sua vida.

Como a actual Constituição angolana resultou da vitória de Angola face ao choque neoliberal de então, com a integração dos próprios salvados provenientes dos múltiplos campos de batalha, agora é necessário para o império utilizar o “soft power” (pelo menos numa fase inicial duma nova subversão), a fim de fazer prevalecer sua vontade mascarada de democracia e abrir caminho aos poderes daqueles que darão muito mais força aos abutres que vêm a África, enquanto corpo inerte, depenicar o seu pedaço!

Então a ingerência e a manipulação no que a Angola diz respeito, mas em conformidade com as ementas experimentadas em dezenas de países nas mais diversas paragens (dos Balcãs e da Ucrânia, ao Cáucaso, à Rússia de Boris Yeltsin, à América Latina e a África, passando pela nevrálgica região do Médio Oriente), tornou-se na evidência em relação à qual haveria de tomar partido em termos de “soft power” e a doutrina de Gene Sharp suprime algumas dificuldades perante isso em estrito benefício dos interesses dominantes dos 1% sobre o resto da humanidade…

Disse algumas dificuldades, pois ela pode em alguns casos ter êxito nas praças públicas, na tomada de edifícios, no terremoto humano que altera uma Constituição, mas no “the day after”, a primeira coisa a morrer pode ser o próprio plano e perspectiva dessa doutrina e é assim que se tem instalado o terrorismo e o caos, abrindo-se a questão doutrinária à oportunidade dos fundamentalistas do império e dos seus mais repugnantes vassalos, por via da doutrina dum outro “filósofo” ao serviço da aristocracia financeira mundial, Leo Strauss com a sua “The chaos doctrine”!

A percepção de Naomi Klein, a escritora e jornalista canadiana que tem estudado os impactos capitalistas neoliberais depois do final da chamada Guerra Fria, permite avaliar a íntima relação entre o choque e a terapia neoliberal, de tal forma que o “soft power” é capaz de, a partir dos campos de batalha, instalar os interesses dominantes, sem qualquer resistência mais ao jugo que a aristocracia financeira mundial vai impor, particularmente no que diz respeito aos interesses corporativos privados, num processo que todavia começa a revelar-se como um abissal corrosivo para as vertigens de poder hegemónico unipolar.

Donald Trump que tudo indica está disposto a combater o Estado islâmico, vai ter de avaliar quanto a doutrina de Gene Sharp abre, afinal de contas, caminho à doutrina de Leo Strauss e com isso introduz caos e terrorismo num processo em escalada de intensidade que se expande neste momento a quatro continentes e aos próprios Estados Unidos.

A paz no seguimento do choque neoliberal, tem de estar animada duma outra coerência, senão ela esvai-se perante os primeiros infortúnios, como acontece em Angola.

Mesmo que houvessem alguns a caírem na ilusão dos “jogos africanos” como (a título de mero exemplo) os propiciados por um homem de mão do Le Cercle como Jaime Nogueira Pinto, identificado com o CDS português e com algumas dos “generantes” (híbridos de generais comerciantes) angolanos, esses oficiais foram solidários nos campos de batalha a muitos outros que perseveraram no seu patriotismo resistente e estão por patriotismo prontos a conceder-lhes a oportunidade para encontrar a luz no fundo do túnel para onde foram atraídos pelo “soft power”, lembrando que além do mais são eles que se encontram, entre outros, acusados pelos instrumentos fantoches ao nível dum Rafael Marques de Morais!

A contradição dialética da resistência angolana, por muito empobrecida que ela esteja, por muito traumatizada pelo processo histórico que ela esteja, estende a mão àqueles camaradas seus dos campos de batalha, que não perceberam a tempo a armadilha que se estendia com a oportunidade da terapia neoliberal e com a contradição manipulada e de ingerência segundo as doutrinas de Gene Sharp e Leo Strauss, elas próprias também conducentes às vertigens de poder…

Donald Trump sabe que os expedientes de Gene Sharp e Leo Strauss são já impraticáveis pela sua natureza, até por que além do mais os recursos do planeta Terra são já diminutos face à voracidade do “sistema” que os seus antecessores representaram, entre eles Barack Hussein Obama e os Clinton… e com custos cada vez mais elevados na tentativa de levar por diante seu maquiavelismo sem limites, tão arriscado que não acautela sequer os “efeitos boomerang” capazes de romper os intestinos sócio-políticos do poder nos Estados Unidos!

Sabe por outro lado, com todas as evidências, que o “soft power” da República Popular da China nos seus relacionamentos com os países mais pobres, os da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, está já em vantagem em relação à bateria de instrumentos do império e dos seus mais directos vassalos e vai ser necessário repensar tudo, refazer tudo, buscando outro caudal de respostas, que afinal até parece irem no sentido duma harmonia universal, algo que Angola tem protagonizado sobretudo desde 2002, a nível interno e nos seus relacionamentos internacionais.

Trump, tendo em atenção o seu próprio programa, procurará não cair no abismo típico das vertigens de poder, onde se sentaram os seus antecessores, procurando cultivar um outro carácter de domínio, tendo em conta o balanço entre os ganhos e as perdas de hoje!

No ano de 2017 Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos e em Angola há eleições que correspondem a uma Constituição dum estado que foi reconhecido internacionalmente, reconhecido até pelos Estados Unidos após tantas experiências reciprocamente traumatizantes e especialmente traumatizantes para o povo angolano.

Esperemos que Donald Trump não insista na aposta em cavalos mortos que advêm das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”, no que em relação ao mundo e a Angola diz respeito, nem sequer nas franjas de oposição indecisas em relação à Constituição angolana e sempre à espera duma oportunidade para um outro alinhamento lesa-pátria!

Ele tem tanto que fazer, que seria muito estúpido de sua parte insuflar a quente o maquiavélico balão das ninharias que afinal já rebentou entre bolhas de toda a ordem e fez cair os navegantes anteriores, na queda da mais miserável das barquinhas do poder. 

Fotos: Donald Trump e dois dos “filósofos” das grandes vertigens.

A consultar:
Como iniciar uma revolução, Gene Sharp – https://www.youtube.com/watch?v=jpPz3liDGZk
Gene Sharp Brazil, como iniciar uma revolução – https://www.youtube.com/watch?v=jqtTc_CMlJg 
Leo Straus, por Élcio Verçosa Filho – https://www.youtube.com/watch?v=Uj6-Yrfi6WQ 
As três ondas da Modernidade – https://www.youtube.com/watch?v=kHkCNoGNXz0 

QUANDO A AL-QAEDA VOLTA A SER “ALIADA” DO OCIDENTE




Notável reviravolta: quinze anos após o 11 de Setembro, mídia dos EUA volta a apoiar fundamentalismo islâmico — por vê-lo, na Síria, como tropa de choque contra a Rússia…

Chris Floyd* – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho e Patrícia Cornils - Imagem: Carlos Latuff

Você é da al Qaeda. Você está sendo apoiado pelos Estados Unidos em sua guerra religiosa para impor um domínio extremista na Síria, mas ainda tem um problema de Relações Públicas: muita gente se lembra daquela história desagradável de tempos atrás, quando você explodiu uns prédios nos EUA. O que se pode fazer?

Bem, primeiro você muda duas ou três vezes o nome da sua ramificação síria. Garante que seu porta-voz – que aliás é respeitosamente citado na mídia dos EUA… – diga coisas moderadas em inglês, enquanto fala com fúria sectária genocida em árabe. Até aqui, tudo bem. Mas e se os parceiros da mídia dos EUA derem uma espiada em como você opera de fato, na Síria – cortando cabeças, impedindo a entrada de comboios humanitários de alimentos, conspirando com o ISIS, chacinando minorias religiosas, oprimindo as mulheres etc? É fácil: como notou Patrick Cockburn esta semana. Você simplesmente torna as zonas que controla tão perigosas para os repórteres – matando-os, sequestrando-os etc – que eles não vão mais lá. Em vez disso, “reportam” as atividades de longe, contando com você para lhes fornecer informação. Contando a história que você quer que seja contada.

E, num estalar de dedos, aqueles que mataram norte-americanos transformam-se nos mais novos heróis dos Estados Unidos, os bravos defensores da liberdade na Síria. E tem mais. Quem se atrever a apontar a verdadeira natureza de sua organização e como ela opera será denunciado como defensor do regime repugnante de Assad, como admirador de Putin, como traidor! Pense. Outro dia você era o grupo mais odiado na história dos EUA – e agora eles, na mídia e em todo o espectro político, o saúdam como herói e o defendem de todos os ataques!

Claro, você perdeu seu território em Aleppo, onde há anos perseguia sistematicamente as pessoas e as impedia, com violência, de fugir. Mas os Estados Unidos ainda o protegem, Al Qaeda! Mesmo quando você ataca comboios de socorro, em uma tentativa de evitar um acordo de paz que permitiria a qualquer pessoa sair livremente da parte Leste de Aleppo, a mídia americana manipula as manchetes para que ninguém saiba quem fez isso: você.

[E não vamos nos esquecer o que os Estados Unidos têm feito por você no Yemen! Vamos nos lembrar como os houthis levaram você até as cordas, quase livrando o país de sua presença – aí os americanos entraram em cena com seus aliados sauditas, bombardeando tudo, impedindo a entrada de comida e medicamentos, destruindo a infraestrutura básica de sobrevivência, matando milhares de civis e colocando milhões sob o risco de morrer de fome! Então, de repente, vocês voltaram, obtendo grandes vitórias, mais fortes que nunca. Quem poderia desejar um aliado melhor?

Então anime-se, Al Qaeda! Com todo o peso da mídia americana e do establishment político lhe apoiando, você tem bons dias pela frente! Na verdade, o presidente acaba de lhe facilitar a compra de ainda mais armas americanas para continuar sua nobre missão! É apenas nossa maneira de lhe desejar Feliz Natal!

*Chris Floyd é colunista da CounterPunch Magazine. Seu blog, Empire Burlesque, está no link www.chris-floyd.com.

UM PÍFIO FINAL DE MANDATO


Se o ridículo matasse, o sr. Obama já estaria morto. As suas alegações de que a Killary Clinton foi derrotada devido a manobras de hackers russos são hilariantes. 

Além de não apresentar quaisquer provas do que diz ele faz por esquecer que o governo dos EUA já interveio em milhares de eleições no mundo todo (sem mencionar os golpes de estado que patrocinou e as guerras que promoveu). 

A decadência intelectual e política do império americano reflecte-se em figurinhas sem grandeza como o sr. Obama. 

A classe dominante dos EUA tenta armadilhar o novo presidente Trump, envenenando o ambiente. A criação de factos consumados dificilmente reversíveis – como a entrega de mísseis Manpads aos terroristas mercenários que actuam na Síria – faz parte disso.


FARINHA DO MESMO SACO!



A desaparição das minhas páginas no Facebook são o resultado duma minha intervenção sobre a lamúria hipócrita, cínica e ambígua, sobre a pena que mereciam as crianças de Alepo, ao robot-mercenário...

Quer dizer, o assunto não era directamente relacionado com Angola, embora a apanhe por tabela e sendo intempestivo, lembrei que desde a implosão da Jugoslávia, passando por um rol interminável de países, o caos e o terrorismo se haviam disseminado graças à plataforma do golpe suave, que deixava de o ser quando os atributos de Gene Sharp eram substituídos pelos de Leo Straus, ou de Milton Friedman conforme aliás o exemplo do activismo de McCain!...

"De repente", segundo suas próprias palavras, o menino chorava o destino das crianças de Alepo, no preciso momento em que até oficiais da NATO e seus aliados eram descobertos nos buracos do Leste dessa cidade-mártir, esquecendo-se que ao mesmo tempo haviam combates em Mossul, onde também há crianças, ou em Palmira e carros bomba a explodir onde quer que seja, matando inocentes, ou atropelos massivos feitos com camiões onde quer que seja...

"De repente", para além do argumento, coloquei três imagens com cabeças decepadas pelos terroristas do Estado Islâmico, algo que é uma evidência repulsiva que o menino chocado (e ainda no ovo) jamais chorou, a fim de pôr em causa precisamente sua alinhada hipocrisia, seu cinismo e sua ambiguidade!

Ele não deu qualquer resposta, nem na página dele, nem na minha e o facto do Facebook ter procedido conforme o fez, significa o que em termos vulgares denominamos claramente de "FARINHA DO MESMO SACO"!

- Ilustração usada num dos comentários que coloquei na página do Facebook do robot-mercenário Luaty Beirão.


O ANO DO FIM DE… ISABEL


No final de ano de 2016, Isabel dos Santos parecia estar no seu auge. Domina a Sonangol, onde despede a seu bel-prazer, não hesitando em enfrentar os protegidos do outrora todo-poderoso Manuel Vicente; lança cervejas novas; controla a banca angolana; ocupa um lugar de referência na economia portuguesa.

Rui Verde (*)

Os seus braços, como dizia o poeta Camões, todo o mundo abarcam.

Apesar de tudo isso, mesmo não tendo dotes divinatórios nem conhecimentos de astrologia, acreditamos que 2017 marcará o fim do poderio de Isabel dos Santos.

A razão é uma, e afecta todos os ditadores e mitómanos desde a Antiguidade Clássica: o império de Isabel alargou-se demasiado, tem demasiadas frentes de combate, e ela não chega a todo o lado. Não tem generais a apoiá-la, apenas mercenários que, ao primeiro sinal de perigo, a abandonarão.

A necessidade de ocupar directamente a Presidência da Comissão Executiva da Sonangol P&P, a galinha de ovos de ouro do Grupo Sonangol, é um sinal desse fenómeno. Isabel tudo abarca, mas nada aperta, como concluía Camões.

Para se perceber a falta de consistência da actividade de Isabel e o perigo que ela corre, há dois aspectos-chave.

O primeiro é que ninguém acredita na história da venda de ovos. Por todo o mundo, disseminou-se a suspeita de que a sua fortuna tem origem ilegal, muito possivelmente em actos de corrupção e desvio de fundos públicos. Vários livros de referência publicados na esfera anglo-saxónica reflectem essa suspeita: “A Pilhagem de África” de Tom Burgis, ou o mais académico “Corruption and Human Rights Law in Africa” (Corrupção e a Lei sobre os Direitos Humanos em África), de Kolawole Olaniyan, são apenas dois exemplos. Em ambos se assume que Angola é um dos países mais corruptos do planeta. E em ambos se propõe uma tese já antes desenvolvida em terras angolanas por Rafael Marques: a de que a corrupção não é meramente um crime, é o principal obstáculo e causa da pobreza e falta de desenvolvimento em Angola. Quer dizer: a corrupção mata.

Existe, portanto, a nível mundial a percepção de que, por cada milhão de dólares de Isabel, há milhares de crianças angolanas que morrem antes de alcançar a adolescência, e milhares de adultos angolanos que permanecem na pobreza. Por causa desta percepção, levantam-se especiais cautelas ao fazer negócios com Isabel. Quem quer que faça negócios com ela sabe que poderá mais tarde ser acusado de violação das várias leis de direito internacional que condenam a corrupção e o abuso dos direitos humanos.

O segundo aspecto é que, a partir de certo nível de alavancagem financeira, Isabel precisará de outras praças para além da portuguesa, que é uma praça sem liquidez. Terá essencialmente de recorrer a Londres ou a Nova Iorque, mesmo que os seus negócios sejam com chineses ou malteses. E nessas praças será submetida a uma rigorosa due dilligence (avaliação de risco) a que não está habituada em Portugal, nem nas offshores com que habitualmente trabalha.

Dito de outro modo, nem o dinheiro lhe vai aparecer a rodos, nem vai poder movimentá-lo à sua discrição.

Se a nível internacional a margem de manobra de Isabel é cada vez menor, em Angola ela enfrenta uma batalha de duas frentes.

Por um lado, ao atacar a elite angolana representada por Vicente e seus apaniguados, Isabel está a corroer a base de sustentação do regime. Bem pode ela dizer que Vicente e os seus acólitos roubaram a Sonangol, mas a verdade é que, se o fizeram, foi com a conivência do seu pai. Não basta que pronuncie e faça circular acusações. Isabel tem de ser consequente: tem de instaurar uma auditoria forense à gestão anterior da Sonangol e enviar os resultados à Procuradoria-Geral da República. Aliás, já o devia ter feito sob pena de estar a difamar os visados.

Obviamente, qualquer auditoria forense à Sonangol demonstrará que esta foi a principal financiadora de Isabel dos Santos nas suas variadas venturas: GALP em Portugal, compra das acções do BPI ao BCP, lançamento da Unitel. A Sonangol foi o banco de Isabel — com que descaramento pode ela agora aparentar surpresa e indignação?

Por outro lado, Angola está em ano de eleições. E Isabel será uma peça central do processo eleitoral. Também aqui a razão é muito simples. A principal fonte de receitas do país é a Sonangol. Isabel preside à Sonangol. Isabel estará no centro das discussões sobre o futuro e passado recente do país.

Perante todos estes factores, ou Isabel encontra armas para manobrar os poderes financeiros a seu favor, ou tudo aponta para que em 2017 se ponha um fim à oligarquia isabelina em Angola.

(*) Maka Angola, em Folha 8 - Imagem: Folha 8

ATIVISTAS ANGOLANOS VÃO CONHECER QUEM OS APOIOU EM PORTUGAL


A Ordem dos Advogados portuguesa recebeu ontem em Lisboa os activistas Luaty Beirão e José Marcos Mavungo, para lhes agradecer a coragem.A Amnistia Internacional vai realizar durante este mês uma série de sessões por todo o território português com os activistas Luaty Beirão e José Marcos Mavungo, detidos sob acusação de rebelião por organizarem manifestações pacíficas.

O objectivo, adiantou à Lusa o director executivo da Amnistia Internacional em Portugal, Pedro Neto, foi proporcionar aos portugueses a possibilidade de “contactarem de perto com as pessoas pelas quais lutaram e pelas quais trabalharam para que elas alcançassem a liberdade”.

À margem de uma sessão de homenagem aos activistas promovida ontem pela Ordem dos Advogados portuguesa, Pedro Neto acrescentou que as pessoas vão poder “conversar com eles e perceber aquilo por que passaram”.

“É muito importante para percebermos também o poder que uma assinatura tem, que a pressão pública tem e que, quando nos juntamos, conseguimos fazer as coisas acontecer”, disse Pedro Neto.

A partir de sábado, Luaty Beirão e José Marcos Mavungo acompanharão a Amnistia Internacional, em conjunto ou separadamente, em várias sessões, na maioria nas estruturas locais da organização (Coimbra, Leiria, Chaves, Viana do Castelo, Vila Nova de Famalicão, Viseu, Peniche, Oeiras), mas também em duas escolas, em Loulé e São João da Madeira.

Ordem dos Advogados de Portugal recebeu os activistas

A Ordem dos Advogados portuguesa recebeu ontem em Lisboa os activistas Luaty Beirão e José Marcos Mavungo, para lhes agradecer a coragem, e ofereceu apoio ao advogado de Cabinda Arão Bula Tempo, que considera alvo de “perseguição”.

A bastonária da OA, Elina Fraga, que presidiu à sessão, considerou “um privilégio encerrar o mandato” com a recepção aos activistas angolanos, que, colectivamente, a OA distinguiu com a medalha de ouro, em Abril de 2016.

Emocionada, a bastonária, acompanhada por elementos do Conselho Geral da OA, transmitiu “gratidão” aos dois activistas, “que se empenharam na luta por uma sociedade mais justa, mais solidária e mais digna e que o fizeram pondo em risco a sua própria vida”.

Em declarações à Lusa, no final do encontro, a bastonária frisou que “não são eles que têm de estar gratos à Ordem dos Advogados, é a Ordem dos Advogados que tem de estar grata por pessoas como eles lutarem pela liberdade”.

A advocacia “não é só uma profissão, é também uma vocação”, destacou, recordando que os advogados foram sempre “perseguidos” por “serem baluartes de defesa do Estado democrático” e, por isso, “devem estar atentos às violações dos direitos humanos e devem ser sempre a voz mais activa na denúncia dessas violações”.

Durante a sessão, José Marcos Mavungo, activista pelos direitos humanos em Cabinda condenado a seis anos de prisão pelo crime de rebelião, denunciou a “campanha de perseguição” movida pelas autoridades angolanas contra o advogado Arão Bula Tempo, que sofre de problemas de saúde e está sem tratamento médico.

Mavungo foi detido a 14 de Março de 2015, por organizar uma manifestação pacífica contra a violação dos direitos humanos e a má governação em Cabinda que, proibida pelas autoridades, não chegou a realizar-se. No mesmo dia foi detido o advogado Arão Bula Tempo, então presidente do Conselho Provincial da Ordem dos Advogados de Cabinda, libertado dois meses depois, mas impedido até hoje de sair do enclave.

“Está a ser empobrecido à força por defender os mais vulneráveis”, denunciou Luaty Beirão, na mesma sessão com os advogados portugueses.

Ambos os activistas, acompanhados por representantes da Amnistia Internacional, apelaram para que a OA entre em contacto com Arão Bula Tempo e publicite o seu caso.

Em resposta, e apesar de estar em final de mandato, Elina Fraga assegurou que falará do assunto na última reunião do Conselho Geral, no dia 11, e proporá que “a OA disponibilize os meios necessários para que esse advogado possa ser trazido a Portugal e receba os cuidados de saúde de que carece”.

A bastonária recordou que auxílio semelhante foi prestado no passado a advogados perseguidos ou penalizados por defenderem os direitos humanos.

Durante o seu mandato, Elina Fraga apostou “na defesa incondicional dos direitos humanos”, independentemente de “quaisquer interesses”. Confirmando pressões “subliminares”, a bastonária garantiu que a Ordem “não se deixa pressionar” e “é absolutamente independente”, composta por advogados que não deixam “hipotecar” consciências por “quaisquer interesses”.

Nas palavras de agradecimento, Luaty Beirão arriscou dizer que apoiar a causa dos activistas “não tenha sido uma decisão fácil”, mesmo para os advogados portugueses.

Em nome dos 17 activistas que ficaram detidos  mais de um ano, na sequência de uma sessão de leitura, o activista, que passou 36 dias em greve de fome, criticou a falta de apoio da Ordem dos Advogados angolana. “A nossa [Ordem] nem um pio, nem um ai, nem do bastonário, nem de nenhum advogado”, frisou.

Mavungo agradeceu “o empenho institucional” da Ordem portuguesa e denunciou “os tempos de ditadura militar em Angola”. Para o activista, “o único crime” que cometeu foi “pensar diferente”. Em Angola “o Estado de Direito está suspenso” e “os governantes já perderam a noção de justiça e de dignidade humana”, criticou.

Lusa, em Rede Angola

ELETRICIDADE EM ANGOLA. POSITIVO: EXISTE. NEGATIVO: NEM SEMPRE



De Casimiro Pedro o cartoon no Jornal de Angola sobre algo que provém da simbiose perfeita do positivo e do negativo. Positivo, em Angola ou onde quer que seja, é existir eletricidade. Negativo, é não existir sempre porque os cortes de fornecimento daquela energia são frequentes.

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