terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Mário Soares: A ATUAÇÃO DO ESTADISTA NO CONFLITO EM ANGOLA


Soares gostaria de ter ajudado a fomentar uma solução de paz

Não conheci pessoalmente o falecido antigo Chefe de Governo e Presidente português Mário Soares. Todavia, conheci pessoas que com ele privaram muito proximamente e que diziam que muitos de nós, éramos um pouco injustos com ele. A História um dia o dirá.

Como se sabe, Mário Soares, enquanto Ministro dos Governos Provisórios portugueses do pós 25- de Abril, teve um papel activo na descolonização das ex-colónias portuguesas. Tem sido, justa ou injustamente, acusado de ter praticado uma deficiente descolonização. Isso, a História – quando todos os documentos desta matéria forem desclassificados – o dirá.

No que toca a Angola, sabemos que teve sempre um papel um pouco dúbio, quer quanto à descolonização, propriamente dita, talvez porque os protagonistas, ao contrário de Moçambique, não lhe mereciam muito crédito, principalmente, os que gravitavam em torno dos movimentos emancipalistas nacionais; quer quanto, e enquanto líder governativo, no que se referia às relações entre estados e entre membros governativos.

Sabe-se, quem o conhecia bem, que Mário Soares, gostaria de ter ajudado a fomentar uma solução de paz entre os irmãos angolanos desavindos e que dessa solução o País tivesse uma mais rápida e duradoura conciliação e concórdia que lhe permitisse sair da situação de guerra mais cedo e mais cedo ter enveredado por um caminho de desenvolvimento e prosperidade que ainda não temos. Mário Soares via nessa Paz mais rápida uma via para um sistema político mais abrangente e mais distributivo. Uma democracia mais conciliável com o sistema democrático representativo vigente, por exemplo, em Portugal.

Também tentou reconciliar – paradoxalmente, isso só foi conseguido com partidos conservadores portugueses – Portugal e Angola naquilo que ele considerava como sendo – e, com a devida vénia, cito o Africa Monitor, – um “redimir Portugal das graves responsabilidades na má sorte de Angola”. Ora como Agostinho Neto, uma vez afirmou, era mais fácil conversar com a direita portuguesa que com os socialistas – o MPLA é partido-irmão do PS na Internacional Socialista – devido não sofrerem de complexos de neocolonização. E isso era algo que, como me afirmavam, Mário Soares não sofria. Ele via o todo, não particular. Só que um Chefe de Governo, num sistema pluralista, também tem limites nas suas decisões governativas. Elas são de consenso, não de imposição.

Talvez que o seu mandato enquanto Presidente não tenha sido o melhor. Factos externos a isso contribuíram. Mas isso, de certeza, o dossier do Novo Jornal o mostrará.

Esperemos pelos factos históricos que, um dia, nos esclarecerão de tudo o que se passou nas relações entre os nossos dois países. Nós, angolanos, só devemos agradecer se ter imposto a Spínola para que os três D’s (Descolonizar, Democratizar e Desenvolver) do MPF tenham sido levados por diante. Deveria ter sido mais cauteloso, no nosso caso, que tínhamos 3 movimentos de raiz ideológica diferentes? Sim, deveria. E aí também nós já gozaríamos não só do primeiro “D” como dos outros dois. Ainda vamos a tempo para o recordarmos e à sua memória política.

Aguardemos pela História!

Publicado no Novo Jornal, edição 465, de 13 de Janeiro de 2017 (Análise integrada no dossiê dedicado a Mário Soares, ex-presidente português, falecido em 7 de Janeiro passado), página 4 com o título: «Actuação do estadista no conflito em Angola» e sub-título «Soares gostaria de ter ajudado a fomentar uma solução de paz» - ver pdf do artigo publicado aqui .

*Investigador e Pós-Doutorando. 

**Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

TSU BAIXA PARA PATRÕES. QUEM NÃO CHORA NÃO MAMA...


Mário Motta, Lisboa

Nestes dias transatos a novela TSU / Salário Mínimo tem vindo a subir de tom. Para garantir o aumento do salário mínimo o governo cedeu, em sede de Concertação Social, e decidiu baixar a TSU. A choradeira dos patrões e a repetida demonstração das tendências esclavagistas foi tal que o governo de Costa aceitou descer a comparticipação na Taxa Social Única em 1,25 por centro. Patrões “esmifras” são useiros e vezeiros no dar com uma mão e tirar com a outra.

PCP e Bloco discordaram (bem) desde o principio da baixa da TSU para os patrões, fazendo finca-pé no aumento do salário mínimo. Até aqui tudo bem. Faz sentido que PCP e Bloco defendam que não se justifica para o patronato a baixa da TSU. Principalmente para o grande patronato, as grandes empresas. Contudo parece que se esqueceram de aceitar que a baixa da TSU devia só abranger as micro-empresas e (talvez) as médias. Esse debate não foi feito, tanto quanto me foi dado perceber.

Porque assim e porque assado, temos levado os dias a ouvir sobre a TSU. Até que o PSD, na pessoa de Passos Coelho, maioral daquele burgo laranja, disse o que não foi surpresa: concorda com a perspetiva do PCP e do Bloco. O sujeito tem afirmado abertamente que no Parlamento o PSD vai votar contra a descida da TSU implementada pelo governo em Concertação Social. Porquê? Porque sim. Porque Passos Coelho é contra tudo deste governo mesmo que para isso tenha de cair em contradição e afastar-se do que ele mesmo faria (baixar a TSU) se fosse governo. A diferença é que não haveria aumento do salário mínimo.

Nomes sonantes do PSD já vieram a público declarar-se contra a opção tomada por Passos. Parece que Passos afinal está a mostrar à saciedade aquilo que vale como pessoa e como político incoerente: nada. Não é surpresa para os que há tanto tempo dizem e escrevem isso mesmo.

Um PSD de destaque demonstrou hoje que Passos vale exatamente nada. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, promulgou de supetão, em menos de 24 horas o diploma que consagra a baixa da TSU. Ora toma lá, oh Passos!

Também hoje na Assembleia da República governo e partidos políticos debateram a baixa da TSU. Aqui del-rei que os patrões são uns esmifras e patati-patatá… Pois. Compreende-se a coerência do PCP e do Bloco de Esquerda mas facto é que também dá para compreender o governo PS, que acabou por ser coerente e dar mais algum a ganhar aos patrões que depois esbanjam sem consideração pelos que são as suas fontes de enriquecimento, os trabalhadores. Há desses (muitos) e os de sentido contrário. Há ainda os que arrecadam os lucros em paraísos fiscais… impunemente. Os das grandes empresas.

É certo que esta novela da TSU está para durar. Tudo indica que Passos Coelho sairá de cueiros borrados. Contudo o suspense perdurará até que as vacas tussam e nos presenteiem com matéria de origem dos quartos traseiros, umas valentes bostas. Como quem denuncia: “Olhem que os patrões estão a dar com uma mão mas a tirar com a outra”. Sabemos que é sempre assim mas nada melhor que ir alertando. Felizmente que o patronato não tem três ou quatro mãos. Assim roubaria muito mais. Bem, mas por vezes até parece que têm 30 ou 40 mãos… para além daquela que usam para “oferecer” um aumento de miséria, sempre de miséria.

A seguir, duas notícias relacionadas para atualização dos mais distraídos. Abriguem-se, vem aí frio de rachar. Brrrrr!

MM / PG 

Patrões, UGT e Governo assinam acordo para salário mínimo e descida da TSU

Patrões, UGT e Governo assinaram o Compromisso para um Acordo de Médio Prazo, que prevê o aumento do salário mínimo nacional para 557 euros e a descida da Taxa Social Única em 1,25 pontos percentuais.

Em comunicado conjunto, as confederações empregadoras afirmam que "este compromisso prova a responsabilidade dos que o assinaram, acautelando os seus interesses, mas, sobretudo, valorizando objetivos comuns e garantindo estabilidade social".

A UGT, que também assinou o compromisso, reafirma, em comunicado, tratar-se de um "acordo tripartido fundamental".

Presidente da República promulga descida da TSU

Marcelo Rebelo de Sousa promulgou quatro diplomas, entre eles o que prevê a descida da Taxa Social Única paga pelas empresas, como medida excecional e temporária de apoio ao emprego.

De acordo com uma nota divulgada na página da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa promulgou esta terça-feira quatro diplomas, incluindo o "decreto-lei que cria uma medida excecional de apoio ao emprego através da redução da taxa contributiva a cargo da entidade empregadora".

Segundo um comunicado do Conselho de Ministros, este decreto-lei, aprovado por via eletrónica na segunda-feira à noite, "cria uma medida excecional e temporária de apoio ao emprego através da redução da taxa contributiva da Segurança Social a cargo da entidade empregadora".

Lusa / TSF

Portugal. MISÉRIA DA INFORMAÇÃO…


Por motivos profissionais, e não só por razões de cidadania, devo ver todos os dias a informação dos telejornais, em todas as versões.  Mas devo confessar que esta exigência começa a ganhar, para mim, a forma de tortura diária.


“Vêm aí os Relatórios de Polícia”…

E digo porquê. A informação televisiva (falo sobretudo do prime time) está a ficar cada vez mais insuportavelmente tablóide. Cabe lá tudo menos o que é relevante, de efectivo interesse para o cidadão. É o domínio incontestado da categoria do “negativo” em todos os géneros noticiosos. E é um espaço onde ocorre cada vez mais a luta política disfarçada de informação ou de opinião. É um espaço noticioso de uma extensão incompreensível para contar coisas irrelevantes do ponto de vista do interesse público. Já tudo cabe dentro de um telejornal. Até reportagens de 35 minutos, superiores à dimensão de um qualquer telejornal europeu.

Mas ao fim dos primeiros cinco minutos de notícias a reacção começa a ser quase sempre a mesma: “aí vêm os relatórios de polícia!”. À procura de audiência, para a publicidade. Porque o crime (o sexo e a tragédia) compensa, em termos de audiências. Depois, temos os comentadores. O comentário televisivo está colonizado pela classe política (e por papagaios que pouco ou nada têm para dizer). A cidadania está transformada em público espectador de gladiadores políticos. A política transformada em espectáculo, desenvolvendo-se ao mesmo tempo como espaço de conspiração, imperceptível (mas nem sempre) à maioria dos telespectadores.

Um assassinato político em directo

No passado Domingo, tivemos um excepcional exemplo disto mesmo: Luís Marques Mendes a disparar, num ritmo alucinante, como se estivesse movido a Prozac, bazucadas impiedosas contra o seu companheiro de partido Pedro Passos Coelho. Um comentador (interessado) a assassinar, não por negligência, mas de forma premeditada, com arsenal levado directamente para o estúdio, um adversário político interno. Dizem-me que, assim, liquidando PPC, faz um favor a António Costa e a Luís Montenegro… “Sol na eira e chuva no nabal”!

Mas que o púlpito informativo de uma  televisão de sinal aberto esteja ao serviço de lutas partidárias internas perante o grande público parece ser pouco recomendável. Na verdade, trata-se de um palco muito poderoso. Um palco de onde já saiu directamente (dos estúdios para Belém) um Presidente da República. Claro, não foi caso único.

Ronald Reagan já saíra do ecrã cinematográfico directamente para a Presidência USA. Tal como Arnold Schwarzenegger para o governo da Califórnia. Ou o actual (quase) Presidente Trump do Programa televisivo “The Apprentice” para a Casa Branca. Berlusconi saiu da sala de comando de Canale 5, Retequattro e Italia Unodirectamente para Palazzo Chigi, o palácio do governo italiano.

Não há, pois, dúvida de que os estúdios televisivos continuam a ser púlpitos muito poderosos, usados para a luta política e para a conquista do poder. E também em Portugal o que se está a passar merece uma atenção especial. Os “intelectuais orgânicos” do establishment mediático rebelam-se contra essa turba das redes sociais que começa a roubar-lhes definitivamente o monopólio do uso legítimo da comunicação social.

A classe política, por sua vez, ocupa os monitores televisivos sem se sentir também ela instrumentalizada pelos mesmos que lhe dão voz. Estes, por sua vez, não se sentem cúmplices de estar a construir uma “sociedade do espectáculo” governada por uma “democracia do espectáculo” que menoriza gravemente a cidadania.

A informação desliza torrencialmente para o crime e castigo, a violência, a desgraça, os acidentes e as catástrofes ao mesmo tempo que dá palco ao irrelevante em nome daquele género que em linguagem teórica se chama “de interesse humano”. O mundo que corre no monitor è uma farsa que não espelha o mundo real, mas que contribui activamente para o degradar. 

Os códigos éticos e a informação

Desde os finais do século XVII que se fala de “códigos éticos”, de regulação da informação. A Enciclopédia de Diderot e d’Alembert, de meados do século XVIII, já continha um “código” bastante articulado. Em 1910, no Kansas, é formalizado aquele que é considerado como o primeiro código ético. Seguiram-se inúmeros códigos.

O Conselho da Europa, na sua resolução 1003, de 1993, produziu aquele que é talvez o melhor código de sempre (“Ética do Jornalismo”). Os sindicatos de jornalistas têm os seus códigos. Hoje, os grandes jornais têm um livro de estilo com as normas a observar. Sim, é longa e substantiva a história dos códigos como é longa e substantiva essa exigência de tratar a informação como um bem público essencial para a cidadania e não como uma mercadoria subordinada exclusivamente às exigências do proveito financeiro (através da publicidade e sabe-se lá de que favores).

Um país com uma má informação é um país com uma má cidadania e uma má democracia. Mas é disso mesmo que estou a falar. De má informação que alimenta uma má cidadania e uma péssima democracia. De resto, para isto também contribui o próprio posicionamento do establishment mediático como poder e fonte de poder. E que, ao mesmo tempo que desliza torrencialmente para o tabloidismo e para o culto do “negativo” como categoria central do género informativo, se insurge cada vez mais contra a liberdade que desponta na rede e nas redes sociais, onde para aceder ao espaço público já não é necessário pedir autorização aos guardiões do espaço público, a esses “gatekeepers”, a esses “intelectuais orgânicos” dos vários poderes que precisam do espaço público para se afirmar e expandir.

Na verdade, hoje está já a afirmar-se uma forte tendência no campo da informação e da política que prescinde da lógica orgânica e territorial das grandes organizações comunicacionais e políticas. Esta tendência tem hoje já expressão nas redes sociais e em movimentos que se auto-organizam e automobilizam através da rede. Claro, aqui a chamada auto-regulação é mais difícil e exigente, mas a verdade é que se a regulação do establishmentmediático existe há séculos ela, todavia, é cada vez menos praticada ou mesmo assumida, vista a degradante prática informativa a que a cidadania tem vindo a estar sujeita.

Perante isto, não há dúvida de que esta informação acabará por conhecer o mesmo destino que a política tradicional já está a conhecer, vista a crescente literacia comunicacional e política que as novas gerações estão a conquistar num espaço público diferente daquele que hoje ainda pretende deter o monopólio da informação e da comunicação social.

Bem sei que enquanto houver um sofá haverá sempre em frente um televisor. Mas também sei que no sofá adormecemos muitas vezes… E que, como sugeria Goya, “el sueño de la razón produce monstruos”! Mas é precisamente por isso que também eu já prefiro a Rede…


“LEVAR PORTUGAL A SÉRIO”


Ana Alexandra Gonçalves*

Passos Coelho aparece amiúde em frente de um cartaz do PSD que diz a seguinte frase: "Levar Portugal a sério" - uma espécie de lema do partido que é, ao mesmo tempo, uma curiosidade na precisa medida em que ninguém já leva a sério o líder do PSD.

De resto, avolumam-se as vozes críticas direccionadas à actual liderança: Marques Mendes terá sido o último a proferir severas críticas à liderança de Passos Coelho, desta feita a propósito da TSU - uma trapalhada filha do oportunismo.

Já ninguém leva Passos Coelho a sério, sobretudo na qualidade de rei do azedume na oposição. Quando era primeiro-ministro, apesar das inúmeras incongruências, era levado a sério. Afinal de contas era primeiro-ministro, mal ou bem.

Agora, entre diabos e outras entidades, Passos Coelho não tem qualquer credibilidade. Enquanto espera pelo Diabo a credibilidade - a pouca que lhe resta - vai-se-lhe acabando. Mais a mais, quando Passos Coelho cai no oportunismo barato de ir contra a questão da TSU quando ainda há um mês era a favor, tudo com o objectivo de colher dividendos políticos, dá mais uma machadada na credibilidade enquanto denota desespero. Já para não falar dos seus tempos como primeiro-ministro em que se pretendeu reduzir a TSU ao mesmo tempo que se aumentaria a contribuição dos trabalhadores.

O PSD tem como lema levar Portugal a sério, a questão que se coloca é no entanto a seguinte: Como é que se pode pedir para levar Portugal a sério quando ninguém já leva a sério o líder do PSD? 

Ana Alexandra Gonçalves, Triunfo da Razão

A DECLARAÇÃO DE GUERRA DOS NEOCONS CONTRA TRUMP


The Saker

Após várias falsas partidas, os neocons deram agora um passo que só pode ser chamado de declaração de guerra contra Donald Trump. 

Tudo começou com um artigo publicado na CNN com o título "Intel chiefs presented Trump with claims of Russian efforts to compromise him" ("Chefes da inteligência mostraram a Trump alegações de esforços russos para compromete-lo"), o qual afirmava que:

Documentos classificados apresentados na semana passada ao presidente Obama e ao presidente eleito Trump incluíam alegações de que operacionais russos afirmam ter informação pessoal e financeira comprometedora acerca do sr. Trump, contaram à CNN múltiplos responsáveis estado-unidenses com conhecimento directo das sessões informativas. As alegações foram apresentadas numa sinopse de duas páginas que foi acrescentada a um relatório sobre interferência russa na eleição de 2016. As alegações vieram, em parte, de memorandos compilados por um m antigos operacional da inteligência britânica, cujo trabalho passado responsáveis da inteligência dos EUA consideram crível (...) O resumo de duas páginas também incluiu alegações de que durante a campanha houve uma troca de informação contínua entre subordinados e intermediários de Trump com o governo russo, segundo dois responsáveis da segurança nacional.

O sítio web Buzzfeed a seguir publicou o documento completo . Aqui está o seu texto integral:
 https://drive.google.com/file/d/0ByibNV3SiUooOXJxMGMzVk9ndlk/preview

Quando li pela primeira vez o documento minha intenção era desmascará-lo sentença por sentença. Contudo, não tenho tempo para isso e, francamente, não há necessidade. Apenas apresentarei aqui evidências objectivas bastante simples de que se trata de uma falsificação. Aqui estão alguns elementos para comprovar:

1. O documento não tem papel timbrado, nem identificação, nem data, nem nada. Por muito boas razões técnicas e mesmo legais, documentos delicados de inteligência são criados com muita informação de rastreamento e identificação. Exemplo:   um documento assim tipicamente teria uma referência à unidade que o produziu ou uma combinação de numeros-letras indicando a fiabilidade da fonte e da informação que contém.

2. A classificação CONFIDENCIAL/SENSITIVE SOURCE é uma brincadeira. Se isto fosse um documento verdadeiro seu nível de classificação seria muito mais elevado do que "confidencial" e, uma vez que a maior parte dos documentos de inteligência vêm de fontes sensíveis, não há necessidade de especificar isso.

3. A alegação de que "O dossier é controlado pelo porta-voz do Kremlin, PESKOV, directamente sob ordens de PUTIN" está para além do risível. Claramente, o autor desta falsificação não tem ideia de como funcionam os serviços russos de inteligência e segurança (pista:   o porta-voz presidencial não tem envolvimento com nada disso).

4. Na página 2 há esta outra sentença hilariante "explorar a obsessão pessoal e a perversão sexual de TRUMP a fim de obter 'kompromat' (material comprometedor) sobre ele". Ninguém num documento real de inteligência se incomodaria em esclarecer que a palavra "kompromat" tanto em russo como em inglês significa obviamente a combinação das palavras "comprometimento" e "materiais". Qualquer responsável ocidental de inteligência, mesmo um muito júnior, conheceria a palavra, nem que fosse por causa dos muitos livros de espionagem da era da Guerra Fria escritos acerca das armadilhas do KGB.

5. O documento fala da "fonte A", "fonte B" e daí em frente alfabeto abaixo. Agora pergunte-se uma questão simples:   o que acontece depois de a "fonte Z" ser utilizada? Pode qualquer agência de inteligência funcionar com um conjunto de fontes potenciais limitado a 26? Obviamente, não é assim que agências de inteligência classificam suas fontes.

Vou parar aqui e dizer que há ampla evidência de que isto é uma falsificação grosseira produzida por amadores que não têm ideia do que estão a falar.

Isto, no entanto, não torna o documento menos perigoso.

Primeiro, e esta é a parte realmente crucial, há mais do que o suficiente aqui para [obter] o impeachment de Trump sob numerosas bases tanto políticas como legais. Deixem-me repetir isto outra vez – trata-se de uma tentativa de remover Donald Trump da Casa Branca. É um coup d'état político.

Segundo, este documento enlameia toda a gente envolvida:   o próprio Trump, naturalmente, mas também os perversos russos e suas feias técnicas maquiavélicas. Trump é dessa forma "confirmado" como um pervertido sexual que gosta de contratar prostitutas para urinarem sobre ele. Quanto aos russos, eles são basicamente acusados de tentarem recrutar o presidente dos Estados Unidos como agente dos seus serviços de segurança. O que, a propósito, tornaria Trump um traidor.

Terceiro, em apenas uma semana passámos de alegações de "hacking russo" para "ter um traidor sentado na Casa Branca". Só podemos esperar um novo tsunami de tais alegações, a continuarem e ficarem cada vez piores a cada dia. É interessante que Buzzfeed já antecipou (preempted) a acusação de isto ser uma campanha de difamação e demonização contra Trump ao escrever que "Agora BuzzFeed News está a publicar o documento completo de modo a que americanos possam fazer seus próprios juízos quanto a alegações acerca do presidente eleito que têm circulado nos mais altos níveis do governo dos EUA", como se a maior parte dos americanos tivesse perícia para detectar imediatamente que este documento é uma falsificação grosseira!

Quarto, a menos que todos os responsáveis que informaram Trump saiam cá para fora e neguem que esta falsificação fez parte da reunião informativa com Trump, parecerá que este documento tem o imprimatur oficial dos altos responsáveis da inteligência dos EUA, o que lhe daria uma autoridade legal, probatória. Isto significa de facto que os "peritos" avaliaram aquele documento e certificaram-no como "crível" mesmo antes de quaisquer procedimentos legais em tribunal ou, pior, no Congresso. Espero seguramente que Trump tenha tido a precaução de registar em áudio e em vídeo esta reunião com os chefes da inteligência e que ele agora seja capaz de ameaçá-los com acção legal se actuarem de um modo contraditório com o seu comportamento anterior.

Quinto, o facto de a CNN se ter envolvido em tudo isto é um factor crítico. Alguns de nós, incluindo eu próprio, ficámos chocados e enojados quando o Washington Post publicou uma lista de 200 sítios web denunciados por "falsas notícias" e "propaganda russa", mas o que a CNN fez ao lançar este artigo é infinitamente pior:   é uma calúnia (smear) directa e um ataque político ao presidente eleito a uma escala mundial (a BBC e outros já estão a espalhar a mesma sujeira). Isto mais uma vez confirma que as luvas foram deitadas fora e que os siomedia [media sionistas] estão em pleno estado de guerra contra Donald Trump.

Todo o exposto acima confirma o que tenho estado a dizer ao longo das últimas semanas:   se Trump alguma vez entrar na Casa Branca (escrevo "se" porque penso que os neocons são perfeitamente capazes de assassiná-lo), sua primeira prioridade deveria ser implacavelmente tomar medidas severas tão duras quanto legalmente puder contra aqueles no "deep state" estado-unidense (o qual inclui muitíssimo os media) que agora lhe declararam guerra. Lamento dizer, mas será ou ele ou os outros – uma das partes aqui será esmagada.

[Explicação lateral:   àqueles que se perguntam o que quero dizer com "medida de força" ("crackdown") resumirei aqui o que escrevi alhures:   o melhor meio para fazer isto é nomear um director do FBI hiper-leal e determinado e instruí-lo para ir atrás de todos os inimigos de Trump investigando-os sobre acusações de corrupção, abuso de poder, conspiração, obstrução da justiça e todos os outros tipos de comportamento que perduram há muito no Congresso, na comunidade de inteligência, no mundo bancário e nos media. Negociar com os neocons como Putin fez com os oligarcas russos ou como os EUA negociaram com Al Capone – processando-o por evasão fiscal. Não há necessidade de abrir Gulags ou matar pessoas quando se pode apanhá-las a partir dos seus comportamentos diários normais :-)]

Espero sinceramente estar errado e admito que possa estar, mas não tenho o sentimento profundo de que Trump disponha do que é preciso para atingir com dureza suficiente aqueles que estão a utilizar todo e qualquer vergonhoso método imaginável para impedi-lo de entrar na Casa Branca ou tê-lo impedido (impeached) se ele tentar cumprir suas promessas da campanha. Não posso culpá-lo por isso:   o inimigo infiltrou todos os níveis de poder na sociedade dos EUA e há sinal forte de que eles estão representados mesmo no círculo imediato de Trump. Putin pôde fazer isso porque era um responsável de inteligência com vontade de ferro e altamente treinado. Trump é apenas um homem de negócios cujo melhor "treino" para negociar com tais pessoas seria provavelmente a sua exposição ao crime organizado (the mob) em Nova York. Será isto suficiente para permitir que vença os neocons? Duvido, mas tenho esperança de que assim seja.

Como previ antes da eleição , os EUA estão prestes a entrar na pior crise da sua história. Estamos a entrar em tempos extraordinariamente perigosos. Se o perigo de uma guerra termonuclear entre a Rússia e os EUA recuou dramaticamente com a eleição de Trump, a guerra total dos neocons contra Trump coloca os Estados Unidos num risco muito grave, incluindo o de guerra civil (se o Congresso controlado pelos neocon impedisse Trump acredito que levantamentos espontâneos aconteceriam, especialmente no Sul e particularmente na Florida e no Texas). Com o risco de soar excessivo, direi que o que está a acontecer agora está a colocar em perigo a própria existência dos Estados Unidos quase sem ter em conta o que Trump fará pessoalmente. Seja o que for que possamos pensar de Trump como pessoa e acerca do seu potencial como presidente, o que é certo é que milhões de patriotas americanos votaram por ele para "limpar o pântano", despedir a plutocracia baseada em Washington e restaurar o que veem como valores americanos fundamentais. Se os neocons conseguirem agora encenar um golpe de estado contra Trump, prevejo que estes milhões de americanos se tornarão violentos para proteger o que encaram como o seu modo de vida, seus valores e seu país. Apesar da imagem que Hollywood gosta de apresentá-los, a maior parte dos americanos é constituída por pessoas pacíficas e não violentas, mas se forem demasiado pressionados não hesitarão em tomar suas armas para defender-se, especialmente se perderem todas as esperanças na sua democracia.

Não estou a falar só de labregos portadores de armas, estou a falar acerca de autoridades locais, estaduais e municipais, que muitas vezes se importam mais com o que os seus eleitores locais pensam e dizem do que os que estão lá em cima em Washington. Se um golpe for encenado contra Trump e algum imitador de presidente à la Hillary ou McCain der a ordem à Guarda Nacional ou mesmo ao US Army para sufocar uma insurreição local, poderíamos assistir ao que vimos na Rússia em 1991:   uma recusa categórica dos serviços de segurança a disparar sobre o seu próprio povo. Este é o perigo maior e final para os neocons:   o risco de darem ordens para suprimir a população e a polícia, os serviços de segurança e militares simplesmente se recusarem a actuar. Se isto pôde acontecer no "país controlado pelo KGB" (para utilizar um cliché da Guerra Fria) também pode acontecer nos EUA.

Espero estar errado e que este ataque mais recente contra Trump seja o último "hurra" neocon antes de eles finalmente desistirem e abandonarem. Espero que tudo o que está acima seja a minha paranóia a falar. Mas, como eles dizem, "só porque você está paranóico isso não significa que eles não estejam no seu encalço".

Digam-me por favor que estou errado! 

Ver também: 
  4Chan déclare avoir fabriqué de toute pièce le rapport anti-Trump (Canal 4 declara ter fabricado inteiramente o relatório anti-Trump) 

O original encontra-se em http://thesaker.is/the-neocons-declaration-of-war-against-trump/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

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