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EXERCÍCIO ALCORA, ANTÓNIO MONTEIRO E JORGE JARDIM
Martinho Júnior | Luanda
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– No que toca a Angola, a persistência do etno nacionalismo, bem definido pelo
historiador René Pélissier, chegou também a confundir até alguns socialistas,
como a espaços a URSS, ou a República Popular da China, sobretudo desde a
altura em que a República Popular da China cindiu o campo progressista, mas a
legitimidade da luta armada por parte do Movimento de Libertação acabou por
prevalecer, ancorada ao Movimento dos Não Alinhados, com a contribuição do
internacionalismo cubano inaugurado pelo Che a 2 de Janeiro de 1965 e apesar de
em Angola o MPLA ter revoltas como a “Revolta Activa”, ou a “Revolta
do Leste”, precisamente entre 1972 e 1974, qualquer delas na esteira aliás de
doutrinamentos e acções deliberadas em função de inteligências que sabiam que as
aspirações angolanas poderiam ir muito para além das expectativas de manter a
identidade angolana amarrada, de qualquer modo amarrada, aos interesses que
representavam.
Essa
dificuldade persistiu quando foi necessário entender as razões profundas (inclusive
nos seus enlaces histórico-antropológicos-sociológicos) do surgimento das
correntes “nitistas” dentro do MPLA, que em Lusaka, sob a capa de
defenderem a linha marxista-leninista do Presidente Agostinho Neto, por aquilo
que resultou de sua acção mais tarde, estavam de facto a contribuir para
eliminar um potencial concorrente que o “apartheid” e os sectores
portugueses ligados a entidades governamentais de após 25 de Novembro de 1975
haveriam de manipular (Daniel Chipenda), para ganhar espaço de manobra interno
e a nível internacional, conforme se pode comprovar pelo carácter de sua
trágica trajectória, hoje aproveitada com todo o oportunismo em Portugal ligado
aos circuitos do Bilderberg, da NATO e dos serviços de inteligência dos Estados
Unidos.
A
incessante preocupação pela unidade e coesão em busca de identidade nacional
dentro do MPLA, com conceitos aplicados no terreno durante a luta armada
fazendo prevalecer o interior sobre o exterior, foi uma das contramedidas mais
importantes para fazer face à desestabilização que trazia sempre o sinal de
inteligências retrógradas implantadas ao derredor, quantas vezes por via de
tendências etno nacionalistas internas (divisionismo, tribalismo, regionalismo
e racismo).
Essas
tendências foram sempre estimuladas em Kinshasa e Lusaka, no exterior (um pouco
menos em Brazzaville) e também nos corelacionamentos tendo como alvo a Iª
Região Política Militar do MPLA, que sob cerco e acossamento das autoridades
coloniais portuguesas (PIDE/DGS, Forças Armadas Portugueses, autoridades
administrativas e o sistema de agentes barricado nas fazendas de café e no
comércio) sempre procuravam que FNLA e MPLA se defrontassem enquanto inimigos,
enquanto faziam tudo para infiltrar suas bolsas de resistência “no
terreno”.