domingo, 18 de junho de 2017

PEDROGÃO GRANDE | A DOR IMOBILIZA. O QUE NOS MOBILIZARÁ?





O que faremos com a dor e com a revolta? Esta sirene está a tocar há muito, escreve Pedro Santos Guerreiro

Pedro Santos Guerreiro | Expresso | opinião

Entre o choque e a dor mora a revolta. Contra quem, contra o quê, contra um raio numa trovoada seca? Já é tarde e ainda é cedo, enquanto se contam cadáveres não é consolo pedir cabeças, é só mesmo revolta, esse instinto humano de pedir consequência à causa. Mas que causa foi a deste fim de primavera que possa não ser de novo causa no verão? Neste verão, nos próximos? Façamos desta revolta uma conversa longa, não um grito espasmódico que morra no eco que deslize nas montanhas ardidas.

Seis dezenas de mortes contadas em 24 horas. Comparamos porque precisamos de escala e constatamos que esta é a maior mortandade sabe-se lá em quantas décadas. Maior que outros fogos fatídicos, maior que quase todos os ataques terroristas recentes na Europa, maior que a tragédia de Entre-os-Rios. Entre os fogos dá-nos esta raiva de nos parecer que todos os anos marchamos sobre uma cadência de piras e de compromissos políticos de mais dinheiro, de mais leis, de mais homens, de mais prevenção, de mais daquilo que é sempre de menos. A dor imobiliza. O que nos mobilizará?

A dor, a dor… a dor há de dispensar-nos com o tempo da tristeza, a nós que vemos de fora, mesmo que estejamos todos de olhos postos na calamidade pelas imagens da televisão, dos drones, dos telemóveis, dos fotógrafos, mesmo que ouçamos todos os relatos, relatórios, comentários, mesmo que estejamos a ler todas as notícias e nas reportagens escritas sintamos a catástrofe contada pelos olhos dos repórteres. Ter os olhos abertos serve para ver e tentar compreender. Ter os olhos abertos serve para não termos de fechar os olhos e confrontar uma dor maior: a reportagem que cada um de nós de consegue para si mesmo fazer ao imaginar aqueles automóveis sitiados entre chamas numa estrada entre pinheiros, chocando uns contra os outros em pânico pela fuga, com aqueles que dali a nada morrerão carbonizados gritando por socorro, por desespero, por Deus, pela mãe, pelos filhos, por si, pela vida, pela vida final que verte pelos olhos a única esperança de água, as minúsculas lágrimas com o núcleo de cada vida comida pela labaredas infernais. Aqueles gritos que não ouvimos não nos saem da cabeça, não hoje, não agora, e que exista um Deus que os tenha ouvido para que algures as lápides tenham epitáfio.

Já é tarde, sim, já tarde para evitar, é cedo para responsabilizar e é ainda hora de salvar, é ainda hora de apagar. De apagar os focos de incêndio que ainda lavram. Mas não de apagar da nossa história futura a dor que nas famílias sobrevivas matou alguma coisa para sempre. A mesma pergunta: o que nos mobilizará? Haverá responsabilidades políticas mas até a cabeça de uma ministra é um pesa-papéis nesta história passada. As nossas cabeças, quanto pesam no futuro?

A informação disponível 24 horas depois revela uma conjugação fatídica de fatores naturais. De ordem climatérica imprevisível, dizem as autoridades ao país. De ordem climática previsível, explica Manuel Carvalho no Público: o aquecimento global provocará cada vez mais primaveras que parecem verões e verões que parecem infernos. Não parecemos ter consciência disso, porque nos parece lento e não estamos no futuro que anunciam. Só que estamos. E a nossa consciência coletiva deve verter-se em força de pressão social, para que os tratados de Paris não se encenem como guerras diplomáticas adiáveis e os esforços de combate e prevenção não sejam promessas em parágrafos finais.

E por isso sim, mesmo antes de sabermos se aquela estrada da morte devia ter sido encerrada mais cedo, sabemos já que são necessários mais meios de combate num país que tem helicópteros em terra por falta de dinheiro para os reparar. Mas ninguém tem dúvidas de que é na prevenção que está a ação. Na limpeza das matas, no desbloqueamento de vias de acesso, na criação de corredores corta-fogo, nos pontos de observação, na educação mínima para que não se deitem foguetes, não se façam fogueiras, não se deitem cigarros para a caruma. É preciso uma ASAE para as florestas, que force no inverno o cumprimento das leis escritas no fim de cada verão, que varra o país de lés-a-lés com ações de inspeção, multas, expropriações se necessário, que se financie o cuidado com as florestas, que haja tolerância zero, que façamos dos fogos de verão mais do que desamores de verão, que desenterremos da areia as preocupações dissolvidas às primeiras chuvas.

Depois da dor, depois do choque, depois do arquivamento, aí sim precisamos da revolta, da revolta cívica coletiva esclarecida e informada e de civismo individual, da tenaz persistente sobre a política e sobre o envolvimento coletivo em tantas frentes para que não sejam demais e se atropelam nem de menos e não se interpelem.

É como se já não houvesse vida aqui”, lá onde o fogo matou. É justo que nos condoamos, que exijamos responsabilidades e até culpados, que respeitemos aqueles que morreram e nos enlutemos por aqueles que os perderam, que choremos com a Lacrimosa de Mozart (“dia de lágrimas, aquele”), clamemos com o Confutatis (“lançados às chamas devoradoras”) ou nos iremos com o Dies Irae (“dia de ira, aquele dia”). Mas nós também temos um papel, o papel da exigência e da pressão coletiva, um papel que só arde se aceitarmos a desistência de que a força de uma sociedade é nenhuma, se preferimos o clamor nas tragédias ao clarim da convocatória. Esta sirene está a tocar há muito, ouçamo-la, o estrídulo do seu grito só tocará se nos tocar a nós, mobilizemo-nos nós, mobilizemo-nos, mobilizemo-nos nós.

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Paspalho e bruto, presidente dos EUA tem um único objetivo: manter-se no poder. A tragédia é que os “representantes do povo”, no mundo todo, pensam quase sempre do mesmo modo

Immanuel Wallerstein | Outras Palavras

Nos círculos familiares e de amigos pelos quais me movo, não acredito que haja alguém que votou em Donald Trump. Isso provavelmente também ocorre com a maior parte dos profissionais de classe média nos Estados Unidos. Além disso, um enorme percentual, entre estes gurupos, está obcecado com Trump e muito ansioso para que ele deixe de ser seu presidente.

Pedem-me com frequência que preveja por quanto tempo ele pode sobreviver no posto. Minha resposta padrão é: de dois dias a oito anos. Isso nunca satisfaz os interlocutores. Não podem acreditar que seja uma sentença séria. Os que fazem a pergunta veem Trump como uma pessoa “má” e acham difícil acreditar que esta visão não seja compartilhada, larga e crescentemente, pela maioria da população, incluindo os que votaram em Trump.

Para os que me questionam, parece ser uma questão de ideologia e ou moralidade. Se os outros não veem a realidade assim (pelo menos ainda), deve ser porque são mal ou insuficientemente informados sobre aquilo em que Trump acredita e como ele age. Pode-se tirar disso duas possíveis conclusões. A otimista é que a luz, ao final, iluminará os ignorantes e Trump será derrubado. A pessimita é que nada mais pode mudar as atitudes da maioria, e portanto não há esperanças.

Acredito que esta forma de enxergar o tema está muito errada. Trump não é um ideólogo. Sim, ele tem uma agenda que perseguirá com o máximo de sua habilidade. Mas a agenda é absolutamente secundária em relação a sua maior prioridade, que é permancer presidente dos Estados Unidos – uma posição que, para ele, equivale a ser o indivíduo mais poderoso do mundo. Ele fará qualquer coisa para permancer neste lugar – inclusive sacrificar qualquer parte de sua agenda, temporária ou permanentemente.

Ele tem extremo orgulho de ser presidente dos EUA. Como disse a um repóter, ele deve estar fazendo algo correto, já que é o presidente e o repórter, não. Ele considera-se validado por estar no posto. Busca aplausos nos outros e esbanja aplausos em si mesmo. Diz que é o melhor presidente que os Estados Unidos tiveram e provavelmente terão.

Mas por que digo que Trump permanecerá no posto de dois dias a oito anos? Porque ele não é o único cuja prioridade é manter-se no posto. Esta opção é partilhada por quase todos os membros do Congresso dos EUA. Há ao menos duas meneiras de remover um presidente: promover o impeachment ou invocar a 25ª emenda à Constituição, que trata da incapacidade de responder às tarefas da presidência.

O que levaria os membros do Congresso, e especialmente os do Partido Republicano, a buscar a remoção de Trump? Eles precisariam acreditar que manter-se no posto depende, em larga medida, de manter o mandato de Trump ou derrubá-lo.

A escolha é clara. O que não lhes parece claro até o momento é que opção os favorece mais. Por isso, oscilam e continuarão a fazê-lo por algum tempo. No momento, não veem vantagem em apoiar as pessoas (quase todas ligadas ao Partido Democrata) que exigem um processo para remover Trump.

Calcular a vantagem relativa das duas opções não é tarefa fácil. É, em grande medida, fazer uma leitura da opinião pública cambiante, algo de dificuldade notória. Os parlamentares leem as pesquisas (mas quais?). Encontram-se, em suas bases, com eleitores (mas quais?). Falam com seus financiadores (mas quais?).

Como em todas as situações relativamente bloqueadas, o bloqueio pode cair com um pequeno acontecimento, inteiramente inesperado, capaz de desencadear outros fatos e provocar, subitamente, uma corrida momentânea a surfar em nova maré. Isso pode ocorrer em dois dias ou nunca, até que Trump termine dois mandatos. É imprevisível. Não tem a ver com ideologia ou agenda. Tem a ver com permanecer no posto, em nome de permancer no posto.

* Immanuel Wallerstein é um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociólogicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site onde publica seus textos (http://www.iwallerstein.com/).

ELEIÇÕES EM FRANÇA | O CAMINHO DA CONSAGRAÇÃO DE MACRON ACONTECE HOJE



O partido apoiante do novo presidente deve confirmar o favoritismo da primeira volta de há oito dias mas prevê-se um recorde de abstenção para a segunda volta das legislativas francesas. Primeiras projecções às 20h (Lisboa)

Tudo indica que na segunda volta das eleições legislativas francesas, hoje disputadas, o movimento República em Marcha (REM), criado há 16 meses pelo novo presidente Emmanuel Macron, confirme uma larguíssima maioria de lugares (mais 400 lugares em 577) na nova Assembleia Nacional. Para tal basta-lhe manter votações ao nível dos 32,2% da primeira volta e o sistema eleitoral francês uninominal (não proporcional) fará o resto, transformando um terço dos votos expressos em três quartos dos mandatos no parlamento.

Às 19.00 de Lisboa (20.00 francesas) as urnas fecharão e surgirão de imediato as primeiras projecções de resultados e da composição definitiva da nova assembleia, prevendo-se que nas três horas seguintes a situação fique clarificada, com os resultados definitivos a substituírem as previsões.

Uma das tendências desta segunda volta que desde já é possível antecipar é uma previsível subida da abstenção para valores nunca antes atingidos e que poderão chegar aos 53%, superando os 51,29% de 11 de Junho. Nas legislativas francesas há, historicamente, desmobilização da primeira para a segunda volta e ainda mais neste caso em que o desfecho é mais que previsível.

Em 2012 a abstenção fora de 42,78% (à primeira volta) e em 2007 de 39,58%. A excepção que confirma a regra foram as legislativas de 1997. O então presidente Jacques Chirac dissolvera a assembleia para forçar uma maioria de direita mas nas duas voltas (25 de Maio e 1 de Junho) foi derrotado pelas listas conjuntas de socialistas e verdes, o que levou a cinco anos de coabitação entre um PR conservador e um primeiro-ministro socialista (Lionel Jospin). Nessa altura a abstenção foi de 32,08% à primeira volta e de 29,03% à segunda.

Um dos atractivos das segundas voltas são os duelos a dois, três ou quatro, já que tem tenha mais de 12,5% à primeira volta é apurado. Expressando a dimensão da derrota do PS nestas legislativas apenas haverá sete duelos a dois entre candidatos do PS e de Os Republicanos (LR, direita). Na maior parte dos duelos estará a REM: 199 contra a LR, 92 contra a Frente Nacional (FN, xenófoba), 61 contra a França Insubmissa (FI, esquerda radical, nesta segunda volta aliada ao PCF) e 43 contra o PS.

As sondagens sugerem que o efeito de distorção da segunda volta, resultante da dificuldade da FN ou da FI fazerem acordos de desistência mútua com os grandes partidos, impeça estes dois partidos de chegar aos limiar dos 15 deputados que confere o estatuto de grupo parlamentar e a projecção política (tempo de debate, agendamento de temas, etc) correspondente. Já o PS deverá conseguir fazê-lo ainda que por escassa margem.

Um das curiosidades desta segunda volta é saber se Marine le Pen (FN) e Jean-Luc Mélenchon (FI) são eleitos, coisa que, segundo as sondagens é quase certa.

Rui Cardoso | Expresso | Imagem: CHRISTOPHE PETIT TESSON / POOL/EPA

FALTA UMA HORA | Tudo a postos para a estreia de Portugal na Taça das Confederações



Portugal vai jogar com fumos negros devido às mortes em Pedrógão Grande, e vai ser efetuado um minuto de silêncio antes do jogo com o México

A seleção portuguesa vai estrear-se na Taça das Confederações, frente ao México, o único ex-campeão em prova e um dos principais adversários na luta pelo apuramento no Grupo A.

Apontado com um dos favoritos à vitória no torneio, Portugal vai apanhar pela frente uma equipa mexicana que está imbatível há quase um ano em jogo oficiais e que já tem praticamente garantido o apuramento para o Mundial 2018. Este será o segundo jogo oficial de sempre entre Portugal e México. O primeiro aconteceu no Mundial 2006, na Alemanha, com triunfo luso por 2-1.

O encontro vai decorrer na Arena Kazan, estádio com capacidade para 45.379 espetadores, que foi inaugurado em 2013 e que é conhecido por ter maior ecrã gigante exterior da Europa.


PORTUGAL A ARDER E DE LUTO | PORTUGUESES A SEREM DEVORADOS PELAS CHAMAS



NÚMERO DE VÍTIMAS AUMENTA PARA 60, DOS FERIDOS GRAVES É DE ESPERAR MAIS VÍTIMAS MORTAIS



A IMPOTÊNCIA, A TRISTEZA E AS SAUDADES, O LAMENTO POR AQUELES QUE PERECERAM

Está a ocorrer desde ontem um fogo dantesco na região de Pedrógão Grande, distrito de Leiria. As atualizações de vítimas vai crescendo de número, principalmente as vítimas mortais. Apresentaremos no PG as atualizações que considerarmos pertinentes para manter um resumo abrangente do que está a acontecer nesta tragédia na zona centro do país. Infelizmente este será o nosso mais triste destaque do dia.

Para as vítimas e para as famílias enlutadas vai todo o nosso sentir e lamento pelas perdas dos seus entes mais queridos. Este sentir triste e impotente que nos invade é justamente alargado a todas as populações afetadas, que são imensas. A vida vai continuar para todos vós, agora repletas das muitas saudades dos amados que pereceram. Estamos convosco em espírito, compatriotas de Pedrogão, Figueiró dos Vinhos e arredores. (PG)





Incêndio em Pedrógão Grande faz 58 mortos e 54 feridos

Aumentou para 58 o número de vítimas mortais, no incêndio em Pedrógão Grande. Secretário de Estado apela às populações "que não tentem ir ver o fogo".

Subiu para 58 o número de vítimas mortais enquanto o número de feridos foi revisto para 54, dos quais oito são bombeiros voluntários, quatro em estado grave, na sequência do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, este sábado.

No balanço feito às 12h00, junto ao posto de comando, o secretário de Estado da Administração Interna Jorge Gomes indicou que existem quatro frentes ativas, duas delas ainda a arder com bastante violência. Outras duas frentes estão, segundo o governante, a ceder perante os esforços dos bombeiros.

Jorge Gomes fez ainda um apelo às populações para que não tentem ir ver o fogo. "Mantenham-se sossegados nas suas casas porque esta tragédia aconteceu também pela curiosidade", adiantou.

Às 11h00, visivelmente emocionado, Jorge Gomes apontou os locais em que estão a ser encontradas as vítimas mortais, na Estrada Nacional 236.1, que faz a ligação ao Itinerário Complementar (IC) 8. "Foram encontradas 30 pessoas em viaturas e 17 fora das viaturas ou nas margens da estrada e em ambiente rural foram encontradas 10 vítimas mortais", disse.

Na Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande está instalado um ponto de acolhimento e de informação onde estão elementos da Segurança Social que prestam "toda a ajuda, apoio e esclarecimentos possíveis".

O secretário de Estado da Administração Interna sublinhou ainda que não há agora nenhuma localidade em risco. Foi também declarado estado de emergência máximo.

António Costa falava esta madrugada, na "maior tragédia humana nos últimos anos" e anunciou reforço de meios para este domingo. Dois Canadair espanhóis vêm ajudar os bombeiros portugueses no combate a este incêndio, a partir das 8h.

De acordo com a Proteção Civil, vão ser ativados oito geradores para colmatar a falta de eletricidade na zona.

Alguns populares foram obrigados a abandonar as suas casas em zonas mais remotas de Pedrógão Grande.

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se ao local do incêndio cerca das 00:40 e, depois de ouvir um ponto da situação, deixou, em primeiro lugar, as condolências às famílias das vítimas.

O chefe de Estado fez também questão de deixar uma palavra de "gratidão e conforto" a todos os que estão envolvidos no combate ao incêndio, dizendo referir-se a bombeiros, Proteção Civil, GNR ou Exército.

O fogo começou nos Escalos Fundeiros, no norte do distrito, e já obrigou ao corte do Itinerário Complementar 8, bastante a sul daquela ignição.

A ausência de eletricidade e de comunicações está a preocupar a população, que, contactada pela Lusa, vê o vento forte a tornar-se adversário no combate às chamas.

TSF  - atualização permanente | Notícias áudio em direto

SURPREENDIDOS DENTRO DOS AUTOMÓVEIS SÃO AINDA A MAIOR PARTE DAS VÍTIMAS, TENTAVAM FUGIR AO FOGO. ALGUNS, EM PÂNICO, SAÍRAM DOS CARROS E OS SEUS CORPOS CALCINADOS FORAM ENCONTRADOS NAS BERMAS DAS ESTRADAS








NÚMERO DE MORTOS EM PEDROGÃO GRANDE SOBE PARA 62. TRÊS DIAS DE LUTO NACIONAL

Especialista diz que incêndio é dos mais graves do mundo

O especialista em incêndios florestais Xavier Viegas revelou hoje que terá sido a "rápida propagação" do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande que conduziu às várias mortes.

O professor universitário acrescentou, ainda, que a falta de limpeza das florestas e da envolvente das casas, bem como as características do terreno, terão contribuído para a extensão deste incêndio com vários focos, apesar de se suspeitar que a causa foi uma trovoada seca.

"Tudo leva a crer que a propagação do fogo foi muito rápida, não tenho a certeza, mas a indicação que tenho é que terá havido vários focos de incêndio, não necessariamente por causa humana, há possibilidade de ter sido causado por uma trovoada seca e, quando isso acontece, pode haver vários focos ao mesmo tempo em diferentes lugares e aí torna-se extremamente difícil controlar todas as situações", explicou à Lusa.

Esta situação aliada à vegetação e ao "estado de secura muto grande" em que se encontra, e a um terreno "muito complicado", como é o circundante do IC8, com ravinas e desfiladeiros muito acentuados, "dá origem a comportamentos do fogo que facilmente surpreendem as pessoas".

Ainda a avaliar a dimensão da tragédia humana, Xavier Viegas adianta já que este é o incêndio "mais importante de que tem conhecimento".

"E, claramente, pela repercussão que está a ter, mesmo a nível internacional, penso que é um dos maiores incêndios, dos mais graves, dos últimos anos na Europa, se não no mundo", até mesmo pelo "número de vítimas, pela rapidez com que se desenvolveu e como estas vítimas foram causadas".

Para o especialista, este acontecimento deveria chamar a atenção para "muita coisa que é preciso fazer no nosso país para melhorar a segurança das pessoas e evitar que este tipo de acidentes ocorra".

Nesse sentido, Xavier Viegas e a sua equipa de investigação que trabalha no problema da segurança das pessoas vão "procurar estudar o mais possível aquilo que aconteceu para retirar destas circunstâncias todas as lições que for possível retirar", procurar "aprender com elas e, se possível, no futuro evitar que este tipo de acidentes ocorram".

Quanto às razões que justifiquem que tantas pessoas tenham sido apanhadas pelo incêndio dentro dos carros no IC8, o investigador reconheceu não saber explicar, até porque ainda não tem os dados todos, mas sublinha que, daquilo que se apercebe, a principal razão é que "tudo se passou muito depressa".

"A experiência que tenho destes terrenos é que o fogo se propaga com muita rapidez: de um momento para o outro. As pessoas podem pensar que estão em segurança, que há condições para passar e podem ser surpreendidas na curva".

Outro aspeto importante é que nem sempre é fácil estar a cortar o acesso (nas estradas) a toda a gente, porque "há pessoas que residem por aqui, há casas por todo o lado e, infelizmente, pode sempre haver gente que de um momento para o outro pega no seu carro e se faz a estrada".

"Como digo, não sei quais as circunstancias aqui, mas ao que julgo saber houve várias outras vítimas para além deste aglomerado que houve aqui num dado ponto da estrada próximo de Castanheira de Pera, mas pode haver pessoas que se metem nos carros e sem as autoridades terem conhecimento", afirmou.

Independentemente da imprevisibilidade que este tipo de incêndios sempre acarreta, há uma série de fatores previsíveis e preveníveis, que passam por limpar as florestas, dar mais condições de proteção às casas, que as pessoas tenham mais cuidado na limpeza da envolvente das casas, para que possam estar seguras, ter indicações de quando podem e não podem, ou não devem, fazer-se à estrada, "porque há circunstancias em que, de facto, não é um meio seguro, quer para bombeiros quer para civis", considerou.

Partindo deste episódio, Xavier Viegas antevê um ano complicado, sobretudo se as condições meteorológicas persistirem, mas sublinhou que as pessoas podem fazer alguma diferença.

"Diria que, infelizmente, estamos no começo do período dos incêndios e não estamos a começar nada bem. Se as condições meteorológicas não mudarem é de esperar que tenhamos este tipo de situações. Agora o que pode e deve mudar é o comportamento das pessoas".

Diário de Notícias | Lusa





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