Petróleo,
principal riqueza nacional. No período de 1985 a 2010, a fuga de capital total
de Angola é estimada em US$ 84 bilhões, aproximadamente 12% do PIB registrado
no período.
As
elites angolanas são corruptas. Mas é nas democracias ocidentais, sob a
supervisão dos operadores do cassino financeiro global, que se mantêm e crescem
as oportunidades para o roubo
David
Sogge | Outras Palavras | Tradução: Isabella Alves Lamas
Angola
é um país da África Subsaariana que vive uma situação paradoxal devido ao
descompasso existente entre seu grande potencial econômico, proveniente
principalmente da alta concentração de recursos minerais, e a miséria humana de
ser um dos países mais desiguais do mundo. A sua história recente é marcada
pela luta de libertação nacional, que teve fim em 1975 quando o país conquistou
a independência de Portugal, seguida por muitos anos de uma sangrenta guerra
civil. Ela opôs o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), guerrilha
que se converteu em partido e está no governo desde então, e a Unita, outro
movimento guerrilheiro, de tendência pró-ocidental e agora principal partido de
oposição. Durante o período de guerra civil, a exploração de diamantes foi
usada como mecanismo de financiamento dos esforços de guerra da UNITA, enquanto
a exploração de petróleo offshore foi usada para financiar o lado do governo. O
período pós-colonial, longe de romper com esse lógica de apropriação, apresenta
importantes elementos de continuidade do saque dos recursos naturais angolanos,
que agora se expressa através de uma “nova” roupagem. Neste artigo, o
investigador David Sogge estabelece com muita clareza a ligação existente entre
o enriquecimento das elites angolanas, o dinheiro proveniente principalmente do
petróleo e a conivência de um sistema de privilégios das elites ocidentais. Uma
peça fundamental para entender os paradoxos tanto da Angola contemporânea
quanto do modus operandi da economia política internacional. (Isabella Alves
Lamas, tradutora)
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“A ocasião faz o ladrão” é um velho ditado. Mas no caso de Angola, enredada no capitalismo globalizado, são os fabricantes das oportunidades offshore que saem impunes com a maior parte do saque.
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“A ocasião faz o ladrão” é um velho ditado. Mas no caso de Angola, enredada no capitalismo globalizado, são os fabricantes das oportunidades offshore que saem impunes com a maior parte do saque.
A
situação: Enriquecidos pelas receitas de exportação e sob o patrocínio e
proteção de um grande homem há muito no poder, membros da camada de elite
angolana asseguram para si privilégios através de autonegociações. Eles se
apropriam da terra e de imóveis dentro e fora da lei e organizam monopólios
comerciais para si mesmos e seus amigos íntimos. O Estado subsidia seus estilos
de vida, fornecendo a eles prioridade no acesso à assistência médica,
escolaridade e outros serviços. Eles saqueiam as riquezas do país e as
canalizam para o exterior e não hesitam em usar a repressão explicita e oculta
para manter o status quo.