sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MAIS UM PASSO NA ESCALADA DA GUERRA


ataque do Pentágono a militares russos na Síria , por intermédio de 13 drones armados, é um passo grave na intensificação da agressão. 

O ataque não teve êxito só devido à perícia dos militares russos, que conseguiram derrubar 12 deles e assumir o controle de um, capturando-o. Mas o que importa registar é que o imperialismo já se atreve a fazer um ataque directo aos militares russos.

É claro que ninguém pode acreditar nas declarações do Pentágono de que os drones teriam sido comprados no "mercado aberto" (até foi utilizado um avião Poseidon da US Navy para guiar os aparelhos) – nem eles esperam que se acredite nessa negação totalmente implausível.

Resistir.info

Descobrir a resposta para uma charada envolta num mistério

Pepe Escobar

A arte de não negociar pode ser o único caminho de saída para o impasse entre os EUA e a Coreia do Norte 

Conversações inter-coreanas de alto nível na aldeia fronteiriça de Panmunjon não só representam um passo vital na diplomacia das Olimpíadas de Inverno como também apresentam uma irresistível oportunidade de um grande passo em frente nas estagnadas discussões das seis partes.

Em agudo contraste com a habitual barragem de tweets, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , disse ao presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que a reunião podia produzir um resultado positivo.

Dentre as possibilidades está que Seul e Pyongyang possam retomar intercâmbios civis. A linha directa entre a Coreia do Sul e do Norte poderia reabrir, juntamente com a Região Industrial conjunta de Kaewong, a qual foi encerrada em 2016.

O potencial para revigorar as conversações marginalizadas das seis partes, envolvendo a China, Rússia, Japão, Coreia do Sul, EUA e Coreia do Norte é outra possibilidade.

Para além das Olimpíadas de Inverno, a feroz divisão entre o Norte e o Sul, naturalmente, não será rompida, muito embora o líder norte-coreano Kim Jong-un tenha enfatizado que o seu país não utilizará o nuclear a menos que "forças hostis" ataquem o seu regime.

Ele parece confiante em que não haverá um ataque nuclear antecipativo dos EUA devido ao dissuasor do Norte. Assim, a pergunta agora é como se posicionará a própria China após as conversações de Panmunjon?

Rumores de que Pequim estava resignada a uma guerra iminente entre Washington e Pyogyang nunca foram críveis. Certamente, uma visão saída do 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, em Outubro último, era que o presidente Xi Jinping protegeria o complexo relacionamento de Pequim com Washington em paralelo com relacionamentos com os principais parceiros comerciais por toda a Ásia.

Mas isso não significa necessariamente abandonar a Coreia do Norte. O imperativo estratégico número um para Pequim é manter o país como uma almofada contra a presença estado-unidense no Nordeste da Ásia. Uma península coreana reunificada, com soldados americanos estacionados na fronteira Nordeste da China, tem de ser impedida a todo custo.

Confrontação directa 

Mas isso também significa impedir qualquer escalada que pudesse levar a uma confrontação directa com os EUA. Assim, é razoável argumentar Xi ter concluído que os negócios com os EUA ultrapassam muito o apoio incondicional ao Norte, o qual não avança interesses de Pequim.

O principal conselheiro chinês, professor Shi Yihong, descreveu de forma notável a Coreia do Norte como uma "bomba relógio", de modo que planos de contingência têm de ser postos em acção. A construção de uma auto-estrada de seis pistas entre Shuangliao, uma cidade em Jilin ocidental, através de Ji'an, uma cidade ao nível de prefeitura na região central de Jiangxi, e junto à fronteira coreana, é significativa.

Ela pode ser interpretada como um mapa rodoviária para proteger o arsenal nuclear do Norte num caso extremo. Isto envolveria a desintegração da dinastia Kim ou um movimento de Pequim para mudar o regime de Pyongyang – algo que tem sido discutido durante anos por think tanks chineses.

Na verdade, tal cenário suspende sugestões de que o Exército Popular de Libertação da China não interferiria mesmo se os EUA lançassem um ataque antecipativo. Oficialmente, contudo, a posição de Pequim é a favor da desnuclearização da península coreana.

Isto iniciaria um mecanismo de "duplo congelamento", permitindo o diálogo entre Washington e Pyongyang. Pequim está agudamente consciente de que conter o programa nuclear do Norte terá um efeito directo sobre o reforço militar do Japão e da Coreia do Sul. A China também está ansiosa por melhorar relações com Seul. 

Desde 1953, existe apenas um frágil armistício na península coreana. E nenhum actor geopolítico tentou alterar o status quo. Afinal de contas, qualquer oscilação geraria uma mudança tectónica no tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia-Pacífico, com consequências imprevisíveis.

Agora, contudo, uma Coreia do Norte nuclear está a mudar a dinâmica quando a competição entre os EUA e a China na região se intensifica juntamente com a inclinação da Rússia para o Leste. A seguir, naturalmente, há o Japão e a Coreia do Sul, duas grandes potências económicas.

Na mesma medida em que o Norte pode temer o impacto do ataque geoeconómico comercial de Pequim sobre o seu próprio mercado interno, não é implausível Kim a olhar para Washington a tentar travar a Nova Estrada da Seda da China, conhecida como a Belt and Road Initiative .

Tal como Trump, Kim pode não ser um leitor fora de série. Mas certamente ele está consciente de como o Pentágono o encara, de que o Pacífico Ocidental, a par do Oceano Índico, é absolutamente estratégico para a contenção da China.

Estudos tais como o de Michael Green, By More Than Providence: Grand Strategy and American Power in the Asia Pacific Since 1783 , deixam claro que os EUA não tolerarão outra potência a estabelecer "hegemonia exclusiva".

Ainda assim, Washington está em prejuízo quando negocia com a Coreia do Norte. A Rússia e a China opõem-se a qualquer solução militar, a qual interferiria com os seus objectivos geopolíticos. Ao mesmo tempo, Pyongyang quer ser aceite como uma potência nuclear e um actor chave no tabuleiro de xadrez da Ásia-Pacífico.

Ataque devastador

Portanto, há apenas três opções em cima da mesa. A primeira é um ataque antecipativo devastador, nuclear assim como por forças de ar e mar. Isto levaria a uma imensa perdas de vida não só no Norte mas também em Seul, a qual estaria ao alcance da artilharia de Kim.

As conversações em Panmunjon são mais uma evidência de que o presidente Moon está a fazer tudo o que pode para impedir uma marcha rumo à guerra.

A segunda opção é aceitar a Coreia do Norte como uma potência nuclear sob estritos controles internacionais dos EUA, China, Rússia, Japão e Coreia do Sul. A desescalada teria de incluir um acordo para congelar o programa nuclear do Norte.

Há sinais de que canais secretos utilizados pelo secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, ainda estão abertos. O improvável resgate de um estado nuclear perigoso, contudo, significaria uma ligeira alteração do status quo. Também daria à China uma enorme vantagem na região.

Finalmente, a terceira opção é admitir que é um problema insolúvel e transformar Kim num actor racional e deixar o Norte manter a sua bomba. O regime de Kim seria então advertido de que qualquer tentativa para utilizá-la resultaria em "fogo e fúria".

Chame-se a isto a arte do não acordo.

09/Janeiro/2018


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Portugal | QUE PENA EU TENHO DO INTERIOR


PSD e CDS andam preocupados com o interior. O sr. Presidente da República também. E o PS não lhes fica atrás. Preocupadíssimos. Preocupados, sobretudo, com as consequências negativas dos incêndios florestais para a sua imagem política, descobriram agora, novamente, o «interior». Descobriram que a desertificação económica e humana de vastas regiões do País é causa de incêndios. E vai daí, é um ver se te avias.

Agostinho Lopes * | opinião

Declarações. Reclamações. Protestos. Preocupações com os dinheiros do Portugal 2020 retirados do interior para aplicar em Lisboa. Projectos de Resolução e de Lei. Todas as propostas do PSD para o OE2018 tinham como considerando justificatório « (…) uma verdadeira política de coesão territorial». O CDS avançou com uma «Comissão para a elaboração do Estatuto Fiscal do Interior». (Se a demagogia pagasse imposto, poder-se-ia reduzir os impostos sobre o capital, no OE para 2018, a zero!). Os choradinhos são infindáveis… Capoulas Santos, ministro da Agricultura em sucessivas encarnações de governos PS, além de considerar que «faria sentido» o Ministério sair de Lisboa, chora compungido: «(…) aquilo que mais me entristece nos últimos anos, fruto de vários governos, foi ter visto o sucessivo desmantelamento do Ministério e particularmente nas zonas onde mais devia estar, que era nos territórios rurais.»(Público, 30NOV17)! Oh! O desmantelador chora o desmantelamento!

E acaba de ser parido, por um ajuntamento do Bloco Central, um novíssimo Movimento pelo Interior que, segundo a imprensa, irá avançar com «seis medidas fortes e radicais com custos contabilizados, para serem concretizados em 12 anos» (!) (JN, 14DEZ17). A iniciativa tem promotores conhecidos, Miguel Cadilhe, Jorge Coelho, Pedro Lourtie, Álvaro Amaro, Rui Santos, entre outros. Sabemos o que lhes pesa na consciência, mas foi pena que não tivessem aproveitado o poder político de que dispuseram para obviar ao que veio a acontecer. O resultado final será, como é das normas de qualquer boa montanha de propaganda, um rato…

A generalidade dos órgãos de comunicação social, dos seus articulistas e comentadores, não fugiu à onda do «interior». Mergulhou de cabeça com a habitual amnésia congénita, muita hipocrisia e superficialidade. Como dá gosto vê-los chorar lágrimas de cebola podre pelo mundo rural e o interior. Não se nomeiam, para não esquecer algum. Por todos, o grito do editorial do Público (23OUT17): «Cuidar do interior é agora ou nunca»! Como eles choram por aquelas populações que não fazem manifestações no Terreiro do Paço… porque as fizeram do Marquês de Pombal até junto da Assembleia da República e de S. Bento inúmeras vezes, e nunca ninguém desta chorosa comunicação social e da sua elite comentadora os enxergou.

Invisível era povo da floresta dos baldios, era povo das Beiras e Trás-os-Montes, do Minho, do Alentejo e Ribatejo, era o povo do mundo rural, das explorações agrícolas familiares mobilizadas pela CNA. Como nunca enxergaram que uma das principais «produções» da política de direita de sucessivos governos era, e é, o «deserto». Como nunca enxergaram as «cassetes» do PCP sobre as desigualdades regionais e o mundo rural. Sacripantas.

Os partidos do arco da desertificação, PS, PSD e CDS

Não há nenhum mistério sobre as causas das assimetrias regionais e a desertificação económica e humana regional. O desenvolvimento desigual é uma lei de ferro e intrínseca do capitalismo. O capitalismo produz desigualdades sociais e no território. Nada que há muito não seja denunciado pelos comunistas. Mas quando prevaleceu o capitalismo neoliberal, as desigualdades explodiram (1). Até porque as políticas, nomeadamente as orçamentais, como sucedeu ao longo dos últimos 40 anos, «desistiram» de as combater e atenuar. Antes as agravaram.

Os partidos do «arco da desertificação», PS, PSD e CDS, gostam muito de falar das «assimetrias regionais» quando chega o tempo das eleições! Depois, essas «preocupações» de pura demagogia eleitoral dissolvem-se rapidamente no necessário «realismo» das políticas para o grande capital, da «internacionalização», da «competitividade», da captação de um dito «investimento estrangeiro»! «Preocupações» que começam pela ausência de qualquer análise séria, fundamentada, rigorosa das causas das assimetrias. Que não fazem, nem podiam fazer, e não por acaso. Fazê-lo significaria PS, PSD e CDS assumirem as responsabilidades de um grave e estrutural problema do País – as desigualdades territoriais – por força das dinâmicas económicas e sociais das suas políticas.

Estes partidos não querem saber das repercussões regionais das suas políticas agrícolas e florestais, das suas políticas industriais e comerciais. Das consequências da PAC, das suas reformas e aplicações. Das políticas de encerramento de escolas e de unidades de saúde. Do trespasse e fecho de postos e estações dos CTT. Do encerramento de delegações da EDP ou do BdP. Do fim de inúmeras agências bancárias. Não querem saber da mobilidade e acessibilidades no interior, nomeadamente dos resultados da sua política ferroviária (?) de encerramento de centenas de quilómetros de linhas férreas. Do encerramento de muitos outros serviços públicos, reduzindo o emprego e empobrecendo as comunidades locais. Das políticas orçamentais restritivas (o Pacto de Estabilidade obriga!) com orçamentos do Estado que nunca corrigem desigualdades. Da subversão e travagem da regionalização, condição necessária mas, certamente, não suficiente para o desenvolvimento regional.

O PSD, depois de, enquanto foi governo, fechar tudo o que ainda mexia nessas regiões, inclusive freguesias, teve ainda a lata de apresentar, já na presente Legislatura (em que é «oposição») o PJL n.º 292/XIII/1.ª que «Cria o Estatuto dos Territórios de Baixa Densidade».

Projecto que, no art.º 27.º se propõe regular «O encerramento de serviços públicos nos territórios de Baixa Densidade»! (Cai o pano com tanta desfaçatez).

Os governos PS não fazem nada de diferente. Depois de muitos programas e planos anteriores, surgiu, em 2008, o PROVERE (nos acrónimos ninguém os bate), Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos, para os «territórios de baixa densidade», que produziu tanto como os anteriores. Tanto, que agora foi produzido e baptizado outro, o PNCT – Plano Nacional de Coesão Territorial. Elaborado por uma dita Unidade de Missão para a Valorização do Interior – uma promessa de António Costa em Bragança nas eleições de 2015 – não vai por melhor caminho. Erra no diagnóstico e propõe um ajuntamento caótico de dezenas de medidas cobradas em diversos ministérios, sem qualquer visão estratégica integral e global e sem programação orçamental. Pior. Sem pôr em causa os eixos centrais das políticas que nos conduziram ao «interior em extinção»! Nomeadamente da política agro-florestal. Nomeadamente na não reprogramação radical do Portugal 2020, revertendo as suas lógicas, critérios e objectivos.

Acrescente-se que a generalidade das propostas apresentadas pelo PCP no quadro da nova situação política após as eleições de 2015, quer no âmbito dos orçamentos de Estado quer noutras matérias como a reversão da extinção de freguesias e as políticas agro-florestais, tem contado com a oposição do PS, PSD e CDS. O mesmo aconteceu com a recusa do Governo PS de uma reconsideração global e radical do PNCT. E se no OE2018 foram aprovadas algumas medidas importantes como o reforço de recursos humanos nos Sapadores Florestais, Guardas Florestais e Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, potenciando a criação de umas centenas de postos de trabalho no interior, um programa de apoio à pastorícia em zonas de montanha e uma reprogramação do PDR 2020, obrigando ao estabelecimento de plafonds mínimos de fundos para projectos nas NUT III de baixa densidade, certo é que muitas outras e significativas medidas foram reprovadas pelo PS e a abstenção do PSD e CDS.

As políticas agro-florestais não dão hipótese ao interior

Há muitas décadas que as políticas agro-florestais de sucessivos governos, sob o alto patrocínio e inspiração da PAC e das suas sucessivas reformas, não dão qualquer hipótese ao interior. Os dados estatísticos demonstram-no. É elucidativo o exemplo de Trás-os-Montes. Alguns dados.

Entre 1989/2009, passou de uma cultura de 25 mil hectares de batata para 11 mil. De 44 mil hectares de centeio para 29 mil! No trigo, a redução de área foi de 2/3. Perdeu quase 2/3 dos bovinos e mais de 50% das cabras. Na vinha, a redução será superior a 20 mil hectares. O olival, o único que apresentava uma evolução favorável (mais 21 mil hectares), deve agora estar em perda face à concorrência impossível do olival tradicional com a olivicultura intensiva do Alentejo. E se alguém perguntar onde estão hoje as vacas leiteiras (redução global de 10 mil cabeças) da Veiga de Chaves, do vale de V. P. de Aguiar e do Planalto Mirandês, podemos informar que estão a pastar na Holanda, Irlanda e Alemanha.

Muitos outros números podiam ser citados. O próximo Recenseamento Agrícola (2019) exibirá uma fotografia mais negra. E atrás da extinção da exploração agrícola, foram-se as pessoas. Trás-os-Montes e Alto Douro perdem, em 30 anos (1981/2011), 100 mil habitantes.

Pode ampliar-se a informação a muitas outras regiões. Por exemplo, entre 1989 e 2013, a Beira Litoral perdeu 2/3 da sua área de vinha e a Beira Interior cerca de 50%.

O que ficou em vez da batata, do centeio, da vinha, do gado? No melhor dos casos, eucalipto. Em geral, silvas e matos. Isto é, pasto para o fogo.

Outro caminho, outras políticas

A situação vivida pelo interior do País, e muito particularmente pelas aldeias, freguesias e concelhos do mundo rural português, tem uma causa: a política de direita. Tem responsáveis políticos: PS, PSD e CDS.

Face a uma situação que nenhum deles se atreve a negar, seria tempo de darem a volta ao texto e apresentarem respostas para este problema crucial da colectividade humana que somos! Basta olhar para as suas propostas eleitorais ou para o que agora, sob a pressão dos incêndios, descobrem e propõem, e constatar que nada de substancial querem mudar!

A correcção das assimetrias regionais exige um leque amplo de políticas integradas e dinamizadas regionalmente. Exige poder regional com a regionalização, e não simulacros de órgãos desconcentrados da Administração Central, pseudolegitimados pelas autarquias ou associações de municípios. Exige orçamentos do Estado apoiados nos fundos comunitários com forte discriminação positiva dos territórios atingidos pela desertificação. Mas fundamentalmente, exige políticas económicas que, no actual quadro capitalista, possam romper com a lógica única de mercado na afectação de recursos materiais e meios humanos, e atenuar significativamente, através de instrumentos económicos, sociais e políticos, as suas consequências mais gravosas.

Exige seguramente outra política agrícola e florestal, a defesa da agricultura familiar e do mundo rural, outra visão para reindustrializar o País e as redes de distribuição comercial e assegurar serviços públicos de qualidade.

Separar a demografia da economia e pensar que se vai lá com incentivos à natalidade, à fixação das pessoas ou uns utópicos projectos de «novos pioneiros» é pura fantasia que rapidamente (como a experiência já demonstrou) frustrará expectativas!

É necessário criar oferta de emprego, emprego estável, bem remunerado e com direitos, e isso só com outras políticas económicas viradas para a actividade produtiva. É sobre esse emprego e economia produtiva que se poderá semear, ancorar e ampliar de forma sustentável outras actividades, nomeadamente de serviços, nomeadamente o turismo! Só assim se dará sustentabilidade a todo o território nacional.

Se não, não se sairá de um ciclo vicioso bem conhecido: menos emprego, migração / emigração, envelhecimento, menos população, diminuição severa da população em idade activa, menos gente para trabalhar, menos consumo, menos investimento, menos serviços públicos, menos actividade económica, e outra vez, menos emprego… fechando-se o ciclo. Após o trágico ano de 2017, os incêndios florestais devem ser, explicitamente, incluídos no ciclo.

Pôr fim a este ciclo vicioso exige novas políticas, e logo, a ruptura com a política de direita, a exigência de uma política patriótica e de esquerda.

As promessas nunca cumpridas

As crónicas da política de direita, responsável pelas assimetrias regionais, e das suas promessas de solução, inclusive da comunicação social dominante que lhe dá cobertura, dão para encher uma biblioteca. Uma breve referência às mais próximas.

Em pleno reinado da troika é debatido, em Setembro de 2011, o PJR n.º 75/XII/1.ª do PSD, que recomendava ao governo a criação e dinamização de um «Plano para a Coesão Territorial no quadro de uma nova estratégia nacional». Com o apoio de todos os partidos, foi transformado na Resolução da Assembleia da República n.º 129/2011 que recomendava ao governo: um «Plano Nacional para a Coesão Territorial (PNCT) (…)» e a «monitorização e avaliação periódica da coesão territorial do País e do impacto na mesma das políticas, programas e grandes projectos públicos (…)», que assegurassem «a transversalidade e integração do princípio da coesão territorial na concepção e execução das políticas públicas (…)», «a coesão territorial como princípio e objectivo essencial da reorganização administrativa (…)» e «a coordenação interministerial na promoção da coesão territorial (…)».

A transcrição é longa, mas dá a medida exacta da dimensão da mentira e demagogia. Nem um só dos objectivos previstos na Resolução foi concretizado. Todas as políticas do governo PSD/CDS, de todos os seus ministérios, trouxeram novos estrangulamentos, novas carências, novos problemas, sem resolver um que seja. Siglas de novas entidades e instrumentos institucionais não faltaram. O pior foi que ao vazio das boas intenções afirmadas nas páginas do Diário da República correspondeu uma brutal política de autêntica guerra contra o território e o interior.

A tudo o que já vinha de trás, dos governos PS e PSD/CDS, se deu continuidade reforçada! Tornaram definitivo o encerramento de troços de via-férrea com circulação apenas suspensa, eliminando simultaneamente as alternativas rodoviárias de substituição. Aplicaram sem dó nem piedade as portagens nas SCUT do interior. Continuaram os encerramentos na saúde e educação. Criaram sérios obstáculos no transporte de doentes. Intensificaram as privatizações e abdicaram de qualquer comando público (Golden Shares) em empresas estratégicas com estruturas em rede no território (EDP, REN, CTT, GALP, ANA, PT). Mas mesmo nas que se mantiveram públicas, como a CP, o governo permitiu-lhes que eliminassem, como «primeiro compromisso social», a garantia da mobilidade de toda a comunidade, independentemente da sua condição económica ou geográfica. E deixou de constar do sítio electrónico da CP que esta operava em 2830 quilómetros de linhas férreas «contribuindo para a coesão territorial do País a preços equitativos»!

Depois, a liquidação de freguesias. Depois, um novo mapa judiciário que, para aproximar a Justiça dos cidadãos, liquidou tribunais, sobretudo nos concelhos do interior! Depois, o projecto de encerramento de 154 Repartições de Finanças, 45% das existentes, que só não avançou porque o povo português não lhes deu mais tempo.

Pelo seu evidente potencial em matéria de correcção de assimetrias no território, pela disponibilidade de investimento público que criam, os fundos comunitários, merecem particular atenção. Mas as lógicas/critérios/objectivos decididos na aplicação dos fundos, a centralização e governamentalização acrescida na sua gestão, a «descoberta» de que o País não já não precisa de infra-estruturas físicas, a focagem quase obsessiva na competitividade empresarial, as restrições no volume de fundos postos à disposição das autarquias e suas associações, terão como resultado que o Portugal 2020, tal como os quatro anteriores Quadros Comunitários de Apoio, vai reproduzir o mapa das desigualdades regionais no País.

*O Diário.info | Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2302, 11.01.2018

PORTUGAL | Sindicato dos Jornalistas denuncia precariedade na Lusa


O Sindicato dos Jornalistas, que reuniu esta quinta-feira com os grupos parlamentares do CDS-PP, PSD e PCP, alertou estes partidos para a «falta de resposta a pedidos de contratações e investimentos» na Agência Lusa.

Segundo um comunicado divulgado após as audiências, os encontros serviram para alertar os grupos parlamentares para a «necessidade de se resolver rapidamente o impacto causado na gestão diária e no funcionamento global da Agência Lusa pela contínua saída – e sucessivamente adiada substituição – de jornalistas do quadro, bem como de correspondentes das redes nacional e internacional».

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas, «a Agência Lusa está refém de uma tutela bicéfala – Cultura e Finanças –, que se traduz em cativações burocráticas e numa persistente falta de resposta a pedidos de contratações e investimentos e resulta, em última instância, no incumprimento do contrato de serviço público».

A estrutura sindical diz temer «que a substituição da actual administração da empresa prolongue ainda mais o atraso na resposta da tutela às necessidades da agência», razão pela qual «espera que essa mudança não se traduza em qualquer impacto sobre o esperado descongelamento das carreiras, devendo este decorrer em moldes idênticos ao de qualquer outra empresa pública», com vista à garantia dos direitos.

Outro dos assuntos abordados nas audiências com os partidos foi «a situação das quatro dezenas de trabalhadores precários que sustentam as redes nacional e internacional da Agência Lusa», nota o Sindicato dos Jornalistas, considerando que é «urgente resolver» estes casos.

De acordo com a estrutura, estes trabalhadores aderiram ao programa de regularização extraordinária dos vínculos precários na Administração Pública (PREVPAP) e aguardam resposta.

O Governo vai nomear o jornalista Nicolau Santos presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa, substituindo Teresa Marques no cargo.

A assembleia-geral de accionistas da Lusa, na qual o Estado tem uma participação de 50,14%, seguido pelo Global Media Group (23,36%) e pela Impresa (22,35%), deverá ocorrer no final de Fevereiro, altura em que Nicolau Santos será nomeado.

AbrilAbril | Com Agência Lusa

ANGOLA | Despedimento de jornalista gera polémica


Jornalista denuncia que foi despedido por tematizar a degradação da cidade do Lubango, província da Huíla, na primeira "entrevista coletiva" do novo Presidente angolano. Rádio 2000, onde o jornalista trabalhava, nega.

O jornalista António Manuel afirma que foi à conferência de imprensa do novo Presidente angolano, na segunda-feira (08.01), em representação da Rádio 2000 - Antena Comercial do Lubango. E aproveitou a ocasião para questionar João Lourenço sobre a requalificação da cidade do Lubango, criticando simultaneamente os baixos salários na estação.

"Fui [à conferência de imprensa em Luanda] com a autorização do diretor da rádio e fiz o meu trabalho. Acho que não tive uma má prestação para chegar ao ponto de perder o meu emprego", afirma António Manuel.

Mas as perguntas colocadas pelo jornalista não teriam sido do agrado da direção da Rádio 2000. No dia seguinte à conferência de imprensa, António Manuel, também conhecido como "Tony Fancy", foi despedido.

"Sou jornalista aqui na rádio há três anos e meio. Nunca gozei férias, nunca faltei ao trabalho e agora sou tratado desta forma deselegante e descortês", acrescenta. "Acredito que são ordens superiores, porque a forma como o comunicado para me afastar da rádio foi feito e à última da hora… Não creio que a direção tenha adotado uma posição meramente administrativa. Acredito mesmo que houve interferência do governo da Huíla."

Rádio 2000 nega

Mas a estação rejeita as acusações do jornalista. Segundo a direção da Rádio 2000, o despedimento aconteceu porque o jornalista violou o contrato e deslocou-se a Luanda sem autorização da empresa.

"Ele é um colaborador da rádio em tempo parcial. Apresenta alguns programas e noticiários. A colaboração é feita com base num acordo de confiança entre as partes. Quando uma delas é beliscada, um dos lados pode decidir rescindir a colaboração", diz o diretor da rádio, José Manuel Rodrigues.

A DW África contactou o governo provincial da Huíla, que preferiu não comentar por ser um "assunto interno" da Rádio 2000.

Anselmo Vieira (Lubango) | Deutsche Welle

Na foto: Jornalista angolano António Manuel

ANGOLA | Jornalistas boicotam cobertura de debates parlamentares

Jornalistas de órgãos privados vão aderir ao apelo de boicote à cobertura de debates parlamentares feito pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos. Eles queixam-se de limitações e maus-tratos por parte do Parlamento.

Aproxima-se a sessão do Parlamento angolano prevista para o dia 18 deste Janeiro, onde será debatido e aprovado na generalidade o primeiro Orçamento Geral do Estado (OGE) da era João Lourenço. Mas, neste dia, os órgãos de comunicação social privados não deverão fazer a cobertura. Esta seria uma forma de protesto contra o que consideram ser humilhações e proibição no acesso à sala onde decorrem os debates.

O diretor do semanário Expansão, Carlos Rosado de Carvalho, diz que na Casa das Leis os jornalistas são tratados como gado e por isso se juntou ao apelo do Sindicato para defender o direito à informação.

E ele conta: "Somos confinados a uma pequena sala, não temos acesso às fontes e, portanto, é uma coisa que é verdadeiramente incrível que não pode continuar."

Carvalho mostra o seu desapontamento: "O que estamos a fazer é uma situação também de recurso, o ideal seria que as coisas fossem resolvidas. Mas efetivamente os serviços de apoio da Assembleia tem tomado uma posição que não deixa outra alternativa aos jornalistas, senão enveredar por esta forma. Em nenhum país democrático acontece isso”.

Parlamento ignora queixas dos jornalistas

O diretor para informação da Radio Comercial Despertar, Queirós Chiluvia, diz que são várias as denúncias e reclamações sobre os maus-tratos contra os jornalistas que a direção da Assembleia Nacional tem ignorado. E por isso diz que não resta outra saída aos profissionais da sua emissora senão o boicote.

E Chiluvia também denuncia que "os profissionais da Rádio Despertar têm sido vítimas de descriminação e humilhação na Assembleia Nacional, órgão que por sinal tem a vocação de aprovar leis."

E ele garante: "E todos os profissionais da Rádio Despertar estão de acordo com esta decisão do Sindicato dos Jornalistas Angolanos”.

Luta

William Tonet, diretor do jornal Folha 8, afirmou que o boicote a próxima sessão do Parlamento será uma luta pelo direito à informação e pela dignidade dos jornalistas.
"Se quisermos liberdade imprensa, liberdade de expressão e transparência, os jornalistas não podem ser tratados como pessoas menores, como profissionais menores, sem qualquer tipo de dignidade. Portanto, a melhor forma é os órgãos não só não comparecerem, como também não reportarem, porque se não formos a defender a nossa classe ninguém o fará por nós”, defende Tonet.

A Radio Ecclesia e o jornal O País são outros órgãos que abraçaram o apelo do Sindicato para o boicote. A DW África contactou os responsáveis de informação da Televisão Pública de Angola (TPA) e da Rádio Nacional de Angola (RNA), mas não obteve resposta.

Nelson Francisco Sul (Luanda) | Deutsche Welle

ALEMANHA | Já há acordo de princípio para formar novo Governo


O partido da chanceler Angela Merkel, os conservadores da CSU e os sociais-democratas chegaram a um "acordo de princípio" para formar uma coligação governamental. Maratona de negociações durou mais de 24 horas.

A primeira fase de negociações entre a União Democrata-Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, a União Social-Cristã (CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD) deveria ter terminado na quinta-feira, mas as conversações arrastaram-se pela madrugada.

Terminaram na sexta-feira de manhã (12.01), com um "acordo de princípio" de 28 páginas que, segundo a imprensa, prevê limitar a entrada de refugiados na Alemanha a entre 180 mil a 220 mil pessoas por ano. Além disso, o SPD também terá aceitado limitar a entrada de familiares de refugiados a 1.000 pessoas por mês.

Esse era um dos "grandes obstáculos" a ultrapassar nestas primeiras negociações entre as lideranças partidárias. Outra questão controversa era a reivindicação do líder dos sociais-democratas, Martin Schulz, de formar uns "Estados Unidos da Europa" – algo olhado com ceticismo pelos conservadores.

Mas, numa cópia do "acordo de princípio" que está a ser divulgada pela imprensa, os partidos comprometem-se a "reforçar" e "reformar" a zona euro, "em parceria com França".

No ano passado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, apresentou várias propostas para reformar a União Europeia, sugerindo, por exemplo, um ministro das Finanças e um orçamento comum para reforçar a estabilidade da zona euro.

Os termos do "acordo de princípio" deverão agora ser submetidos aos órgãos dirigentes dos partidos intervienentes nas conversações. Se o acordo falhar, a chanceler Angela Merkel terá de formar um governo minoritário ou submeter-se à realização de novas eleições.

DPA, AFP, Agência Lusa, gcs ! em Deutsche Welle

EUA | Trump chama Haiti e nações africanas de "países de merda"


Declaração causa revolta entre associações de imigrantes e membros dos partidos Democrata e Republicano. ONU afirma que comentário, feito durante reunião para debater imigração, é claramente racista.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou El Salvador, Haiti e nações africanas de "países de merda" (shithole countries) durante uma reunião com legisladores, nesta quinta-feira (11/01), e indicou que prefere abrir as portas a imigrantes procedentes de países como a Noruega.

"Por que temos todas essas pessoas de países de merda vindo para cá?", disse Trump durante uma reunião com congressistas na Casa Branca, segundo meios de comunicação americanos, como o jornal Washington Post, que cita pessoas que participaram do encontro.

A Casa Branca não desmentiu as declarações atribuídas ao presidente. Ele próprio, porém, afirmou no Twitter, horas depois de iniciada a polêmica, que "este não foi o linguajar usado" por ele, ainda que ele tenha sido "duro".

Segundo os participantes, Trump recorreu ao palavrão depois que dois senadores lhe apresentaram um projeto de lei de abrigo a imigrantes, segundo o qual seriam concedidos vistos a alguns cidadãos de países que foram recentemente retirados do Estatuto de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), como El Salvador, Haiti, Nicarágua e Sudão.

O comentário do presidente gerou críticas de deputados democratas e republicanos. "Os comentários do presidente são grosseiros, divisórios, elitistas e contrários aos valores da nossa nação. Esse comportamento é inaceitável do líder da nossa nação", afirmou a deputada republicana Mia Love, cujos pais vieram do Haiti.

O líder da bancada negra no Congresso dos EUA, Cedric L. Richmond, criticou Trump e disse que a declaração é mais uma prova de que a agenda Make America great again ("Faça os EUA grandes de novo") é, de fato, uma agenda "Faça os EUA brancos de novo".

"Envergonhado por ele ser presidente dos EUA"

As Nações Unidas afirmaram que a declaração do presidente dos EUA, se confirmada, é "chocante, vergonhosa e racista". "Desculpe, mas não se pode usar outra palavra além de racista", disse o port-voz de direitos humanos Rupert Colville, em Genebra.

A American Haitian Foundation chamou os comentários de Trump de ignorantes e racistas. "Os comentários do presidente [refletem] uma total desconsideração para com a dignidade humana do povo haitiano", afirmou Jack Davidson, diretor-executivo da fundação com sede no Tennessee. "Estou envergonhado por ele ser presidente dos Estados Unidos."

A porta-voz da União Africana (UA), Ebba Kalondo, considerou as declarações de Trump inaceitáveis, tendo em conta a realidade histórica e a quantidade de africanos que chegaram aos EUA como escravos. "Isso é particularmente surpreendente por os EUA continuarem sendo um exemplo global de como a migração deu origem a uma nação baseada em valores fortes de diversidade e oportunidade", destacou.

O TPS é um benefício concedido pelos Estados Unidos a imigrantes sem documentos, que não podem regressar aos países devido a conflitos civis, desastres naturais ou outras circunstâncias extraordinárias, permitindo-lhes trabalhar no país com uma autorização temporária. Em sua resposta, Trump sugeriu que os Estados Unidos deveriam atrair mais imigrantes de países como a Noruega, com cuja primeira-ministra, Erna Solberg, reuniu-se na véspera.

Os deputados presentes na reunião ficaram chocados com os comentários, de acordo com o Washington Post, que não esclareceu se o presidente americano se referia também à Nicarágua e não identificou os países africanos em causa. O jornal Los Angeles Times corroborou a informação e acrescentou que, antes de proferir o palavrão, Trump exclamou: "Para que é que queremos haitianos aqui? Para que é que queremos todas estas pessoas da África aqui?"

O âncora da CNN Anderson Cooper liderou as críticas a Trump e defendeu – emocionado – o Haiti e seu povo – Cooper foi um dos primeiros jornalistas a chegar à ilha caribenha depois do devastador terremoto em 2010, que causou a morte de mais de 220 mil pessoas. Em seu programa, ele disse que os haitianos "passaram por mais, resistiram a mais, lutaram contra mais injustiça do que nosso presidente jamais viu".

"Para o presidente acreditar que os haitianos não contribuíram extraordinariamente para a sociedade americana, isso é ignorância. Classificar todos os países africanos de 'buracos de merda' é abominavelmente ignorante", disse.

Casa Branca não desmente

A Casa Branca não negou que Trump tenha feito o polêmica comentário. "Certos políticos de Washington escolhem lutar por países estrangeiros, mas o presidente Trump sempre lutará pelo povo americano", afirmou em comunicado. "O presidente Trump luta para conseguir soluções permanentes que tornam o nosso país mais forte, ao dar as boas-vindas àqueles que possam contribuir para a nossa sociedade, fazer crescer a nossa economia e se integrar na nossa grande nação."

Trump "sempre rejeitará as medidas temporárias, débeis e perigosas que ameacem as vidas dos americanos que trabalham duro e que prejudiquem aqueles imigrantes que procuram uma vida melhor nos Estados Unidos por meio de uma via legal", acrescentou a Casa Branca.

O projeto de lei negociado por seis senadores de ambos os partidos – republicano e democrata – prevê a eliminação da chamada "loteria dos vistos", programa eletrônico que seleciona aleatoriamente imigrantes de países com baixas taxas de migração para os Estados Unidos. Anualmente, cerca de 50 mil pessoas entram no país por meio deste programa, que abre caminho à cidadania americana e beneficia majoritariamente países de África.

Uma fonte do Senado, que pediu por anonimato, indicou à agência de notícias espanhola Efe que metade desses vistos seria consignada aos que até agora estavam protegidos pelo TPS e que a outra metade estaria reservada a imigrantes com qualificações profissionais que merecem entrar nos Estados Unidos, o famoso "mérito" defendido por Trump.

PV/lusa/efe | em Deutsche Welle

EUA | É FÁCIL E INDOLOR MATAR AO LONGE


Novo livro narra rotina macabra dos operadores de drones, homens suaves que eliminam os “inimigos” dos EUA. Mais de 6.300 já foram assassinados — centenas de crianças. Mas, não sendo brancos, serão humanos?

Nuno Ramos de Almeida* | Outras Palavras

Vamos relatar isto com um ambiente feliz, misturado com torradas, de uma família dos EUA, como naqueles filmes com uma estética dos anos 50, em que o marido está impecavelmente vestido e às crianças é servida, pela solícita e loura mulher da família, a mais importante refeição do dia. Vamos esclarecer um pequeno ponto prévio: aqui, quando falamos em europeus, não incluímos as pessoas de várias cores que vivem do Atlântico aos Urais, mas, regra geral, falamos dos brancos, vivam na Áustria ou na Austrália, nos EUA ou até em Israel, porque, aqui, europeus são os descendentes da cultura e dos povos que habitaram o Velho Continente desde meados da Idade Média, excluindo os árabes que andaram pela península Ibérica.Mas voltemos ao café da manhã: ovos, café, suco de laranja. Finda a feliz refeição no lar, seguem-se as despedidas consagradas pelo sagrado matrimônio e pela paternidade; a esposa vai levar as crianças à escola de carro; e o marido segue responsavelmente, de carro, para o trabalho.Passa por uma cancela eletrônica, entra num edifício em que se identifica com um cartão e uma espécie de relógio de ponto com impressões digitais. Muda de roupa no vestiário das instalações, guarda o terno e a gravata no respectivo armário. Dirige-se, agora com sua farda militar, para o turno de trabalho, numa espécie de contêiner junto ao edifício principal. É um orgulhoso membro da força aérea dos EUA, um piloto com centenas de missões, feitas em turnos de meia dúzia de horas, e milhares de “inimigos” dos EUA abatidos. Nunca voou, ele próprio, para fora do seu país, mas as suas missões são executadas em todo o globo terrestre.A conversa que se segue é oficial, está gravada e registada pelos próprios militares para uma avaliação contínua da sua performance. O conteúdo faz parte da introdução do livro Theorie du drone, do filósofo francês Grégoire Chamayou. É uma descrição de vários operadores de um desses aparelhos. Por uma questão de economia de texto – dura um capítulo inteiro –, vou resumir o que é dito, mas sem alterar um substantivo sequer de seu conteúdo. Era de noite no Afeganistão e, antes que o sol se levantasse para o dia começar, os drones tinham observado um comportamento “anormal” no terreno. A noite acabava e um grupo de pessoas preparava-se para viajar num conjunto de veículos. “Dá pra fazer um zoom para se ver melhor?”, pedia o oficial. “São pelo menos quatro que estão entrando na picape”, diz um deles; “repare que um deles, que está mais ao norte, parece pressionar alguma coisa contra o peito”, acrescenta outro. “É o que ultimamente eles andam a fazer: metem a merda das armas dentro da roupa, para que não possamos fazer uma identificação positiva.” O piloto e o operador vigiam a cena num monitor, estão vestidos com uma farda militar cáqui, têm sobre os ombros o símbolo da sua unidade, usam fones, estão sentados lado a lado diante de painéis onde se observam várias luzes de aparelhos eletrônicos, mas não estão exatamente no cockpit de um avião. As imagens captadas no Afeganistão pelo drone armado (um aparelho voador não tripulado) são enviadas via satélite para a base de Creech, não muito distante de Indian Springs, no Estado norte-americano de Nevada.Esta base é descrita, com orgulho, pelos próprios militares, como “a casa dos caçadores”. O trabalho é normalmente entediante, noites inteiras de vigilância para alguns momentos de ação, entre  uma barra de chocolate e outra; até que serão rendidos na manhã seguinte por um outro turno de homens.Encerrado o expediente, o piloto e o operador voltarão de carro para as suas famílias e casas nos arredores de Las Vegas, depois de uma viagem de 45 minutos. Neste dia e neste momento registrados no livro de Chamayou, têm de tomar uma decisão. Os passageiros dos três veículos, que partiram há poucos minutos da pequena aldeia da província afegã de Daikundi, não sabem que estão sob observação aérea. Para a decisão da sua eliminação estarão presentes, não só o piloto e o operador, mas um coordenador de missão, um “observador de segurança”, uma equipe de analistas de vídeo e “um comandante das forças terrestres”, que dará a luz verde ao morticínio. Pelo caminho vão comentando: “Não consigo identificar armas, mas devem estar escondidas.” “O caminhão vai dar um excelente alvo, é um Chevy Suburban”, diz descontraidamente o observador, com o assentimento do piloto. O coordenador da operação repara que pode haver “pelo menos uma criança, perto da viatura”. “Merda”, exclama o operador, “não me pareceu ver alguma coisa assim tão pequena, não será um adolescente?” “Temos de verificar”, anota com enfado o coordenador. “Estão a rezar. Parecem adolescentes”, nota um. “Adolescentes? Isso já se pode eliminar.”Passadas umas dezenas de minutos, monitorados e alimentados por dados do drone, tratados por um algoritmo que permite calcular percentagens de cenários, baseadas num conjunto de estereótipos que aponta decisões, é dada, depois da oração das vítimas, ordem de ataque. Nesta operação, porque está presente um único drone, este vai ser auxiliado por dois helicópteros de ataque. Quatro horas depois do início da observação e minutos depois da destruição dos três veículos, faz-se o balanço. Operador: “Quem são estes? Eles estavam no veículo do meio”. O coordenador: “São mulheres e crianças”. O observador: “Parece uma criança, aquele que agita uma bandeira”. O operador: “Neste momento não me sinto à vontade para disparar sobre ele.” “Não”, concorda o coordenador.Para minorar estes pequenos enganos, as estatísticas militares dos EUA passaram a considerar combatentes de guerra toda pessoa do sexo masculino, esteja ou não armada, “reduzindo” assim em muito as baixas colaterais.No entanto, de acordo com The Intercept, as estimativas oficiais em 2017 apontam para cerca de 3 mil mortes através de ataques conduzidos por aviões não tripulados (drones) em quatro países (Afeganistão, Iêmen, Paquistão e Somália). O Centro de Direitos Humanos da Columbia Law School (EUA) e o Centro de Estudos Estratégicos de Saná (Iêmen) denunciam a falta de transparência no que toca à divulgação do número de vítimas. As estimativas oficiais reconhecem apenas 2.935 vítimas mortais, enquanto The Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), uma organização de jornalistas investigativos sem fins lucrativos, indica entre 6.382 e 9.240 mortos por ataques com drones desde 2004.O número de civis assassinados é estimado pelo TBIJ entre 739 e 1.407, a que se somam entre 240 e 308 crianças. De acordo com The Intercept, os dados podem esconder um número ainda maior de vítimas civis, já que os EUA têm conduzido ataques com drones sobre “homens em idade militar” nas zonas onde operam – inclusivamente durante “casamentos, funerais e outras ocasiões comunitárias”.O mais interessante é que, embora haja organismos que aprovam e se responsabilizam por estas operações, muitas delas em países com os quais os EUA não estão oficialmente em guerra, nem os deputados norte-americanos foram chamados a pronunciar-se sobre estas agressões. Grande parte das decisões são tomadas por dados recolhidos pelos próprios drones e avaliados a partir de conclusões que os computadores dessas máquinas voadoras considerem “padrões mais prováveis”. Há gente assassinada devido ao “pensamento” e conclusões dos computadores de drones, que assassinam pessoas que, pelo visto, os europeus e os seus descendentes julgam não ser gente que pense o suficiente para merecer viver. Aliás, tecnicamente, já é possível programar essas máquinas para executarem diretamente pessoas, sem intervenção e decisão humana, apenas por uma tomada de decisão baseada na existência de determinados padrões que configurem a existência de uma “atividade terrorista”.Do ponto de vista da escala de valores, teríamos em primeiro lugar os “europeus” capazes de pensar; em segundo lugar, as máquinas, criadas por eles, capazes de assumir a liquidação de “sub-humanos”; e, em terceiro lugar, todos os bípedes não brancos e não pertencentes às monarquias do Golfo. Nas cidades da Europa e dos EUA, a lógica repete-se: ser cidadão depende muito da cor da pele e do bairro onde se habita.Para isto acontecer com os drones, e como acontece no dia-a-dia em países como Israel, é preciso uma filosofia sobre o outro que o torne desumano. Só isso pode justificar que sejam presos menores e condenados a penas de dezenas de anos de cadeia. Isto só é possível porque há uma ideologia, não publicamente assumida, de que há humanos e que há outros bípedes que podem ser agredidos, detidos, torturados e mortos.O caso da prisão da adolescente palestina Ahed Tamimi é um símbolo dessa ideia de uma raça superior que tem o direito de matar tudo o resto. A jovem de 16 anos tentou agredir soldados israelenses minutos depois de o seu primo de 15 anos ter recebido um tiro no rosto, à queima-roupa, de uma bala de borracha, ficando à beira da morte. Foi detida juntamente com os seus familiares e arrisca-se, segundo a imprensa local, uma pena de prisão que ultrapassa os dez anos. Não consta que o militar israelense que disparou contra o primo tenha qualquer problema em continuar a fazê-lo. A legislação de Israel prevê a prisão de crianças a partir dos 12 anos. O caso que acontece todos os dias na Palestina ocupada só teve um maior destaque porque as redes sociais viralizaram o sucedido e a jovem, que já se tinha oposto, com 12 anos, à derrubada da sua casa, é loura e tem os olhos azuis, como uma europeia.

A pergunta retirada de Hamid Dabashi “Os Não Europeus Pensam?” serve para nos esclarecer duas coisas: a base do massacre dos pobres e dos povos explorados deste mundo começa numa operação ideológica em que lhes é retirada a sua humanidade. E, bem vistas as coisas, é mais provável que os carrascos ditos europeus não pensem do que as suas vítimas não sejam humanas. O sofrimento é humano, a violência dos carrascos é inumana.

* Nuno Ramos de Almeida é jornalista português, editor-executivo do Jornal I (www.ionline.pt).

EUA| Trump - o rei que transforma tudo em merda


Quem esperava o Rei Midas desengane-se, aparentemente o melhor que os americanos conseguiram arranjar foi alguém que orgulhosamente transforma tudo o que toca em merda - o Rei Trump, não num contexto mitológico, mas num pesadelo sem precedentes. 

Vem isto a propósito de mais um exemplo do que acima foi explanado e desta vez num episódio que inclui a palavra "merda", ou melhor "países de merda" (shitholes), mais concretamente: "Porque razão temos todos estas pessoas de países de merda a virem para aqui?". O Presidente americano referia-se a países como o Haiti, Salvador e países africanos, dando igualmente conta da sua preferência por noruegueses. A frase, acompanhada por outras pérolas como "para que é que queremos haitianos aqui?" ou "Para que é que queremos estas pessoas de África aqui?", foi proferida numa reunião na Casa Branca, na qual dois senadores apresentaram ao Presidente um projecto de lei migratório para a concessão de vistos a alguns cidadãos oriundos de países retirados do Estatuto de Protecção Temporária.

Curiosamente, discute-se por estes dias o estado da saúde mental do Presidente americano. Não sei se Trump está senil ou se se trata apenas de alguém com especial atracção pela idiotia, mas o facto é que, contrariamente a Midas que transformava em ouro tudo o que tocava, Trump transforma orgulhosamente em merda tudo o que toca e, se lhe for permitido, acabará o seu mandato deixando todo um país atolado em merda.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

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