Um dos grandes acontecimentos
culturais de Portugal é a Festa do Avante. Nos dias 7,8 e 9 – este fim-de-semana
– na Quinta da Atalaia, são milhares os que participam na festa. Do Jornal
Avante passamos a citar sobre esta 42ª edição do evento, “aquele que é
reconhecidamente um evento político e cultural sem paralelo: essa verdadeira
cidade, onde está presente o País e boa parte do Mundo, na qual se respira
alegria, solidariedade, fraternidade e confiança.”
Da respetiva página da festa deixamos aqui o acesso do que lá vai acontecer nos vários palcos. Para completar escolhemos uma
reportagem da TSF realizada “fora” dos dias da festa, nos dias em que no espaço da Quinta da Atalaia estavam equipas de voluntários a trabalhar para compor todos aqueles imensos metros
quadrados e infraestruras em condições de receberem os milhares de visitantes e
participantes que não faltam durante aqueles três dias de festa, de divertimento,
de esclarecimento, de absorção de cultura, de convívio, de camaradagem e de bem-estar. Até
porque os comes e bebes também não vão faltar.
Melhor que se inteirar minimamente via internete é
ir até lá, ao outro lado do Tejo para quem está em Lisboa. Seixal ,
Amora, Quinta da Atalaia. Não há festa como aquela. (PG)
Os comunistas que abdicaram da
praia para montar a festa do Avante
O Avante ocupa apenas três dias
do calendário, mas demora todo um verão a construir. A TSF foi conhecer quem
escolhe passar as férias a trabalhar, "por amor ao PCP", para erguer
a maior festa dos comunistas em Portugal.
"São servidos
camaradas?", ouvimos perguntar quando entramos na Quinta da Atalaia, no
Seixal.
É hora de almoço. À volta de um
grelhador, a assar febras e entremeadas, está um grupo de militantes do PCP.
"Estamos aqui a fazer uma
assada para os camaradas. Também merecemos almoçar, não é?", diz-nos Tiago
Matos, de 24 anos. É ele o cozinheiro designado para o dia.
Depois de uma intensa manhã de
trabalho, que começa às 8h00 e só termina ao pôr-do-sol (às vezes, mesmo depois
disso), este é o momento para uma pausa merecida.
Ao longo de três meses, são
centenas aqueles que vêm para o recinto onde, todos os anos, o Partido
Comunista Português organiza a Festa do Avante. Um híbrido entre festival de
verão, comício político e qualquer outra coisa difícil de classificar. A Festa
do Avante é, ela mesma, um género próprio.
Durante três dias (este ano a 7,
8 e 9 de setembro), todo o mundo cabe na Atalaia.
Para além de debates políticos,
concertos, sessões de cinema, teatro, dança, desporto e exposições de artes
plásticas, o evento conta ainda com variados espaços que trazem ao Seixal a
cultura e gastronomia de todo o país (de Trás-os-Montes ao Algarve, passando
pela Madeira e pelos Açores), aos quais se juntam os stands da Cidade
Internacional, onde estão representadas mais de 20 nações (tão diferentes como
a Alemanha, a China, a Bolívia ou Angola).
Uma festa para todos
Chegam de todos os cantos do país
os que têm por missão construir a Festa, pelos seus próprios meios ou
organizados nas jornadas de trabalho coordenadas pelo partido. Mas há quem
venha de mais longe. São membros de partidos comunistas de outros países que
atravessam fronteiras para arregaçar mangas e trabalhar na implantação da
Festa.
Mais velhos, mais novos, com
maior ou menor formação académica - encontra-se todo o tipo de pessoas entre os
construtores da Festa.
Joaquim Filipe, de 80 anos
-"um dos mais antigos construtores" da Festa do Avante, como faz
questão de sublinhar - está a preparar os balcões do espaço de Santarém.
Vem para cá desde 1979 e,
garante, está preparado para voltar pelo menos durante mais uma década. O
segredo para continuar a trabalhar com afinco? O amor ao PCP. "Ah, e
manter a linha", acrescenta.
"Tenho lá um casaco de
malha, que comprei no ano da Guerra dos Seis dias [em 1967] e ainda serve! Se
dissesse que comprei ontem, ninguém punha dúvidas!", exclama.
Damos mais um passos pelo terreno
e encontramos o stand de Braga. Gabriela, de 5 anos, apelidada carinhosamente
como "a princesa do Minho" pelos camaradas nestas paragens, brinca no
relvado da festa, enquanto os pais carregam caixotes.
Não tem memória disso mas, desde
que nasceu, nunca perdeu um Avante. Nos dias que antecedem a Festa, além de
brincar, também já vai fazendo "uns trabalhinhos", como a própria
diz. "Gosto de pintar nas paredes", conta. "É muito fixe".
O espírito do Avante e o amor ao
partido
Quem também está a pintar, mas de
forma mais profissional, é Elsa. Psicóloga de profissão, todos os verões se
transforma em pintora, carpinteira ou canalizadora - o que for preciso.
"Isto, para mim, é como se
fosse o meu Natal", confessa. "Aqui estou em casa, com a minha
família e com os meus camaradas, a construir o nosso mundo, o mundo como nós o
imaginamos e pelo qual lutamos".
Na Festa do Avante, todo o
trabalho é voluntário. Ninguém é pago para desempenhar qualquer tarefa, e todos
têm orgulho nisso.
Augusto Sousa, quem vem do Couço,
distrito de Santarém, frisa que veio até à Atalaia pagando o seu próprio
gasóleo, as suas próprias refeições e o bilhete de entrada (a 'EP'). "Se
não fosse assim, eu não estava cá", garante.
Muito são os que ficam hospedados
no parque de campismo do recinto, para poderem trabalhar em permanência.
Agostinho Gomes passou aqui o mês
inteiro de agosto, a trabalhar durante as suas férias. "Eu quero é estar
aqui. A nossa praia é a Atalaia", afirma. Tal como ele, também Augusto,
Elsa e Tiago trocaram dias de sol junto ao mar por trabalho debaixo do sol no
Avante.
A pergunta impõe-se: qual a
explicação para esta dedicação inabalável?
"Para ser sincero, não tem
explicação", admite Tiago. "É o convívio, é a militância... Não há
palavras que consigam descrever o amor que cada um de nós tem a esta
festa".
"Isto é um espaço de
alegria. Há momentos em que sentimos um arrepio de pele por sentir que
construímos isto", justifica Sílvio Sousa. Garante que, no final, "o
cansaço, as noites mal dormidas ou até mesmo algumas feridas" (afinal, os
construtores desta festa não são trabalhadores do setor da construção) - tudo
vale a pena.
"A gente sente-se bem onde
está bem", simplifica o camarada Agostinho. "E é aqui. Não há festa
como esta".
Rita Carvalho Pereira | TSF