terça-feira, 24 de novembro de 2020

AGUENTA, QUE É SERVIÇO!

Bom dia este é o seu Expresso Curto

"Ai aguenta, aguenta"

Filipe Garcia | Expresso

Bom dia e seja bem-vindo a mais um estado de emergência,

Não lhe trago boas notícias. Ontem foram 74 as vítimas da pandemia, nunca foram tantos os casos ativos (84.004), de internados (3241) ou de pacientes em cuidados intensivos (498). Ou trago? Esta segunda-feira, também foi o dia com menos novos casos (4044) em sete dias. Entre os que preferem a ver metade cheia do copo, a interpretação será que é sinal do abrandar do crescimento da segunda vaga. Uma boa notícia, portanto. A metade focada na metade vazia dirá que ao fim-de-semana são menos os testes realizados e que daqui por umas horas seremos confrontados com mais más notícias, afinal o pico ainda não chegou. E se os dois se sentassem à conversa?

Na internet, seguramente, acabariam a trocar injúrias. Ao vivo, quero acreditar, poderiam selar a conversa com um simpático toque de cotovelo quebrando, momentaneamente, as regras de distanciamento social. Afinal, a razão até pode estar algures a meio. Afinal, a conversar até pode ser possível chegar a consensos. Estou a ver a metade cheia do copo? Os que olham para a vazia dir-me-iam que não, nem pensar, que ao fim de tantos meses de más notícias e restrições já ninguém percebe os que olham para o copo de forma diferente.

E eu, que ando de olho na linha da água, o que responderia? Que a luta ainda não vai a meio, que desistir não é opção e que mais discussões acaloradas se avizinham. Esta semana, andamos entretidos com o congresso do PCP, dentro em breve a conversa será em torno da vacinação e a polémica não será menor. Será obrigatória? E qual das vacinas vai recomendar o estado? E o tempo recorde em que foram desenvolvidas não levanta dúvidas quanto a potenciais efeitos secundários?

A discussão promete e as fações que a perspetiva do copo divide vão voltar a afastar-se. Se nem sobre o congresso do PCP os constitucionalistas oferecem uma resposta clara, pior será a discussão entre o desenvolvimento de uma vacina, ou de várias, a precisar de uma ou duas doses, mais ou menos refrigerada, americana, russa, chinesa ou britânica.

Não aguenta mais discussão ou medidas? Por estes dias, lembro-me muitas vezes da frase de Fernando Ulrich quando, em 2013, respondia à pergunta se o país aguentava mais austeridade. “Ai, aguenta, aguenta”, respondeu o então presidente do BPI. Nessa altura também a linha de água dividiu os portugueses. Também nessa altura o país aguentou.

Folgas no privado não estão garantidas

António Costa apelou a que o setor privado oferecesse um dia em casa aos seus funcionários nas vésperas dos feriados que se avizinham. Para não destoar do resto da vida em tempos de pandemia, para já não há garantias. “Numa situação de quebra dramática dos rendimentos, o país não pode dar-se ao luxo de perder tantos dias de produção”, anunciou a Confederação Empresarial de Portugal em comunicado.

80% bem, 75% mal

Não é preciso saber muito de matemática, para identificar neste título uma impossibilidade aritmética, mas ambas as percentagens são essenciais para se resumir o impacto das mais recentes medidas de controlo da pandemia. Diz a consultora PSE que às 14 horas de sábado e domingo passados 80% dos portugueses estava em casa. O reverso da medalha? Segundo o presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração, as perdas nos setores de retalho e restauração foram de 75%.

A garantia da ministra

Marcelo Rebelo de Sousa chamou e nem Francisca Van Dunem nem Marta Temido faltaram. As ministras da Justiça e da Saúde estiveram ontem no Palácio de Belém para clarificar a situação dos surtos de covid-19 nos estabelecimentos prisionais. No final do encontro, Van Dunem garantiu que “a situação está totalmente controlada nas prisões”. Os últimos números: entre 11 mil presos e 8 mil funcionários, 435 infetados.

A alta política resolvida com “murros” nas “fuças”

Foi no Facebook e o comentário foi rapidamente apagado, mas Manuel Grilo, vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, ofereceu “um par de murros” nas “fuças” a Luís Moreira, vogal da junta de freguesia do Areeiro, num post em que este partilhava uma notícia da revista Sábado ("Bloquistas questionam acordo BE/PS em Lisboa"). Na alta política as piadas fazem-se sozinhas: Grilo é vereador da Educação.

A maratona do Orçamento

Suspeito que escape à maioria dos portugueses, mas por estes dias na Assembleia da República cumpre-se uma verdadeira maratona. Na votação na especialidade do Orçamento do Estado de 2021, são perto de 1500 as propostas de alteração, no primeiro dia o guião tinha 750 páginas e a votação durou seis horas. Ontem as páginas que indicam a deputados e jornalistas o que se está a votar eram 1293 e ainda faltam duas sessões antes de, na próxima 5ª feira, se fazer a votação final. Não acredita? Contamos-lhe tudo AQUI para que confira a resistência de deputados e, já agora, a das minhas camaradas que não lhe perdem o fio.

A frase

“O vírus tem moldado as nossas vidas nos últimos meses, está na hora de sermos nós a moldar a dinâmica do vírus” - - Graça Freitas, Diretora-geral da saúde

Trump dá ordem para a transição

Após a oficialização da vitória no Michigan, a eleição de Joe Biden nas eleições norte-americanas foi ontem validada pela Agência de Serviços Gerais dos Estados Unidos. Ainda sem reconhecer a derrota, Donald Trump deu, finalmente, ordem à sua equipa para colaborar na transição de poder.

Rei de Espanha com covid-19

Filipe VI entrou ontem em quarentena. Segundo a imprensa espanhola, o rei teve no passado domingo um contacto com uma pessoa infetada com covid-19, tendo posteriormente acusado também ele positivo. A agenda oficial foi cancelada por dez dias.

O melhor do Mundo, o melhor do século ou ambos

A notícia é recorrente, mas nem por isso menos digna de ser assinalada: Cristiano Ronaldo está entre os finalistas para o melhor futebolista do ano. Desta vez, a gala será dos Globe Soccer Awards, mas nem a lista de adversários traz grandes novidades, nem Ronaldo se estreará em caso de vitória: já venceu o prémio seis vezes. A novidade está na eleição do melhor do século XXI e, surpresa ou nem por isso, Ronaldo volta a estar nomeado. Nesta corrida, no entanto, há outro português entre os nomeados: Luís Figo. Além da nomeação, os dois terão hoje outra coisa em comum

E quando o Papa quer ouvir atletas?

Foi polémico o final da época passada da NBA. Não pela 'bolha' em que se disputaram os jogos decisivos da temporada – a NBA fechou todas as equipas na Disney de Orlando durante o período de competição – mas antes pelos protestos levados a cabo por jogadores e treinadores, fosse em solidariedade com o #blacklivesmatter, fosse a apelar ao voto nas presidenciais. Pelo meio, não faltaram aplausos à participação cívica dos atletas, também não faltaram críticas de quem defende que a política não tem lugar no desporto. Agora, o inesperado aconteceu. O Papa Francisco chamou ao Vaticano cinco jogadores e não o fez para discutir a melhor forma de ser campeão na NBA, antes para os ouvir falar sobre a sua participação nos movimentos cívicos e conhecer os seus planos para o futuro.

O que ando a ler

É velho o meu defeito de deixar livros por acabar, mas também é verdade que há muito o tento combater. Sem grande sucesso, confesso. O último a ser abandonado foi Rage, de Bob Woodward, sobre a presidência de Donald Trump. Desta vez tenho desculpa. O facto é que Trump perdeu as eleições e que, por maior ou menor que seja a birra, terá mesmo de dar lugar a Joe Biden. Outra certeza é que acabei a olhar para o livro como uma recordação de um período negro que já terminou. Não me afastei muito, contudo, do tema e cá a casa chegaram este fim-de-semana as memórias de Barack Obama, A Promised Land. Contraditório? Talvez, mas há personagens que gosto de recordar. Algumas até que nos reforçam a fé num futuro melhor.

O que ando a ouvir

Há quem viva em ânsia permanente, sempre em busca pela mais recente novidade, o lançamento que fará do ano absolutamente memorável, a banda ou o músico que vão marcar o ritmo dos próximos tempos, um sprint que, no limite, termina com o famoso: "Quando comecei a ouvir, ainda ninguém o conhecia". Raramente me deixo apanhar nessa corrida, ainda menos agora que, como é sabido, dificilmente um disco fará de 2020 um ano memorável. Não será disco do ano, muito menos ditará tendências, mas nem por isso tem soado mal, um clássico de 1978 assinado por Tom Waits, Blue Valentine. Ainda que menos clássico, mas ainda assim já a completar 20 anos da sua edição e bem mais próximo da atual música do mainstream, Mama's Gun, de Erikah Badu, também tem caído bem. Afinal, os dias andam assim, entre a roquidão sofrida de quem nos conta histórias que nos são mais familiares do que gostaríamos e o groove de quando nos lembramos do ritmo de outros tempos, daqueles em que dava para dançar sem distância de segurança.

Tenha um bom dia, e fique com uma recomendação do Boa Cama, Boa Mesa.

Para tentar contrariar as consequências da pandemia, a hotelaria nacional aposta em estratégias criativas e adapta-se à nova realidade. Na costa alentejana, uma unidade de turismo em espaço rural decidiu oferecer noites em época baixa a quem fizer já reservas para as férias de verão: Hotel no Alentejo oferece noites na época baixa a quem reservar férias de verão.

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