#Publicado em português do Brasil
Qin Chuan | Diário do Povo Online | opinião
A Associated Press divulgou
recentemente um relatório mostrando que a proporção de minorias como os
afro-americanos e hispânicos nos Estados Unidos vacinados contra o novo
coronavírus é menor do que sua proporção na população total dos Estados Unidos.
Vejamos o caso de Maryland, onde os afrodescendentes representam 30% da
população do estado e 40% das equipes médicas. Contudo, na população local
vacinada, representam apenas 16%. Em Filadélfia, Chicago e outras cidades,
existem também desigualdades na vacinação entre diferentes grupos étnicos.
O especialista americano em
doenças infeciosas, Anthony Fauci, afirmou certa vez sem rodeios: "um
aspeto incomum desta pandemia é a desigualdade entre as raças". A pandemia
coloca uma vez mais em destaque a realidade cruel da sociedade americana,
profundamente enraizada nos seus genes. O racismo estrutural nos Estados Unidos
tem recorrentemente efeitos adversos na qualidade de vida material e nas
oportunidades de emprego das minorias americanas. O New York Times referiu-se a
essa desigualdade como"insuportável".
Nenhuma indústria tem seus
problemas tão expostos como a indústria médica. O racismo estrutural de longo
prazo impede que as minorias americanas tenham acesso a serviços médicos de
qualidade. A pandemia apenas serviu para exacerbar esse problema. Um estudo
recente do Proceedings of the National Academy of Sciences apurou que, durante
a pandemia, estima-se que a diminuição da população de afro-americanos e
hispânicos nos Estados Unidos seja três a quatro vezes maior que a da população
branca. A expectativa de vida ao nascimento dos afro-americanos e hispânicos
nos Estados Unidos caiu cerca de 2 e 3 anos, respetivamente - um valor muito
superior à redução de 0,68 anos para os brancos. Isto significa que a diferença
de expetativa de vida entre americanos negros e brancos aumentará de 3,6 anos
para mais de 5 anos - um aumento de quase 40%.
Um elevado número de fatos
demonstra que o racismo estrutural de longa data nos Estados Unidos originou
desigualdades em várias frentes, incluindo: economia, assistência médica,
justiça, emprego, habitação, participação política e educação. De acordo com
estatísticas do Pew Research Center, em 2020, 75% das famílias brancas nos
Estados Unidos possuem imóveis, face a 61% das famílias asiáticas e apenas 46%
das famílias afro-americanas. Em termos de educação, entre a população de 25 ou
mais anos com diploma de ensino médio ou superior nos Estados Unidos, 95% são
brancos, 92% são asiáticos e 90% são africanos. Para americanos de diferentes identidades
e origens, em uma sociedade cada vez mais dependente da educação, a
distribuição desigual de oportunidades é uma das fontes de ansiedade e
preocupação.
A questão do racismo americano
está enraizada na história do país até o presente. Segundo estimativas do
Center for American Progress, em dólares correntes, o valor da mão-de-obra
obtida dos escravos por parte dos proprietários americanos ultrapassa os US $
14 trilhões. Apenas nas décadas de 1960 e 1970 os Estados Unidos começaram a
promover um movimento formal pelos direitos civis. Nos últimos 40 anos, porém,
a taxa de desemprego dos trabalhadores afro-americanos foi cerca de duas vezes
superior à dos brancos, e a renda média das famílias afro-americanas é 25% a
45% menor do que a das famílias brancas. Na busca pelo "sonho
americano", minorias e brancos nunca estiveram na mesma linha de partida.
O presidente dos EUA, Joe Biden,
fez da "melhoria da igualdade racial" uma das quatro prioridades de
seu mandato. No dia em que assumiu o cargo, ele falou sobre "um grito de
justiça racial que vem fermentando há quase 400 anos". Recentemente, Biden
assinou também um memorando condenando o fenômeno da discriminação racial por
parte dos asiático-americanos na pandemia, o que, sem dúvida, evidencia a
gravidade dos problemas raciais no contexto da epidemia. O "credo
americano" de que "todos os homens são criados iguais" é
manchado pela dura realidade do racismo e conflito. Há ainda um longo caminho a
percorrer para garantir a unidade nos Estados Unidos.