sábado, 17 de julho de 2021

Portugal | Sem entrada e sem juros

Afonso Camões* | Diário de Notícias | opinião

Quase metade dos jovens portugueses entre os 25 e os 34 anos ainda continuam a viver em casa dos pais, o que coloca Portugal entre os oito países com as taxas de emancipação mais tardias da Europa. No extremo oposto da Suécia, onde a média anda pelos 18 anos, em Portugal a média de idades em que os jovens portugueses se tornam independentes já ronda os 30 anos.

Para tão desoladora estatística concorrem fatores que facilmente identificamos - do desemprego à precariedade e aos baixos níveis salariais. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, os jovens são os mais penalizados, sendo que mais de 60 mil perderam o emprego desde o início da pandemia. Mas as características do mercado imobiliário nacional constituem também um problema grave que precisa de ser sanado. A situação atual tolhe inaceitavelmente os projetos de vida das novas gerações numa etapa decisiva para elas e para a sociedade, que mais poderia beneficiar da sua energia transformadora. As causas são claras. A crise financeira e a grande recessão apertaram a que tinha sido a principal via de acesso dos portugueses à habitação: o recurso a empréstimo através de uma hipoteca para comprar casa. A opção de arrendamento permaneceu. Mas num mercado com oferta tradicionalmente escassa e sobretudo nas mãos de privados, os preços nos grandes centros urbanos dispararam, crescendo bem acima dos salários, num contexto mais agravado, aliás, pela redução dos próprios orçamentos públicos destinados à habitação.

Faltam jovens no coração das cidades. O primeiro-ministro, António Costa, reconhece que "o mercado não responde às necessidades de habitação em condições acessíveis para a classe média e, em particular, para as novas gerações, as mais bem formadas de sempre". E, benevolente, admite que há municípios portugueses onde a taxa de esforço familiar, ou seja, a percentagem do rendimento necessária para aceder à habitação, excede os 40% - e nalguns casos atinge mesmo os 60%. Daí o sinal dado agora pelo governo, ao anunciar três linhas de investimento público em habitação, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Porque é urgente atuar do lado da oferta.

O primeiro passo deve ser o de direcionar recursos públicos e alinhar os diferentes níveis da administração com o objetivo de favorecer uma política habitacional mais ambiciosa, que construa um parque público mais vasto e consistente, e especialmente dirigido a jovens e cidadãos de menores rendimentos. O papel das autarquias é crucial neste percurso. E em véspera de eleições, esta é a hora dos compromissos. Nem é preciso inventar, basta copiar bem e à nossa escala. A Áustria e a Holanda são dois exemplos próximos com políticas habitacionais de sucesso e, não por acaso, lideram a lista dos países europeus com maior percentagem de habitação social. No último terço da lista, Portugal - num tempo em que o governo acorda para a necessidade urgente de construir mais casas a preços reduzidos e reforçar o parque de rendas acessíveis, com preços eventualmente fixados pelo poder público, embora para o sucesso de tal programa seja indispensável a participação de empresas privadas. Isto sem esquecer também, do lado da oferta, as dezenas de milhares de casas vazias, para as quais se podem encontrar medidas fiscais que estimulem uma utilização mais benéfica para a sociedade. Em qualquer dos passos a dar convém, no entanto, que as regras sejam claras e com garantias adequadas, para não semear confusão onde é necessária maior transparência.

*Jornalista

Brasil | Marielle: Viúva do miliciano Adriano aponta mandantes do crime em delação

# Publicado em português do Brasil

Julia Mello Lotufo informou quem seriam os mentores do assassinato e deu detalhes sobre execução da parlamentar carioca a membros do Ministério Público do Rio de Janeiro em sua delação premiada

Henrique Rodrigues *

A viúva do poderoso miliciano conhecido como Capitão Adriano, morto pela polícia na Bahia em fevereiro do ano passado, deu os nomes dos mandantes do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), executada a tiros em março de 2018, junto com seu motorista Anderson Gomes.

As informações foram passadas a membros do Ministério Público do Rio de Janeiro no âmbito de seu acordo de delação premiada, assinado com promotores de justiça estaduais. Em regime de prisão domiciliar e usando tornozeleira eletrônica, Júlia isentou seu falecido marido de participação no caso que ganhou repercussão mundial.

Segundo as declarações da delatora aos promotores, a milícia que controla a comunidade Gardênia Azul procurou Adriano para contar sobre os planos de execução de Marielle, que seria motivada pela atuação da vereadora não só em sua área de domínio, mas também na região de Rio das Pedras, atrapalhando os negócios do crime organizado.

Capitão Adriano teria rechaçado a ideia, segundo Júlia, não por empatia, mas porque acreditava que assassiná-la seria uma ideia absurda e arriscada, em decorrência da vítima ser uma parlamentar conhecida no Estado. Uma ação desse tipo poderia prejudicar ainda mais o faturamento da quadrilha.

Os milicianos da Gardênia Azul teriam, então, cometido o crime sem a anuência do chefe, que logo após a morte foi tomar satisfação com os executores, uma vez que seu nome começou a aparecer entre os dos possíveis mandantes do assassinato.

Nenhum nome especificamente foi mencionado nas informações que vieram à tona até agora, constantes nos autos de sua delação premiada, mas a milícia Gardênia Azul seria comandada pelo ex-vereador do Rio de Janeiro Cristiano Girão, que perdeu o mandato parlamentar na Câmara Municipal carioca, em 2010, após ser condenado a 14 anos de prisão justamente por liderar o bando.

Desacato | Imagem: Naldinho Lourenço

Bolsonaro: Alguma coisa não está me cheirando bem

Vai ver que foi porque eu fiz mais de um quilo de cocô pelo nariz

# Publicado em português do Brasil

José Roberto Torero* | Diário de Bolso em Carta Maior

Diário, alguma coisa não está me cheirando bem. Vai ver que foi porque eu fiz mais de um quilo de cocô pelo nariz.

A esquerdalha está comemorando a minha doença. Os caras não param de fazer piada comigo. Um disse “nunca pensei que o problema do presidente seria não fazer merda”, outro falou “ele mentiu até quando disse ‘caguei’” e um outro soltou: “o presidente anda muito cheio de si”. Demorei meia hora pra entender essa última.

Também aproveitaram as minhas frases antigas e disseram coisas como: “Não cagou? E daí?”, “Todo mundo vai morrer”, “Deixa de mimimi e põe um supositório”, e “Que que eu posso fazer? Não sou cocoveiro.”

Os canhotos riem, mas esse meu entupimento veio bem a calhar. Como estou com cagaço de enfrentar essa CPI da covid, aproveitei o meu estado descocomentoso pra me fazer de vítima. Aquela foto de mim cheio de tubo já foi isso. Porque o meu marquetim é esse: quando não tô matando, tô morrendo.

Nós, Messias, somos assim: uma hora dizemos que somos todo-poderosos, outra hora estamos sofrendo na cruz.

Se eu fosse uma pizza, ia ser mezzo “ninguém me segura”, mezzo “coitadinho de mim”.

Se eu fosse uma dupla sertaneja, seria “Fodão” e “Fodido”.

Pena que eu vou perder umas motociatas. Mas tudo bem. O Carluxo já teve a ideia de fazer um novo tipo de manifestação. Meu filho é um gênio!

Quer saber o que é, Diário? Então vou contar. É uma coisa muito melhor que um panelaço. É um privadaço!

Todos os meus bolsominions vão fazer cocô ao mesmo tempo. O barulho dos peidos vai ser muito maior que o das panelas. E o cheiro vai se espalhar pelo país inteiro. Todo mundo vai lembrar de mim por um bom tempo.

Bom, Diário, agora chega de escrever. Vou me levantar e escovar os dentes, que meu bafo não tá fácil. Só não sei se uso uma escova normal ou uma escovinha de privada.

* #diariodobolso

Assassinos de presidente do Haiti receberam treinamento nos EUA, diz Pentágono

# Publicado em português do Brasil

Opera Mundi* -- São Paulo (Brasil)

Um grupo de colombianos acusado de participar do assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, que aconteceu em 7 de julho, recebeu treinamento militar nos Estados Unidos, disse o Pentágono. 

“Uma análise de nossos bancos de dados de treinamento indica que um pequeno número de colombianos detidos nesta investigação havia participado de programas anteriores de treinamento e educação militar dos EUA, enquanto serviam como membros ativos das Forças Militares colombianas”, declarou o porta-voz do Pentágono, Ken Hoffman, à emissora Al Jazeera nesta quinta-feira (15/07). 

Hoffman afirmou que o país rotineiramente treina militares da região, mas se defendeu dizendo que o treinamento “promove respeito pelos direitos humanos, cumprimento do Estado de Direito e subordinação militar a lideranças civis democraticamente eleitas”. O porta-voz não especificou quantos homens teriam recebido esse tipo de treinamento.

Mandante pode ter sido ex-oficial do Ministério da Justiça 

Nesta sexta-feira (16/07), o general Jorge Vargas, chefe da polícia da Colômbia, apresentou novas informações sobre o caso e disse que um ex-oficial do Ministério da Justiça do Haiti, Joseph Félix Badio, pode ser o mandante do assassinato do presidente haitiano. 

De acordo com Vargas, Badio pode ter dado a ordem aos ex-soldados colombianos Duberney Capador e Germán Rivera, que haviam sido contatados inicialmente para realizar serviços de segurança. O ex-funcionário havia se reunido com os dois ex-militares para dizer que a missão era prender Moïse, mas três dias antes do ataque ele teria dito que os agentes teriam que "assassinar o presidente do Haiti", segundo Vargas.

Nesta quinta-feira, a polícia haitiana emitiu uma ordem de captura contra Badio junto de dois outros homens, John Joel Joseph e Rodolphe Jaar, descrevendo-os como "armados e perigosos". 

Até o momento, as autoridades do país apontam 28 suspeitos de participarem da morte de Jovenel Moïse, dos quais 26 são colombianos e dois são norte-americanos de origem haitiana. Entre eles, 18 foram presos e três foram mortos pela polícia, enquanto os outros conseguiram fugir. Familiares e colegas dos detidos contaram a repórteres que eles foram contratados para atuar como guarda costas.

Os EUA são responsáveis pela recente agitação no Caribe

# Publicado em português do Brasil

Observadores casuais observaram que esta região é cronicamente instável, mas a realidade é que toda a sua inquietação pode, de uma forma ou de outra, remontar aos Estados Unidos.

Andrew Korybko* | OneWorld

O Caribe recentemente cativou a atenção do mundo como resultado de acontecimentos dramáticos no Haiti e em Cuba . O primeiro mencionado viu seu presidente ser assassinado na semana passada por um esquadrão de mercenários na maioria latino-americanos, enquanto o segundo está enfrentando protestos inesperados em resposta às consequências socioeconômicas da pandemia COVID-19. Observadores casuais observaram que esta região é cronicamente instável, mas a realidade é que toda a sua inquietação pode, de uma forma ou de outra, remontar aos Estados Unidos.

Com relação ao Haiti, a investigação em andamento revelou que Christian Emmanuel Sanon, nascido no Haiti, residente na Flórida, está ligado ao assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise. Segundo relatos, ele ordenou aos mercenários que prendessem o líder do país, mas por algum motivo acabaram matando-o, até mesmo supostamente torturando-o antes de sua morte. Aparentemente, Sanon queria substituí-lo como líder haitiano. Além disso, alguns dos suspeitos eram supostamente informantes da DEA e outros foram treinados pelos militares dos EUA.

Vale a pena mencionar que o Haiti está instável há um bom tempo, mesmo antes do assassinato da semana passada. Alguns observadores atribuem seus problemas sistêmicos ao legado duradouro do colonialismo francês e do neo-imperialismo dos Estados Unidos, o último dos quais se manifesta por meio de grupos exploradores chamados filantrópicos e exploradores hiper-capitalistas. O Haiti foi o primeiro país de maioria negra a se libertar do colonialismo e poderia ter dado um exemplo brilhante para o resto do mundo se não tivesse sido sabotado nos últimos dois séculos.

Quanto a Cuba, o chanceler Bruno Rodriguez acusou os mercenários norte-americanos de estarem por trás dos últimos protestos. Ele afirmou que eles estão tentando fomentar uma Revolução da Cor para finalmente realizar o sonho de décadas dos EUA de mudança de regime no país comunista. O presidente Miguel Diaz-Canel também culpou os Estados Unidos e, especificamente, seu regime de sanções unilateral e, portanto, internacionalmente ilegal. Além disso, ele apelou às forças patrióticas para irem às ruas em comícios pacíficos em apoio aos princípios revolucionários de seu país.

O que é especialmente preocupante no caso cubano é a rapidez com que alguns nos Estados Unidos pediram uma invasão da nação-ilha. O prefeito de Miami, que abriga uma enorme população da diáspora cubana composta em sua maioria por indivíduos anticomunistas, exigiu que tropas fossem enviadas para lá. O senador da Flórida, Marco Rubio, de ascendência cubana, também deu todo o seu apoio ao movimento antigovernamental. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden , também o fez , embora tenha provocado as críticas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por supostamente não ser duro o suficiente.

A recente agitação no Haiti e em Cuba é parcialmente motivada por razões internas objetivamente existentes devido à deterioração das condições socioeconômicas provocadas pelas consequências da pandemia COVID-19, mas todos os países do mundo estão passando por tais dificuldades no momento. O que é único em seus problemas atuais é a conexão que eles têm com os Estados Unidos, particularmente a Flórida, onde muitos membros antigovernamentais da diáspora residem. Essas comunidades desempenham um papel de liderança na agitação pela mudança de regime em casa.

Na melhor das hipóteses, o governo dos EUA fecha os olhos às suas atividades, incluindo as internacionalmente ilegais, como algumas pessoas que supostamente participaram da conspiração para assassinar o ex-presidente haitiano. Isso significaria que o país não pode controlar o que acontece em suas próprias fronteiras, apesar de tais atividades constituírem uma ameaça regional. Também seria ingênuo, no entanto, já que é bem sabido que o governo dos EUA coopera com membros antigovernamentais da diáspora regional para influenciar os processos políticos em sua terra natal.

Não se pode saber ao certo neste momento se este é o caso do Haiti, mas quase certamente o é para Cuba, com precedentes históricos que atestam isso. O regime de sanções ilegais dos EUA contra Cuba, e não o partido comunista do país, é o responsável mais direto por travar o desenvolvimento da nação insular. Quando se trata do Haiti, os EUA não conseguiram reconstruir o país após o devastador terremoto de 2010. A melhor maneira de os EUA ajudarem seus vizinhos caribenhos é simplesmente parar de se intrometer em seus assuntos, seja direta ou indiretamente.

Não parece provável que isso aconteça, pois os instintos hegemônicos unipolares dos EUA os impedem de pensar racionalmente e priorizar o desenvolvimento de outras pessoas. Tudo o que importa é dinheiro e poder em perfeita conformidade com suas motivações capitalistas. Além disso, a recente agitação caribenha conectada aos Estados Unidos também serve a propósitos partidários importantes em casa, considerando o fato de que a Flórida - onde residem muitos de seus diáspora antigovernamentais - é sempre um estado de batalha durante as eleições presidenciais.

Tanto democratas como republicanos têm, portanto, motivos políticos de interesse próprio para continuar a atiçar as chamas em ambos os países, mesmo que apenas com uma retórica irresponsável, para atrair os eleitores haitianos e cubanos naquele estado. Isso significa que os observadores não devem esperar que os EUA se restrinjam. Ao contrário, o governo dos Estados Unidos como um todo, bem como as duas partes que constituem seu duopólio governante, acreditam erroneamente que têm tudo a ganhar continuando a se intrometer nesses países, o que é um mau presságio para seus futuros.

* Andrew Korybko -- analista político americano

ONEWORLD

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