Paula Ferreira | Jornal de Notícias | opinião
Como em quase todas as guerras, os povos contam pouco. Joga-se poder e influência. O que está a acontecer na Ucrânia não haveria de ser diferente. Trágico, sempre. E se temos a perceção de que o Mundo está em permanente mudança, há coisas que permanecem. A Rússia quer manter a sua influência a Leste, os Estados Unidos pretendem continuar a expandir a sua.
O povo ucraniano é o que menos importa no meio desta aritmética do poder hegemónico das potências mundiais, mesmo que a Rússia não seja já a União Soviética e a sua influência pareça cada vez mais reduzida. Gorbatchov talvez tenha sido o último líder digno desse nome, daquele imenso país. Negociou em nome da paz e deixou acabar com o Pacto de Varsóvia; a NATO, porém, manteve-se e não dá sinais de quer parar de crescer.
O resto é uma tragédia a que assistimos incrédulos, pois acreditávamos que, quase no segundo quartel do século XXI, a barbárie não fosse possível. Está à vista de todos. Não sejamos ingénuos. A barbárie, bem vistas as coisas, nunca nos abandonou. Ainda há pouco nos indignávamos com a devastação na Síria. Sim, já esquecemos os sírios. Esquecemos o Iraque, a Líbia, o Afeganistão e tão perto de nós, ali depois de Trieste, tão perto de Atenas, o que acontecera no virar do século na ex-Jugoslávia.
Desde que Putin, num gesto de loucura que achávamos impossível, invadiu a Ucrânia, conhecemos todos os dias novas sanções. Todos dizem que o objetivo é encurralar a Rússia, e, com tais medidas, se constrói uma nova ordem mundial. Talvez não seja uma coisa, nem outra. Apenas a única forma de disfarçar: não sabem muito bem como lidar com uma ameaça bélica tão perigosa que acabou de colocar em alerta as forças nucleares. A última vez usadas, numa guerra, acontecera em 1945 - e foram os americanos a carregar no botão.
*Editora-executiva-adjunta
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