segunda-feira, 27 de março de 2023

A ALEMANHA E O FIM DO PROJECTO EUROPEU

Jorge Fonseca de Almeida *

«A presente guerra que se trava na Ucrânia foi a machadada final no Projeto Europeu de autonomia estratégica. Os laços económicos com a Rússia foram cortados por imposição americana, e estão em vias de serem restringidos com a China, levando a que o único grande mercado aberto aos europeus seja o americano. A União Europeia deixou de ser uma potência autónoma passou a ser um parceiro menor dos Estados Unidos.»

O Projeto Europeu, primeiro com a CEE depois com a União Europeia, visava federar os países europeus sob a liderança do eixo Paris-Bona-Roma agregando nações e forjando uma entidade política nova que se afirmasse como grande potência estratégica no mundo bipolar da época em que foi pensado. Com a queda da URSS a capital da Alemanha mudou para Berlin, cidade capital da RDA, mas o projeto não se alterou, antes se expandiu e consolidou com a introdução do Euro como moeda comum.

A Alemanha procurava repetir a saga da sua própria unificação no século XIX, mas desta vez de forma mais lenta mas mais alargada e ousada. A História, contudo, não se repete. A unificação alemã fez-se sobre a égide da Prússia uma grande potência económica e militar. A Alemanha da União Europeia apesar do poderio económico é um país ocupado por forças militares americanas desde o final da II Grande Guerra.

Os Estados Unidos foram sempre céticos relativamente ao Projeto Europeu, não contestando um mercado livre e unificado, desde que a ele tenham acesso irrestrito, mas completamente opostos à emergência de uma União Europeia como potência estratégica independente.

Em vários momentos a União procurou um rumo alternativo ao dos Estados Unidos, relembre-se a invasão, sobre falsos pretextos, do Iraque. Os Estados Unidos, contudo, foram forçando os membros da União a alinhar-se com a sua política, arrastando-os para a inútil aventura do Afeganistão, a desastrosa intervenção na Líbia e tantas outras guerras injustificadas do ponto de vista europeu.

A presente guerra que se trava na Ucrânia foi a machadada final no Projeto Europeu de autonomia estratégica. Os laços económicos com a Rússia foram cortados por imposição americana, e estão em vias de serem restringidos com a China, levando a que o único grande mercado aberto aos europeus seja o americano. Mas mesmo este de forma muito limitada como o plano de relançamento económico de Biden prevê. A União Europeia deixou de ser uma potência autónoma passou a ser um parceiro menor dos Estados Unidos.

O penoso reconhecimento desta situação ocorreu na semana passada aquando da visita do chanceler alemão Olaf Scholz aos Estados Unidos. Ele afirmou taxativamente que a Alemanha está empenhada na guerra pela Ucrânia sob a liderança pessoal de Biden. Não está como parceiro autónomo e independente, não está como aliado, mas como subordinado sob a liderança alheia. Está tudo dito. Ponto final.

Acabam assim as ilusões europeias de união como via para a independência estratégica. Acaba assim uma das mais fortes razões que sustentam a tese federalista. A união está a levar à satelização da Europa face aos Estados Unidos. Que razões passam agora a ter os alemães para subsidiar países como Portugal? Muito poucas na verdade.

Provavelmente vamos passar de uma fase de subsídio para uma de extração antes de os países centrais europeus decidirem desmantelar esse sonho falhado da criação de uma grande potência mundial. Atrevo-me a vaticinar que no espaço de duas gerações não haverá União Europeia. Percebemos agora que o Brexit foi uma decisão estratégica muito acertada que está a permitir ao Reino Unido explorar alternativas com grande liberdade.

Publicado em O Diário.info

* Fonte: https://www.dn.pt/opiniao/a-alemanha-e-o-fim-do-projeto-europeu-15952826.html

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