Artur Queiroz*, Luanda
José Luís Mendonça escreveu um texto no jornal Público (onde havia de ser?) e diz que em Angola há “ameaças aos intelectuais livres”. Eu sou um simples repórter (muito livre!) e às vezes escrevo uns textos agressivos. De madrugada recebo telefonemas ameaçadores. Uns energúmenos chamam-me branco de merda e dizem que vão cortar-me as mãos. Eu ameaço que lhes corto o inja e os matuba. Eles insultam-me e eu insulto-os. Eles ameaçam e eu ameaço. Não levo isso a sério.
Nem acredito que alguém com
responsabilidades ameace ou mande ameaçar intelectuais. Angola tem tão poucos
que o melhor é tratá-los bem. José Luís Mendonça tanto quanto sei é muito bem
tratado. Foi funcionário do Estado Angolano na embaixada junto da UNESCO
José Luís Mendonça escreve que “a
reconciliação com a história merece um tratamento extra partidário e extra
governo dos acontecimentos espoletados pela manifestação do dia 27 de Maio de
A “manifestação” do José Luís
Mendonça meteu um tanque de guerra rebentando o portão principal da cadeia de
São Paulo. Os manifestantes tomaram de assalto o quartel da IX Brigada, a maior
unidade militar de África. Fizeram desse quartel o centro de detenção de altas
figuras das forças armadas. Ocuparam à força, matando guardas, a Rádio Nacional
de Angola. Aos microfones anunciaram, promoveram e propagandearam os êxitos
militares do golpe. Decapitaram (assassinaram comandantes!) o Estado-Maior
General das FAPLA, num momento
Os manifestantes montaram postos de controlo e barreiras nas principais ruas de Luanda. Todos para o palácio! Quem se recusava morria logo ali. Mas esses não eram angolanos e muito menos intelectuais livres. Os manifestantes torturaram e mataram no quintal do Kiferro o comandante Eurico e o ministro das Finanças Saidy Mingas. Despejaram os cadáveres dos comandantes das FAPLA assassinados na lixeira de Luanda. Manifestantes pacíficos!