O apagamento da autoria e
desempenho de Otelo Saraiva de Carvalho no 25 de Abril, omitindo e revertendo o
passado, como tentativa de o eliminar da História, está a atingir proporções
inauditas!
O odioso regime estalinista, tem
sido fonte de inspiração para os sucessivos governos, instituições e Media pós
25 de Novembro, na arte do expurgo e da falsificação da História, apagando a
figura de Otelo das ‘’fotografias’’ em que o seu papel foi determinante.
Trabalho desenvolvido por figurantes de pé de página, ignorantes e
reaccionários, alguns fascistas, têm dado o seu contributo para a mistificação
da História portuguesa contemporânea.
Também Marcelo Rebelo de Sousa e
o ‘’socialista’’ António Costa ao não promulgarem o luto nacional pela morte de
Otelo, inscreveram-se na História negativamente, com o único registo
verdadeiramente ‘’relevante’’ da sua actividade política.
Na mesma linha de actuação se
deve considerar a atribuição de condecorações a tudo que vestia farda em Abril. Foi, como se
diz, à molhada, uma forma de o poder desvalorizar aqueles que de facto a
justificavam. Ao generalizar-se a medida, esvaziou-se a sua valoração, para
gáudio de alguns premiados vestidos de Abril.
Até a Comissão das Comemorações
dos 50 anos do 25 de Abril se integrou nessa estratégia da história sem autor
repleta de omissões e distorções, em vez de aproveitar o seu papel para
homenagear e distinguir os militares de Abril que efectivamente foram determinantes
nos acontecimentos.
Ao invés atribui a valia do feito
generalizadamente a uma displicente e vaga denominação de ‘’militares de
Abril’’, que a avaliar por alguns desses condecorados, descaracteriza, pela
ambiguidade, a natureza do próprio golpe militar, que como se sabe, foi
antifascista.
O que para além do pouco que se
diz atrás, seria pertinente, justo e necessário fazer à Comissão das
Comemorações, era informar os portugueses da verdade escondida da absolvição de
Otelo de todos os crimes de que falsamente foi acusado.
É imperativo a esta Comissão das
Comemorações reabilitar Otelo pelas seguintes razões:
1. Ter sido um dos principais
organizadores do golpe militar de 25 de Abril de 1974, tendo planeado e
comandado as operações até à vitória final com a consequente queda do fascismo
2. Não se ter provado que
pertencesse à organização Forças Populares 25 de Abril
3. Ter estado cinco anos detido,
em prisão preventiva, sem qualquer trânsito em Julgado
4. Ter sido anulado pelo Tribunal
Constitucional, o julgamento de autoria moral de que era acusado
5. Por a amnistia promulgada, não
ter tido qualquer incidência na sua libertação, que se verificou por excesso de
prisão preventiva
6. Ter sido finalmente absolvido
pelo Tribunal da Boa-Hora e pelo Tribunal da Relação, com trânsito em julgado,
de todos os crimes materiais que lhe eram atribuídos.
Em suma, a memória de Abril e de
Otelo Saraiva de Carvalho, apesar de adulterada, perdurará intacta na cabeça e
no coração de muitos portugueses. Ninguém a extinguirá!
‘’Atrás dos tempos vêm tempos e
outros tempos hão-de vir…’’
* Este texto é do meu amigo Mouta
Liz. Está ilustrado com a foto de outro amigo, Otelo Saraiva de Carvalho,
regando um cravo murcho como murchou a Revolução dos Cravos. No Abril de há 50
anos eu andava de repórter e cronista. Era realizador de dois programas na Voz
de Angola. Chefe de Redacção da Emissora Oficial de Angola. Destes 50 anos o
que ficou? A honra de ter trabalhado com muitas e muitos jornalistas angolanos,
profissionais brilhantes.
A amizade indestrutível com Otelo
Saraiva de Carvalho, o comandante operacional do 25 de Abril. A honrosa amizade
com o Almirante Rosa Coutinho, o único membro revolucionário da Junta de
Salvação Nacional. A inesquecível amizade com o Coronel Varela Gomes, militar
revolucionário antes do 25 de Abril. Comandante Marques Pinto, o militar
diplomata. Comandante Correia Jesuíno, o militar filósofo. Amizade e
camaradagem com Carlos Antunes e Isabel do Carmo. Participação activa na
sociedade de jornalistas que fundou o semanário O Ponto, dirigido
brilhantemente por Abel Pereira e Jacinto Baptista, que me ensinou isto:
“Jornalista é o historiador de todos os dias”.
Nestes 50 anos cumpri missões
honrosas. Hermínio Escórcio, Manuel Pedro Pacavira e Aristides Van-Dúnem
mobilizaram-me para a luta na frente mediática. Vencemos quando venceu o MPLA.
Subida honra, ter participado na luta sob a bandeira do MPLA.
Nestes 50 anos fui adoptado como
irmão do Comandante Ndozi. Os Comandantes Xietu, Iko e Ndalu fizeram de mim
repórter em todas as frentes de combate. Reportei as tremendas agressões
estrangeiras a Angola e ao Povo Angolano. Honra mais honrosa não há.
Nos 50 anos do 25 de Abril
recordo os construtores de Angola que foram meus colegas (alguns mais velhos)
no Liceu Salvador Correia: José de Carvalho (Hoji ya Henda), José Eduardo dos
Santos, Eurico Gonçalves, Manos Carapau (Comandante Tetembwa e Gigi Saraiva de
Carvalho), Nelson Gaspar, Onofre Martins dos Santos. E outros que neste momento
se esconderam num qualquer recanto da memória. No 25 de Abril de 1974 estava a
meses de fazer 30 anos…
A Revolução do 25 de Abril mudou
as nossas vidas. Derrubou o regime colonialista e fascista de Lisboa. A censura
à bruta acabou. Hoje é mais insidiosa e mais grave. Tem a forma de bombardeamento
informativo numa mistura explosiva de entretenimento, ignorância atrevida e
imbecilidade. O MFA, liderado por Otelo Saraiva de Carvalho foi para Angola e o
Povo Angolano um movimento de libertação, como o MPLA e a FNLA.
Nestes 50 anos registo o momento
mais alto da minha vida. Mais importante. Mais honroso. Trabalhei com Agostinho
Neto. Cumpri todas as missões de que me incumbiu. Canta para mim, Violeta
Parra: Gracias a la vida que me ha dado tanto!
Em Portugal, 50 anos depois do 25
de Abril, os fascistas estão de novo no poder. Os engravatados (AD), os feios
porcos e maus (Chega) e os filhotes (Iniciativa Liberal). Um ministro do CDS já
está filado na compra de submarinos! Uma agente imobiliária é ministra da
Justiça para tratar com os fundos abutres a venda das prisões de Lisboa e
Monsanto. Rios de dinheiro!
Na imagem: General Otelo Saraiva de Carvalho. Regar os Cravos da Revolução é a tarefa que não devemos esquecer para assegurar a democracia de facto, a liberdade, a justiça social/laboral, a dignidade do povo trabalhador, a revolução em estado permanente e o controlo das elites políticas e economico-financeiras... (Redação PG)