João Oliveira*, opinião | Diário de Notícias
Pela calada da noite do período eleitoral, o Governo PSD/CDS pediu à União Europeia que 4 mil milhões de euros em gastos militares não sejam considerados para efeitos dos critérios do défice orçamental e da dívida pública estabelecidos no Pacto de Estabilidade.
Não foi para investir na habitação, no Serviço Nacional de Saúde, na Escola Pública ou para reforçar a Segurança Social que o Governo português pediu essa exceção. Foi para destinar 4 mil milhões de euros a gastos militares.
Como o dinheiro não é elástico, aquela verba que vai para gastos militares não poderá ser destinada a outros fins, nomeadamente aqueles que estão referidos nas linhas anteriores. Tal como o júbilo com que os grupos económicos receberam essa notícia é proporcional ao descontentamento do povo que se avolumará perante a falta de resposta aos problemas que atingem a sua vida.
Este exemplo poder-se-ia somar a muitos outros que revelam com cristalina clareza como as opções da política de direita, servindo os grandes interesses económicos, sacrificam os direitos e as condições de vida do povo.
A partir dele é possível questionar o ponto em que o País ficou depois das eleições do passado domingo e o caminho que há a fazer para inverter a situação.
Olhando para a vida das pessoas e para as necessidades do País, não é evidente que aquela opção do Governo - e outras de idêntica natureza - é errada e contrária à que deveria ser feita? É mais que evidente.Olhando para a composição da Assembleia da República que resulta das eleições de domingo passado, estaremos hoje mais perto e em melhores condições para a corrigir ou reverter? Não, estamos mais longe e em condições mais difíceis.
Significa isso que estamos condenados, sem remédio, a que essas opções políticas se imponham nos próximos anos sem alternativa? Não, significa que é ainda mais necessário que essa alternativa seja afirmada para que o povo a possa ter como referência, mesmo que vá ser mais exigente a mobilização de forças para a sua concretização.
E não seria melhor que o Governo e a maioria de direita na Assembleia da República fizessem a política que defendem sem qualquer travão, tornando a vida de tal forma insustentável que o povo percebesse que aquela política não lhe serve mesmo? Não, não seria melhor. Porque quanto pior, pior.
Quanto pior as pessoas vivem, pior para as pessoas e pior para a sociedade como um todo. Quanto pior a situação, maior é o desespero e a desorientação, maior é o risco de manipulação e instrumentalização de consciências e de penetração de concepções e valores reacionários e antidemocráticos. Quanto pior a situação, piores e mais difíceis são as condições para a luta pela alternativa.
Melhor, melhor mesmo é a elevação da consciência (de classe e política) e a ação que a partir dela tem de se desenvolver na luta de todos os dias para travar políticas anti-populares e erguer soluções que correspondam aos interesses do Povo e do País.
A solução não é desistir nem claudicar, é resistir e lutar!
*Eurodeputado
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico
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