quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ELEIÇÕES EM ANGOLA 2012 – III

 

Martinho Júnior, Luanda
 
“A UNITA ESTÁ A MUDAR”
 
11 – A UNITA está a capitalizar a sua rebeldia, adaptando-a aos fenómenos sócio-político correntes, duma forma mais acelerada que o MPLA!
 
Está a fazê-lo sem alterar os tipos de apoio, de audiência e de influência característicos dos seus contactos no exterior, nomeadamente nos Estados Unidos e na Europa, depois do desaparecimento do sistema do “apartheid” na África do Sul, que lhe causaram amplos constrangimentos.
 
Por outro lado, sem os encargos resultantes das responsabilidades de preencher o governo e outros mecanismos do estado, a UNITA orienta essa energia livre de empecilhos, condicionalismos ou constrangimentos.
 
Mantém a sua implantação em resultado do histórico etno-nacionalismo, mas está a ganhar espaço nos novos fenómenos sócio-políticos que se estão a desencadear ao longo dos anos que se têm seguido ao calar das armas e isso apesar da criação da CASA-CE, formação em relação à qual não deixa de estar tacitamente conjugada.
 
A formação da CASA-CE permitiu também à UNITA maior concentração e coesão interna, o que foi aproveitado para, “libertando-se”, procurar a captação de votos nas camadas mais vulneráveis sobretudo da periferia de Luanda.
 
Houve uma progressão do voto na UNITA em todo o país dum patamar de cerca de 10% em 2008, para a bitola de 18,70%, o que é notável: quase duplicou!
 
É tanto mais significativo quanto o MPLA teve menos cerca de 10% de votos que em 2008 e ficar-se pelos 4 milhões quando afirmava que tinha 5 milhões de militantes e simpatizantes!
 
12 – Considerando sua percentagem média nacional de 18,70%, foram 12 as Províncias onde as percentagens alcançadas estão abaixo dessa fasquia, sendo 4 delas do interior do país longe das fronteiras: Cuanza Norte (3,65%) onde foi 3º, Huila (9,02%), Cuanza Sul (10,78%) e Bengo (13,90%).
 
A UNITA, para além do Cuanza Norte, foi o 3º partido mais votado na Huíla e na Lunda Sul (14,01%), em função da afirmação neste caso específico do PRS.
A UNITA indicia estar a perder alguma influência nas áreas onde se faz a exploração de diamantes, em especial onde essa exploração, comércio e tráfico é feita por autóctones segundo processos mais ou menos artesanais.
 
Superior à média de 18,70% a UNITA está em 6 Províncias, entre elas 4 “locomotivas” económicas que ocupam espaços geográficos longe das fronteiras: Benguela (20,45%), Luanda (24,79%), Huambo (28,21%) e Bié, onde, recorde-se, se situava a Zona Estratégica dos diamantes de Savimbi, (36,20%)!
 
Foi no Bié onde a UNITA conseguiu obter a sua maior percentagem de aderência em todo o espaço nacional, reflectindo de certo modo e ainda o peso das suas origens e “modus operandi”.
 
Superior à sua média nacional a UNITA esteve também no Zaire (23,60%) e Cabinda (24,40%), o que reflecte também um aumento de sua implantação em Províncias onde há petróleo e gás, ao mesmo tempo onde existe população de fresca chegada e ainda instável na sua acomodação, assim como população afecta às tendências da FLEC.
 
Há pois apetência clara para a fluência do seu eleitorado para ambientes urbanos e para os centros económico e sócio-políticos mais decisivos, ao mesmo tempo que vai minguando manifestação a seu favor em 8 Províncias com fronteira: Cunene (4,84%), Namibe (onde é o 3º Partido mais votado com 5,33%), Malange ((5,93%), Moxico (9,77%), Uíge (10,55%), Lunda Norte (13,50%), Lunda Sul (14,01%) e Cuando Cubango ((18,45%).
 
Se bem que tivesse ganho no “tradicional” Município do Andulo, a UNITA teve a maior percentagem de votos aderentes no Município do Cacuaco em Luanda (49,34%), com mais quase 8 pontos de vantagem em relação ao 2º, o MPLA que só conseguiu nesse Município 41,99%!
 
O Cacuaco, tendo em conta a migração proveniente do norte do país, poderia ser disputado também pela FNLA, mas a incapacidade deste “histórico” em lidar com a juventude, impede-o de obter mais percentual favorável, o que evidencia o actual estado do “conflito de gerações”!
 
Em relação ainda ao MPLA, interessa evidenciar que o eclipse dos sindicatos como a UNTA e duma maior actividade de organizações de juventude que afectas a esse partido, estão a contribuir para a ascensão da UNITA nas periferias mais industrializadas de Angola.
 
Essa evolução ilustra bem o deslocamento dos esforços em relação ao eleitorado por parte da UNITA, pois o Cacuaco passa a ser o seu maior “baluarte” nacional!
 
É como se torna óbvio, uma pista de leitura em relação às opções sócio-políticas e à orientação do partido que se está a revitalizar.
 
A UNITA está à conquista das maiores periferias urbanas do país afirmando-se numa outra projecção em relação ao futuro!
 
13 – Em relação a Luanda, para além do que já escrevi quando abordei a leitura das inclinações de voto para com o MPLA, há questões que em relação à UNITA importa realçar:
 
- A UNITA tende a ocupar a ausência de Partidos que ponham em causa a lógica capitalista, sustentando sua mobilização e eleitorado nos substratos mais instáveis e vulneráveis da população, aparecendo “à esquerda” sem o efectivamente ser;
 
- A UNITA indicia conexão com factores externos que estão apostados em tirar proveito dessa situação para incremento de condutas próprias, algumas das quais explorando emoções ou chegando mesmo às provocações;
 
- A UNITA, para além da sua persistente sustentação etno-nacionalista, está a ter o engenho de captar juventude e massa populacional crítica, descontente e instável.
 
Dessa forma a UNITA está a procurar manter sua influência em função de suas origens histórico-políticas, mas tornar-se mais envolvida, motivada e activa perante os fenómenos sócio-políticos e económicos emergentes da sociedade angolana!
 
14 – Estes dados sustentados com a análise de tendências através da leitura objectiva das percentagens, permitem-me projectar que também a UNITA se está a preparar para as eleições nas autarquias, de modo a ampliar rendimentos sociais e políticos, fortalecendo-se financeiramente.
 
Em relação ao espectro dos sistemas político-administrativos a UNITA procura encontrar mais espaço a partir da base, de forma a conseguir outros níveis de presença que até agora não conseguiu alcançar por si e sem a complacência do MPLA em nome da reconciliação e da reconstrução nacional.
 
Este apetite legítimo socorre o facto da UNITA se puder, lenta mas seguramente, procurar-se tornar mais firme na sua participação no âmbito da construção da identidade nacional.
 
Se antes no pior dos sentidos a UNITA levou a cabo a barbárie de promover a luta “do interior contra o litoral”, dos “autóctones contra os crioulos”, agora a UNITA começa a, de forma tão diluída quanto a juventude o permite, aplicar esse pressuposto sem o recurso às armas e mantendo uma inteligente e permanente táctica de tensão, de intensidade controlada, mas mesmo assim variável.
 
… “Representatividade obriga”, mas Isaías Samakuva até parece que deu um “basta” a determinados gritos que vinham de trás, como aquele de Muangai!...
 
Gravura: Os “kupapatas” um fenómeno que favorece as projecções sócio-políticas da UNITA.
 
A consultar:
- Demografia, identidade nacional, assimetria e eleições – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html
 
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* Para ler todos os textos de Martinho Júnior, clique aqui
 

4 comentários:

Anónimo disse...



Os "maninhos" estão melhor que os "CASAmenteiros", ou que os sumidos do "Bando Desenhado"!!!

Anónimo disse...


EM CONFORMIDADE:

A progressão real da UNITA em relação ao MPLA é mais de 8%, pois a energia do seu empunho em relação à juventude é muito maior.

Para as autarquias, em 2014, a UNITA terá mais de 20% e estará ainda conjugada à CASA que também deverá chegar aos 10%!

Anónimo disse...

ACHAM MESMO QUE O MPLA DESISTIU EM RELAÇÃO À JUVENTUDE?

TIREM O CAVALINHO DA CHUVA!

Anónimo disse...



A UNITA está a viver um estado de graça!

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