La
Tribune, Paris – Presseurop – imagem Bas
van der Schot
À margem da cimeira
de Bruxelas, os chefes de Estado e de governo da zona euro confirmaram a
nomeação do luxemburguês Yves Mersch para o conselho executivo do Banco Central
Europeu. O Parlamento Europeu tinha rejeitado a sua candidatura.
Com esta nomeação,
o Conselho Europeu demonstra o verdadeiro valor do Parlamento Europeu que,
desde o Tratado de Lisboa, garantem-nos eles, passou a ter um “verdadeiro”
poder. Pouco interessa o motivo pelo qual a assembleia tinha rejeitado esta
candidatura, no
presente caso o sexo do senhor Mersch. Esta podia ser considerada
inaceitável. No entanto, numa democracia, o voto do parlamento é incontornável.
Uma regra de ouro que prevalece sobre a questão orçamental. Mas não é o que
consta nos tratados europeus.
A chegada de Yves
Mersch ao conselho executivo do BCE revela também o
mau caminho que a Europa está a seguir. Os chefes de Estado e de governo
não estão dispostos a ouvir outras opiniões além das deles. O problema é que
isto origina desagrados muito mais lastimáveis do que a nomeação do
luxemburguês. A gestão da crise da dívida, que consiste desde há dois anos em
remendar o que já foi remendado em “cimeiras da última oportunidade” que se
sucedem, é o fruto deste funcionamento desastroso. O recente fracasso do
Eurogrupo para com a Grécia, que deverá ser remendado segunda-feira, 26 de
novembro, é mais uma prova disso.
A instauração de um
parlamentarismo europeu poderia ajudar a criar um sentimento de comunidade à
escala europeia imprescindível nos dias de hoje. Tornaria os eleitores, eleitos
e chefes de Estado mais responsáveis, o que seria sem dúvida algo benéfico.
Ironicamente, esses mesmos chefes de Estado que menosprezaram a votação dos
eleitos de Estrasburgo serão os primeiros a deplorar, com uma lágrima no canto
do olho, a abstenção massiva prevista para as próximas eleições europeias e a
criticar “este mal que destrói a nossa democracia”.
Países de segunda
classe
Mas na realidade, a
nomeação de Yves Mersch é ainda mais preocupante do que parece. Representa a
vitória de uma certa ideia da Europa. Em primeiro lugar em termos monetários,
uma vez que assinala a entrada de um falcão no seio do conselho executivo. Um
falcão que será a voz do Bundesbank e que travará muito provavelmente, pelo
menos a nível interno, a participação necessária do BCE na gestão da crise em
nome da “estabilidade”.
Em segundo lugar,
em termos de representatividade na Europa. A chegada de Yves Mersch confirma a
expulsão de um representante permanente da Espanha no seio do conselho executivo.
Na altura, Madrid mostrou-se desfavorável a esta nomeação. Mas não nos
iludamos: o único motivo que levou à expulsão da Espanha foi as suas
dificuldades económicas. Por outras palavras, os países em crise estão a
tornar-se claramente países de segunda classe. Pior ainda: os chefes de Estado
e de governo consideraram útil garantir no seio do conselho executivo um certo
equilíbrio entre o “norte” e o “sul” da Europa, defendendo assim uma visão
“étnica”. Tudo isto é um mau presságio para a gestão do nosso continente.
E por último, esta
nomeação do luxemburguês confirma o peso exorbitante do Grão-Ducado nas
instâncias dirigentes europeias, sendo o seu primeiro-ministro também
presidente do Eurogrupo. Podemos, de facto, reconhecer que os súbditos da sua Alteza
Real Henrique de Luxemburgo são um pouco mais dotados que os outros, mas esta
nomeação não é mera coincidência, num momento em que a própria Comissão
Europeia critica a má vontade deste pequeno Estado na luta contra os paraísos
fiscais e, onde, paralelamente, grandes países lutam para voltar a ter uma
situação financeira sólida.
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