RTP com Lusa
O representante da
ONU na Guiné-Bissau acredita ter sido feito "bode expiatório" das
autoridades "de facto" guineenses por os estados-membros da ONU não
terem reconhecido o Governo emanado do golpe de Estado de abril.
Em entrevista à
Lusa a duas semanas de concluir a sua missão de quatro anos à frente do
gabinete da ONU em Bissau (UNIOGBIS), o ruandês Joseph Mutaboba não poupou
críticas também à lentidão dos parceiros internacionais em financiar a
desmobilização de militares no país, que teria evitado o mais recente golpe de
Estado, ocorrido a 12 de abril, que depôs o primeiro-minitro eleito e o
Presidente interino.
Durante o último
debate da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, as novas autoridades enviaram a
Nova Iorque o Presidente interino de transição, mas este não conseguiu
acreditação para discursar em nome do país, facto que causou
"frustração" em Bissau.
"Precisavam de
um bode expiatório e ele foi o Secretariado [da ONU] e o representante.
Tornei-me num bode expiatório para todas as palavras duras contra a ONU e
secretariado", disse à Lusa.
As críticas por
vezes "nem sequer distinguiam" entre o Secretariado e os países que
têm assento na Assembleia-Geral da ONU e no Conselho de Segurança, vendo a ONU
como "uma grande entidade só".
Esta
"frustração", adiantou, foi também o motivo contra os ataques contra
meios da organização em Bissau, já condenados pelo Conselho de Segurança, mas
que Mutaboba se escusa a detalhar.
Mutaboba confessa
ele próprio frustração com a dificuldade de resolução dos problemas da
Guiné-Bissau e em chamar a atenção internacional para a crise no país.
"Acreditei que
teria ajudado a resolver problemas da Guiné-Bissau num tempo curto, mas
faltavam elementos", afirma.
O representante fez
um `briefing` ao Conselho de Segurança nas vésperas do golpe de Estado e
considera que a inação do organismo e dos parceiros internacionais foi uma das
razões da crise atual.
"Agora
acreditam todos em mim", afirma Mutaboba, em relação aos alertas ignorados
antes do golpe.
Em relação à
estratégia de 2006 para desmobilizar militares "nada foi feito", em
particular na disponibilização de meios financeiros.
"Se a União
Europeia, a comunidade internacional, pagaram em Moçambique para desmobilizar
mais 100 mil pessoas, e funcionou perfeitamente, porque não aceitam sacrifícios
para desmobilizar 10 mil na Guiné-Bissau e ter o problema resolvido?",
questiona.
Mesmo antes de
2012, a desmobilização "devia ter acontecido há muito tempo" e teria
evitado a sucessão de crises, defende.
Para Mutaboba, o
último passo é agora elaborar e entregar ao secretário-geral o seu relatório de
conclusão de missão.
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