JSD – APN - Lusa
Cidade da Praia, 03
abr (Lusa) - O secretário executivo da CPLP afirmou hoje que os oito Estados
membros da comunidade lusófona devem pensar no futuro da organização,
defendendo que já tem maturidade suficiente para, após 17 anos, almejar novos
patamares e assumir novos desafios.
Murade Murargy,
numa palestra intitulada "Repensar a CPLP" (Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa) realizada no Ministério das Relações Exteriores de Cabo
Verde, na Cidade da Praia, lembrou que o contexto da criação da organização, em
1996 e então sem Timor-Leste, é diferente do atual.
"Em 1996,
vivia-se um contexto mundial de fim da «Guerra Fria», de bipolarização do Mundo
(entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética - atual Rússia)",
sustentou.
"Angola -
continuou - estava em guerra, o Brasil saía de uma crise financeira, Cabo Verde
consolidava a democracia, a Guiné-Bissau vivia momentos de prosperidade,
Moçambique saía de uma guerra, Portugal continuava a negociar a entrada na
União Europeia (UE), São Tomé e Príncipe estava estável e Timor-Leste não
existia".
Para Murargy, 17
anos mais tarde, o mundo "mudou" e o contexto dos Estados membros da
CPLP também.
"Angola tem
uma paz consolidada e desenvolve-se economicamente, o Brasil é a 5.º ou 6.º
potência mundial, Cabo Verde mantém-se estável, a Guiné-Bissau entrou num
processo complexo e difícil, Moçambique cresce a bom ritmo com a descoberta de
novas riquezas, Portugal vive numa crise que é conjuntural, São Tomé e Príncipe
continua a tentar consolidar a democracia e Timor-Leste entrou em cena",
comparou.
Após os ganhos já
conseguidos, a CPLP tem de "almejar novos patamares e assumir novos
desafios", defendeu Murargy que, depois, levantou as questões que estão
subjacentes a um "debate, para já, inacabado" e que deve ter em conta
a perspetiva do que será a organização dentro de 10, 15 ou 20 anos.
"Que futuro
para a CPLP? Que desafios se colocam hoje? Que perspetivas têm os Estados
membros para a CPLP dos próximos anos? Como deverá ser a CPLP e como deverá
atuar de modo a poder responder às expectativas dos cidadãos?",
questionou.
Para Murargy, a
CPLP não pode confinar-se a uma comunidade linguística, pois a dinâmica das
suas atividades demonstra que poderá tornar-se um espaço "muito mais
envolvente", abrangendo vários domínios, entre eles o potencial de
cooperação nas áreas da formação, educação, cultura, defesa e segurança e
económico-empresarial.
"A língua não
pode ser vista como um valor meramente cultural, pois tem um valor geopolítico
e geoeconómico. Esta equação confere à língua portuguesa uma implantação
ímpar", defendeu.
Murargy lembrou que
a "proliferação de pedidos" de concessão de estatuto de observador ou
de observador associado ou ainda de adesão de um novo membro, no caso a Guiné
Equatorial, abre uma "nova etapa histórica" na CPLP.
"A CPLP é um
espaço de descontinuidade geográfica dos Estados membros e, consequentemente,
pela inserção dos «oito» em diferentes espaços regionais. Esta é uma pertença
múltipla que traz um vasto conjunto de oportunidades. Será possível encontrar
áreas de convergência entre as prioridades destas organizações e a CPLP que
permitam gerar sinergias e ganhos de complementaridade?", concluiu.
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