Isabel Moreira –
Expresso, opinião
Que alívio.
Tanto tempo à
espera de uma explicação para o desastre desta governação; tanto tempo à espera
de uma explicação para um Passos que se atirou com fome ao poder com promessas
que desdisse uma vez no cargo; tanto tempo à espera de uma explicação para a
adesão laranja e azul, não ao memorando, mas ao dobro dele; tanto tempo à
espera de uma explicação para anos de diabolização e derrube dos funcionários
públicos e dos idosos; tanto tempo à espera de uma explicação para a
insistência no pensamento desligado do país real de Vítor Gaspar durante e após
a sua demissão; tanto tempo à espera de uma explicação para o desemprego mais
vertiginoso da nossa democracia; tanto tempo à espera de uma explicação para o
regresso ao slogan pré-civilizacional "quanto mais fácil despedir, mais
cresce a economia"; tanto tempo à espera de uma explicação para a
celebração do desaparecimento da classe média que garante a coesão social;
tanto tempo à espera de uma explicação para o deslumbramento com a paisagem de
um país terceiro-mundista com mais pobres e mais milionários e
multimilionários; tanto tempo à espera de uma explicação para o ataque ao que
reverteu a sociedade pobrezinha e forçadamente grata da ditadura, a escola pública,
o SNS, a Segurança Social; tanto tempo à espera de uma explicação para
exterminar pela escravatura os beneficiários do RSI; tanto tempo à espera de
uma explicação para o ódio repentino ao reconhecimento dos direitos de todas as
crianças, ao reconhecimento da pluralidade dos modelos familiares; tanto tempo
à espera de uma explicação para a revogação da vitória que prestações sociais
essenciais tinham tido na retirada da pobreza de milhares de pessoas; tanto
tempo à espera de uma explicação para promessas feitas e quebradas quinze dias
depois; tanto tempo à espera de uma explicação que nos tire da cabeça que o
projeto da direita é empobrecer e assim aumentar as exportações; tanto tempo à
espera de uma explicação para a loucura fiscal instalada; tanto tempo à espera
de uma explicação para uma política de insulto a quem discorda dela; tanto
tempo à espera de uma explicação para a campanha indigna e não democrática, 40
anos depois de Abril, contra a Constituição e contra o garante da mesma, o
Tribunal Constitucional; tanto tempo à espera de uma explicação para a
convicção de que o projeto governamental deve prevalecer sobre a lei
fundamental; tanto tempo à espera de uma explicação que nos retire da cabeça a
certeza banal de que a destruição do fator trabalho, do seu valor, é a
destruição da sociedade, que nunca sustentará, no estado em que foi deixada, as
condições da saída limpinha; tanto tempo à espera.
Saiu a explicação
autêntica. Passos falou após o diagnóstico: falta "melhorar a
comunicação"; "é preciso estar mais com as pessoas, com os seus
dramas"; e, claro, "ser humilde".
Está explicado.
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