terça-feira, 19 de agosto de 2014

REFERENDO CIVIL SOBRE SUFRÁGIO UNIVERSAL FORA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE MACAU




Macau, China, 18 ago (Lusa) - O referendo civil, que pretende apurar a opinião da população sobre a introdução do sufrágio universal em Macau, não vai poder realizar-se no espaço público, confirmou hoje o Tribunal de Última Instância (TUI).

O tribunal negou hoje o recurso apresentado pela Sociedade Aberta de Macau, uma das três associações promotoras do referendo, pedindo a utilização do espaço público para instalar mesas de voto, ao abrigo do direito de reunião e manifestação. O pedido já tinha sido negado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

A decisão de negar o recurso foi hoje divulgada pelo TUI que ainda não disponibilizou o acórdão em língua portuguesa, uma das duas línguas oficias da região administrativa especial.

Segundo o presidente da Sociedade Aberta de Macau, Jason Chao, o TUI justificou a sua decisão argumentando que a atividade não constitui reunião.

"O tribunal não considera que participar num referendo civil constitui uma reunião e, por isso, não tem obrigação de garantir o nosso direito de ocupar espaços públicos", explicou Chao, após leitura do acórdão em língua chinesa.

Em resposta a um anterior recurso - pedindo a ocupação do espaço público para ações de promoção do referendo -, o TUI optou por não se pronunciar sobre o pedido, também por não entender que se tratava de uma reunião.

Nesse mesmo acórdão, o tribunal definiu uma reunião como "um ajuntamento (geralmente intencional e organizado), sem carácter permanente, de pessoas que ouvem discursos e/ou debatem ideias, com vista à defesa de ideias ou de outros interesses comuns e à formação de opiniões coletivas".

Segundo Chao, a mudança de posição deve-se à alteração do coletivo de juízes.

Song Man Lei, a juíza relatora do anterior acórdão, quis manter a mesma decisão, mas teve voto vencido, com os outros dois juízes (novos no caso) a discordarem.

O voto vencido é confirmado pelo tribunal, que indica ter sido, por esse motivo, o juiz Lai Kin Hong a relatar o acórdão.

Apesar da recusa, o ativista garante que o TUI deixa claro que "os cidadãos podem fazer tudo o que não é proibido por lei", incluindo o referendo.

Tanto o governo local como o governo central da China já vieram a público defender que a organização e participação no referendo é ilegal.

Chao garante que esta recusa não vai impedir a realização da atividade. Os interessados vão poder votar online e também pessoalmente, em mesas de voto instaladas em espaços privados.

"Faremos tudo o que for preciso para garantir um referendo civil bem-sucedido", sublinhou Jason Chao.

O ativista demonstra, no entanto, preocupação com aquilo que entende ser a abertura de um precedente pelo tribunal: "Dá ao IACM a autoridade de determinar a natureza de uma reunião. No futuro, o IACM pode não autorizar reuniões julgando apenas o nome dessas reuniões. É um recuo para a liberdade de expressão e um recuo na proteção dos direitos humanos em Macau".

O referendo civil começa no domingo e estende-se até dia 31 de agosto, data em que é eleito o chefe do Executivo por um colégio de 400 pessoas.

ISG // PJA - Lusa

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