Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Há
uns meses, viajando pela TAP, aprendi que o termo overbooking aplicado aos
aviões não resultava de um azar, de um erro de programa ou de um qualquer
funcionário que, inadvertidamente, vendia mais lugares do que a capacidade do
avião. Aprendi na pele que o overbooking é legal, ou seja, as empresas aéreas
podem vender mais 10% dos lugares que têm. Ao cliente resta-lhe esperar uma
indemnização, um valor fixo por horas de voo, e ficar a aguardar que lhe
encontrem outra solução para efectuar a viagem. A definição das prioridades e
da escolha sobre os 10% de azarados legais é uma decisão do
"sistema", cujos critérios não são do conhecimento de quem informa os
promitentes passageiros, mas no meu caso pude constatar que todos os azarados
tinham a particularidade de ter comprado o bilhete há muito tempo,
consequentemente, por valores mais baixos. Desde o sucedido, passei a evitar os
voos da TAP.
Há,
de facto, actividades económicas com muita sorte. As companhias aéreas, se as
respectivas administrações assim o entenderem, podem vender o que não têm.
Desconheço se esta prática é aplicada por todas as companhias. O que posso
declarar é que, tendo viajado em muitos outros aviões lotados, tantas vezes em
low-cost, não me recordo de alguém ter ficado em terra.
Entretanto
sucedem-se as notícias sobre falhas nos voos e nos aviões da TAP, após um Verão
de cancelamentos. Ano após ano repete-se a notícia de que o passivo diminui,
glorificando a actual administração, sem se olhar para os seus activos (entre
2010 e 2011, por exemplo, o passivo diminuiu 27 milhões, e os activos 105
milhões). Os seus administradores, mesmo desvalorizando a instituição, auferem
salários milionários e até merecerão ser premiados com um lugar na futura
empresa privatizada.
Aquela
que, outrora, foi das mais fiáveis companhias aéreas do mundo está hoje bem
preparada para ser privatizada ao desbarato. A farsa repete-se sempre da mesma
forma.
Escreve
ao sábado
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