segunda-feira, 27 de outubro de 2014

China quer derrotar manifestantes de Hong Kong pelo cansaço. Valha a religião




O impasse continua ao fim de um mês de protestos

Hong Kong, China, 27 out (Lusa) - Um mês após o início dos protestos em Hong Kong, o movimento pró-democracia não dá sinais de abrandar, ao mesmo tempo que as negociações com o Governo se têm mostrado infrutíferas.

Foi na noite de 27 de setembro que o fundador do Occupy Central, Benny Tai, declarou o início antecipado do movimento de desobediência civil, juntando-se às multidões que já ocupavam as ruas em apoio ao boicote às aulas iniciado pelos estudantes do território.

As manifestações paralisaram as ruas e ganharam novo fôlego depois de a polícia ter recorrido ao uso de gás lacrimogéneo e pimenta para dispersar as multidões. Os protestos acabaram por se espalhar além da zona do complexo do Governo, em Admiralty, estendendo-se até Mong Kok e Causeway Bay, com uma breve ocupação de Tsim Sha Tsui.

O movimento atraiu a atenção de meios de comunicação de todo o mundo e conseguiu mesmo gerar manifestações de apoio em várias cidades do globo.

No entanto, um mês após o seu início, não há fim à vista para o problema, com as negociações entre os líderes estudantis e o Governo a não terem resultados.

O plano original de Benny Tai, lembra o South China Morining Post, era mobilizar 10.000 pessoas para bloquear as ruas do distrito financeiro da cidade, caso o Governo não autorizasse o que consideram o sufrágio universal "genuíno" para eleger o chefe do Executivo em 2017. Esperava-se uma concentração de três dias, lembra o jornal.

Percebendo que eram os jovens que estavam a tomar as rédeas do movimento, os organizadores do Occupy acabaram por se posicionar como mediadores dos estudantes.

No entanto, a mudança de liderança resultou num protesto menos organizado, que implicou discussões a três, entre a Federação de Estudantes, o movimento Scholarism e os líderes do Occupy, destaca o jornal.

Tornando-se óbvio que os manifestantes não iriam abandonar as ruas, agendaram-se negociações entre o Governo, lideradas pela secretária-chefe Carrie Lam, e a Federação de Estudantes, com Alex Chow à cabeça.

As negociações não surtiram, no entanto, qualquer efeito, com os estudantes a questionarem o grau de comprometimento do Executivo.

A nomeação civil dos candidatos a chefe do Executivo, pedida pelos estudantes, foi rejeitada pelos representantes do Governo, que insistiram que Pequim jamais autorizaria esse cenário.

Prometeram, no entanto, informar as autoridades da China Continental sobre os mais recentes acontecimentos e sugerir que fosse criada uma plataforma para discutir a reforma política além de 2017.

Os líderes estudantis consideraram estas ofertas pouco concretas e pediram que o Governo local avançasse com informação clara sobre as consequências dessas promessas.

Ainda assim, na passada sexta-feira, os líderes do movimento anunciaram a realização de um referendo para decidir se devem aceitar as propostas que o governo lhes apresentou, referendo esse que acabou por ser cancelado.

O movimento pró-democracia opõe-se à proposta apresentada pelo Governo Central para a eleição do chefe do executivo em 2017, que prevê que os candidatos sejam pré-selecionados por uma comissão, impedindo o que consideram um "genuíno" sufrágio universal.

ISG // JPS

Religião na linha da frente dos protestos

Hong Kong, 27 out (Lusa) - O papel da religião nas manifestações de Hong Kong vai além das imagens sagradas colocadas nos locais dos protestos, tendo já os líderes das religiões maioritárias oferecido ajuda para intermediar entre o Governo e os manifestantes.

O gesto dos líderes das seis religiões maioritárias na cidade foi visto como genuíno e, apesar de ter sido recusado, evidenciou "um possível papel na criação de diálogo", considera o jornal South China Morning Post.

Há muito que o cristianismo tem estado ligado à luta pela democracia e nos principais locais de protesto podem encontrar-se cristãos a organizar sessões de oração e missas católicas, além de oferecerem aconselhamento.

"Na política não há neutralidade. Não ter opinião é uma opinião. E frequentemente não ter opinião é visto como apoio ao grupo no poder", disse o Revendo Yuen Tin-yau, presidente da Igreja Metodista e do Conselho Cristão de Hong Kong.

"Igualdade e justiça são princípios basilares do cristianismo e por esse motivo os cristãos tendem a apoiar o desenvolvimento democrático. Não devia ser um pequeno grupo a controlar o poder de gerir a sociedade", afirmou Yuen.

O Reverendo Chu Yiu-ming e Benny Tai, dois dos três fundadores do Occupy Central, são cristãos, tal como é o líder do movimento Scholarism, Joshua Wong.

O jornal tentou contactar os restantes signatários da declaração que se ofereceram como intermediários, mas só conseguiu obter respostas da comunidade cristã.

Justin Tse, investigador da Universidade de Washington, realizou um estudo aprofundado sobre a relação do cristianismo aos movimentos de desobediência civil em Hong Kong, e concluiu que a sua influência foi além da participação dos crentes.

"Isto não quer dizer que as instituições da Igreja estiveram profundamente envolvidas. O que significa é que as pessoas de Hong Kong têm sido tão profundamente influenciadas pelo cristianismo através de diversos canais da sociedade civil - escolas, meios de comunicação, serviços sociais - que acabam por praticar e articular o seu ativismo com normas cristãs", explicou.

O Conselho Cristão de Hong Kong divulgou vários comunicados nas últimas três semanas, apelando ao Governo que oiça a "mensagem clara que as pessoas Hong Kong e os estudantes estão a enviar", bem como a condenar o recurso à força por parte da polícia.

O conselho também expressou "profunda desilusão e preocupação com a decisão" da Assembleia Popular Nacional sobre a reforma eleitoral, apelidando-a de "uma regressão do atual sistema eleitoral e, consequentemente, da democracia".

Em Admiralty, o Pastor Wu Chi-wai organizou sessões de oração todos os dias desde que o movimento começou.

"Queremos dar apoio emocional aos estudantes ou a quem precisar dele", disse, indicando que várias igrejas disponibilizaram voluntários para estar no terreno.

"As questões [políticas] não vão desaparecer brevemente, e como cristãos e membros ativos da sociedade, acredito que temos muitos para oferecer", rematou.

ISG // JPS

*Título PG

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