terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PORTUGAL E OS TÍTULOS DA NOSSA DESGRAÇA


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Ano a findar e outro a começar. É sabido que 2015 não vai ser melhor que o ano que agora termina, nem 2014 foi melhor que 2013 e o transato também não. Desde 2010 que Portugal anda pelas ruas da amargura mais que nunca. Testemunhas disso somos quase todos nós. Excluam-se aqueles que vendem a alma aos poderes e os que roubam com os seus alvos colarinhos. Uns quantos que encontramos pela política, nos partidos do arco da governação, na banca, no grande empresariado, na justiça, na medicina, nos gestores e em mais uns quantos setores que me dispenso referir para não alongar a lista. Se muitos milhões de portugueses são testemunhas disso - testemunhas e vítimas – outro testemunho são as notícias do quaotidiano. Basta olhar para os títulos para conseguirmos perceber a lástima que é este país e quão miseráveis vamos ficando de dia para dia. Olhemos para os títulos e benzamo-nos, se for esse o caso. Chorar já não merece o ato porque os líquidos são preciosos para os corpos subnutridos de muitíssimos de nós. Passemos aos títulos da nossa desgraça como se de registos filmográficos se tratem. No Notícias ao Minuto, em títulos de notícias de há um ou dois dias atrás sobra matéria para fazer o “filme”. 


Doutor Morte é como popularmente chamam a Paulo Macedo, ministro da Saúde. Compreende-se a razão de tal definição. É que não é o primeiro doente ou acidentado a morrer devido aos cortes que este anafado ministro tem concretizado. Podem ter a certeza que ele não tem nojo dele próprio quando se olha ao espelho e peso na consciência também não, até porque a consciência destes governantes que têm levado os portugueses à miséria e falta de assistência na saúde deve ser de esferovite. Quase tão leve como uma pena. Abriram um inquérito, já é notícia. Pois. Mais um para o cardápio das inutilidades.


Há menos funcionários e há mais processos. Os funcionários que restam trabalham que nem mouros, em péssimas condições laborais. Curiosamente os magistrados do Ministério Público aumentaram 16% e os juízes 6,1%. Mais trabalho por menor ordenado e menores regalias. Além disso há a inovação CITIUS que fez parar o setor da Justiça e que atualmente ainda se move aos arranques quando lhe dá na gana computorizada. Não se admirem da lentidão do setor. Tudo vai sendo feito para isso. E então agora até dá muito jeito. Processos a serem arquivados por já terem ultrapassado os prazos. Que o diga Paulo Portas, vice-ministro deste descalabro a que chamam governo. Os submarinos agradecem.


Pudera. Fazer nascer escravos para estes políticos sebosos e corruptos, assim como para empresários adeptos do esclavagismo, não merece a ejaculação. É preferível tirar fora, usar camisinha, ter relações anais ou orais. É assim mesmo. As palavras certas para a certeza de que os portugueses não se podem dar à irresponsabilidade de fazer bebés quando os políticos desta praça da bagunça lusa optam por roubar e se considerarem legitimados para o fazer porque são governo, políticos ou amigos empresários e banqueiros acima de quaisquer suspeitas, o que significa viverem impunes.


Dois médicos que burlaram o Serviço Nacional de Saúde. É suposto. Só dois? Naquela classe há ainda os que apesar de não burlarem (parece) usam preçários imorais. Não são todos. Pois claro que não são todos. Mas facto é que alguns daqueles que se diz terem cursos superiores e são doutores disto e daquilo aparentam ter andado nas universidades a frequentar cursos superiores do gamanço. Como sempre o infeliz pagante é a populaça que até nos impostos de um preservativo vai pagando para os energúmenos que querem sempre mais e mais euros, casas, piscinas, automóveis, jóias e etc. Doutores e burlões defendidos por outros doutores advogados, acusados por pares desses, depois um juiz ou juízes também doutores. Uma hidra. E são estes que se fartam de “encher” mas nunca estão satisfeitos. Que tal o salário mínimo?


Quero ver se não vejo nem oiço este tétrico presidente da República. Caí na asneira de assistir à mensagem de natal vinda de Belém. Horripilante. Cavaco e a D. Maria mais pareciam duas múmias. Ali, estáticas, enfezadas, mas sem as características ligaduras que lhe dariam um ar mais autêntico e solene. É evidente que as ligaduras dariam trabalho e despesa. A Presidência da República é muito onerosa para os portugueses – demasiado – e o orçamento tem de ser poupado para as viagens de arromba que são inúteis para o país mas dão gozo, para os banquetes, para outras taras e manias. A mensagem de natal foi tétrica e a de ano novo vai ser mérdica e a dizer que “isto está a melhorar mas…”. Enfim, uma seca e uma tristeza.


Há médicos e médicos. Os em epígrafe são quase sempre os jovens médicos. Aqueles que estão a ingressar no sistema ou que não têm oportunidade nem feitio para serem usurários, chicos-espertos, etc. E então a esses querem pagar até 12 euros por hora. O ministério da saúde diz que devem ser pagos a 25/30 euros por hora mas as empresas “de saúde” são mais papistas que o papa e oferecem menos de metade do mínimo estipulado. Dizem os médicos tarefeiros que aquelas importâncias são degradantes para a classe, para eles. É verdade. Agora imaginem lá aqueles portugueses, jovens e até nem tanto, que ganham 2 euros à hora e têm de andar de cara alegre e a trabalhar dez e mais horas até que os patrões queiram, muitas vezes sem pausas e sem refeições. Vão aos centros comerciais que lá encontram destes desgraçados. Muitos com estudos. Alguns até com cursos universitários à procura do primeiro emprego para que estudaram. Afinal para que andaram a queimar pestanas? Para que é preciso o 12º ano, por exemplo, se depois não existem empregos compatíveis? E o 9º ano para quem tem somente por opção encontrar trabalho incerto em cargas e descargas ou andar a montar e desmontar palcos e plateias e afins para eventos, concertos, etc. nas Arenas Meo, no Pavilhão Atlântico… E depois ainda ficam sujeitos a que não lhes paguem. Como acontece em subempreiteiros (?) no Pavilhão Atlântico. Mundo cão. Pois é. Está a tocar a muitos e até aos médicos. Para todos é degradante. Principalmente quando o país tem governo e presidente da República que não olham a despesas apesar de parecer que sim.


O hospital em título empancou. Houve esperas de doentes que marcaram um dia em espera. Depois admiram-se que eles , os doentes, morram. O Doutor Morte, Paulo Macedo, do pelouro da morte, perdão, da Saúde, é implacável. Dada a bronca na comunicação social o ministério vai mandar para lá mais médicos (tarefeiros). Lá virá o ministro untuoso dizer os seus blás-blás. Entra a cem e sai a duzentos para quem já está farto de desculpas esfarrapadas e de mentiras. O homenzinho não tem vergonha.


Não é só o governo mas também as câmaras municipais a arranjar apoios para os dias e noites frias que já estão a acontecer. Esta hipocrisia dos senhores nos poderes é impressionante. O atual governo, como outros, criam todas as condições e mais algumas para que existam excluídos na sociedade portuguesa (noutros países idem) e depois aparecem muito altruístas da treta a proporcionar apoios aos que perderam as suas casas, as suas famílias, tudo. E que andam mais que desorientados, desajustados e desinseridos do que os rodeia. Mal existem para sobreviver, nada mais. É evidente que Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, ministros, deputados e restante corja que nos esmifra até à exaustão têm consciência de esferovite. Leve como uma pena. Até devem olhar para as suas caras prazenteiramente quando fazem a barba. Imagino-os e fazer vénias a si próprios achando-se superes e bonzinhos no zelo pelos interesses do povo e do país, batendo com a mão no peito e apelando aos Deuses para lhes reservarem no céu um lugar porque têm feito muitos sacrifícios pessoais e agora esta ação para com os sem-abrigo é mais que prova-disso. Hipocrisia da mais requentada e nojenta. Se não fossem produtores da desgraça do país e do povo já não existiriam os sem-abrigo, nem os miseráveis que abundam. Feios, porcos e maus, é como merecem que os qualifiquem.

Há muito mais notícias da desgraça mas a prosa vai longa. Acontecerá outra abordagem do estilo noutra oportunidade. 

*Nota: Os títulos dão acesso direto às notícias correspondentes em Notícias ao Minuto

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