quinta-feira, 16 de abril de 2015

Cabinda - Angola. FALTA DE SOLUÇÃO DO GOVERNO PROVOCA CONTESTAÇÃO




Angola gasta muito dinheiro em segurança e “têm que inventar ameaças e têm de inventar vítimas para mostrar trabalho”, diz o padre Raul Tati.

O padre angolano Raul Tati afirmou hoje que a situação vivida na província de Cabinda nos últimos dias, em termos de direitos humanos, resulta da falta de uma “solução do Governo de Angola” para aquela região.

Raul Tati, igualmente activista, falava à agência Lusa à margem de uma conferência sobre direitos humanos, em Luanda, comentando as recentes detenções de activistas angolanos naquele enclave, onde também reside, quando tentavam organizar manifestações de contestação.

Defendeu que o que está acontecer em Cabinda é “o recrudescimento da repressão contra todas aquelas vozes sonantes e dissidentes do Memorando do Namibe”, acordado em 2006, então colocando de parte a autonomia daquele enclave.

“O que está a acontecer é que praticamente todas essas pessoas estão a ser perseguidas e são aquelas que não aderiram ao Memorando de Entendimento e o Governo de Angola tenta fazer um forcing para que os cabindas o aceitem como uma solução para o problema de Cabinda”, referiu Tati.

A conferência sobre “O Direito à Verdade e à Memória Coletiva como Direitos Humanos na Construção do Estado Democrático de Direito”, organizada pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), decorre na capital angolana até amanhã.

Tati, que é também professor universitário, considera que a situação em Cabinda – um dos temas analisados neste fórum – decorre da necessidade de os serviços de segurança justificarem as elevadas verbas disponibilizadas pelo Governo para garantir a segurança naquela província, no norte de Angola.

“Cabinda é uma questão estratégica para Angola, então metem muito dinheiro por questões de segurança e eles de tempos em tempos têm que inventar ameaças e têm de inventar vítimas para mostrar trabalho e de alguma maneira garantir as suas promoções, isso é que está a acontecer em Cabinda”, explicou.

“Não posso entender que um jovem civil, que trabalha honestamente para a Chevron [petrolífera norte-americana que opera no enclave], se lhe possa imputar crimes de terrorismo, que está a preparar explosivos para fazer explodir o aeroporto, isso não cabe na cabeça de ninguém, só pode ser daquelas invenções macabras”, disse Tati em alusão à detenção do activista de direitos humanos José Marcos Mavungo.

Marcos Mavungo e o presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem de Advogados de Angola, Arão Tempo, estão detidos desde 14 de Março na sequência de uma tentativa de manifestação contra a má governação e violação dos direitos humanos na província.

No passado sábado, mais três pessoas – Alexandre Kuanga, Zeferino Puati e o sobrinho deste – foram detidas na sequência do anúncio da realização de uma manifestação – igualmente frustrada – para exigir a libertação de Marcos Mavungo e Arão Tempo.

Lusa, em Rede Angola - na foto padre Raul Tati

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