terça-feira, 28 de abril de 2015

Portugal. AMEAÇA DESCONHECIDA



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

António Sampaio da Nóvoa apresenta amanhã a sua candidatura à Presidência da República, aparentemente com o apoio do PS. Ou de algum PS. Ao candidato que poderá unir a esquerda apontam um defeito: é desconhecido dos portugueses. Este "defeito" é, sem dúvida, exagerado em relação a alguém com intervenção pública ao longo dos anos, quanto mais não fosse pelo cargo que ocupou - dois mandatos como reitor da Universidade de Lisboa. Admitamos essa fragilidade de Nóvoa, que era pouco conhecido quando admitiu ao JN, há umas semanas, estar disponível para se candidatar. Os que lhe apontam esse defeito, com outras intenções inconfessadas, acabaram por fazer crescer a notoriedade do professor universitário.

Mas que levou tanto ilustre comentador, televisivo e não só, a mostrar tamanha agitação perante a possível candidatura de um desconhecido. Será Sampaio da Nóvoa uma ameaça. Por enquanto, é candidato a candidato. Ainda não disse, de forma clara, como pretende desempenhar o cargo de mais alto magistrado da Nação, caso os portugueses nele depositem o seu voto. Todavia, para os que nos últimos tempos acompanham o percurso do ilustre desconhecido, não restam dúvidas.

O primeiro sinal da disponibilidade foi dado, há quase três anos, nas comemorações do 10 de Junho. O desconhecido presidiu a essas comemorações, e fez o retrato amargo de Portugal e deixou a sua ideia de futuro. Nesse discurso premonitório, em Lisboa, está todo um programa - e não andará muito longe do que o candidato vai apresentar amanhã, no Teatro da Trindade.

Lá, encontra-se o essencial. O país não mudou, antes se agravaram os problemas apontados pelo então reitor da Universidade de Lisboa em 2012. Embora existam governantes a afirmar, sem o mínimo de pudor, que "a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor". Estranho entendimento da realidade este que coisifica as pessoas. Um país são as pessoas que nele vivem. Nóvoa defende: um país melhor terá de responder a coisas básicas e simples. "Oportunidades, emprego, segurança, liberdade. O heroísmo de um país normal, assente no trabalho e no ensino".

Dois conceitos - trabalho e ensino - tão desvalorizados nos últimos anos, e fundamentais para a recuperação da dignidade de Portugal. Um país que volte a ser um país de cidadãos. Um país democrático, com pessoas reais no uso pleno dos seus direitos.

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