Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Os
resultados das eleições municipais de domingo lançam um enorme desafio aos dois
partidos do poder em
Espanha. Daqui até ao outono, altura em que os espanhóis vão
eleger um novo Parlamento, os dois partidos do arco da governação - o PP e o
PSOE - têm de mostrar se querem manter tudo na mesma ou se pretendem de facto
mudar algo. No domingo, os espanhóis deram mais um sinal claro. Já não lhes
basta os partidos tradicionais. Uma série de novas formações, com o Podemos e
Nos Ciudadanos, mereceram a confiança dos eleitores: deitando por terra os
prognósticos de Rajoy que, há uns meses, adivinhava a diluição do Podemos.
Errou.
E errarão provavelmente uma vez mais se atribuírem, como aconteceu ontem no
rescaldo da leitura dos resultados, a derrota a deficiências de comunicação.
Terão existido certamente. Mas a maquilhagem da comunicação, em tempo de dura
crise social, (já) não ganha eleições. Minado pela corrupção, o Partido Popular
espanhol parece exausto. Não só pelo seu líder, que não conseguiu renovar os candidatos
nem as propostas.
Não
é com comunicação que se ganham eleições. Os eleitores de hoje querem,
sobretudo, propostas e, de preferência, que sejam cumpridas. Os novos partidos,
surgidos de movimentos de cidadãos, apartidários, mas não apolíticos, mostram
ser possível fazer política com gente normal. É disso que estamos à espera. Ver
gente como nós a apresentar propostas e caminhos diferentes dos até agora
seguidos. Gente que veio de algum lado, e não das juventudes partidárias, e tem
para onde voltar.
Se
as eleições legislativas em Espanha tivessem sido este fim de semana, de acordo
com contas feitas pelo diário "El País", o PP perderia 66 lugares no
Congresso, ficando com 120; a queda do PSOE é mais suave: ficaria com menos
dois lugares, garantindo 108 deputados. Já o Podemos teria uma representação de
37 deputados e Nos Ciudadanos 18, transformando-se na terceira e quarta forças
em Espanha.
Isso
mesmo se refletirá no novo mapa municipal e autonómico. Com o PP a perder
maiorias absolutas, terá de fazer acordos com partidos ideologicamente pouco
próximos, sob pena de os municípios se tornarem ingovernáveis.
Das
eleições do próximo outono sairá, com certeza, uma Espanha diferente. Sendo uma
aliança entre o PP e o PSOE improvável, na convergência governativa entrarão os
mais pequenos. Terá de ser pedida, pois, a voz aos cidadãos. A essência da
democracia, afinal. E terá sido essa indiferença dos partidos tradicionais para
com os eleitores que ditou os resultados.
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