terça-feira, 26 de maio de 2015

AFINAL PODEMOS


Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Os resultados das eleições municipais de domingo lançam um enorme desafio aos dois partidos do poder em Espanha. Daqui até ao outono, altura em que os espanhóis vão eleger um novo Parlamento, os dois partidos do arco da governação - o PP e o PSOE - têm de mostrar se querem manter tudo na mesma ou se pretendem de facto mudar algo. No domingo, os espanhóis deram mais um sinal claro. Já não lhes basta os partidos tradicionais. Uma série de novas formações, com o Podemos e Nos Ciudadanos, mereceram a confiança dos eleitores: deitando por terra os prognósticos de Rajoy que, há uns meses, adivinhava a diluição do Podemos.

Errou. E errarão provavelmente uma vez mais se atribuírem, como aconteceu ontem no rescaldo da leitura dos resultados, a derrota a deficiências de comunicação. Terão existido certamente. Mas a maquilhagem da comunicação, em tempo de dura crise social, (já) não ganha eleições. Minado pela corrupção, o Partido Popular espanhol parece exausto. Não só pelo seu líder, que não conseguiu renovar os candidatos nem as propostas.

Não é com comunicação que se ganham eleições. Os eleitores de hoje querem, sobretudo, propostas e, de preferência, que sejam cumpridas. Os novos partidos, surgidos de movimentos de cidadãos, apartidários, mas não apolíticos, mostram ser possível fazer política com gente normal. É disso que estamos à espera. Ver gente como nós a apresentar propostas e caminhos diferentes dos até agora seguidos. Gente que veio de algum lado, e não das juventudes partidárias, e tem para onde voltar.

Se as eleições legislativas em Espanha tivessem sido este fim de semana, de acordo com contas feitas pelo diário "El País", o PP perderia 66 lugares no Congresso, ficando com 120; a queda do PSOE é mais suave: ficaria com menos dois lugares, garantindo 108 deputados. Já o Podemos teria uma representação de 37 deputados e Nos Ciudadanos 18, transformando-se na terceira e quarta forças em Espanha.

Isso mesmo se refletirá no novo mapa municipal e autonómico. Com o PP a perder maiorias absolutas, terá de fazer acordos com partidos ideologicamente pouco próximos, sob pena de os municípios se tornarem ingovernáveis.

Das eleições do próximo outono sairá, com certeza, uma Espanha diferente. Sendo uma aliança entre o PP e o PSOE improvável, na convergência governativa entrarão os mais pequenos. Terá de ser pedida, pois, a voz aos cidadãos. A essência da democracia, afinal. E terá sido essa indiferença dos partidos tradicionais para com os eleitores que ditou os resultados.

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