terça-feira, 19 de maio de 2015

Ramos-Horta quer que Timor-Leste acolha até mil refugiados da etnia "Rohingya"




Díli, 19 mai (Lusa) - O ex-presidente da República timorense, José Ramos-Horta escreveu aos atuais chefes de Estado e de Governo a defender que Timor-Leste deveria acolher até mil refugiados da minoria étnica 'Rohingya'.

"Tenho consciência da complexidade do problema. Não vamos salvar todos os refugiados. Mas salvamos alguns. Temos milhares de imigrantes ilegais no nosso país e todos eles estão a trabalhar. E não vamos acolher algumas centenas de mulheres e crianças, de uma minoria étnica e religiosa mais desprezada do mundo?", questiona na sua página no Facebook.

O apelo que José Ramos-Horta explica ter remetido a Taur Matan Ruak, o Presidente da República e a Rui Maria de Araújo, primeiro-ministro, surge numa altura em que segundo o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos cerca de 6.000 pessoas poderiam andar, atualmente, em barcos à deriva no sudeste asiático.

Vários países, nomeadamente a Tailândia, Malásia e Indonésia, têm-se recusado a acolher as embarcações com os refugiados, quer da etnia Rohingya (especialmente da Birmânia) quer do Bangladesh, recorrendo a navios de guerra para os expulsar das suas águas.

Ramos-Horta considera que Timor-Leste tem condições de acolher "entre 100 e 1.000 refugiados Rohingya", durante um período entre 5 e 10 anos, os quais poderiam ser instalados nas regiões de Laklubar ou Soibada, "lugares pacíficos, mais ou menos despovoados, de clima ameno".

"Esta é uma oportunidade única, histórica, para Timor-Leste se afirmar como um país solidário, de valores humanos, morais e éticos", escreve na sua página.

O Nobel da Paz sugere que o ACNUR mobilize recursos financeiros "para construir aldeamento condigno, com água e saneamento, eletricidade, centro de saúde e escola".

"Os refugiados que queiram dedicar-se à agricultura, pecuária ou qualquer outra atividade para autossustentação poderiam fazê-lo com apoio do ACNUR e do Governo timorense", defende.

"Os refugiados poderiam circular livremente em Timor-Leste com um cartão de identidade emitido pelo ACNUR e pelo Ministério competente", refere.

Na semana passada Zeid Ra'ad Al Hussein, o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos disse-se chocado com a atitude da Tailândia, Malásia e Indonésia de repelir milhares de migrantes esfomeados, com várias organizações não-governamentais (ONG) a acusarem a Tailândia, a Indonésia e a Malásia de um "pingue-pong humano".

Os migrantes são sobretudo oriundos do Bangladesh, de onde fogem da pobreza, e da Birmânia, onde a minoria muçulmana 'Rohingya' é perseguida.

Dezenas de milhares de migrantes transitam todos os anos pelo sul da Tailândia, ponto de passagem para a Malásia, mas Banguecoque declarou recentemente guerra aos traficantes, interrompendo as rotas habituais de passagem de migrantes, depois de ter encontrado valas comuns com corpos de clandestinos em plena selva, de acordo com várias ONG.

A Indonésia e a Malásia receiam um agravamento da situação e anunciaram que vão recusar a entrada de todas as embarcações de migrantes, condenando os passageiros a uma prisão flutuante. 

ASP (MDR/EJ) // FV

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