Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1.
O ministro da Educação acordou por estes dias para o problema do desequilíbrio
entre os três períodos do ano letivo e tomou uma decisão: o primeiro período, o
mais longo, será encurtado e começará, na prática, apenas na quarta semana de
setembro.
As
reações não se fizeram esperar. Filinto Lima, da associação de diretores,
argumentou que "o espaço dos miúdos é na escola. Já têm férias
suficientes". Jorge Ascenção, que representa as associações de pais, não
consegue perceber a medida. "Como se vai fazer o mesmo com menos
tempo?". Terão ambos razão, mas estão a desperdiçar argumentos. A medida
de Nuno Crato não tem nada a ver com "um maior equilíbrio na duração dos
três períodos letivos". O atraso no arranque do ano letivo tem como
explicação, isso sim, o escândalo a que se assistiu no início do ano letivo que
agora termina, com milhares de alunos sem professor durante várias semanas
devido a erros sucessivos do Ministério. Acresce que o início do próximo ano
coincide com o período de campanha eleitoral. Com a medida de Nuno Crato, o
Governo poupa pelo menos uma semana de notícias sobre problemas nas escolas,
entre eles a inevitável falta de professores. É apenas isto. E quando o
objetivo é meramente eleitoral, não vale a pena perder tempo com argumentos
pedagógicos. Basta denunciar o truque.
2.
Miguel Relvas voltou à ribalta. Não por causa do livro que escreveu sobre a
fusão de freguesias e que será lançado dentro de dias, antes por causa dos
livros que não leu. O ex-ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares
conseguiu despachar, num único ano letivo, as 36 disciplinas do curso de
Ciências Políticas e Relações Internacionais: 32 graças a equivalências
conseguidas com a sua experiência profissional, e portanto sem a necessidade de
ler qualquer livro ou manual, e quatro graças a expedientes como o de dissertar
sobre os artigos de jornal que publicou. É uma espécie de campeão nacional de
créditos fraudulentos. Só lhe falta a medalha, sendo que ainda tem o canudo.
Nada disto é verdadeiramente novo, ressurge apenas porque foi permitido aos
jornalistas aceder ao processo da Inspeção-Geral de Educação e Ciência sobre as
vigarices que se transformaram num negócio rentável da Universidade Lusófona.
Não é novo, mas tem a virtude de recordar com quem é que Pedro Passos Coelho
chegou ao poder e quais são as suas referências políticas. Uma delas é Miguel
Relvas, o braço-direito que agora se dedica à profissão de facilitador de
negócios. Na esteira, aliás, de outros grandes políticos e amigos do
primeiro-ministro, como Dias Loureiro. Diz-me quem elogias, dir-te-ei quem és.
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