sexta-feira, 26 de junho de 2015

Portugal. O REGRESSO DE RELVAS



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

1. O ministro da Educação acordou por estes dias para o problema do desequilíbrio entre os três períodos do ano letivo e tomou uma decisão: o primeiro período, o mais longo, será encurtado e começará, na prática, apenas na quarta semana de setembro.

As reações não se fizeram esperar. Filinto Lima, da associação de diretores, argumentou que "o espaço dos miúdos é na escola. Já têm férias suficientes". Jorge Ascenção, que representa as associações de pais, não consegue perceber a medida. "Como se vai fazer o mesmo com menos tempo?". Terão ambos razão, mas estão a desperdiçar argumentos. A medida de Nuno Crato não tem nada a ver com "um maior equilíbrio na duração dos três períodos letivos". O atraso no arranque do ano letivo tem como explicação, isso sim, o escândalo a que se assistiu no início do ano letivo que agora termina, com milhares de alunos sem professor durante várias semanas devido a erros sucessivos do Ministério. Acresce que o início do próximo ano coincide com o período de campanha eleitoral. Com a medida de Nuno Crato, o Governo poupa pelo menos uma semana de notícias sobre problemas nas escolas, entre eles a inevitável falta de professores. É apenas isto. E quando o objetivo é meramente eleitoral, não vale a pena perder tempo com argumentos pedagógicos. Basta denunciar o truque.

2. Miguel Relvas voltou à ribalta. Não por causa do livro que escreveu sobre a fusão de freguesias e que será lançado dentro de dias, antes por causa dos livros que não leu. O ex-ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares conseguiu despachar, num único ano letivo, as 36 disciplinas do curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais: 32 graças a equivalências conseguidas com a sua experiência profissional, e portanto sem a necessidade de ler qualquer livro ou manual, e quatro graças a expedientes como o de dissertar sobre os artigos de jornal que publicou. É uma espécie de campeão nacional de créditos fraudulentos. Só lhe falta a medalha, sendo que ainda tem o canudo. Nada disto é verdadeiramente novo, ressurge apenas porque foi permitido aos jornalistas aceder ao processo da Inspeção-Geral de Educação e Ciência sobre as vigarices que se transformaram num negócio rentável da Universidade Lusófona. Não é novo, mas tem a virtude de recordar com quem é que Pedro Passos Coelho chegou ao poder e quais são as suas referências políticas. Uma delas é Miguel Relvas, o braço-direito que agora se dedica à profissão de facilitador de negócios. Na esteira, aliás, de outros grandes políticos e amigos do primeiro-ministro, como Dias Loureiro. Diz-me quem elogias, dir-te-ei quem és.

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