Revista Seara Nova - Editorial – primavera 2015
Quarenta
e um anos volvidos sobre a derrota da ditadura fascista, os portugueses estão
confrontados com a actuação do governo de direita, que visa descaracterizar
profundamente o regime democrático prosseguindo, com deliberada determinação
ideológica, na destruição dos valores de Abril, de direitos, liberdades e
garantias que a Constituição da República Portuguesa consagra.
É
certo que este não constitui um problema novo, não surpreende, pois, desde há
trinta e oito anos, os partidos políticos que assumiram o Poder Executivo,
concorreram decisivamente para um visível enfraquecimento do nosso Regime
Democrático. Mas nunca como agora a situação atingiu tais dimensões.
Os
portugueses vivem hoje um momento histórico dos mais complexos, com restrições
antidemocráticas promovidas por gente sem sentido de Estado, submetida a fortes
interesses económicos e financeiros nacionais e internacionais, acção esta que
tem possibilitado uma desenfreada exploração capitalista com efeitos tão
perversos, tão nefastos, que não se pode afirmar nunca que, em cada região, em
cada cidade, em cada bairro citadino, em cada vila ou aldeia, não paira a ameaça
da fome, que o espectro do desemprego não cessa de aumentar, que as distorções
de distribuição da riqueza não se acumulam ou que o desespero não domina o
quotidiano de largos estratos da população.
Esta
é a cruel realidade do País. Precisamente por isso torna-se urgente retomar os
princípios democráticos por que o Povo lutou e abraçou com entusiasmo e com
esperança. Importa, então, ter lucidez de espírito, capacidade de análise e de
decisão por parte dos trabalhadores, dos intelectuais, enfim, da sociedade em
geral, para se impedir no futuro e com combatividade, a continuação de
políticas ideologicamente neoliberais que arruinaram a economia e conduziram
Portugal para patamares inaceitáveis em Democracia.
Impõe-se,
nesta altura, o dever efectivo dos portugueses darem ao mundo o exemplo moral
de se oporem com firmeza às instituições capitalistas, tão avassaladoramente
dominantes, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu ou a
Comissão Europeia, que desprezam a soberania e independência do nosso País e a
quem o governo se verga numa actuação que se pode classificar de
verdadeiramente anti patriótica e que a História não deixará de julgar. Com a
agravante do governo beneficiar do apoio do Presidente da República que, ao
longo dos anos, se tem comportado mais como um mero militante do PSD do que
como garante do normal funcionamento das instituições democráticas numa
demonstração inequívoca de flagrante insensibilidade para os problemas que
afectam milhões de cidadãos.
Este
ano é um ano em que vai estar em jogo o futuro do País. As eleições
legislativas podem proporcionar aos portugueses - vítimas, em proporções
inauditas, das políticas que empobreceram o País - a audácia de derrotar com
clareza os partidos responsáveis pelo descalabro do sector produtivo, pelo
desmantelamento de empresas públicas estratégicas e essenciais ao
desenvolvimento da economia, partidos que impõem austeridade sem limites,
promovem a destruição de centenas de milhar de postos de trabalho, restringem
as funções sociais do Estado e agravam as injustiças sociais.
Está
nas mãos de todos escolhermos livremente em quem votar. Mas não devemos, na
situação dramática que se vive, alhearmo-nos de um acto eleitoral de grande
relevância para o futuro do País. Há que reflectir seriamente no facto de, se
optarmos por nos abster de tomar posição, de expressar a nossa vontade política
através do voto, isso beneficiará principalmente os mentores das políticas em
curso.
Mas,
atenção, para se reencaminhar Portugal para os Caminhos de Abril, para se
relançar o País na senda do progresso e do desenvolvimento, não se pode
prometer ao eleitorado que vão ser adoptadas medidas que, depois de analisado o
seu conteúdo, se chega facilmente à conclusão de que são demagógicas e revelam
contemplar, apenas, algumas alterações de circunstância às praticadas nos
últimos anos e que, a serem aplicadas, acabarão por contribuir, efectiva e
gravemente, para o prosseguimento das políticas que os trabalhadores, os
desempregados, os reformados, os jovens obrigados a emigrar, tanto têm
combatido.
Os
portugueses estão fartos de formulações e de promessas perenes de vacuidade
política.
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