Paulo
Pereira de Almeida – Diário de Notícias, opinião
Recordo-me
de relatos de pessoas que viveram os dias, os meses e os anos que antecederam e
durante os quais durou a Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945). Recordo-me
vivamente de relatos espantados de quem - ainda hoje - se surpreendeu como as
pessoas, em geral, e os meios de comunicação social, em particular, aderiam com
uma facilidade quase inocente, irresponsável, acéfala, à ideia da
"superioridade" da "raça ariana". Um comportamento néscio,
que haveria de custar milhões de mortes e resultar na perseguição e no
extermínio de aproximadamente seis milhões de judeus, dois terços dos cerca de
nove milhões que viviam na Europa antes da Guerra, segundo os dados do projeto
Holocaust - A Call to Conscience.
Mas
a "Europa" parece - lamentavelmente - perder a memória histórica
muito rapidamente. E - nos tempos mais recentes - parece querer fazer das
políticas de austeridade e de empobrecimento um novo "projeto nazi",
com a Alemanha - novamente reunificada e com grande vigor - à cabeça. Aliás,
ainda nesta semana um artigo - seminal - do professor José Pacheco Pereira dava
conta disto mesmo, considerando, ao comentar a situação na Grécia, que
"bater nos gregos tornou-se uma espécie de desporto nacional. Tem várias
versões, uma é bater no Syriza, outra é bater nos gregos propriamente ditos e
na Grécia como país. As duas coisas estão relacionadas, bate-se na Grécia
porque o Syriza resultou num incómodo e, mesmo que o Syriza morda o pó das suas
propostas - que é o objetivo disto tudo -, o mal-estar que existe na Europa é
uma pedra no orgulhoso caminho imperial do Partido Popular Europeu, partido de
Merkel, Passos e Rajoy e nos socialistas colaboracionistas que são quase todos
que os acolitam". Mas mais, para Pacheco Pereira - um certamente incómodo
mas respeitado intelectual e pensador da área do PSD - a tradução da vitória do
Syriza tem raízes mais profundas no pensamento coletivo de muitos europeus,
pelo que confessa: "No dia da vitória do Syriza, o que mais me alegrou,
sim, alegrou, como penso aconteceu a muita gente, à esquerda e à direita, não
foi que muitos gregos tenham votado num "partido radical" ou num
programa radical, ou o destino do Syriza, mas sim o facto de que votaram pela
dignidade do seu país, num desafio a esta "Europa" que agora os quer
punir pelo arrojo e a insolência. Escrevi na altura e reafirmo que, mais
importante do que a motivação de acabar com a austeridade, foi o sentimento de
que a Grécia não podia ser governada por uma espécie de tecnocratas a atuar
como "cobradores de fraque" em nome da Alemanha. Por isso, mais grave
do que o esmagamento do Syriza, que a atual "Europa" pode fazer como
se vê, é o sinal muito preocupante para todos os que querem viver num país
livre e independente em que o voto para o Parlamento ainda significa alguma
coisa. Nisso, os gregos deram uma enorme lição aos nossos colaboracionistas de
serviço, que andam de bandeirinha na lapela." Nem mais.
É
- portanto - absolutamente espantoso, preocupante, perturbador da nossa segurança
e da nossa paz no pós-Segunda Guerra Mundial, que se queira, por conta de
instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial, estender a ideologia neoliberal do pensamento único e da prevalência
do capitalismo não regulado e dos mercados selvagens a todo o custo. Mesmo que
isso implique - como já se percebeu - um novo "projeto nazi", desta
vez de extermínio das instituições democraticamente eleitas nos países
soberanos europeus, em detrimento de uma "Europa" de federações, o
que quer que isso queira significar.
Mas
- e na verdade - a História acabou com o projeto de Hitler e dos nazis. Veremos
como - e uma vez mais - se vai comportar desta vez...
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