sábado, 4 de julho de 2015

Grécia. "NEM QUE EU TIVESSE UMA BOLA DE CRISTAL…"




Nem que eu tivesse aqui uma bola de cristal me atreveria a tentar adivinhar qual será o desfecho do referendo grego ou do que será o futuro da Grécia depois de amanhã, tão imprevisíveis parecem a acreditar nas sondagens e declarações de responsáveis helénicos e dos credores internacionais. Mas ao ver imagens das manifestações diárias em Atenas, em defesa do Sim ou do Não, lembrei-me de uma viagem que fiz à Grécia, em vésperas da adesão de Portugal e Espanha à então CEE. Fui como enviada do extinto semanário O Jornal, com a missão de fazer o retrato daquele país que já fazia parte da Comunidade Europeia, numa tentativa de antecipar o que poderia esperar Portugal num futuro próximo, para o bem e para o mal. E nunca mais esquecerei as manhãs em que eu acordava ao som das palavras de ordem gritadas por pequenas multidões na Praça Syntagma. Aquilo sucedia-se dia sim dia não, e para meu desespero nos dias em que me deitara tarde e exausta, nem as janelas insonorizadas do meu quarto de hotel de muitas estrelas conseguiam abafar as vozes aguerridas dos manifestantes. Lembro-me de ter relatado a amigos e familiares, no regresso a Lisboa, que os gregos não hesitavam em lutar pelos seus interesses. Ao contrário dos "pacíficos" portugueses, eles nunca se deixariam acomodar. Na época, lutavam em defesa de salários, direitos vários e... contra a concorrência que os outros parceiros do sul (Portugal e Espanha) iriam fazer-lhes na CEE. Porque nós iriamos de facto roubar-lhes espaço e mercado para os frutícolas, o azeite, a pesca, etc., etc. Passados todos estes anos, tudo continua como então - nós pacíficos e bem-comportados e eles aguerridos a manifestarem-se na Praça Syntagma.

Lurdes Feio, jornalista/escritora - Facebook

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