Jaqueline
Gomes de Jesus* - Afropress
Osram
mfiti preko ntware oman - [A Lua não tem pressa para dar a volta em
torno do nosso mundo], provérbio Adinkra.
Como
se prepara a revolta? Como se farão as revoltas futuras? Faço alguns
apontamentos soltos.
O
grande terror que há séculos nos desafia, e ora se radicaliza com o modo como
as tecnologias são utilizadas, é o da desumanização. Nós nos tornamos cada vez
mais desumanos, mais máquinas. O lema das organizações hoje é o dos recursos.
Tudo
é rotulado como “recurso”, objetos, processos e pessoas: recursos materiais,
recursos administrativos, recursos informacionais, recursos humanos. Por
“recursos” entenda-se a caracterização da vida em função de sua funcionalidade
para alguém, seu valor intrínseco deslocado para um “a quê serve”: a árvore
serve como papel, o animal como alimento, o humano como instrumento de
trabalho.
Como
tantas e tantos podem valorizar coisas em detrimento de seres vivos?
Se
a sua ciência ou profissão deixou de ser um chão para sua lida e se transformou
em correntes para a sua vida, então essas correntes deveriam ser arrebentadas.
De
outra forma, sua servidão é voluntária.
O
que temos para hoje no Brasil: o recrudescimento de um movimento político
obscurantista, de base religiosa fundamentalista, que anseia por reprimir a
educação laica; decretar a proibição de as mulheres terem pleno direito sobre
os seus corpos; impedir a cidadanização de pessoas discriminadas por sua
orientação sexual ou identidade de gênero; promover caça às bruxas contra
militantes dos direitos humanos.
Somente
sendo iconoclastas podemos ser fiéis.
“Se
você confia cegamente na sabedoria dos mais velhos, lembre-se que os canalhas
também envelhecem”, palavras de Exu.
“Somente
sabedoria e astúcia podem derrotar a força bruta”, palavras de Exu.
Se
há um lugar onde nem mesmo deuses conseguem entrar, sem permissão, é no coração
humano.
O
desespero trará a revolta, mas a revolta não é suficiente. Precisamos de
revoluções.
Palestras,
aulas e textos têm um efeito multiplicador na denúncia de estereótipos e
preconceitos, porém atividades e produtos culturais são mais impactantes para a
desestabilização das discriminações, abarcando um extraordinário potencial para
transformar as certezas do pensamento social.
A
vida é luta. Luta implica, necessariamente, em conflito, embate de ideias e/ou
seres. Logo, a vida é conflito.
Entretanto,
precisamos aprender a lutar com amor. O ser humano deseja ser amado. Já nos
ensinou bell hooks, singelamente, didaticamente, que o amor cura, porém muitos
que lutam ainda não compreenderam sua mensagem.
O
ódio tem delineado as guerras, pelo medo, mas guerra não é o mesmo que
revolução.
Em
geral, os paradigmas só mudam quando os seus defensores se retiram dos lugares
de fala empoderados, ou quando, simplesmente, morrem. Leia Thomas Kuhn.
Na
Era do Conhecimento, as revoluções não se farão por armas de fogo, mas por
palavras e imagens.
As
guerras de pensamento não encontrarão sua arena em universidades.
O
amor será a viga mestra das revoluções na Sociedade da Informação, que serão
vencidas pelo convencimento, não pelo medo.
Fazer
chorar é fácil, difícil é fazer sorrir.
Que
este ensaio sobre amor bata asas, levado pela magia — porque falo de coisas
inescrutáveis para alguns, apesar de estarem bem à vista — destas palavras que
escrevo, porque se pode pensar e pesquisar com seriedade, sem sisudez. Tola
seria se pretendesse esgotar o assunto.
*É
psicóloga, doutora em
Psicologia Social pela UnB e pós-doutorado pela Esc. Sup. de
Ciências Sociais da FGV/Riof
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